Corona blues: um novo conceito de saúde mental na pandemia

O termo “corona blues” surgiu ao longo da pandemia de coronavírus para descrever o estado emocional e psicológico das pessoas que a enfrentam. 

O cenário atual ainda não é totalmente positivo, embora muitos avanços científicos já tenham sido feitos em direção à prevenção contra a COVID-19. Outras soluções para impedir novas infecções e possibilitar a retomada total do comércio e do turismo também estão a caminho. 

Ainda assim, vai demorar para as populações do mundo retornarem às suas rotinas habituais. Muitos foram demitidos, perderam pessoas queridas, cessaram os estudos por tempo indeterminado e colocaram projetos pessoais em modo de espera. O que talvez torne a situação menos desagradável é saber que todos nós estamos ou já estivemos no mesmo barco. 

Em razão desses acontecimentos, há uma grande preocupação com a saúde mental tanto no momento atual quanto no pós-pandemia. Psicólogos, médicos, filósofos e pesquisadores já começaram a se preparar e prever as possíveis consequências psicológicas da pandemia. 

O que é corona blues?

O termo “corona blues” descreve o estado de tristeza, impaciência, desesperança e ansiedade oriundo da pandemia de COVID-19. O isolamento social, apesar de ser uma medida importante para combater a propagação do SARS-CoV-2 pelo mundo, causou e ainda causa muito incômodo. 

Além da sensação de estar confinado na própria residência, as pessoas também experimentam tédio, medo e inquietação. Uma parte considerável dos indivíduos que deram continuidade aos hábitos antigos sofreram consequências terríveis, como a infecção pelo coronavírus, a estadia na UTI e a perda de entes queridos. 

O sentimento de perda também está relacionado aos projetos pessoais, à carreira profissional, aos estudos, às amizades, ao contato com a família, entre outros. A pandemia forçou sociedades ao redor do mundo a pausarem ou a modificarem por completo as suas vidas.

É compreensível que tantas mudanças repentinas e, muitas vezes, pouco agradáveis afetem o modo de ver a vida e a si mesmo. Somente no Brasil, 63% das pessoas sentiram sintomas de ansiedade durante a pandemia enquanto 59% tiveram sintomas depressivos

Esses dados são de uma pesquisa da USP, a qual coloca o Brasil em primeiro lugar, entre 11 países, no ranking de casos de depressão e ansiedade registrados durante a pandemia de coronavírus.

O corona blues faz referência justamente a este aumento de casos em âmbito global. 

O coronavírus blues é um tipo de depressão?

A depressão é um transtorno de humor caracterizado, sobretudo, por sentimentos de desesperança, tristeza e sensação de vazio. O depressivo deixa de enxergar sentido em sua vida, por isso, perde o interesse em passatempos, no trabalho, nas relações sociais e atividades que lhe traziam prazer.

As diferenças entre uma tristeza passageira e a depressão são a intensidade e a duração. É possível ficar triste por meses, mas não desenvolver depressão. Por exemplo, alguém que perdeu uma pessoa amada pode permanecer meses em luto. As tarefas do cotidiano são executadas normalmente durante esse período e os encontros com amigos não são totalmente evitados. 

Após o tempo necessário para digerir o ocorrido, esse alguém volta a ter um humor bacana. Ele/ela consegue retomar a sua vida normal, apesar da tristeza e da saudade. Logo, não está depressivo. 

A depressão seria identificada se a pessoa em luto não conseguisse sair do estado de tristeza em até um ano e apresentasse outros sintomas, como insônia, letargia e excesso de sonolência, pensamentos negativos, apatia, dificuldade de concentração, irritabilidade e pessimismo. 

Corona blues: um novo conceito de saúde mental na pandemia

Sendo assim, é possível estar constantemente incomodado com a pandemia de COVID-19, mas não depressivo. O corona blues não é, de fato, um transtorno de depressivo. Todavia, ele definitivamente contribui para o surgimento da depressão e outras condições psicológicas. 

Uma das preocupações dos estudiosos é o aumento do caso de suicídios. Dados já exibem um crescimento inquietante em alguns países. No Japão, por exemplo, a taxa de suicídios se elevou pela primeira vez em 11 anos em razão da pandemia. 

Nos Estados Unidos, uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CCD) revelou que um a cada quatro jovens de 18 a 24 anos pensaram em suicídio em junho de 2020, período de férias escolares e universitárias.

O corona blues é um tipo de esgotamento?

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em entrevista ao portal de notícias Infobae, explicou que o corona blues também pode ser uma forma de esgotamento. 

Han estuda o que chama de “sociedade do cansaço” há anos. Para ele, a sociedade capitalista em que vivemos é propícia para o aumento do esgotamento psicológico, físico e emocional. 

Como as pessoas estão em constante estado de produção e preocupação com o rendimento pessoal, elas se privam de viver uma vida com qualidade e saúde mental. Assim, chegam mais facilmente ao cansaço mental e físico. Este, por sua vez, pode causar diversos transtornos mentais.  

Sobre a pandemia de coronavirus, o filósofo comentou que o medo, a preocupação e o ócio causam um esgotamento psicológico coletivo. Ele nomeou o coronavírus como “vírus do cansaço”. 

As pessoas passam muito tempo falando e pensando sobre o assunto, puxando os devaneios para cenários negativos. Acompanham notícias excessivamente, reclamam para os amigos e não encontram distrações saudáveis, por isso, acabam se sobrecarregando.

Causas do corona blues

Além das razões mencionadas anteriormente, existem outros fatores que causam o corona blues. 

Qualquer pessoa está suscetível a sentir-se desanimado ao extremo durante o isolamento social. Algumas, contudo, têm mais contato com situações negativas. É o caso dos profissionais da saúde, por exemplo, os quais estão em contato frequente com óbitos, parentes em luto, hospitais lotados e o medo no olhar dos infectados. 

Quem precisou dar uma pausa na vida por conta da COVID-19 também pode ter depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, síndrome do pânico, entre outros. 

Afinal, o que acontecerá quando regressarem à vida normal? Como vão pagar as contas até lá e depois disso? Terão que trabalhar dobrado no futuro? Como conseguirão emprego em um mercado saturado e desestabilizado economicamente? 

São diversos os questionamentos que rondam a mente de quem passa por momentos de adversidade nesta pandemia. 

Da mesma forma, quem precisou trabalhar em serviços essenciais durante a quarentena se sentiu vulnerável. O medo da infecção é maior quando se precisa sair de casa todos os dias, usar o transporte público e, ainda, compartilhar a casa com familiares ou amigos. 

Outro ponto associado ao corona blues é a percepção das diferenças sociais e econômicas, as quais ficaram em evidência durante o último ano. 

Um estudo desenvolvido na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, e divulgado pela Folha de São Paulo, evidenciou que 86% dos 281 moradores relataram ter depressão e 90% informaram que não conseguem mais desfrutar de atividades cotidianas. A morte se revelou ser a preocupação número um dos respondentes. 

Como combater o corona blues?

Estudantes universitários, profissionais desempregados, autônomos, profissionais de serviços essenciais, jovens profissionais, residentes de periferia, indivíduos em situação de vulnerabilidade, indígenas, idosos, professores, e crianças são apenas alguns dos grupos sociais que se desestabilizaram emocionalmente ao longo da pandemia. 

As consequências reais serão percebidas e medidas com o passar do tempo, especialmente durante o pós-pandemia. 

Entretanto, o coronavírus blues é um desconforto emocional que pode ser combatido, embora encontrar positividade em meio à tanto desespero e perdas possar parecer impossível. 

Para cuidar da saúde mental na pandemia, é necessário fazer um esforço extra para encontrar distrações e meios de expressão sadios. Caso contrário, pode-se cair em uma rotina patológica e incentivar o desenvolvimento de hábitos nocivos à saúde, como o consumo excessivo de álcool

Abaixo, a Vittude trouxe algumas sugestões de como afastar o corona blues e deixar a vivência na quarentena mesmo extenuante. 

Faça o que você gosta

Corona blues: um novo conceito de saúde mental na pandemia

Deixe de pensar no que você não pode fazer em razão da pandemia. Ainda há muito o que você consegue fazer mesmo estando em casa a maior parte do tempo. 

Se você tem paixão por atividades físicas, faça corrida ou pratique exercícios em casa. Se você gosta de sair com os amigos para beber, faça encontros por videochamada ou saia somente quando a prefeitura da sua cidade decretar que é possível fazer atividades de lazer. Faça adaptações em seus hobbies se for necessário, trazendo-os para o ambiente domiciliar. 

Defina novos planos 

Se os seus planos foram interrompidos, dê início a outros pequenos projetos para se distrair. Assim como muitas pessoas se prejudicaram na pandemia, outras encontraram espaço e oportunidades para crescer financeiramente. Esta é uma característica típica da existência humana: sempre existe um lado bom e um ruim. 

Então, foque no lado bom e faça novos planos, como aprender um idioma, adquirir uma habilidade nova ou fazer um curso de curta duração online. Você também pode ter como meta mudanças comportamentais, como “aprender a ser autodidata” ou “aprender a ser organizado”. 

Pense positivo

É difícil dizer “pense positivo” em um momento como este, mas, se você parar para refletir, perceberá que não há necessidade de alimentar pensamentos negativos. Eles aumentam o medo e a falta de desesperança, além de nos deixarem mal por grande parte do dia. 

Para coibir o esgotamento e o corona blues, tenha pensamentos agradáveis e alegres. Não precisa ser necessariamente sobre a pandemia. Você pode ter otimismo em relação à sua carreira, ao seu relacionamento, à sua família e ao seu próprio crescimento como pessoa. 

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta