Isolamento social

O isolamento social e a reflexão de que nascemos em tempos certos

Vou compartilhar com você um relato pessoal e uma reflexão a respeito do isolamento social e como nos relacionamos uns com outros.

Antes de existir isolamento social…

Nasci na década de 70, em uma típica família brasileira de classe média (pai, mãe e 3 filhos). E estudamos em boas escolas, tivemos uma boa educação e de uma certa forma tudo que pedíamos ganhávamos, porém de uma forma um pouco sofrida, para nós crianças, mas que na verdade se chamava inserção de valores. Me lembro, e comparo com minha vida hoje, que continua sendo boa, mas com outros valores.

Lembro ainda que muitas coisas eram limitadas, como o refrigerante de 1 litro que só podia ser tomado no domingo e teria que ser dividido para os 5 integrantes da família, às vezes 6 ou 7 se os avós estivessem presentes no almoço de domingo. Isso mesmo, almoço de domingo com a família reunida em volta da mesa, onde ali todos se olhavam e confraternizavam.

Eu era uma criança que queria conquistar o mundo, queria levar informação às pessoas, queria que todos pudessem ter acesso a coisas que nem sempre podiam ter, eu queria ser jornalista.

A mudança no meio do caminho

Aos poucos percebi que embora sonhasse com o jornalismo, faltava algo nesta profissão, e foi aí, que na hora de fazer a inscrição para o vestibular (isso mesmo, sou da época que se prestava vestibular para todas as universidades que se pretendia cursar, ENEM é jovem perto de mim, embora eu só tenha 45 anos), decidi que queria ser PSICÓLOGA.

Assim poderia conquistar o mundo através das pessoas, olhando para cada ser, com suas individualidades, com suas estórias, com as emoções que não cabem dentro deles, e ali, em dezembro de 1996, eu nascia como Psicóloga.

Nestes 23 anos de profissão percebo o quanto minha escolha foi assertiva. O quanto o mundo precisa de mim, o quanto as emoções estão devastadas e os valores invertidos, o quanto o refrigerante é mais importante que a água e o quanto as escolas são obrigadas a fazer o papel da família, principalmente o de pai e mãe.

Família em isolamento social

E por falar em família, o que é isso? Ninguém mais se preocupa com as pessoas com quem residem. Isso mesmo, residem, porque casamento não existe mais; hoje as pessoas dividem apartamento, dividem despesas, dividem o amor (isso mesmo, dividem e não somam) com aqueles que escolheram para ser seu parceiro para uma vida toda e com os filhos que saíram de dentro de si.

Minha recordação vai além da minha família, vai para a família que criamos no prédio onde vivíamos. Família essa que frequentava nossa casa todos os dias, seja no café compartilhado com um vizinho, seja nas brincadeiras onde se misturavam as crianças no hall do prédio, ou mesmo na garagem, pois naquela época os prédios não tinham área de lazer.

Onde estão nossos vizinhos hoje (os meus eu sei, mas e o seu você conhece, sabe o que ele faz, se precisa de alguma coisa que você possa ajudar?)?

O momento atual em isolamento social

Voltando para minha infância, quando criança, sonhava em ser jornalista e conquistar o mundo. Hoje estou aqui em 2020, sonhando que a humanidade, devastada por esse vírus que ninguém sabe de onde vem, possa ser resgatada.

Que possamos olhar para dentro de nossas casas, para nossos filhos, para nossos amigos, vizinhos. Assim, que pura e simplesmente olhemos para aquele que não tem casa para viver seu distanciamento social.

Continuo acreditando que fiz a escolha certa. A Psicologia é minha vida, assim como meu marido, meus filhos de 4 patas e minha família de origem que mais que duplicou. Hoje somos 12, todos em busca da felicidade. Contudo, com o medo de que amanhã ou depois, em decorrência de tudo que a humanidade plantou, não possamos mais estar aqui.

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