CID 11: o que muda e como se adequar?
26 de junho de 2023
Tempo de leitura: 10 minutosO que é a CID-11?
A Classificação Internacional de Doenças é um documento extenso que classifica todas as doenças existentes para a padronização de diagnósticos e comunicação internacional.
Através dele, é possível ter uma visão mais clara sobre a realidade na saúde populacional em cada país e, assim, governos e autoridades médicas podem se planejar.
A CID-11 é amplamente usada por profissionais da saúde e foi criada pela ONU em 1983 Atualmente, estamos na 11ª versão, que foi atualizada em janeiro de 2022.
As principais mudanças relacionam-se com:
- Distúrbios de jogo
- Resistência antimicrobiana
- Transexualidade
- Transtorno do Espectro Autista (TEA)
- Transtorno de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- Estresse Pós-Traumático
- Síndrome de Burnout
Importante: a transexualidade não é mais vista como um transtorno mental e passou a ser designada como “incongruência de gênero”.
Qual a relação da CID-11 com a Síndrome de Burnout?
Segundo a última edição, a Síndrome de Burnout é oficialmente considerada uma doença ocupacional. Até então ela era considerada um problema de saúde mental e psiquiátrico, ou seja, uma questão meramente individual.
Na nova classificação, a comunidade médica mostra que já tem um entendimento mais claro sobre a doença e que ela não é apenas uma questão individual, mas tem profunda relação com o ambiente de trabalho.
Segundo a nova definição, a Burnout é um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.
Ou seja, ela tem como origem o estresse. Algo comum, que todos nós passamos, mas quando esse quadro não é observado e tratado, acaba evoluindo para um cenário com prejuízos muito mais drásticos.
Essa mudança gera enormes mudanças tanto para pacientes quanto para profissionais de RH e saúde ocupacional.
Continue a leitura para entender mais!
Quais os benefícios da nova classificação?
Utilizar a CID-11 não é só recomendável, mas é uma prática obrigatória e essencial para garantir que os pacientes tenham um tratamento condizente com a realidade à sua volta.
Veja, a seguir, alguns dos seus principais benefícios!
Atualização das doenças existentes
Sem dúvida o aspecto fundamental sobre a CID-11 é a atualização de doenças novas e já existentes.
As doenças novas tem seus sintomas descritos, um tratamento específico e uma profilaxia estabelecida. É o caso, por exemplo, da Covid-19. Já doenças existentes podem passam por novas descobertas, fazendo com que elas sejam tratadas de maneiras mais eficientes.
Diagnóstico e tratamento de saúde mental
Assim como as doenças físicas, novas características sobre doenças mentais podem ser descobertas – como o caso da Síndrome de Burnout citada anteriormente.
Através da padronização de doenças:
- O acesso a medicamentos e serviços de saúde mental é facilitado;
- Novas pesquisas podem ser feitas com critérios uniformes;
- O diagnóstico oficial ajuda na comunicação entre os profissionais de saúde e também na identificação dos transtornos.
Direitos trabalhistas
Um grande benefício para os colaboradores é a possibilidade de ter seus direitos assegurados.
Por causa da nova classificação, a Síndrome de Burnout pode ser enquadrada juridicamente como um processo de assédio moral. Isso dá garantias ao trabalhador para que a empresa seja punida de acordo com a lei brasileira.
Saiba que práticas configuram assédio moral e o que diz a lei!
Além disso, através da CID-11 é possível:
- Monitorar a saúde através de aplicativos;
- Melhorar a atenção básica de saúde;
- Utilizar práticas menos invasivas;
- Caminhar em direção a uma medicina mais humanizada;
- Curar ou amenizar transtornos psicológicos e doenças;
- Reduzir a taxa de mortalidade;
- Incluir novos tipos de terapia em clínicas particulares ou planos de saúde;
- Auxiliar no desenvolvimento de hábitos mais saudáveis;
- Observar com mais atenção a saúde de grupos específicos e aumentar a inclusão social;
- entre outros.
Qual o impacto da saúde mental no ambiente de trabalho?
Ter saúde mental não é apenas estar livre de doenças ou transtornos psicológicos.
Segundo a OMS, é “um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade”.
Ou seja, a saúde mental não afeta só a nossa vida particular, mas também a vida profissional.
Parece algo óbvio, mas infelizmente muitas lideranças e profissionais de RH ignoram completamente essa questão. Aliás, muitas empresas ainda têm um clima organizacional em que pessoas com transtornos mentais sofrem bullying e todo tipo de constrangimentos.
A falta de diagnóstico depressivo, por exemplo, custa US$ 1 trilhão anualmente para a economia global. A depressão é um dos transtornos mais comuns, afetando mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo e, muitas vezes, esse diagnóstico demora a vir justamente pelo preconceito infundado de familiares, amigos e líderes ou colegas de trabalho.
A prova disso é que, numa pesquisa realizada pela Kenoby, 93% dos profissionais de RH consideraram que falta ação das empresas em relação à saúde mental dos colaboradores.
Segundo a mesma pesquisa, em 71% das empresas não existe uma pessoa ou área dedicada a este cuidado – apesar de muitas dizerem que se preocupam, sim, com o assunto.
Podemos observar claramente que ainda vivenciamos um cenário em que o discurso não acompanha o que acontece na prática.
Já “pega mal” não cuidar dos colaboradores, mas – mesmo com dados alarmantes – observamos um cuidado muito maior com o lucro da organização do que com a saúde de quem ajuda a conquistar estes resultados.
Uma saúde mental precária dos profissionais significa:
- Absenteísmo;
- Presenteísmo;
- Afastamentos;
- Queda na produtividade;
- Performances medianas ou abaixo do esperado;
- Baixo engajamento;
- Alto turnover;
- Muitos custos burocráticos e judiciais para a empresa.
Você quer perpetuar este cenário ou melhorar o contexto em que você e as pessoas à sua volta trabalham?
Veja outros dados sobre a saúde mental no ambiente de trabalho!
Como as organizações podem se adaptar?
Felizmente, existem diversas maneiras de desenvolver a saúde mental no trabalho, evitando todos esses prejuízos já citados. A CID-11 vem para auxiliar as empresas nesse sentido.
A intenção é melhorar o cenário interno da empresa em diversos aspectos. Veja a seguir os principais!
Políticas e práticas de saúde mental alinhadas à CID-11
A CID-11, além de todos os benefícios já citados, pode ser um documento para inspirar ações relacionadas à saúde mental e inclusão.
Entender que a Síndrome de Burnout é uma doença ocupacional, por exemplo, pode ajudar a desenvolver novas normas, planejar programas de saúde mental e orquestrar ações para prevenir este e outros transtornos.
Desenvolver políticas de inclusão e vagas afirmativas para pessoas transsexuais, trabalhando a cultura organizacional para evitar casos de transfobia, também é adequar a empresa à CID-11.
Nesse sentido, políticas para inserir pessoas autistas, com TDAH e outros transtornos neurológicos, também são muito importantes.
São estratégias que têm uma relação íntima com D&I, mas que também podem melhorar o employer branding e a imagem da organização em geral, assim como seu posicionamento no mercado.
Capacitação e treinamento de gestores
Muito se fala sobre promover uma liderança sensível à saúde mental e isso é fundamental! Mas é importante dar um passo para trás. Será que os gestores, além de não estarem ajudando, estão prejudicando a saúde mental dos colaboradores?
Uma pesquisa da BTA Associados mostrou que 8 em cada 10 profissionais executivos sofrem com chefes tóxicos. Também é muito comum que a Burnout e outros transtornos se desenvolvam em ambientes tóxicos.
Nesse caso, o trabalho pode ser a origem de uma saúde mental fragilizada. Mas, tanto para melhorar o ambiente interno quanto para proteger efetivamente a saúde mental dos funcionários, a capacitação e o treinamento são fundamentais.
Inclusive para que a mentalidade de chefe, que dá ordens e espera resultados jogando toda a responsabilidade para os profissionais contratados, torne-se a mentalidade de líder, em que este arca com pelo menos metade das responsabilidades pelos resultados e pergunta sempre, em primeiro lugar, como pode ajudar.
Mas, além disso, vale a pena ressaltar que a sensibilização destes para com as questões de saúde mental é um pré-requisito básico para:
- Desenvolver uma liderança empática;
- Gerenciar a carga de trabalho;
- Atuar ativamente na resolução de conflitos;
- Comunicar-se de maneira eficaz e positiva;
- Valorizar os profissionais.
A ideia é, além de sensibilizar gestores ou líderes, criar uma rede de apoio organizacional e disponibilidade para o diálogo. Até porque um posicionamento diferente dos líderes influencia todos os funcionários a mudarem o seu comportamento também.
Conscientização e redução do estigma em relação aos transtornos mentais
Se você está num cenário de psicofobia e bullying com pessoas que têm transtornos mentais, investir numa iniciativa de saúde mental pode não ser o suficiente.
E isso não é responsabilidade (apenas) dos colaboradores que não usam o serviço!
É papel da empresa conscientizar tanto os funcionários quanto líderes e profissionais C-level da importância de cuidar da sua saúde.
Mostrar que isso não é uma fraqueza, que um psicólogo não é simplesmente “uma pessoa desconhecida que não sabe nada sobre você” e que isso não diminui em nada o seu valor pessoal.
Ao contrário, a inteligência emocional é uma das soft skills mais procuradas hoje em dia. Uma habilidade que pode ajudar muito a manter relacionamentos saudáveis dentro e fora do trabalho.
Nesse sentido, realizar eventos corporativos com profissionais especializados nos temas que mais afetam a saúde mental dos colaboradores da sua empresa pode trazer resultados impressionantes!
Esses eventos podem ser presenciais ou virtuais e ainda ter diferentes propostas. Uma roda de conversa quinzenal para toda a equipe atende a objetivos diferentes de um treinamento estruturado para lideranças.
Ambos são fundamentais. Quem define qual é melhor é o seu contexto atual.
Clima organizacional saudável
Um ambiente de trabalho que promove bem-estar e saúde de maneira integral não é construído da noite para o dia. A maioria de nós, inclusive, cresce achando que odiar o trabalho é normal.
Que o ambiente de “The Office” é inevitável e funcionários não têm o direito de dizer o que realmente pensam da empresa ou serão demitidos.
Ferramentas como a Pesquisa de Clima Organizacional são muito importantes, mas tem pouca veracidade quando não são acompanhadas por assessments, rodas de conversa frequentes e treinamentos.
Para que as ações e programas desenvolvidos sejam eficazes, é preciso conhecer quais condições de trabalho prejudicam o bem-estar dos colaboradores.
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho lista os seguintes fatores:
- Volume de trabalho excessivo;
- Exigências contraditórias;
- Falta de clareza sobre a função do colaborador;
- Comunicação deficiente;
- Intimidação e assédio moral
Para ajudar a coletar e analisar dados, pode ser interessante utilizar alguma plataforma de People Analytics, que vem revolucionando a área de Gestão de Pessoas.
A Vittude é uma empresa que quer democratizar o acesso à saúde mental no ambiente de trabalho.
Somos referência no mercado, atendendo empresas enterprise e podemos te auxiliar a desenvolver treinamentos, programas de saúde mental, rodas de conversa.
Além disso, nosso principal serviço é uma plataforma de saúde mental com psicólogos que passaram por um processo de seleção rigorosa para atender os colaboradores da sua empresa com o maior nível de eficácia.
Que tal ter a Vittude como parceira para te ajudar nestes desafios? Converse com um dos nossos especialistas.