
Sintomas psicológicos nos jovens provocados pela relação entre pais e filhos
20 de agosto de 2019
Resumo
A relação entre pais e filhos abre espaço para muita discussão e é causa de muitos problemas psicológicos, tanto em relação aos pais quanto aos filhos. É de suma importância entender como se dá essa relação, os conflitos que podem surgir e como conquistar uma relação saudável.
Toda relação estabelecida é orientada por trocas de ambas as partes envolvidas, você dá o que o outro precisa e quer receber do outro o que você acredita precisar. Por isso digo, que em toda relação, você tem metade da responsabilidade para que essa dê certo.
A responsabilidade acerca do relacionamento de amizade ou de um namoro, nem sempre, mas geralmente, tem menos peso do que uma relação entre pais e filhos. O fato que pode comprovar essa minha afirmativa, é de que você pode terminar uma relação de amizade e de namoro mas, quando a relação é entre pais e filhos, nem sempre não. Você filho, sempre será filho e você pai, sempre pai. Independentemente se a relação é boa ou não.
Filhos, imaginem morar num lugar onde quem faz as regras não é você? E se você já é um jovem adulto? E mesmo que seja um adolescente ainda, como é ter sempre os pais dando limites? E a privacidade? Pais, será que só devem fazer o papel de limite, punição e educação ou há espaço pra amizade? Vocês sabem sempre como agir com seus filhos? Dão espaço para eles se expressarem? E se todo o espaço que dão para os filhos é demais?
Perceberam que os filhos, cada vez mais, têm passado mais tempo morando com os pais? Alguns já fazem parte da chamada Geração Canguru que vai dos 26 a 35 anos (GALLAGHER & FÉRES CARNEIRO, 2013). Se a relação com os pais, se conturbada, já causa sofrimento, imagine prolongar essa situação?
Segundo a pesquisa realizada pela Gallagher & Féres Carneiro (2013) acerca da Geração Canguru, os sujeitos entrevistados destacaram como vantagens de viver com os pais: a questão econômica, a organização, a praticidade, o diálogo e o alento. Como desvantagens, eles apontaram para: a falta de privacidade e o sentimento de não pertença à casa da família. Para a autora, a vida profissional desses sujeitos é marcada por experiências curtas e pelo medo em relação ao futuro. Alguns sujeitos buscam no emprego público a garantia de uma vida mais estável. Já a vida amorosa dos entrevistados, é caracterizada principalmente pela flexibilidade dos laços amorosos. Essa situação instável provoca medo e insegurança nos sujeitos. Tornando-se comum que o jovem evite fazer planos para o futuro a fim de proteger-se contra possíveis frustrações.
Podemos dizer que o que chamamos de Geração Canguru é uma realidade cada vez maior e que ainda se propaga. Independentemente dessa tal geração canguru, os jovens estão ficando diferentes. O que será que está provocando essas mudanças? E eu já concluo: os pais! São eles os responsáveis pelos filhos e por toda educação e cuidado, a moral, a ética, cultura, é passada por eles. Os pais estão mudando a forma de criar seus filhos e quem planta uma árvore diferente, colhe frutos diferentes. Mas será que esse jeito de agora é o jeito certo?
Pela experiência adquirida ao atender jovens, vejo isso na maioria deles: a necessidade de passar em uma boa faculdade, ao menos estudar, ter um bom trabalho. Alguns tendem a querer morar sozinhos e ganhar independência, mas têm medo e aguardam ainda vivendo com os pais. Outros, não querem muita coisa, só o conforto do lar, sem muitas responsabilidades. Os maiores conflitos internos desses jovens adultos estão entre: sintomas de depressão, ansiedade, estresse, baixa autoestima, problemas de relacionamento amoroso e familiar. Os pais também sofrem, ficam preocupados e estressados.
Por que existem esses conflitos nesses jovens? Vocês filhos saberão me responder, mas e os pais? Os jovens estão mais medrosos, têm mais medo de fracassarem, estão mais fracos diante o mundo, já diante os pais, estão quebrando barreiras, acreditam ser mais fortes que os pais, exigem liberdade, privacidade, etc. Você, pai e filho, concordam com isso?
De um lado, pais rígidos demais, que limitam tanto os filhos, que esses passam a ansiar por liberdade e se revoltam fazendo tudo ao contrário do que os pais impõem. “– Filho, você deve estudar!”: o filho passa a não querer estudar se isso é imposto de forma limitada, sem espaço para discussão e acordo. Do outro, pais passivos demais, dando tudo o que os filhos querem (privacidade, liberdade, bens materiais) acabam alimentando a ideia das coisas serem fáceis, a ideia de que não há sofrimento. E o mundo lá fora mostra bem como é diferente dessa relação com os pais.
Já conseguimos ver como seria o melhor, os pais serem abertos e fechados o bom suficiente. Isso me lembra da Obra de WINNICOTT, D. W (1996, p. 98), quando diz: “O lar, contudo, é de responsabilidade dos pais e não da criança.” Tudo depende muito dos pais, e que pressão, não é mesmo? Não se culpem pais, a paternidade não vem com manual de instruções. Mas se preocupem e façam algo. E o que fazer?
Você é o resultado de tudo o que te ensinaram e fizeram com você e de como percebeu tudo isso. A nossa personalidade é formada até a adolescência, nessa fase é essencial uma boa relação entre pais e filhos para que haja um bom desenvolvimento social, psíquico e físico. O tal manual que não existe para pais e filhos pode ser substituído por encontros com psicólogos. Eu vejo que é muito mais fácil prevenir do que remediar, e quando há remediação… não é mesmo?
Em suma, a relação entre pais e filhos depende de ambos para dar certo, porém o papel dos pais é o mais importante, ainda mais até a adolescência, que é o período onde encerra a formação da personalidade. Os conflitos que podem surgir, geralmente pelos comportamentos que ambos apresentam, devem ser trabalhados a partir de uma boa comunicação que pode ser auxiliada por meio de orientações psicológicas. E claro, se alguém dessa relação não se sente bem, busque um psicólogo para fazer um tratamento individual.
Referências
GALLAGHER, Iris Massena; FÉRES CARNEIRO, Terezinha (Orientadora). Geração canguru: entre o conforto e o desamparo. Rio de Janeiro, 2013. 98p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
WINNICOTT, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Dados
Psicóloga clínica
Kelly Justino Zago
CRP: 06/143194
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