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Os desafios da maternidade na pandemia

Desde março de 2020 estamos vivendo um momento de medos, dúvidas, confusões, esperanças e desesperanças, uma pandemia que chegou com força e estamos com dificuldade de nos livrarmos.
Além do medo desse vírus desconhecido, toda a mudança de rotina que fomos obrigados a nos submeter trouxeram muitas dificuldades e um grupo que sofre bastante com isso somos nós, mães.
Crianças que iam para a escola, brincavam com outras crianças, podiam correr livremente pela rua, por parques, podiam visitar os avós e abraçá-los, de repente tiveram que ficar trancados em casa com pais, mães e cuidadores que têm que trabalhar boa parte do seu dia, ou têm que cuidar de seus afazeres de casa, e que também precisam de um tempo para se cuidarem.
Pude viver na pele essa angústia de ter uma criança de três anos, no auge de sua energia vital, presa em um apartamento pequeno, enquanto seus pais têm que dar um jeito de exercer o home office, cuidar da casa, lidar com seus próprios medos e entreter seu filho.  É uma mistura de medo, angústia, frustração e culpa.

O medo e a ansiedade em uma pandemia

Imagine uma mulher que sempre cumpriu com seus deveres dentro da sociedade de uma forma correta: ela nunca faltou ao trabalho, paga suas contas sempre dentro do prazo, cuida de sua casa e de sua família da melhor maneira que pode e nunca ficou nem com centavos a mais de troco. Essa mulher um dia é confundida com uma perigosa criminosa e condenada a 30 anos de prisão. Sem ela fazer nada errado, tudo que ela tem lhe é tirado e ela terá que viver em uma cela, longe de tudo que está acostumada e tudo que gosta, por 30 longos anos. Ela alimenta uma esperança de que vão descobrir a verdade e libertá-la, mas isso não acontece e ela vai desistindo aos poucos.  Revoltante, não? Angustiante! Injusto!

Pode parecer exagero, mas foi uma sensação parecida com a que eu tive quando essa pandemia começou. De repente, eu não podia mais sair para passear, não podia deixar meu filho na escola para poder cuidar das minhas coisas, para trabalhar, meu filho não podia mais encontrar os amiguinhos nem os familiares, até ir ao mercado se tornou algo que me causava medo. Achei que isso duraria no máximo um mês e tudo voltaria ao normal, mas isso foi se estendendo.
Aprendemos a lidar com isso, saímos usando máscara, passando litros e litros de álcool gel, mas sempre com aquela sensação de medo de pegar essa doença junto com uma esperança de que esse vírus desapareça e possamos voltar a vida normal.
O importante aqui é sabermos que toda essa angústia, esse, medo e essa ansiedade são esperados em uma situação assim, que a grande maioria das pessoas está sentindo o mesmo. Nada do que aconteceu é culpa nossa, mas aconteceu e está tudo bem em se sentir mal com isso. Ninguém sabia bem como lidar com isso e, aos poucos, estamos aprendendo e estamos em busca de uma solução que, apesar de estar demorando mais do que esperávamos, está vindo aos poucos.

 

A culpa em relação aos filhos

Eu comecei a me preocupar cada vez mais com meu filho, pensei que eu até conseguiria aguentar essa situação, mas e meu filho? E tudo que ele está perdendo?
Comecei a fazer atividades que a escolinha passava de forma online, mas ele não se interessava muito e eu estava perdendo a paciência.
Brincava com ele as vezes, mas muitas vezes queria um pouco de sossego, não aguentava mais ficar trancada em casa, tentando limpar a casa, estudar e trabalhar com uma criança buscando minha atenção o tempo todo. As vezes briguei com ele e logo depois a culpa tomou conta de mim. Pensava: “Ele é só uma criança com muita energia pra gastar, muitas coisas pra aprender e eu não estou dando para ele tudo que tenho que dar como mãe, não estou dando atenção, não estou ensinando tudo que ele tem que aprender já que não pode ir à escola”.
Ouvi muitas coisas semelhantes de amigas e pacientes. Até que percebi que o que estamos passando não é uma situação comum, então eu não tenho como dar conta de tudo da maneira como estava acostumada.


Como lidar com essa situação

  • Primeiro de tudo: lembre-se que está tudo bem se sentir mal as vezes, se sentir angustiada, com raiva, triste, frustrada e impotente. Tudo isso faz parte de situações como a que estamos passando agora. Acolha seus sentimentos, sinta-os verdadeiramente, mas saiba que eles não precisam continuar com você para sempre.
  • Tenha prioridades: Muitas vezes não conseguimos fazer tudo que planejamos e, ao tentarmos alcançar metas e expectativas além do possível, nos frustramos e não conseguimos sair do lugar. Pense em quais são as suas prioridades naquele momento e foque nelas. Se necessário faça uma lista por escrito e escolha só uma ou duas coisas que você sabe que será possível.
  • Passe um tempo de qualidade com seus filhos: Talvez você não consiga dar a atenção que esperava 24hs por dia, tenha que deixá-los na TV um tempo ou brincando sozinhos, mas o tempo que você tiver com eles, esteja 100% presente, curta de verdade, brinque, ensine, deixe o celular de lado. O quanto você realmente está lá é o que importa de verdade, é o que faz com que a criança se sinta amada, forte e segura e é isso que ela vai levar para vida toda.
  • Tenha um tempo para você: É muito importante que você tenha um tempo de qualidade com você mesma também. Se tiver alguém que possa ficar com seus filhos, aproveite esse tempo para fazer algo que você gosta e que não seja uma obrigação. Se não tiver com quem deixar seus filhos, mesmo que seja quando estão dormindo, tire um tempo para fazer algo que seja somente prazeroso, que não seja trabalho nem afazeres domésticos. Pode ser cuidar da pele, tomar um banho demorado, ler um livro, ver tv ou mesmo descansar sem pensar em mais nada. Para cuidar de outra pessoa, você precisa estar bem consigo mesma.
  • Faça exercícios físicos: Sei que dentro de casa com uma ou mais crianças não é muito fácil, mas os exercícios ajudam muito na ansiedade, ajudam a nos sentirmos melhor, além de ser importante para nossa saúde. Uma caminhada rápida ou mesmo exercícios em casa já fazem toda a diferença. Muitas vezes seus filhos podem participar e se divertir com você durante os exercícios.
  • Converse com outras pessoas: Mesmo que seja através de uma ligação de telefone ou vídeo, converse com familiares e amigos, fale dos filhos, mas também fale sobre outras coisas, dê risada, se distraia, não se perca da sua vida social mesmo que seja através de uma tela.
  • Busque ajuda: Se sentir que está muito difícil, lembre-se que você não precisa passar por isso sozinha, converse com pessoas em quem confia e, se necessário, busque uma ajuda profissional, faça terapia, pode te ajudar muito!

A maternidade é uma mistura de medos, angústias e desafios com o maior amor do mundo. Você é uma pessoa especial ao lidar com essa tarefa muitas vezes tão gostosa, mas ao mesmo tempo tão desafiadora e angustiante, especialmente durante uma pandemia. Foque em tudo de bom que você puder e não se cobre tanto. E vamos juntas que uma hora tudo vai melhorar!

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