O Outro Dilema das Redes
12 de novembro de 2020
O Documentário – disponível na Netflix – trouxe à tona o que de certa forma já se imaginava. Em graus variáveis, estamos suscetíveis e expostos utilizando a Internet e as Redes Sociais.
Outro aspecto importantíssimo do tema, e que é abordado apenas de leve no filme, refere-se à utilização exagerada e/ou abusiva de tudo que envolve o universo tecnológico.
Pesquisa de 2019 aponta que o brasil é o 2o país em que mais se navega em Redes Sociais (incríveis 225 minutos por dia). Porém, o fato de vivermos um período forçado – e inédito – de isolamento social, ficando muito mais tempo em casa, privando-se do contato físico com amigos, colegas de trabalho e paqueras favorece o aumento deste número.
Será que usamos demais a internet? Estamos dependentes das redes sociais, dos games, da tecnologia?
Olhar para a Evolução de nossa espécie pode nos ajudar a entender melhor a questão. Se por um lado, desde a Pré-história o Homem possui necessidades biopsicossociais e apresenta problemas psiquiátricos, por outro, mudamos muito. Já é de conhecimento científico que a Geração Digital – que desde o nascimento está em contato com alguma mídia digital – possui alteração em seu desenvolvimento. Como comparação, estima-se que um indivíduo na Idade Média se relacionava em toda a sua vida com mais ou menos o mesmo número de pessoas com que nós no século XXI nos relacionamos em…1 dia! O jovem de 2020 quando chega aos 18 anos passou cerca de 10.000 horas surfando na web sem um propósito específico – ou 20.000 horas em vídeo game.
Além de pontos inegavelmente positivos como a aceleração e a ampliação de habilidades de raciocínio ou a maior capacidade de adaptação e versatilidade, há aspectos preocupantes nesses novos hábitos. Se a parte boa é o incremento da “multi-tarefa”, surge ao mesmo tempo a perda da profundidade. Estudos apontam dificuldade de desenvolver processos com raciocínio profundo. Existe atenção focal; mas ela “salta” de uma coisa para outra. É como apenas deter-se às manchetes da página principal. Acessa-se e sabe-se sobre tudo. Notícias, fotos, dados. Mas superficialmente. Não conseguimos nos aprofundar, ganhar conteúdo. Quer maior prova disso do que a propagação das Fake News?
A explicação é simples. A Memória de curto prazo (segundos) registra impressões imediatas, pensamentos, sensações. Já a Memória de longo prazo retém tudo que podemos aprender (dias, anos, toda a vida). Enquanto a Memória de trabalho faz a ligação de uma a outra e permite o armazenamento temporário de informações.
Na prática, quanto mais navego na internet, mais treino e utilizo a memória de curto prazo e menos desenvolvo a capacidade de reter – da mesma forma que mais me habituo a utilizar o primeiro caminho, em detrimento do segundo. Ao mesmo tempo, também sobrecarrego a memória de trabalho com muita quantidade de informações, imagens, etc.
Vale ressaltar que conseguimos lembrar apenas das coisas nas quais colocamos atenção. E quanto maior a quantidade de carga cognitiva, mais distraído eu fico nas coisas que experiencio. De modo que acessando muitas informações, sobrecarregamos nosso sistema de processamento. Estudos associam Déficit de Atenção à sobrecarga da memória de trabalho. Mais: a medida em que atingimos os limites de nossa memória de trabalho, torna-se difícil distinguir se informações são ou não relevantes.
Desta forma, o modelo de memória rasa de atenção passa a ser o modelo primário de funcionamento cognitivo, impedindo formas mais profundas/elaboradas de aprendizado e pensamento. Por isto hoje vemos muitas pessoas, sobretudo jovens, com grande dificuldade para concentrarem-se em estudos/atividades de longo prazo, ler um livro ou até apreender o conteúdo de um texto como esse.
Convenhamos, a concorrência com a Internet é indigesta. Além dos mecanismos que são usados para nos prender às telinhas, a Tecnologia de um smartphone é maior que a de um foguete da missão Apolo e há mais informação na web disponível do que a acumulada em toda a história da humanidade. Como se isso não bastasse, adicionalmente há um componente fundamental e que torna a competição ainda mais desleal: A sensação de saciedade obtida quando se navega nas redes, dá/recebe um like ou posta uma foto é imediata (curtíssimo prazo). Estudos mostram que com 8 minutos de game o cérebro libera Dopamina (gerando sensação de prazer). Olhar facebook/instagram/twitter é mais viciante que beber, fumar ou fazer sexo.
Entretanto o outro lado da moeda deve ser anunciado também: após 2 semanas de uso, aumenta a infelicidade. Sim, em que pese o êxtase proporcionado no início, paradoxalmente, estados depressivos são fomentados e instalam-se a médio e longo prazos.
Em artigo posterior, avançaremos nesta questão.
Mas será que você ou seu filho(a) – que já nasceu com um tablet ao lado – estão dependentes da Internet? Qual é o momento para iniciar um tratamento? E como é e para que serve este Tratamento?
Critérios que preenchem diagnóstico de Dependência Tecnológica:
1- Preocupação com a Internet – com as próximas experiências on-line ou próximo acesso.
2- Necessidade crescente de uso a fim de obter satisfação desejada
3- Esforços repetidos e fracassados para controlar, reduzir ou parar de usar
4- Irritabilidade ou inquietude quando tenta reduzir, cessar ou quando é impedido de usar por viagem, queda de sinal, etc
5- Permanece mais tempo do que queria e pelo menos mais 1 dos seguintes:
A/ colocou em perigo ou perdeu um relacionamento significativo ou profissional por causa da internet/jogo
B/ mente para a familia ou terapeuta para esconder extensão do seu envolvimento com o uso
C/ usa para fugir de problemas ou para aliviar humor disfórico (impotência, ansiedade, culpa, depressão)
Dinâmica de Dependência na Internet:
- Consequências da crescente preocupação
- Solidão/Isolamento Social
- Baixa Auto Estima
- Baixa capacidade de enfrentamento de situações da vida real
- Pouco engajamento social/habilidade social
- Experiências virtuais em alta; reais em baixa
- Depressão
- Discórdia familiar/conjugal
- Problemas físicos (obesidade, alimentação, etc)
Tratamento:
O Tratamento conduz a uma reestruturação e readequação da vida cotidiana que inclui:
- Entendimento da dinâmica de uso do indivíduo com identificação de situações gatilho
- Técnicas de gerenciamento de tempo
- Técnicas de controle de estímulos
- Estabelecimento e implementação de metas racionais de utilização
- Estímulo e prática de atividades off-line gratificantes
- Preparo para o enfrentamento de situações reais (pessoais/familiares/trabalho/etc)
- Treinamento de habilidades sociais
Prognóstico/Resultado:
Objetiva-se maior autonomia do paciente, com incremento de recursos pessoais e significativo aumento da qualidade de vida, bem como:
- Diminuição da motivação para uso
- Aumento da capacidade de gerenciar tempo on-line
- Aumento do tempo gasto off-line
- Aumento de contatos/relações sociais concretas
- Aumento do convívio familiar/conjugal
- Aumento do interesse pela vida pessoal/profissional/acadêmica
E lembre-se: Sempre visando Viver Melhor, procure auxílio.
Quer saber mais a respeito? Entender melhor a sua dinâmica?
Conte comigo, será um prazer contribuir
Kleber Kaplar
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