sinais da dependência química

Conheça os sinais da dependência química e saiba quando buscar o tratamento

Você é capaz de reconhecer os sinais da dependência química?

O astro corintiano Walter Casagrande, o comentarista Casão, é um ídolo do esporte brasileiro, campeão paulista pelo Timão em 82 e 83, além de campeão da UEFA pelo Porto, clube de Portugal, em 1987. Mas, talvez, a maior vitória da vida de Casão seja na sua luta contra as drogas. Após desenvolver um vício de 38 anos, ele conseguiu vencer a batalha.

Neste vídeo, ele explica as várias fases de sua dependência química e como conseguiu a superação:

Muito aprendizado podemos tirar da fala de Casão:

  • Sua progressão do álcool e maconha para a cocaína;
  • a situação de perda de controle sobre si mesmo e sobre o trabalho;
  • os transtornos imensos causados a mulher e filhos;
  • a negação do vício e a posterior internação compulsória; e o estado constante de vigília para evitar recaídas.

Outro destaque é o papel importantíssimo que Casagrande atribui à terapia na descoberta da sua relação com a “solidão”. Foi só a partir dessa descoberta que ele conseguiu encontrar um caminho para evitar as situações que lhe faziam ter recaídas.

Neste post, queremos lhe ajudar a entender o que é a dependência química, seus principais sintomas e caminhos de tratamento.

Dependência química: entenda o que é

A compreensão sobre a dependência química evoluiu muito no decorrer dos anos. Inicialmente, ela era entendida como uma caraterística ligada ao caráter da pessoa, ou seja, algo considerado de nascença. Depois, passou a ser vista como uma doença e suas abordagens eram geralmente tratadas no âmbito da medicina.

Com a evolução intensa da psicologia e das ciências sociais no século XX, esses dois campos trouxeram novas compreensões ao fenômeno, mostrando que é necessária uma compreensão tripartite da dependência, considerando as questões biológicas, psicológicas e sociais do dependente, de forma a evitar visões unilaterais do seu quadro. A história de Casagrande, por exemplo, mostra claramente a importância da questão social, pois o ex-jogador precisou evitar ficar sozinho para enfrentar o seu vício.

Uma importante descoberta aconteceu após a Guerra do Vietnã, quando uma grande quantidade de soldados voltou aos EUA dependente de heroína. Como a dependência neste tipo de substância é muito forte, esperava-se que a maioria dessas pessoas continuasse viciada. Mas aconteceu que, após seu regresso, somente 1% deles continuaram dependentes. Isso mostra a importância do meio social para a manutenção da dependência.

Uma relação de dependência é compreendida quando o sujeito investe em um só objeto uma energia desproporcional às outras esferas da vida, que ficam assim prejudicadas. Isso serve para qualquer dependência, seja com o álcool, com o sexo, com o trabalho ou a tecnologia, só para citar alguns exemplos.

Na psicologia, embora não haja uma teoria comum para a dependência química, os caminhos trazidos pela teoria psicanalítica e pela comportamental se destacam. No caso da psicanalítica, a dependência é compreendida como um sintoma e não como uma causa. Na tentativa de viver continuamente sob o princípio do prazer, a pessoa incorpora o consumo de uma substância ao seu cotidiano, o que vem a gerar a dependência.

Já no caso da comportamental, a compreensão é de que a dependência viria de uma estratégia habitual de automedicação, na busca de mitigar sentimentos ruins, como tristeza, depressão e ansiedade.

Como acontece o vício?

Existem vários mecanismos que explicam o vício químico. Uma das visões preponderantes destaca que as drogas proporcionam um prazer imediato, que não é fruto de uma conquista, de um esforço do indivíduo. Assim, o cérebro aprende que aquele é o caminho mais fácil para o prazer, diminuindo, para o indivíduo, a importância de outras áreas da vida. Se esse ciclo é repetido muitas vezes, a pessoa perde grande parte da energia que direcionava para ações como o trabalho, o estudo e as relações sociais, o que constitui a evolução da dependência.

Esse é um motivo pelo qual especialistas acham que nunca será possível criar uma droga que não cause prejuízos ao cérebro: porque, se há um prazer artificial e imediato, este tende a “ganhar a corrida” contra os outros prazeres importantes da nossa vida.

Conheça alguns sinais da dependência química

  • Perda do interesse em tudo o que se pode fazer na vida (é a chamada síndrome amotivacional)
  • Mudanças de comportamento com familiares e cônjuge, bem como explosões em que se percebe raiva, hostilidade e perda de interesse nas relações comuns
  • No trabalho, há falta de cumprimento de responsabilidades básicas e irritação frequente com colegas e com a rotina
  • Apresentar comportamento paranoico, achando que está sendo perseguido o tempo todo

  • No aspecto físico, podem acontecer vômitos, dores abdominais, gastrite, aumento do fígado e diarreia

  • Surgem confusões mentais e perturbações causadas pela perda das funções hepáticas, com aumento dos esquecimentos e do número de acidentes cotidianos

Outras informações importantes

A dependência química é um quadro muito complexo, difícil de diagnosticar e de tratar. Por isso, quanto antes o paciente se conscientizar de que precisa de ajuda, melhor. Por exemplo, uma pessoa que usa álcool “socialmente” três vezes por semana já tem um problema. O ideal é que procure um terapeuta para entender por que precisa tanto dessa “muleta”, qual seu grau de dependência dela e como fazer para diminuir esse excesso.

Discute-se muito também sobre drogas ditas “leves”, como a maconha. Na verdade, a maconha de hoje tem uma concentração de THC (seu princípio psicoativo) dez vezes maior que na década de 60. Além disso, há casos em que a concentração é muito maior, inclusive no caso da maconha sintética. Por isso, ela deve ser considerada uma droga como as outras, que causa dependência e seu uso é ilegal.

Fala-se muito também que uma pessoa é mais “tolerante” a uma droga do que outra. Na verdade, a “tolerância” é precisar de uma maior quantidade da droga para obter o mesmo efeito, ou seja, trata-se de um fenômeno que acontece no meio do processo de desenvolvimento de dependência, por isso, é um sinal ruim, nada positivo.

As drogas também se relacionam entre si, sendo que uma pode reforçar o consumo de outra, caso da relação entre cocaína e álcool. O álcool ajuda a desinibir o sujeito para o uso de uma droga mais pesada. Então, ao usar a cocaína, a pessoa sente-se por demasiado tensa e precisa novamente do álcool para relaxar, gerando um círculo que aumenta o consumo das duas.

Há muito questionamento também sobre a internação compulsória do dependente. Talvez a mais sensata a isso seja que, para o sucesso do tratamento, é necessária uma adesão verdadeira do paciente, seja antes de se internar – ou seja, ele se interna voluntariamente – ou posterior, no caso da involuntária.

O ex-jogador Casagrande, por exemplo, citado no início deste texto, conta que foi internado compulsoriamente pelos seus familiares e que aquele foi o começo da sua recuperação. Se fossem esperar que ele se internasse, ele tem certeza de que não o faria e que provavelmente seria consumido pelo vício.

Por isso, se você – ou mesmo um familiar ou amigo – apresenta sintomas de uso excessivo de álcool ou outras substâncias, não tenha medo de procurar um psicólogo. Ele é a pessoa mais indicada para ajudá-lo a entender o seu quadro – considerando seu corpo, sua mente e suas relações sociais – e ajudá-lo a prevenir a dependência química ou a tratá-la.

No caso do tratamento, o papel do psicólogo é essencialmente ajudá-lo a reencontrar fontes de prazer que não dependam das substâncias químicas e, dessa forma, ajudá-lo a superar ou evitar o vício.

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