Como cuidar da saúde mental pode fazer as empresas perderem menos dinheiro?

A falta de cuidado com a saúde mental dos colaboradores diminuiu 5% do PIB. Isso equivale a 400 bilhões de reais perdidos anualmente

Os dados levantados por uma reportagem do jornal Valor Econômico mostram que se ainda não existe budget para o assunto na sua empresa, ela já está perdendo muito dinheiro. 

É verdade que muitas empresas começaram a olhar para o bem-estar psicológico dos trabalhadores durante e após a pandemia de COVID-19, mas elas ainda são a minoria do mercado. Além disso, muitas delas possuem o programa, mas não o executam devidamente e menos ainda verificam os resultados dele. 

O webinar realizado com a nossa CEO, Tatiana Pimenta, e os convidados Fernando Akio, Sênior Medcial Manager da P&G, e Luckas Reis, Head de Psicologia e RH da Vittude, trazem orientações e reflexões de quem está na vanguarda deste trabalho. 

Dr. Fernando, que também é Coordenador de Gestão da Saúde na especialização em Medicina no Trabalho da USP, relata como o cuidado com a saúde mental dos colaboradores gerou um saving de 7 milhões de reais para a P&G. E compartilha gratuitamente muito da sua experiência nesta conversa!

Ao mesmo tempo, Luckas aciona seu backgroung em RH e Psicologia para abordar questões como a importância da saúde mental para o employer branding e para a construção de um programa que transforme tanto os trabalhadores quanto a própria organização para que ele seja eficaz. 

Isso porque mesmo no setor de saúde, a saúde mental não era vista do ponto de vista institucional. Mas ficava isolada como uma responsabilidade apenas dos colaboradores. 

Nesse sentido, entender o impacto da saúde mental no pedido de afastamentos, no absenteísmo, nas demissões voluntárias e no aumento de alíquotas como FAP e RAT, que geram muitos custos da empresa, é essencial para enxergar caminhos mais sustentáveis. 

Veja alguns dos principais insights deste bate-papo a seguir! 

Como a saúde corporativa é percebida pelas empresas hoje?

No contexto atual, há uma hiperresponsabilização focada no indivíduo em casos de presenteísmo, por exemplo, em que isso é visto quase que como uma falha de caráter – como se a pessoa estivesse fazendo “corpo mole”. 

Essa visão está desassociada do que acontece na maior parte das vezes, em que os colaboradores estão passando por algum mal estar de origens diversas.  

É importante que, ao invés disso, a companhia chame para si a responsabilidade perguntando-se se ela não está agravando esse mal estar ou se está sendo negligente diante dele. 

Quais são as principais objeções e barreiras?

Alguns dos principais entraves para um cuidado mais próximo com a saúde dos colaboradores são:

  • A falta de um budget para implementar um programa de saúde mental – ao mesmo tempo que ninguém está mensurando o impacto financeiro negativo que já está acontecendo;
  •  A ideia de que ter um plano de saúde é o suficiente e torna o cuidado com a saúde mental um “luxo”;
  • O receio de implementar um programa de saúde mental, pois ele pode ser visto como um “atestado” de como a organização tem adoecido os colaboradores.

O cuidado com a saúde mental precisa ser visto de modo integral

Muitas empresas acham que falar sobre saúde mental vai fazer com que os funcionários a vejam como culpada. Mas, se ela quer esconder essa pauta, está sendo negligente, logo, é sim responsável pela situação atual. 

E muitas pessoas não querem fazer isso, porque é algo que dá trabalho mesmo repensar a flexibilidade da jornada, a autonomia dos funcionários, sua remuneração e reconhecimento, entre muitos outros fatores. 

Além disso, comprar programas de prateleira é sempre um problema, porque tanto a organização quanto as necessidades dos colaboradores não são estudadas. Mesmo assim, o líder acha que só contratar um programa genérico – de mindfulness, outra terapia ou até simplesmente contratar um psicólogo – vai resolver tudo. 

No final, ele acaba se frustrando e jogando mais dinheiro fora, porque só isso não gera os resultados esperados. E isso acontece porque as pessoas não estão sensibilizadas e, logo, não vão querer participar da iniciativa. 

Programas fragmentados não fazem uma boa gestão da saúde uma vez que não há uma boa integração de informações: os médicos não conversam com os psicólogos, assim como estes não conversam com o RH e assim por diante. 

Como a saúde mental deficitária aumenta o FAP e o RAT?

Para que as empresas devolvam o dinheiro gasto pelo INSS com os afastamentos, foram criadas duas alíquotas que podem aumentar ou diminuir a quantia a ser paga. Além da questão financeira, elas também existem para forçar os empregadores a diminuírem o número de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho. 

Isso porque uma organização de um segmento com muitos afastamentos significa, na prática, uma taxa de 3% da folha de pagamentos ao INSS; empresas com afastamentos medianos precisam pagar 2% e as com pouco afastamento, 1%. 

Mas, dependendo do tamanho da empresa, isso pode significar quantias milionárias. 

Porém, dentro do mesmo segmento podem ter empresas que afastam muito e outras em que isso acontece raramente ou nunca. Assim, criou-se o FAP, uma taxa que pode dar um desconto no RAT às empresas com poucos afastamentos ou duplicar o que já seria pago. 

Esse valor, quando descontado, se transforma numa vantagem competitiva diante dos concorrentes, porque pode se transformar em novos negócios, distribuir como lucro da empresa, investir em programas de saúde (para, inclusive, economizar ainda mais).

A nova classificação para a Síndrome de Burnout

Até 2022, a Burnout era vista como um transtorno mental. Porém, depois do CID-11, ela é reconhecida como doença ocupacional pela OMS. Isso também gera inúmeros gastos para as empresas e uma necessidade de responsabilização maior. 

Atualmente, cerca de 30% dos brasileiros possuem o diagnóstico da doença. 

A partir disso, a empresa vai ter que desembolsar um dinheiro muito mais alto do que faria construindo um programa de saúde mental que, além dos muitos benefícios que possui, ajuda a prevenir a existência ou evolução de transtornos e doenças ocupacionais e, por sua vez, geram estes custos altos para a organização. 

A importância do cuidado com a saúde mental para o employer branding

Além disso, como o Luckas Reis nos lembra, o aspecto mais estratégico do RH é garantir que os talentos estão na empresa e nas posições adequadas. Exatamente por isso se fala cada vez mais em employer branding. 

Já existem pesquisas apontando que as pessoas estão dispostas a ganhar menos desde que estejam numa empresa que realmente valoriza sua saúde mental e investe em estratégias de bem-estar. 

Ou seja, sem um programa de saúde mental as empresas vão perder seus talentos. E, com isso, ter várias desvantagens diante dos seus concorrentes. 

Veja, então, como as pressões acontecem tanto da legislação quanto do próprio mercado e perde quem continua teimando em achar que saúde mental não é importante e não deve estar no centro das decisões estratégicas de gestão de pessoas. 

Por isso, uma das primeiras ações da Vittude é construir, junto o RH, evidências importantes para que essa discussão chegue no nível estratégico. E, convenhamos, um saving de 7 milhões de reais, como aconteceu com a P&G é algo que qualquer CEO quer, não é?

Como dar o primeiro passo para estruturar um programa de saúde mental?

Atualmente, a maior parte das empresa mantém a saúde corporativa como uma exigência da lei. E só. Ou seja, é concedido o convênio médico e são realizados os exames para o Atestado de Saúde Ocupacional, além de outras obrigações legais. Mas não é isso que vai transformar a vida dos trabalhadores. 

Então, partindo do zero: o que deve ser feito?

O Dr. Fernando compartilha que, quando começou a montar essa estrutura na P&G, também não tinha um orçamento específico para a saúde mental. 

Desta forma, o primeiro passo foi mapear a população. Até porque só a partir do momento que os líderes conhecem de fato o status de saúde física e mental dos trabalhadores é que podem ajudá-los. Para isso, além de realizar muitos questionários de saúde, a partir do momento que você detecta uma questão significativa para a maioria, vale a pena fazer duas perguntas. 

Suponhamos que o caso em questão seja um alto nível de estresse, utilizando o exemplo do Dr. Fernando. 

  1. Qual a sua intenção em gerenciar o estresse?
  2. Quando você pretende começar?

A resposta ideal para estas perguntas é “sim” e “dentro de 1 mês”. Do contrário, as pessoas podem estar cientes que o estresse é um problema, mas se não estiverem dispostas a fazer a sua parte, nem o programa mais completo de saúde mental terá um desfecho positivo. 

Isso é muito valioso porque o CEO da empresa não quer jogar dinheiro fora. Então é importante identificar se é o momento de já implantar o programa ou se é importante realizar ações educativas para a sensibilização dos colaboradores. 

Ainda segundo o relato do Dr. Fernando, foram realizadas ações educativas durante três anos. Depois disso, a população que estava interessada em agir para mudar o seu status de saúde mental mudou de 5% para 30%. 

Neste momento, o retorno do investimento teria muito mais chances de acontecer e seria possível executar esse cuidado com a saúde primária, secundária e terciária dos trabalhadores de maneira benéfica tanto para eles quanto para as empresas. 

Além disso, Luckas nos lembra da importância da intervenção, seja individual ou coletiva, junto aos colaboradores. A psicoterapia pode ser vista como uma dessas intervenções, mas é preciso entender que só isso não é suficiente. Se a ideia é transformar a vida dos funcionários, é fundamental que a empresa também mude. 

Seja flexibilizando a jornada, treinando as lideranças, restringindo o tempo em reuniões, etc. Mas não é justo manter um ambiente, que pode inclusive ser um ambiente tóxico, esperando que a psicoterapia vá resolver tudo isoladamente. 

Nesse sentido, a iniciativa de fazer reuniões multidisciplinares, com médicos do trabalho, psicólogos, profissionais de RH e outros líderes não requer nenhum custo. Apenas a sensibilidade destes profissionais e a iniciativa em querer, de fato, melhorar o ambiente para os funcionários. 

Além de todos estes tópicos, veja ainda:

  • Como sensibilizar as lideranças?
  • O efeito positivo de provocar a autorreflexão nos líderes
  • O benefício de envolver os trabalhadores no programa de saúde mental
  • A importância de D&I no desenvolvimento de iniciativas de bem-estar psicológico
Assista ao Webinar!
Autor

Carol Motta

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Redatora sênior, especialista em SEO On Page, cientista social e com experiência em conteúdos de saúde e RH. Trabalha para viver num mundo em que as pessoas sejam mais saudáveis e as organizações, mais inclusivas.