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A que sexo chegamos?(diálogos sobre sexualidade)

Na Idade Média tudo o que tivesse qualquer conotação sexual era visto como pecado, a relação sexual tinha como objetivo único a procriação. Um casal, para ser adequado diante da sociedade, encarava duas situações contraditórias: A necessidade de sustentar uma imagem de castidade, onde o sexo por prazer não teria espaço, e, a cobrança de gerar um filho para que o casal fosse visto como uma verdadeira família. O sexo no casamento era praticado em um quarto separado, onde além de várias artimanhas para que ambos os corpos não pudessem ser vistos, era comum entre as famílias mais ricas colocarem, neste quarto, uma espécie de altar com várias imagens de santos com o objetivo de “vigiar” o ato sexual, para que qualquer prática considerada impura fosse punida. Nos anos de 1800, depois do período colonial no Brasil, a sociedade pregava a castidade e o casamento recatado enquanto os bordéis faziam sucesso entre os homens que buscavam relação sexual com prazer, tendo, muitas vezes, uma “amante fixa” que soubesse agradá-lo e fazer o que era considerado proibido dentro do casamento.

Onde tudo começou

Avançando um pouco, já na década de 50, temos o lançamento da revista Playboy, sendo pioneira na exibição de mulheres nuas. Sua criação foi inspirada no sucesso que as mulheres pin-ups faziam no exército americano e na busca por um material que acolhesse o pensamento do jovem do gênero masculino.

Entre o final da década de 50 e início da década de 60, um ginecologista americano, uma enfermeira das clínicas de família e uma bióloga ativista pelos direitos das mulheres iniciaram uma pesquisa por um medicamento que prevenisse a gravidez e fosse econômico e, em 1960 foi lançada a primeira pílula anticoncepcional, dando início a uma revolução no comportamento sexual e cultural, pois a partir desta invenção as mulheres não só poderiam ter relações sexuais visando exclusivamente o prazer como também prevenir a gravidez. Um fato curioso é que a pesquisa e o lançamento da primeira pílula nos Estados Unidos foram feitos sem informar sua real finalidade, sendo divulgado somente como regulador da menstruação, pois métodos contraceptivos eram proibidos.

Os movimentos e seus avanços

Em 1969, dando entrada à década de 70, temos o Festival de Woodstock, onde além do movimento hippie, temos o avanço do feminismo. As mulheres não só fazem uma reivindicação pelo próprio prazer sexual, mas também começam a questionar a responsabilidade pelo prazer sexual do parceiro.

Na década de 80, com a descoberta da AIDS, temos a volta do discurso higienista do século XIX , fortalecendo o preconceito contra a homossexualidade com os supostos “Grupos de Riscos” que eram formados por homossexuais, usuários de drogas injetáveis, hemofílicos , prostitutas e pessoas que tivessem mais de um parceiro sexual. Com o tempo esse preconceito foi sendo amenizado com a disseminação da doença em casais héteros, ou seja: pessoas cujo comportamento sexual era considerado adequado.

Na década de 90 surge uma pesquisa para medicamentos que tratasse a angina e a hipertensão. Porém, ao executarem os testes, o grupo experimental passou a relatar uma melhora considerável na disfunção erétil e consequentemente na relação sexual. Surgia o Viagra. Considerado hoje como “a nova revolução sexual”, o medicamento não só trouxe a possibilidade de uma melhora sexual na vida de muitos casais, mas também a discussão sobre sexo na terceira idade.

Hoje temos informações das mais variadas, desde às mais científicas, até as mais violentas. Mas o que fazemos com tudo isso? De que forma podemos utilizar essas informações para esclarecer a nossa família e a sociedade sobre as situações e as dificuldades que nossas crianças e adolescentes enfrentarão?

Podemos refletir sobre o que acontece à um adulto, quando questionado por uma criança a respeito da sexualidade: “O que é orgasmo?”. A reflexão é sobre estarmos preparados para estas questões. Se estamos preparados para a curiosidade e interesse que, com certeza surgirão naqueles que estão aos nossos cuidados e em preparo para a vida adulta. Podemos diante de questões como estas imaginar um adulto corado, constrangido, zangado, pensando em como responder ou não, a essa pergunta.

Se a sexualidade é fundamental para o ser humano no que tange a satisfação, completude e procriação, porque tanta barreira na comunicação familiar?

A sexualidade e os tabus

Agora voltemos à cena descrita acima, porém analisaremos pelo ângulo da criança: Ela tem uma dúvida sobre algo que viu na internet, ou na revista, ainda não entende muito bem sobre o que é aquilo que ela viu, talvez tenha visto imagens, algo muito simples de encontrar nos dias de hoje, pensou em perguntar para alguém da família em que confia, porém ao se deparar com o receio, a crítica, ou até mesmo a reprovação do adulto em sua frente, pensa “Será que fiz algo de errado? eu perguntei e não houve resposta, porque?”. Quanta dificuldade! Será que evoluímos só externamente, internamente continuamos na idade média? Ou será que a sexualidade sempre será um tabu? Se é um tabu, o que vem alimentando este tabu ao longo dos séculos? Penso que fingimos ter evoluído…

Assim, temos uma espécie de união entre o lado de liberação sexual dos anos 70 com a castidade pregada na Idade Média: Temos desejos sexuais e queremos satisfazê-los, porém não nos sentimos livres em família, e até em sociedade, para conversar, refletir e principalmente aprender com eles; e aprender sem a pressão dos estereótipos, que, infelizmente, ainda estão bem enraizados em nós.

É interessante pensar em como os nossos tabus e a nossa maneira de lidar com o sexo influencia novas gerações, e em como queremos que a “relação com o sexo” seja futuramente.

Como explicar para um iniciante na vida sexual, que nem toda relação vai ter orgasmo; Que sexo pode dar prazer mesmo sem ter um corpo perfeito; Que o vídeo pornô não retrata a realidade; Que nem sempre o seu parceiro vai gostar do que você gosta; Que orgasmo nem sempre acontece, apesar de ser importante para a relação e para o relacionamento; Que os estereótipos como “mulher-objeto” e “homem provedor” trazem sofrimento psíquico individual e social, e que relações sem prazer sexual ainda existirão enquanto não houver um diálogo aberto.

Para futuramente existir um olhar menos estigmatizado e mais natural para o sexo, é importante nos questionarmos até onde estamos dispostos a alimentar os tabus com o nosso silêncio. Há um tempo atrás a Playboy americana informou que não publicaria mais fotos de mulheres nuas, decisão que durou pouco mais de um ano, porém a volta da nudez na revista veio com uma afirmativa interessante na capa: “Nudez é normal!”. Sabemos que ainda existirá uma conotação sexual na Playboy, mas talvez isso seja uma amostra que precisamos rever a maneira como mostramos o sexo para quem construirá o amanhã e permitir que o tabu que está em nós não seja uma herança para eles.

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