Cirurgia bariátrica, como encarar as mudanças?
15 de julho de 2021
A cirurgia bariátrica é uma espécie de ferramenta que possibilita a perda de peso de forma rápida e gradativa, principalmente no início do procedimento. Ela também possibilita que o sujeito que decidiu pela cirurgia possa sair de um lugar, aparentemente passivo e vá abrindo espaço para que este tome o controle do seu próprio corpo.
Muitas dúvidas passam pela cabeça do paciente, afinal, existem muitos fatores difíceis e limitantes, são físicos, emocionais, pessoais e profissionais, podendo haver preconceito e insegurança.
Apesar de todo o conhecimento que se tenha acerca das doenças metabólicas, a obesidade não é encarada como tal, e muitos indivíduos são vistos como desleixados e preguiçosos. Com isso, alguns padrões negativos podem se instalar, como baixa autoestima, insegurança frente ao outro, sentimento de desvalia, muitas vezes a vida vai ficando restrita e com isso o isolamento pode surgir, nesse momento o sujeito pode evitar as relações sociais, passa a ir somente a lugares que são estritamente necessários, como o trabalho por exemplo, isola-se do mundo e com isso parece que o alimento se torna a sua única fonte de prazer na vida. Fica muito difícil sair de toda essa situação sozinho.
Em alguns casos essa condição pode ser agravar e além da obesidade podem surgir outras doenças associadas ao excesso de peso, como: diabetes, doenças cardio vasculares, problemas ósseos, HAS (hipertensão arterial sistêmica), apneia do sono, doença hepática dentre outras, o que acaba por reduzir a expectativa de vida do sujeito.
Detalhes sobre a obesidade e suas consequências para a vida
Se a obesidade inicia na infância e adolescência uma serie de patologias podem se instalar desde esse período. São elas: Asma, rinite alérgica, puberdade precoce, ginecomastia, sindrome de ovários policísticos, colelitíase (cálculos na vesícula) e outras doenças associadas.
Existem situações que o processo evolui de tal forma que o sujeito não consegue emagrecer com as dietas, exercícios físicos e as vezes o acompanhamento com alguns profissionais também não traz resultados. É neste ponto que o sujeito opta pela cirurgia bariátrica e grandes mudanças são necessárias, não somente após a cirurgia, mas principalmente antes do procedimento, é preciso entender o que está por vir, mudanças psíquicas e físicas.
Compreender como se chegou àquele ponto da obesidade e o que dá vida emocional e psíquica tem relação com o ganho de peso, é imprescindível e faz toda a diferença. Muitas pessoas quando chegam ao consultório com esta queixa, imaginam que o assunto vai girar em torno da obesidade exclusivamente, mas não se trata apenas disso. Se trata de compreender sua história de vida, as vezes até de enxergar outras gerações, de como se dá a relação com a comida, porquê comer se tornou a única fonte de prazer e interesse, porquê frente aos conflitos e dificuldades vividas o sujeito vai buscar satisfação na comida, e diante das frustrações, quando o desejo de comer surge imediatamente. É necessário se implicar com sua história.
A compulsão por comer parece uma forma de evitar a angustia, mas, paradoxalmente, é o que também causa sofrimento. Se trata de compreender os aspectos subjetivos implicados neste sintoma, a obesidade.
Lacan, 1998, p. 624:
Nesse sentido, é necessário pensar cuidadosamente o que o paciente demanda quando busca um tratamento para emagrecer, ou quando não veicula em seu discurso uma abertura em que possa surgir um questionamento sobre o seu sofrimento. Isso é fundamental para pensar a possibilidade do tratamento psicanalítico com esses pacientes, pois não se trata de emagrecer o obeso e adequá-lo ao Índice de Massa Corporal (IMC) desejável, mas de sustentar a demanda “[…[ para que reapareçam os significantes em que sua frustração está retida”
É especificamente no que Lacan denomina de significante derivado da frustração que o analista vai trabalhar, é o que permite a entrada na análise. Quando o paciente deseja realizar a cirurgia bariátrica e possui questões emocionais, esse pode ser o momento para iniciar esta caminhada.
Pode haver também a presença de um comer transtornado, compulsão alimentar e como já dito antes, conflitos que precisam serem trabalhados para que se possa levar a frente as mudanças oriundas do processo cirúrgico. Então é necessário compreender essas questões e seguir em frente com a terapia. Desde o início pensar em uma alimentação saudável, inserir uma rotina de exercícios mesmo que mínima, para que a mudança de hábito possa adentrar na vida desse sujeito. Não é uma tarefa fácil, mas é possível.
As etapas seguintes à cirurgia são de uma rotina muito diferente a que se estava acostumado e manter essas alterações são primordiais para o sucesso da cirurgia.
Para levar a frente este recomeço é necessário empreender o novo que está por vir, porque para muitos é disso que se trata, poder recomeçar a vida, literalmente de uma forma mais leve, sem tantos entraves e dificuldades.
Maristela Silva
Extensão em transtornos alimentares e obesidade
Psicóloga e futura psicanalista