Ciclotimia: o que é, tratamentos e como conviver com o transtorno

Ciclotimia ou transtorno ciclotímico, é um transtorno de humor em que a pessoa experimenta momentos de depressão ou euforia subitamente. Possui algumas semelhanças com o transtorno bipolar, mas a diferença principal está na intensidade das oscilações de humor e quantidade de crises.

O que é ciclotimia?

Imagine a manhã perfeita. Você acordou cedo, comeu um delicioso café da manhã, exercitou-se ou fez alongamento, tomou um banho para ajudar no despertar, e está pronto para encarar o dia com otimismo e disposição. Você já tem dezenas de planos para aproveitar bem cada momento até a volta para casa. 

Subitamente, sem nenhuma razão aparente, o seu ânimo desaparece. Você fica abatido e sem energia. As expectativas para ter um bom dia e concluir as tarefas com o melhor dos ânimos desaparecem. Até os seus pensamentos mudam e se tornam mais sombrios. 

É assim que a ciclotimia age. Sua manifestação é mais comum em adolescentes e jovens adultos. Pode ser também originada de um temperamento explosivo naturalmente do paciente. 

A causa não é clara, mas há especulações que apontam para fatores genéticos e bioquímicos. O ambiente em que o paciente cresceu também influencia em seu desenvolvimento e modo de vida. Um ambiente desfavorável pode colaborar para o surgimento do transtorno. 

Embora essa montanha russa de emoções prejudique a vida da pessoa com transtorno, os sintomas ainda são mais leves e mais sutis do que os do transtorno bipolar. 

Transtorno ciclotímico x Transtorno bipolar

O transtorno bipolar é uma perturbação mental em que o paciente passa por períodos de depressão e de ânimo intenso, também denominado como mania. Uma pessoa pode passar semanas ou meses em estados maníacos ou depressivos. 

Os sintomas mais comuns do transtorno bipolar são a impaciência, inquietação, ansiedade, angústia, aumento ou perda de apetite, pensamentos acelerados, aumento de apetite sexual, melancolia e raiva. Resumidamente, engloba sintomas depressivos, ansiosos e maníacos. 

Já a ciclotimia possui sintomas mais leves e com duração diferenciada. Há um risco de até 50% de pessoas ciclotímicas serem diagnosticadas com transtorno bipolar.  Basicamente, o transtorno ciclotímico caracteriza-se por dois estados diferentes: hipomania e depressão. 

Sintomas de hipomania

Trata-se de um estado de mania mais leve caracterizado por sentimentos de euforia (extrema alegria e bem-estar), além de irritabilidade e excitação. 

No episódio hipomaníaco, a pessoa apresenta uma súbita autoconfiança exacerbada e sente-se imbatível, o que pode prejudicar o pensamento coerente e causar confrontos evitáveis.  

Os sintomas da hipomania são: alterações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, tagarelice, e comportamento impulsivo, por exemplo, fazer compras desenfreadas que levam ao arrependimento depois. Eles costumam durar até uma semana. 

É comum que esses sintomas passem despercebidos e sejam justificados como parte da personalidade da pessoa. 

Sintomas depressivos

Logo após a fase hipomaníaca, a pessoa pode adentrar a fase depressiva.

Os sintomas depressivos na ciclotimia são os mesmos do transtorno depressivo, porém, são menos intensos. A pessoa sente-se desanimada, cansada e triste sem motivo. Pensamentos negativos começam a surgir, perturbando a percepção da pessoa sobre a vida e sobre si mesma. 

É preciso ficar atento aos sintomas depressivos, pois eles podem evoluir e se transformarem em tendências suicidas. Como essa evolução é sutil, raramente a pessoa se dá conta de seus sentimentos até alguém apontá-los. 

Como é feito o diagnóstico da ciclotimia?

Diagnosticar a ciclotimia não é uma tarefa fácil. Os episódios eufóricos acabam trazendo resultados positivos, como alta produtividade e autoestima elevada. Ou seja, a pessoa com o transtorno acredita que essa injeção de motivação é apenas uma característica de sua personalidade. O seu jeito de “lidar com a vida”. 

Amigos e familiares são os primeiros a perceber as inconstâncias de humor por conta do convívio. Mas, como a própria pessoa não nota a mudança em seu comportamento, ignora comentários alheios e se recusa a procurar ajuda para fazer uma investigação completa de seu estado emocional. 

As consequências do transtorno ciclotímico, no entanto, estão presentes em todas as esferas da vida da pessoa. É provável que essa inconstância seja percebida como falta de responsabilidade ou comprometimento. 

Nos acessos de euforia, a pessoa se torna altamente produtiva, mas depois descarta os projetos iniciados, passando uma imagem não confiável. 

O mesmo acontece nos relacionamentos, especialmente nos amorosos. O ciclotímico tende a mudar de parceiros com frequência por agir na impulsividade. O seu comportamento imprevisível e reações exageradas a acontecimentos comuns acaba prejudicando a construção de laços duradouros. 

Para fazer um diagnóstico completo, é preciso avaliar os padrões que se repetem na vida do paciente. Além disso, há alguns critérios que devem ser observados para diferenciar a ciclotimia de outros transtornos.

  • Duração: os sintomas da hipomania e da depressão devem estar presentes na vida da pessoa há, pelo menos, dois anos.
  • Duração dos sintomas: os sintomas devem ter ocorrido por mais de dois meses, alternando entre si.
  • Intensidade dos sintomas: devem ser de intensidade leve para evitar confusão com outros sintomas.

Como é o tratamento da ciclotimia?

O transtorno ciclotímico não tem cura, mas os sintomas podem ser tratados tanto com acompanhamento psicológico quanto com uso de medicamentos. 

A psicoterapia exerce papel fundamental porque ajuda o paciente a lidar com as alterações de humor de maneira saudável através do autoconhecimento. Assim, ele desenvolve maior controle sobre as suas emoções. 

O tratamento medicamentoso pode envolver o uso de estabilizadores de humor, ansiolíticos e antipsicóticos leves. A indicação desses deve ser feita por um psiquiatra. 

O papel dos familiares e amigos é muito importante. Esclarecimentos sobre o transtorno devem ser procurados para evitar julgamentos e atitudes que possam prejudicar ainda mais o paciente. Quem está de fora pode ajudar sendo paciente e compreensivo diante das alterações de humor. 

É fundamental procurar ajuda para prevenir que os sintomas da ciclotimia se agravem. Os sintomas hipomaníacos, por exemplo, podem evoluir para maníacos após uma crise mais intensa. Desse modo, é necessário fazer o rediagnóstico do transtorno para a bipolaridade. 

Da mesma forma, os sintomas depressivos podem se tornar mais intensos, levando a pessoa ao estado de depressão profunda. É comum, nestes casos, que a pessoa tenha experienciado situações traumáticas no passado. Este fator evidencia ainda mais a importância do tratamento psicológico. 

Portanto, mesmo que as oscilações de humor não pareçam, à primeira vista, tão intensas, o tratamento é indispensável para a saúde mental e bem-estar da pessoa com transtorno.

Como viver com ciclotimia

Como não tem cura, o transtorno ciclotímico é crônico, prevalecendo pelo resto da vida da pessoa. É possível que os sintomas desapareceram por um período, mas retornem eventualmente. 

Como explanado em tópicos anteriores, os sintomas do transtorno podem afetar a qualidade dos relacionamentos interpessoais e prejudicar novas amizades e experiências. Ademais, a impulsividade pode resultar em problemas financeiros e comportamentos autodestrutivos (abuso de drogas e álcool).

Como uma pequena porcentagem de pessoas desenvolve o transtorno, o paciente pode sentir-se incompreendido e solitário já que suas experiências de vida não são compartilhadas pelos demais. 

Além disso, em adolescentes e jovens, as mudanças de humor podem ser interpretadas apenas como uma fase do crescimento. Consequentemente, não são levadas tão à sério. 

Para aliviar os sintomas, o ciclotímico pode recorrer a certas estratégias.

1 – Procure ver o problema racionalmente

Assim que as reações exageradas se manifestarem, se agarre ao pensamento racional. Faça questionamentos sobre seus pensamentos e sentimentos para entender suas origens.

Em uma fase depressiva, é comum haver sensações de vazio, de não pertencimento e exclusão social. Pergunte a si mesmo se essas condizem com a realidade. Será que os pensamentos ruins não estão apenas querendo se instalar em sua mente? 

Lembre-se das pessoas na sua vida que se importam com você e foque nas suas conquistas e atributos positivos. A gratidão é um exercício que pode ser praticado para esse propósito. 

2 – Expresse seus sentimentos

O sentimento de incompreensão e impaciência por parte dos demais pode deixá-lo triste ou frustrado com frequência. 

Se você apenas abafar as emoções negativas dentro si, quando precisarem sair, será mais difícil controlá-las. Possivelmente, você explodirá na hora errada e com as pessoas erradas, ou terá crises mais intensas por conta desse acúmulo. 

Converse com pessoas de confiança, um psicólogo ou mantenha um diário para relatar pensamentos e sentimentos. É especialmente útil relatar momentos de crise para liberar toda a negatividade. Na Vittude temos diversos psicólogos especializados e prontos para te ajudar.

3- Desenvolva táticas para administrar o estresse

O estresse pode afetar a pessoa com o transtorno ciclotímico mais profundamente. Certos cenários agem como gatilhos que podem levar a fase hipomaníaca ou depressiva. 

Por isso, criar táticas para lidar com situações altamente estressantes é essencial. Exercícios de respiração profunda, momentos de relaxamento e prática constante de exercícios físicos têm o poder de combater o estresse e promover bem-estar. 

Se não gostou das sugestões acima, tudo bem. Procure atividades ou técnicas que efetivamente tenham impacto em seu humor. Há dezenas de alternativas eficazes para fortalecer a nossa saúde mental. 

Com simples mudanças de atitude, é possível construir um modo de vida mais saudável bem como conviver melhor com a ciclotimia

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Tatiana Pimenta

CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta

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