Do trauma à cura

Do Trauma à cura

Vivemos momentos onde o trauma está muito presente em nossas vidas.

Começando pela Covid-19, fomos tomados de assalto por esta pandemia que vem devastando a humanidade em todos os seus aspectos. Ao longo da história o ser humano passa por traumas. Muitos deles quase que diariamente, e na maioria das vezes imperceptíveis à consciência, no entanto visto, e sentidos mais fortemente mediante catástrofes.

Diante deste cenário de pandemia podemos verificar as grandes marcas traumáticas deixadas por ela. Além da doença em si causada por um vírus desconhecido do mundo cientifico – No entanto presente e avassalador,  causador de graves consequências e complicações devido ainda não se ter descoberto vacinas adequadas para  tratamento e prevenção da doença –   O saldo de tudo isso são as  sequelas tanto para as pessoas que contraíram a doença quanto para as que não contraíram, porem afetadas indiretamente. Soma-se a todo este caos as milhares de mortes espalhadas em todo mundo, resultando como ônus o trauma provocado por toda essa turbulência pandêmica  como por exemplo; o luto pela perda de entes queridos, os danos físicos, psicológicos, moral devido perdas de empregos, de patrimônios, do poder econômico em alta escala, seja individual e  ou coletivo.

Neste cenário de dor e sofrimento, resolvi falar um pouco deste tema que já se considera parte da nossa estrutura psíquica, emocional e física que é o trauma. E para compreender melhor suas características e a sua procedência, partimos por seu surgimento datando a partir dos povos pré-históricos os quais viviam em cavernas embora fossem caçadores sabiam que poderiam a qual quer momento serem apanhados por predadores e despedaçados. Estas memorias genéticas permaneceram em nosso sistema nervoso.  A pesar de toda a capacidade que possui o cérebro humano ele ainda duvida da sua habilidade de agir de forma a preservar a vida. Diante destas incertezas nos tornaram vulneráveis aos poderosos efeitos do trauma.

Em compensação a natureza desenvolveu a resposta de imobilidade, ou de congelamento denominação dada pelos fisiologistas, que é um processo instintivo, assim como de luta e fuga resposta fisiológica presente em todos os mamíferos incluindo os humanos, a qual funciona como estratégia de sobrevivência, sabe aquela expressão fingir de morto? Muito embora em muitas culturas julguem essa função instintiva de imobilidade em face a uma ameaça como fraqueza e covardia. Este julgamento provem do medo sentido, pois para o humano significa um estado semelhante ao de morte, entretanto perdemos muito por não usar esta função. No entanto os animais usam instintivamente a resposta de imobilidade frente a uma ameaça avassaladora, o que os deixa congelados, na presença de sua presa, onde entram num estado alterado no qual não sente dor se for capturado pelo predador, este estado é considerado de quase morte.

Quando fora de perigo o animal sacode para fora os resíduos da resposta de imobilidade e assume o pleno controle do seu corpo, saindo como se nada houve acorrido. A fisiologia mostra que esta habilidade de entrar e sair dessa resposta natural é a chave para evitar os efeitos danoso do trauma, comportamento inexistente nos humanos.

Como Isso é Possível?

Entendendo que nosso sistema nervoso consiste em três sistemas integrados os quais são idênticos aos dos mamíferos e repteis. São devidamente conhecidos como cérebro trino, tido como cérebro reptiliano(instintivo) cérebro mamífero ou límbico(emocional) e o cérebro neocórtex(racional). São as mesmas partes quando ativadas compartilhamos com os animais mediante ameaça a vida – aprendermos com eles estudando os seus comportamentos como evitam a traumatização.

Diante de Uma Ameaça o que Fazer Lutar ou Fugir?

Nós humanos entramos em um grande dilema. Ao contrario dos animais selvagens, nosso cérebro racional, tende a entrar em confusão e acaba por dominar os nossos impulsos instintivos. O autor do livro-O Despertar do Tigre- Levine denominou de “complexo de Medusa” – o drama do trauma.  Esta confusão humana resulta segundo ele, o confronto com a morte e que pode nos transformar em pedra, como no mito grego. Isso significa congelar-se de medo, comportamento que resulta na criação dos sintomas traumáticos.

Quais as Causas mais Conhecidas dos Traumas, e de que material ele se componha?

O trauma permeia a vida de todos os seres humanos. Em relação aos acontecimentos e as consequências do mesmo têm-se uma amplitude, as quais muitas vezes estão ocultas de nossa consciência. Incluiu-se os desastres naturais (os terremotos, tornados, inundações, incêndios e as pandemias a qual estamos vivenciando na atualidade), exposições a violências, acidentes, quedas, doenças graves, perda súbita de um ente querido. Aqui pode ser sinalizadas as mortes causadas pela pandemia, quantas pessoas em dor e luto? Suicídios, assassinatos, como não entrar em choque com estas mortes súbitas?  procedimentos cirúrgicos, médicos e dentários, partos difíceis, e alto níveis de estresse durante a gestação, abusos infantil e sexual.

O trauma em si não é desencadeador de sintomas, mas sim os resíduos congelados de energia que não foi resolvido e descarregados permanecendo preso no sistema nervoso causando danos a nosso corpo e espirito. Porem os sintomas vistos a longo prazo e muitas vezes recidivos são alarmantes, debilitantes e frequentemente bizarros, isso tudo quando impossibilitado e não completo o processo de entrar, atravessar e sair da imobilidade, ou estado de congelamento.

Um exemplo claro para que você compreenda esta energia que do que o componha, ela  é semelhante está dirigindo um carro em alta velocidade e der repente pisa no acelerador e freio ao mesmo tempo, isso significa uma corrida no interno, sistema nervoso(motor) e a imobilidade externa(freio) criando no corpo uma enorme turbulência, que se assemelha á um tornado dentro do corpo. Essa energia de tornado é fonte básica para formar os sintomas dos estresses traumáticos.

Quando o ser humano não realiza esta descarga de energia que fora mobilizada diante de uma ameaça, ele se tornará vítima do trauma, e as consequências desta energia persistindo no corpo é a formação de uma enorme variedade de sintomas: como por exemplo, ansiedade, depressão, doenças psicossomáticas e comportamentais, crise de pânico, insônia, comportamentos destrutivos repetitivos, pode-se incluir o uso de substancias psicoativos como álcool e outras drogas, com o intuito de aliviar os sintomas. Dificuldades de expressar suas dores, e crises violenta de raiva, tornar-se pessoas extremamente cautelosas e inibidas, quadros de vitimação e exposição de temor ao perigo. Além de ser um agente que pode destruir a qualidade dos relacionamentos, e distorcer as experiências sexuais, desenvolver comportamentos sexuais compulsivos, perversos, promíscuos e inibidos.

Nossos traumas quando não resolvidos nos sentimos fracassados, inseguros e frustrados tendemos culpar aqueles a quem pedimos ajuda. É muito importante nos acolhermos, não nos culparmos e nem aos outros e sim que aprendemos a ampliar nosso conhecimento sobre como cura-lo

Você se identificou com algum destes sintomas? O ideal é que busque ajuda de um bom profissional e juntos acessar as profundezas do seu ser, acessar o seu curador interno que te possibilite curar as feridas da sua alma!!!

Como Poderíamos Definir o Trauma?  

Para os especialistas a definição oficial seria que ele é causado por um acontecimento estressante “que está fora da amplitude da experiência humana usual, que seria marcantemente perturbador para qualquer pessoa.” As experiências em comum são: “ameaças graves a vida ou integridade física; ameaça grave ou dano aos filhos, ao cônjuge ou a outros parentes próximos ou amigos; destruição repentina da casa ou da comunidade;  ver outra  pessoas que foi ou está gravemente ferida ou morta como resultado de um acidente ou violência física.”

Porem, Peter Levine vai dizer que esta definição é válida, no entanto existem outros acontecimentos que são potencialmente traumatizantes e que com frequência não são vistos como fora da amplitude da experiência humana usual. Para ele, as quedas, cirurgias que o copo inconscientemente percebe como ameaçadoras, estupros, tiroteios eles sempre serão traumatizantes.

Você já Passou Por Algum Trauma na Vida?

Se considerarmos que ele estar em nossas memorias ancestrais, diremos sim sem dúvidas, a saber que o trauma é muito comum em nossas vidas, mais do que pensamos, mesmo que por alguma razão ele tenha se tornado inconsciente, até mesmo com a função de proteção, para que o fluxo da vida prossiga, muito embora essa vida siga, porém em fragmentos algo que não é incomum aos traumatizados. Contudo em algum momento ele surgirá – precisamos olhar para ele com a intensão de curá-lo e de transformar se assim desejar, ou permanecer vítima dele. Chegam em nossos consultórios centenas de casos de clientes que buscam por terapia desde crianças a adultos que trazem em suas histórias memorias traumáticas- as quais  sem nenhuma consciência das situações que a causara.

No entanto não saber da sua existência não evita que se tenha os problemas causados pelo trauma. Ao longo dos meus anos de atendimentos passaram uma infinidade de clientes buscando terapias com uma complexidade de sintomas tais como; ansiedade, insônia, irritabilidades, dificuldades nas relações, disfunção sexual, pânico, entre outros, inclusive sintomas que já citei neste artigo.  Que no decorrer do processo terapêutico as principais causas estavam em situações traumáticas vivenciadas por eles. Dentre estes atendimentos destaco dois casos que me chamaram bastante atenção, a queixa principal na busca por psicoterapia de ambos os casos eram dificuldades no relacionamento conjugal e por consequências os conflitos emocionais, ansiedade, depressão…

O primeiro caso é de uma senhora de quase 50 anos, depois de algumas sessões de terapia, ela traz o tema morte, mesmo por que ela tem uma filha que é portadora de transtorno psicótico, e muitas vezes apresenta quadro com ideação suicida. Naquela sessão ela relata que sua filha havia sido internada devido a uma crise. Sugerindo por esta razão este conteúdo está presente em sua psique. Entre uma fala e outra lhe pergunto qual o significado que dá para a morte. Ela começa falando muito vagamente e racionalmente sobre o tema e de repente se lembra quando tinha 5 anos de idade morre um priminho recém-nascido e que naquela época se velava o corpo dentro de casa. Então diz que as pessoas presentes a fizeram beijar o pesinho da criança morta para se despedir da mesma, e quando me conta isso, me diz que ainda sentia o gelo em seus lábios do pezinho da criança.

Continua conversando, porem para de súbito e diz está sentindo um ar muito gelado subindo pelos seus pés e pernas, que vai lhe tomando e dando-lhe um mal-estar. Naquele momento foi possível observar o surgimento de uma memoria traumática vindo para consciência e o corpo liberando aquela imagem, memoria congelada.

O segundo caso é de uma jovem senhora de aproximadamente 38 anos, sua história possui algumas semelhanças com o caso anterior, quanto aos problemas relacionais com o cônjuge, e as consequências são as dores e conflitos emocionais. Ela já estava em psicoterapia por mais tempo, no decorrer do processo terapêutico engravidou e depois que a criança nasceu ficou por quase um ano ausente da terapia.

Ao retornar depois de algumas sessões, me diz que naquela semana havia sentido vontade de passear de barco com sua filhinha, mas que de repente lhe veio um pensamento, e se seu bebê caísse na água, ela não sabe nadar, ela se jogaria na água e morreriam juntas. Aquele pensamento lhe apavorou… Então começamos a conversar sobre o que havia trazido, e de subido para e começa a contar que quando tinha 11 de idade quase morrera afogada em um açude onde morava no interior e começa a chorar convulsivamente como se o fato estivesse ocorrendo naquele momento. Aqui também pude observar o surgimento daquela imagem traumática congelada, e a liberação através do corpo com os tremores e comoção com o choro.

Minhas considerações para ambos os casos, as pacientes diante de suas vivencias traumáticas e congeladas estavam ameaçadas, sobrecarregadas, e como resultado ficado presas na resposta de imobilidade, o corpo delas literalmente tinham resignado a permanecer naquele estado o qual o ato de lutar ou fugir não existia. Uma por ter a penas 5 anos e a outra um afogamento. Onde esta resignação afetara seu eu real e vital, assim sugerindo a perda de uma personalidade segura e espontânea diante do seu mundo externo, da vida na resolução dos seus conflitos. Observei que a partir da descarga de energia experienciada por ambas através de suas memorias e do corpo evocara recursos fisiológicos, como o choro, o frio, o mal estar- o que ocorrera momentos depois desta experiência fora a sensação e sentimento de bem estar.

O que precisamos entender é que os sintomas traumáticos são fisiológicos e psicológicos. Para Levine o cerne da questão está em ser capaz de reconhecer que o trauma representa os instintos animais que foram distorcidos. Ao serem dominados, esses instintos podem ser usados pela mente consciente para transformar os sintomas traumático num estado de bem-estar, e que todos temos capacidade para curá-lo.

Infelizmente é muito comum vermos em nossa cultura a negação das emoções em relação às pessoas traumatizadas, incluindo o traumatizado(a) devido a intensidade das emoções, tende-se reprimi-las, inclusive que há uma falta de tolerância pela vulnerabilidade emocional que as pessoas traumatizadas experienciam. Esta negação é tão comum que se usam frases que se tornaram clichê; “não foi nada, já passou. Você deve esquecer o que aconteceu. Sofra sem reclamar. É hora de seguir adiante com sua vida.” Há uma pressão para que a pessoa se reajuste, ou elabore aquela situação avassaladora, sem que haja o tempo necessário para tal. situação praticamente impossível, principalmente para uma mãe que perde um filho de uma forma abrupta, inesperada… Que tenhamos mais compaixão diante do trauma do outro, pois cada pessoa tem uma reação independente a situação ou forma que ocorrera.

 Como praticante do xamanismo, achei interessante citar a cultura xamânica e a forma como lidam com o trauma. Dentro desta abordagem, no decorrer de toda história oral e da escrita os xamas ou curadores reconheciam os impactos debilitantes do trauma, nestas culturas eles veem a doença e o trauma como um problema para toda comunidade, não a penas no indivíduo. Na visão xamânica consideram que a alma estaria presa num “limbo espiritual”. Esses curadores “primitivos” catalisam as poderosas forças curadoras inatas de seus pacientes por meio de rituais com o apoio da comunidade, ampliado por tambores, danças e transe cria o ambiente em que a cura acontece, utilizam-se também de substancias vegetais e de catalizadores farmacológicos. Reconhecem que a profunda interconexão, o apoio e a coesão social são requisitos necessários na cura do trauma. Para eles cada pessoa precisa assumir a responsabilidade na cura dos seus próprios ferimentos traumáticos.

Para nós profissionais da área da saúde mental e médicos, somos confrontados por uma tarefa similar- não usamos a mesma linguagem dos xamas- muito embora como praticante do xamanismo, utilizo sim os meus conhecimentos. E com isso trabalhamos no intuito de devolver a totalidade a um organismo que foi fragmentado pelo trauma. Diante deste cenário de pandemia em que todos atravessamos me coloco a serviço da saúde mental daqueles que foram vitimados por este caos.

Segue um exercício simples, mas eficaz para a reconexão com o corpo, é o primeiro passo para estabelecer uma ponte; mente, corpo e espirito. Este exercício foi retirado do livro: O Despertar do Tigre- Curando o Trauma- Peter A. Levine

“Por aproximadamente dez minutos a cada dia, tome uma chuveirada suave e pulsante, da seguinte maneira: Exponha todo o seu corpo a água, numa temperatura fria ou morna, ponha toda a sua consciência na região de seu corpo onde a estimulação rítmica estiver focalizada. Deixe que sua consciência se dirija para cada parte de seu corpo conforme você se move. Ponha as costas de suas mãos sob a água; depois as palmas e os pulsos; depois os dois lados de seu rosto, ombros, antebraços etc. Assegure-se de incluir cada parte de seu corpo: cabeça, testa, pescoço, peito, costas, pernas, pelve, quadris, coxas, tornozelos e pés. Preste atenção à sensação em cada área, mesmo que esta esteja adormecida, dolorida ou ausente. Enquanto você estiver fazendo isso, diga: esta é minha cabeça, o meu pescoço etc. Eu lhe dou boas-vindas. Outro despertar semelhante é provocado ao dar pancadinhas suaves e rápidas nas diversas partes do seu corpo. Novamente, se for com regularidade por algum tempo, isso irá ajudar a restabelecer o senso de um corpo com sensação na pele”

 

Eu sou Roseli Souza, Psicóloga com abordagem Junguiana, Arte Terapeuta, Consteladora Sistêmica e praticante do Xamanismo.  E por ter já trilhado esse caminho da dor, de ansiedade, depressão e da dislexia e Vencido, estou totalmente preparada para  dar o melhor de mim  e te auxiliar na jornada de Autoconhecimento, despertar em ti o seu Curador Interno promovendo o tratamento para cura do trauma.

 

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