Como o cérebro cria e muda hábitos

O cérebro, na sua responsabilidade de comando do funcionamento do corpo, é altamente habilidoso ao lidar com a aprendizagem. Uma criança passa pelo treinamento da escovação de dentes e, uma vez internalizada a mecânica da escovação, ela não precisa mais estar atenta a cada movimento – a harmonia na atividade e a correção de ações imprecisas ocorre numa comunicação contínua entre estruturas do sistema nervoso, os dedos e a mão.

Imagine quais dedos têm ação principal nesta atividade, qual a contribuição da cada dedo, as diferentes direções que a escova deve seguir para atingir cada dente, como se dá o equilíbrio da escova entre os dedos. Lembre-se também da movimentação da língua e do controle salivar ao lidar com a espuma da pasta de dente. E fazemos tudo isso sem necessariamente visualizarmos nossos inimigos, afinal nem todo resíduo pode ser observado no espelho!

Você sabia que a escovação é uma atividade tão complexa?

Agora imagine se o cérebro precisasse estar atento a toda e qualquer atividade da vida diária! Ao final do dia estaríamos exaustos, não é?

É por isso que os neurônios criam uma relação biológica com um determinado hábito, atingindo seu objetivo de economia de energia e de supressão de ações desnecessárias. Aqui temos uma aprendizagem essencial: o gasto de energia deve ocorrer com coisas que realmente são importantes para nós.

Estudar um conteúdo novo que lhe trará prazer e abrirá caminhos para sua profissão é uma ação que demanda energia, a energia aplicada a algo bom! É a energia direcionada ao que faz a diferença.

Uma vez finalizadas, as tarefas do dia-a-dia poderão ser esquecidas e entrar na lista de descarte. Seguindo a linha da economia de energia, este tipo de tarefa pode ser anotado numa agenda e o único compromisso que devo ter é anotar e acessar a agenda uma ou duas vezes ao dia para cumprir com as atividades.

Economizar energia é muito bom, mas precisamos ter cuidado com a zona de conforto. Você já notou que alguns maus hábitos estão tão internalizados a ponto de nos habituamos com algo negativo? Reclamamos do passado, não fazemos nada no presente e maldizemos o futuro.

Pode ser o chefe que não me agrada há anos, a dieta que nunca dá resultados, o amor que um dia irá corresponder.

O cérebro é altamente plástico e isso significa que ele se reorganiza diante de novas aprendizagens. Podemos criar novos hábitos: mais eficazes e positivos.

O primeiro passo parece desanimador, pois para mudar de hábito precisaremos inicialmente gastar energia, como a exemplo da escovação de dentes:

  • Garantir que tenho todos os itens necessários: água, escova, pasta de dente, toalha.
  • Buscar uma estratégia para “lembrar” meu cérebro da nova rotina: colocarei um despertador três vezes ao dia?
  • Assumir compromisso com a mudança: quando eu estiver na cama quentinha pronto para dormir e notar que a escovação não foi feita, será fundamental agir em prol da mudança!
  • Lidar com diferentes contextos: mudança de rotina ou de ambiente requer organização – Tenho todo o material de escovação quando estou no trabalho?

A boa notícia é que passado este pico de gasto de energia, entra-se na constituição de um novo hábito, mas desta vez, é um hábito que nos traz benefícios. É muito animador saber que podemos instalar comportamentos eficazes e com reduzido gasto de energia.

Sabe aquele amigo que você categorizaria como “super inteligente” e que lê bastante? Ele criou o hábito da leitura, assim como você também pode criar. Da mesma forma, aquela criança que desde pequena foi ensinada a lidar com o dinheiro (educação financeira), terá hábitos de consumo consciente e sustentabilidade financeira.

E para você que está em profunda reflexão gastando energia adequadamente com a leitura deste artigo, eu aproveito para afirmar: A psicoterapia é um processo de mudança de pensamento e de comportamento, e como tal, é um grande recurso para esta reestruturação mental e ressignificação psicológica, substituindo maus hábitos por outros que funcionem a seu favor.

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