Como encarar os feriados com a família
8 de janeiro de 2021
O fim de ano em família é preocupante e pode ser que você esteja lendo isso perto de algum grande feriado ou alguma outra situação que faz com que a família acabe se encontrando e passando um bom tempo todos juntos. Existe a expectativa de que a família se encontre, tenha bons momentos, união e felicidade. Existe a expectativa de uma relação quase mágica com uma aura de bons sentimentos. Mas a realidade nos mostra que a nossa família, como todas as outras, é disfuncional e cheia de problemas e conflitos. Não escolhemos nossos familiares como podemos escolher nossos amigos, não necessariamente vamos compartilhar visões de mundo, preferências e sentimentos. Inevitavelmente haverá disfunções.
Então como conseguir passar pelos feriados, principalmente os feriados de fim de ano que são os feriados que mais trazem as pessoas para perto, como manejar todas essas interações e todos esses conflitos? Como tirar o melhor de cada interação e de cada relacionamento?
Tenha consciência
Antes de se preocupar com os outros, esteja consciente de si mesmo, ciente do que você mesmo sente sobre os parentes, sobre os feriados e sobre as festas. Quais os sentimentos que você terá diante de alguns membros da família? Pode ser raiva ou culpa por exemplo. Então é necessário imaginar como esses sentimentos farão você se comportar, seja através de comportamentos evitativos ou falas mais agressivas. Cada um tem um padrão, cada um reage de forma diferente diante de alguns sentimentos e algumas situações. Se conhecer e saber o que esperar de si mesmo é um importante primeiro passo, antes de pensar no que os outros farão.
Na hora de pensar sobre o que os outros podem fazer ou dizer, é importante evitar julgamentos. Você sabe que determinadas pessoas têm certas opiniões e certos preconceitos. É previsível o que as pessoas farão na nossa presença, pois já convivemos e interagimos com aquelas pessoas. As opiniões divergentes e até as opiniões preconceituosas podem ser a parte mais difícil de uma interação com a família. Posicionamento político, orientação sexual e até a fé religiosa podem tornar as pessoas altamente emocionais e explosivas. Para além de uma luta social, é preciso lembrar que se está em família, e se suas convicções são mais importantes do que os laços familiares, talvez você deva repensar sua presença naquele meio. Se os laços familiares forem mais importantes, então é possível deixar as convicções de lado para viver em família, pelo menos por alguns dias.
Tente prever, com parcimônia
Não podemos prever com precisão o que vai acontecer. Mas podemos fazer previsões que chegam satisfatoriamente próximas da realidade. Podemos prever o que os outros farão em determinadas situações, como vão reagir a comentários, e às vezes conseguimos antecipar até detalhes sutis como um olhar e as piadas que serão feitas. Todos seguem padrões, e isso se torna dramaticamente importante quando falamos de padrões disfuncionais. A disfunção é inseparável da família, e baseado na experiência e na vivência é perfeitamente possível antecipar o que farão e assim planejar formas de lidar com isso.
Na dinâmica familiar as pessoas assumem papéis variados e alguns bem estereotipados. Esses papéis mudam, se recriam e deixar de ser atuados no decorrer do tempo, por isso chamamos de dinâmica familiar. A ideia aqui não é reforçar preconceitos, mas compreender papéis, ou melhor, compreender a posição de cada um ocupa. Alguém que por muito tempo foi o rebelde da família, ou a “ovelha negra”, pode hoje ser alguém totalmente diferente.
Entenda o seu papel e quem você é hoje
O problema com a família é que, por se tratar de uma força conservadora, ela tende a desconsiderar nossas mudanças. É comum alguém que deixou de ser o adolescente rebelde ainda seja tratado como se fosse. A família tem esse poder de legitimar ou deslegitimar isso que pensamos de nós mesmos. Então é importante saber o papel que desempenhamos hoje, e os que desempenhamos no passado, pois a família é afetada por todos. Assim é importante termos conhecimento não só do que somos para os outros, mas do que já fomos, e do que podemos ser. Nosso passado e futuro afeta o que os outros esperam de nós e como vão agir na nossa presença. O filho que tem um futuro financeiro promissor não é tratado igualmente ao filho que não se preocupa com dinheiro, por mais que sejam igualmente inteligentes e dedicados.
Há casos não mais especiais em que a pessoa mesmo sabendo tudo isso não consegue ter relações satisfatórias. Alguém pode saber tudo o que quer, que tipo de interação gostaria de ter, e como os familiares podem reagir em cada situação, o que esperam, e pode até ter um plano do que falar, de como reagir à hostilidade, e de como se retirar de situações altamente desprazerosas. Alguém pode saber disso tudo e ainda assim se envolver em conflitos. Para os casos em que as pessoas imaginam o que gostariam de fazer e o que é mais importante para si, mas não conseguem seguir o plano, não conseguem ter uma interação satisfatória e com naturalidade, só mesmo uma experiência analítica pode desvelar o que há para além do que dizem querer e o porquê do descompasso com as atitudes.