A Aprendizagem na Criança Autista: dificuldades e desenvolvimento potencial.
8 de fevereiro de 2021
Segundo dados históricos, o autismo se refere ao estreitamento do relacionamento com as pessoas e com o mundo exterior, ou seja, o indivíduo exclui tudo, com exceção de si próprio; tal estreitamento pode ser definido por um distanciamento da estrutura da vida social para a individualidade, ou seja, a pessoa torna-se extremamente introspectiva. As palavras “autismo” e “autista” resultam da palavra grega “autos”, que se refere a “próprio”. De acordo com Brito (2013), não haveria no autismo um fechamento do indivíduo sobre si mesmo, mas um tipo particular e especial de contato deste com o mundo exterior.
Em tal transtorno, o autista apresenta três importantes domínios do desenvolvimento humano comprometidos: a comunicação, a socialização e a imaginação, portanto uma tríade a qual se reflete na dificuldade em aprender.
Quanto ao diagnóstico, pais e cuidadores são os primeiros a observar algo diferente nas crianças com autismo. O bebê, desde o nascimento, pode manifestar indiferença quando lhe é apresentada estimulação por pessoas ou brinquedos, onde o foco é tido de forma prolongada por itens específicos.
Entre as causas, segundo a Medicina e conforme Brito (2013), podem ser resultado das seguintes possibilidades: fenilcetonúria não tratada, viroses durante a gestação, principalmente durante os três primeiros meses, toxoplasmose, rubéola, anoxia, traumatismos no parto e também pelo patrimônio genético. Ausentes disfunções correlatas relacionadas a viroses ou doenças contraídas, bem como a problemas no parto, a probabilidade de influência por fatores genéticos é maior. Quanto à hereditariedade, o transtorno relaciona-se com uma combinação de genes e não com um único gene isolado.
Segundo estudos, problemas psicossociais bem como eventos traumáticos na infância não se relacionam com o desenvolvimento do transtorno, porém há duas teorias psicológicas quanto ao seu surgimento: a primeira se refere a dificuldade de perceber diferenças entre o seu estado mental e dos outros; quanto à segunda hipótese, nota-se um déficit na função executiva do indivíduo, relacionada com as habilidades de planejamento e organização. Diante dessas dificuldades, há necessidade da criança receber uma educação especial, a qual considere suas características individuais e traga benefícios no sentido de otimizar seu repertório de aprendizagem.
Vencendo o estigma
Não podemos deixar de destacar a questão do estigma atribuído ao autismo, pois, de acordo com Ribeiro (2019), ele se manifesta de diferentes graus e maneiras, geralmente como uma fonte de decepção, aborrecimento, vergonha ou pior; tal estigma se torna um impecílio para a família procurar um diagnóstico adequado e serviços especializados para a criança autista, principalmente na área educacional, com ensino adaptado à ela. Segundo um estudo britânico, os pais cujo filho é diagnosticado com autismo costumam olhar o distúrbio com estigma, preconceito e com sentimento de “anormalidade”. Em contrapartida, tal diagnóstico pode estimular a procura por terapias e serviços educacionais adaptados às necessidades dessa criança, ocasionando melhora nos sintomas e melhor qualidade de vida para ela.
Características relacionadas aos principais comprometimentos
No universo da criança autista, eis que uma tríade de comprometimentos está fortemente ligada ao transtorno: a primeira refere-se aos desvios qualitativos na comunicação, ou seja, a comunicação verbal e não verbal é executada com dificuldade, e isto se mostra na ausência do uso de gestos ou seu uso precário, prejuízos na expressão facial ou expressão incompreensível para os outros, linguagem corporal enfraquecida e apresenta problemas no ritmo e modulação da linguagem verbal.
Há alguns casos de crianças com linguagem verbal, porém esta se mostra repetitiva e não comunicativa, resumindo-se a simplesmente repetir o que lhes foi dito, fenômeno conhecido como ecolalia imediata. Existem situações também em que a criança repete frases ouvidas a horas ou até mesmo dias antes (ecolalia tardia); a segunda refere-se aos desvios qualitativos na sociabilização, ponto este crucial no autismo, podendo gerar falsas interpretações. Trata-se de dificuldades no relacionamento com os outros, de compartilhar sentimentos, gostos e emoções e de discriminar diferentes pessoas. De acordo com Mirenda, Donnelan & Yoder (1983), os problemas na interação social dos autistas podem ser notados desde o início da vida. Com autistas típicos, o contato “olho a olho” já se apresenta anormal antes do final do primeiro ano de vida.
Observa-se significativo número de crianças que não apresentam comportamento antecipatório quando pega pelos seus pais, podem mostrar resistência ao toque ou ao abraço e também dificuldades em se modular ao corpo dos pais quando no colo. Em crianças cujo diagnóstico posterior indicar o transtorno, demonstravam, quando bebês, falta de iniciativa, de curiosidade ou do comportamento exploratório; a terceira se relaciona aos desvios qualitativos na imaginação, identificados por rigidez e inflexibilidade e se propagam às várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento da pessoa.
De acordo com Brito (2013), estes fatores explicam os comportamentos obsessivos e ritualísticos, compreensões literais da linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades nos processos criativos. Dessa forma, a criança autista apresenta forma de brincar desprovida de criatividade, dificuldades na compreensão e utilização da mímica, gestualidade e fala, bem como nos jogos de “faz de conta” e imitação social, com desempenho comprometido.
Com relação ao interesse por objetos, podem passar várias horas experimentando a textura de um brinquedo e apresenta grande fascínio por objetos ou elementos atípicos para uma criança.
Em crianças autistas cuja inteligência é preservada, percebe-se grande interesse em determinados assuntos, em sua maioria não frequentes em crianças com a mesma faixa etária, situação esta que confunde com nível de inteligência superior.
Mudanças na rotina são agentes perturbadores para algumas destas crianças, portanto, manter rotinas e rituais próprios fazem parte de suas condutas, como insistência em determinados movimentos repetitivos e estereotipados de rodopiar ou interesse em brincadeiras de ordenar e alinhar objetos. Podem também apresentar preocupação excessiva com horários fixos para desempenharem certas atividades ou compromissos, na maioria deles relacionados aos movimentos estereotipados, costumados a ocorrer em horários fixos do dia.
De forma geral, estes indivíduos apresentam dificuldades na linguagem, interesses restritos por um longo tempo, se atentam mais aos fatos do que ao significado, mostram interesses exagerados por coleções ou cálculos e deixam de lado assuntos sociais ou cotidianos, considerados menos importantes.
A interpretação dos fatos por estas crianças costuma ser literal, o que se reflete na dificuldade ao interpretar mentiras, metáforas, ironias, frases de duplo sentido entre outras. O pensamento se caracteriza por ser concreto, há dificuldades no entender e no expressar emoções, ausência de autocensura (falam o que pensam) e o desenvolvimento motor se encontra em atraso, com dificuldades na coordenação, inclusive na escrita.
A hipersensibilidade sensorial está presente nesta parcela de crianças, cuja característica é sensibilidade exagerada a certos ruídos, objetos luminosos, música ou atração por determinadas texturas. Têm também dificuldades em generalizar o aprendizado e sua capacidade de organização e planejamento é deficiente.
O desenvolvimento delas pode ser normal nos primeiros meses, porém repentinamente podem demonstrar comportamento isolado. A família pode ficar anos sem perceber algo de errado, o que se mostra quando parentes e amigos acreditam na peculiaridade do jeito de cada criança, e isto infelizmente a priva de uma educação especial, pois o quanto antes exista tratamento, melhores serão os resultados.
O desenvolvimento pleno das capacidades destas crianças, bem como seus prognósticos, são influenciados pelo modo como vivem, o quanto de cuidados recebem e a qualidade da estrutura da rede de apoio a elas dedicada.
Algumas ações concertas para driblar o autismo
De acordo com Brito (2013), crianças autistas devem receber educação especializada e apoio dos pais. Tais instituições precisam ser bem estruturadas, capazes de recebê-la através de professores com experiência no trato com o transtorno. Nota-se que através de programas comportamentais, há redução da irritabilidade, dos acessos de agressividade, dos medos e dos rituais, bem como a promoção de um desenvolvimento mais apropriado. No entanto, não podemos deixar de lado programações cuja abordagem seja otimização das capacidades executivas de sequenciação, organização, generalização etc.
Quanto ao tratamento medicamentoso, este não atua sobre os principais sintomas do autismo, mas pode diminuir os sintomas associados como a hiperatividade, porém, há estimulantes os quais podem aumentar os atos repetitivos. É portanto indispensável observar se os benefícios são superiores aos problemas advindos dos efeitos colaterais de tais medicamentos.
Educação para a criança autista: adaptação a suas principais necessidades e problemas
A educação desta população encontra diversas barreiras, principalmente pela dificuldade de sociabilização nela presente, ou seja, o autista tem uma consciência pobre da outra pessoa, o que se observa na falta ou diminuição da capacidade de imitar, pré-requisitos importantes para o aprendizado. Há também dificuldades em se colocar no lugar do outro e de observar os fatos através da perspectiva do outro.
Segundo pesquisas, um bebê normal, nos seus primeiros dias de vida, costuma olhar mais para rostos do que para objetos, isto é, ao observar o rosto dos pais, ele aprende e encontra motivação para aprender. Em contrapartida, o bebê com autismo apresenta atenção indistinta para pessoas e objetos e esta falha em perceber pessoas faz com que não tenha oportunidade de aprendizado, o que promove atraso no desenvolvimento (Brito,2013).
Pais e profissionais, cientes das dificuldades apresentadas no ambiente escolar, têm formulado programas alternativos e estratégias de intervenção. Apesar da utilidade de alguns, outros enfatizam somente correções de dificuldades comportamentais, deixando de lado necessidades organizacionais, a distração, os problemas em sequenciar, a falta de habilidade em generalizar e o reconhecimento dos padrões irregulares de pontos fortes e fracos. Estas dificuldades não estão presentes em toda a parcela destas crianças, mas fazem parte da grande maioria desta população.
A dificuldade de organização é presente, pois exige a compreensão do indivíduo do que se quer fazer e de como confeccionar um plano para execução. Demandas organizacionais complexas costumam imobilizá-lo, e isto resulta na incapacidade de executar as tarefas propostas. Diante deste cenário, hábitos sistemáticos e desenvolvimento de rotinas de trabalho demonstraram ser eficazes em relação a esta dificuldade.
Quanto aos alunos cuja rotina de trabalho é desenvolvida da esquerda para a direita e de cima para baixo, encontram facilidade em planejar por onde começar e como prosseguir; listas de verificação, programações e instruções visuais são importantes, pois mostram de forma concreta aos alunos o que foi feito, o que precisa ser finalizado e como prosseguir.
A distração também mostra ser um problema recorrente quando estão em sala de aula, são mais sensíveis à ruídos externos e muitas vezes focam sua atenção em determinado objeto na mesa do professor ao invés de concluir o trabalho proposto. Embora a distração esteja presente nestes indivíduos, ela se manifesta de diversas formas de uma criança para outra. Sendo assim, identificar o fator de distração é considerado o primeiro passo para ajudar o aluno; para alguns, o fator pode ser estímulos visuais, em outros auditivos.
Após avaliar e reconhecer o que está desviando a atenção, podem ser feitas algumas alterações, tanto ambientais, como mudar a disposição física da área de trabalho do aluno, como no modo no qual as tarefas estão sendo apresentadas em relação ao trabalho.
A sequenciação é outra área comprometida, o que se mostra quando a criança não lembra a ordem precisa das tarefas, atenta de forma concreta a detalhes específicos, nem sempre estabelecendo relações entre elas. Fatores compensatórios destas dificuldades são estabelecer rotinas consistentes de trabalho e desenvolver instruções visuais.
Quanto às instruções visuais, trata-se de métodos de destaque das sequências de eventos, o que promove melhor lembrança pelo aluno da ordem correta a seguir, e quanto à definição de hábitos sistemáticos de trabalho, consiste em deixar o aluno trabalhar de acordo com uma lateralidade que melhor lhe convém, ou seja, aquele cuja preferência é trabalhar da esquerda para a direita, pode desenvolver a sequência corretamente.
As dificuldades com generalização não permitem à criança aplicar o aprendido em um contexto ou outros contextos semelhantes. Isto requer entendimento dos princípios essenciais das sequências já estudadas e dos modos como elas são desenvolvidas em outras situações.
O desenvolvimento da generalização requer o diálogo constante entre os pais e profissionais, ou seja, o binômio casa e escola deve estar fortalecido, possibilitando a estes alunos desempenharem o que aprenderam, segundo Brito (2013), a situações, contextos e ambientes diferentes. Também é necessário sintonização entre as abordagens e desenvolvimento de habilidades semelhantes, tanto no ambiente escolar como no familiar, o que promove melhorias nesta habilidade.
O ensino de base comunitária representa grande importância neste processo, onde todos os programas educacionais disponibilizam atividades incentivando a generalização, o que inclui frequência crescente, à medida do avanço na idade dos alunos, a oportunidade de desenvolverem trabalhos na comunidade no contexto “real”, bem como atividades de lazer.
Importância da metodologia do ensino e organização da área física da sala de aula
É de grande importância a disposição dos móveis dentro da sala de aula, o que pode favorecer ou prejudicar o funcionamento peculiar do aluno, bem como sua compreensão de regras e limites. Devido ao comprometimento de sua organização pessoal, apresenta problemas na definição de onde ir e como chegar pelo caminho mais fácil. Quanto a dificuldade de recepção da linguagem, isto se torna um impecílio para o entendimento de direções ou regras, portanto um ambiente organizado lhes dá referências visuais as quais os facilitam nesta compreensão.
Eis alguns fatores cuja atenção é fundamental para a organização do interior da sala: o ambiente não pode ter grande número de saídas , caso haja alunos com o hábito de correr, a sala de alunos intermediários não pode se localizar na área do Jardim da Infância, o que prejudica a socialização e pode estigmatizar os alunos mais velhos, o local não deve ser muito pequeno e com espaço inadequado para se guardar objetos, pois isto gera obstáculos para a livre circulação interna e prejuízos no aprendizado. A localização do banheiro é de grande importância, e não pode ser muito distante do ambiente de trabalho.
Ao definir o espaço físico da sala, o professor pode iniciar a confecção das áreas de aprendizado e definir o conteúdo da temática das mesmas. Deve-se definir, de acordo com Almeida (2016), as áreas específicas para tarefas de aprendizado específicas, identificar quais são os limites e confeccionar materiais cuja facilidade de acesso promova independência para os alunos em localizá-los e como obtê-los, o que reduz a repetição de instruções por parte do professor e também a quantidade de verbalizações, podendo gerar confusão de informações na criança.
Conforme Almeida (2016), salas e alunos diferentes exigirão estruturas diferentes. Em relação aos alunos mais comprometidos, existe a necessidade de uma maior organização na estrutura da sala, com a definição ainda mais firme de limites e mais dicas que os demais.
Em relação ao método de ensino, deve haver sua sistematização e organização por parte do professor visando eficácia no entendimento dos alunos. Como a criança autista apresenta dificuldades quanto à recepção da linguagem, é recomendado dar instruções quando na realização de suas tarefas, além de dar dicas e reforços para que haja sucesso no aprendizado, prática esta a qual evita a distração, o resistir às mudanças e a carência de motivação. Tais instruções podem ser dadas de modo verbal ou não, sempre de acordo com o nível de compreensão do aluno. Na instrução verbal, deve-se utilizar o menor número de palavras possível, há necessidade de ser sucinta, podendo ser acompanhada de gestos, o que ajuda na compreensão.
O professor, ao dar instruções, precisa ter a certeza da ciência do aluno das expectativas e consequências esperadas para realizar a tarefa, do contrário, é provável que a criança não a execute da forma prevista. Dessa forma, há necessidade do aprendiz em saber onde estão os materiais, como iniciar a tarefa ou o que fazer quando terminar.
Além da linguagem gestual, pode-se dar as orientações por meio de linguagens visuais, como posicionar e apresentar os materiais sempre do mesmo jeito ou através de desenhos e linguagem escrita.
É essencial a uniformidade da organização do trabalho a ser feito, por exemplo, fazê-lo da esquerda para a direita; isto facilita a criança finalizar as tarefas de forma mais satisfatória , sem necessidade de excesso de instruções verbais. Deve haver também apresentação dos materiais necessários para a execução da tarefa de forma específica, ou seja, apenas aqueles fundamentais para a atividade proposta, o que torna sua realização menos confusa para o educando.
A disposição dos materiais no local onde serão manuseados facilitará o indivíduo no cumprimento das orientações e na finalização das tarefas com êxito maior, como colocar objetos próprios para limpar banheiro no interior do mesmo; isto se configura pista elucidadora de qual atividade deve ser executada e quais materiais utilizar.
Trabalhos com peças de encaixe, como quebra cabeças, incentivam maior organização dos alunos enquanto trabalham, podendo os professores utilizar amostras ou figuras de produtos acabados para definição dos próximos passos a serem executados. Também a utilização da linguagem escrita pode ajudá-los a realizar a tarefa na sequência correta. O professor, no entanto, deve evitar uma linguagem causadora de distração.
O treinamento individual de alunos com dificuldades persistentes em compreender o método proposto pelas peças de encaixe ou uma figura mais complexa, bem como daqueles com dificuldades em trabalhar de acordo com uma lateralidade, é de grande importância.
No ensino de novas tarefas, os professores costumam usar dicas para auxiliar os alunos. Existem diversos tipos de dicas, entre elas a dica verbal (uso da palavra falada), dica visual (instruções escritas, cartões coloridos, letras garrafais), dicas gestuais (gesticula-se o que deve ser feito) ou dica através da modulagem ou demonstração (como algo deve ser feito).
O uso de dicas requer seu uso eficaz pelo profissional, isto é, deve ser clara, consistente e direcionada ao aluno antes do advento de uma resposta incorreta. Uma dica como tal, consiste em dizer o que deve ser feito de forma sucinta e objetiva, com poucas palavras, para não haver distração.
Enquanto pessoas comuns encontram motivação em seus trabalhos quando recebem elogios, o aluno autista não se motiva com tais atitudes. Portanto, é necessária a descoberta pelo professor junto com a criança do que a motiva e, desta forma, a ajudar no desempenho do fator motivador.
Há alunos motivados por determinados alimentos ou brinquedos, os quais lhe causam real prazer, outros por uma atividade preferida. De qualquer forma, é importante se fazer a todos os alunos elogios ou “reforços” sociais. Assim, além de existirem alunos sensíveis a elogios de um adulto ou autoridade, há outros cuja mera satisfação em completar o trabalho já é suficiente, dispensam outros tipos de reforços. É necessária a adequação do tipo de reforço à atividade desempenhada pela criança, bem como em relação ao seu nível de compreensão.
Não pode haver dúvida pelo aprendiz do objetivo ou do foco a ser atingido, deve existir estímulo ao comportamento ou capacitação ensinada ou aumentada.
O que se espera do profissional educador no ambiente escolar
A escola, reconhecida como um espaço social relativamente fechado e intermediário entre a família e a sociedade, fornece um ambiente apropriado para a avaliação emocional das crianças e adolescentes.
No interior da sala de aula ocorrem situações psíquicas importantes, onde os professores podem desempenhar, consciente ou inconscientemente, papel tanto benéfico como problemático em relação às condições emocionais dos alunos. A criança autista não possui entendimento de como se estabelecem as relações de amizade, e os perfis irregulares, tanto das habilidades como dos déficits, são suas características. O desenvolvimento de programas específicos para esta população também é dificultoso. Um aluno autista pode desenvolver de forma extraordinária relações espaciais ou conceitos numéricos, mas o uso destes pontos fortes pode ser prejudicado pelas limitações organizacionais e de comunicação. Diante desta demanda, há necessidade da existência de professores hábeis e experientes em ensinar de acordo com estas vantagens e desvantagens singulares. O ensino deve levar em conta esta ampla gama de habilidades e problemas e isto exige avaliações completas pelo professor de todas as características de funcionamento do aprendiz. Isto não significa focar apenas nas habilidades acadêmicas, mas considerar também estilos de aprendizagem, distraibilidade, desempenho em situações de grupo, em habilidades independentes e em todos os demais fatores influenciadores do processo de aprendizagem.
Cada criança possui um estilo para adquirir conhecimento, portanto identificar este modo de aprender é essencial para liberar todo o seu potencial nesta função. Sendo assim, é necessário avaliar como o autista processa a informação e definir quais são as estratégias de ensino mais apropriadas à sua singularidade, o que inclui pontos fortes, interesses e habilidades. A habilidade do professor é medida de acordo com o quanto ele facilita este aprendizado e o quanto ele consegue “conhecer” a criança.
Há adultos com autismo cuja vida profissional e acadêmica é absolutamente plena, podendo, em alguns casos, evoluir de modo acima do normal; isto mostra a importância de se educar a criança desde o início, através de modelos apropriados à suas características cognitivas, tanto quanto às suas habilidades e dificuldades. Porém, infelizmente, muitos programas educacionais para este público são precários, seja por não considerarem as características pessoais de aprender quanto na dificuldade em identificar pontos fortes e fracos. Há professores parcialmente preparados ou até mesmo não habilitados no trato com estas crianças, o que faz do autismo um problema ainda carente de atenção, uma questão pendente no ambiente educacional, necessitando, portanto ,de melhores estratégias para combatê-lo.
Conclusão
Diante dos dados compartilhados até então, observa-se a existência de dificuldades significativas no aluno autista, o que não elimina possíveis habilidades. Sendo assim, há possibilidade da criança com o transtorno tornar-se um adulto produtivo ou até mesmo com condutas notáveis. Para que isto aconteça, é necessário promover-lhe um aprendizado o qual considere suas características singulares na aquisição do conhecimento, bem como seus pontos fortes e fracos, fatores cognitivos, executivos e que realize otimização das desvantagens, com treinamentos específicos. A família deve vencer o estigma relacionado ao comportamento apresentado pela criança e desta forma oferecer-lhe educação especializada.
Um modelo educacional eficiente se caracteriza por promover no aluno um desempenho cuja compatibilidade e adequação estejam de acordo com suas potencialidades e faixa etária, por apresentar possibilidades de aquisição de habilidades práticas, gerar independência e maior autonomia possível, facilitar a integração de prioridades entre família e escola, com objetivos únicos a serem alcançados e com estratégias uniformes, além de trabalhar a criança em sua individualidade através da confecção de um plano terapêutico individual e definição de um programa diário a ser cumprido por ela. Esta metodologia deve estar associada com a evolução do pensamento concreto característico para o abstrato, com desenvolvimento de modelos representacionais e simbólicos na criança, de acordo com seus recursos.
Portanto, a necessidade da existência de profissionais habilitados e preparados para lidar com alunos autistas é uma realidade, a formação docente, além de contemplar os assuntos do cotidiano original do ambiente escolar, deveria apresentar conteúdos relacionados ao ensino direcionado a esta parcela da população. No Brasil, a educação do autista não possui a importância necessária para ser colocada verdadeiramente em prática, há poucos locais com infraestrutura e professores com formação privilegiada quanto ao atendimento desta demanda.
Referências Bibliográficas
Almeida, M.S.R. Estratégias Escolares para Ensinar Alunos com Autismo. Artigo 2016. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com.br
Brito, V.M. O Aluno Autista e o Processo de Aprendizagem. Artigo 2013. Disponível em: https://pedagogiaaopedaletra.com/ o-aluno-autista-e-o-processo-de-aprendizagem /
Mirenda, P., Donnellan, A. M., Yoder, D. E. (1983) Gaze behavior: A new look at an old problem. Journal of Autism and Developmental Disorders, 13, 297-309.
Ribeiro, E. O Estigma do Autismo: Quando Todos os Olhos estão Sobre Ti. Artigo 2019. Disponível em: https://vencerautismo.org