
A culpa da infelicidade
10 de junho de 2019
A clínica contemporânea tem se deparado com sujeitos paralisados na culpa, culpa por não serem felizes. Eles não são suficientes, eles fizeram escolhas erradas e agora não serão mais capazes de ter tudo que mereciam.
Mas, vamos isentá-los da responsabilidade?
Não, até Freud perguntou a sua paciente qual era sua responsabilidade naquela desordem que ela relatava. Então, sim, há responsabilidade em uma análise e muita.
O analisante, de modo geral, chega ao consultório em sofrimento. Algo aconteceu ou, na melhor das hipóteses, sua forma de lidar com os eventos cotidianos já não surte mais o efeito esperado. Algo falhou. Há um sintoma e ele não será resolvido no outro. É aquele que busca o atendimento que terá que decidir fazer algo com aquilo que o incomoda.
Contudo, muitas práticas atuais tem colocado os sujeitos em um lugar mágico, dizendo que eles são invencíveis. O problema é que na realidade eles padecem. Então, surgem os questionamentos: “Serei feito pelas situações e pelos outros o tempo todo?” “O que me torna incapaz de ser feliz?” “Por que tudo dá errado para mim?”
E a dúvida: “Sou capaz de controlar o que me acontece?”
Não…. O tempo todo não, mas algumas vezes, sim!
E mesmo não sendo invencível você pode outras tantas coisas, inclusive se responsabilizar para resolver aquilo que o incomoda dentro das suas possibilidades. Existem limites e lidar com eles não é tarefa fácil, mas é importante que o sujeito perceba que para além das impossibilidades existem várias outras coisas que podem ser feitas.
A frustração está aí, e em uma análise o sujeito não poderá negá-la, mas terá que escolher como lidar com ela.
A infelicidade não é sua culpa, mas é sua responsabilidade lidar com ela.