Sonhos – um mergulho no inconsciente

Sonhos – um mergulho no inconsciente

Essa imagem onírica que ilustra esse texto, à la Magritte, pintor surrealista, representa para mim o mar do inconsciente e o mergulho profundo do autoconhecimento no processo psicoterapêutico.

O surrealismo foi um movimento significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano.

O livro “A Interpretação dos Sonhos” (1900) representa o nascimento da teoria da análise dos sonhos que Freud descreveu como “o caminho real para o Inconsciente”. (Rowell, 2017 – http://www.freudpage.info/sonhos.html)

Nesse livro, Freud propõe que a primeira função dos sonhos consistiria em ser o guardião do sono. Porém, frente à presença de fortes estímulos angustiantes, pode ocorrer um pesadelo que despertaria o sonhador imediatamente.

Mas o que dizer dos pesadelos e daqueles sonhos que se repetem muitas vezes ao longo de nossas vidas? Eles  corresponderiam à pura repetição de um trauma vivido que não foi elaborado.

Em eventos onde as emoções não encontram expressão, nós as representamos em sonhos, seja de ansiedade, medo, desejo, felicidade, soluções criativas, etc.

Os sonhos são a satisfação de um desejo infantil reprimido e têm que ser disfarçados de alguma forma. Tem um ‘querer’ e uma proibição e como resultado surge o desejo. Conforme a criança vai crescendo, a proibição vai se internalizando e os desejos proibidos se tornam inconscientes. (Rowell, 2017 – http://www.freudpage.info/sonhos.html)

Durante o sonho, o que estava escondido de nós mesmos vem à tona. Mas é preciso saber interpretar o sonho, porque esses conteúdos oníricos não são literais.

Curiosidade: Pollak do Centro para Medicina do Sono, em Nova Iorque, afirmou que os bebês, da mesma forma que os adultos, entram na fase REM (Rapid Eye Movement) ou rápido movimento dos olhos que é a fase onde se produz a maior parte dos sonhos, quando ocorre uma atividade muito intensa no cérebro, fundamental para o desenvolvimento neurológico do bebê.

Nesse estágio, o pequeno começa a sonhar e pode, sim, realizar movimentos como sorrisos, choro ou sucção, mesmo sendo essas ações involuntárias. No entanto, este especialista explica que é impossível averiguar o que sonham. Assim, sonhamos desde a nossa concepção até o nosso derradeiro adeus a este mundo.

Você não apenas experimenta o prazer e o drama de sua própria mente, os sonhos também são uma ponte para esse reservatório infinito de sabedoria interior que chamamos de inconsciente.

Um sonho é como um teatro em que a peça é encenada e o roteiro são as expectativas insatisfeitas do despertar.

Interpretação ao vivo

Nos bastidores de um teatro,
o parto da estranheza:
personagens abrem cortinas
e representam artistas.

A confusão é tamanha,
Pierrot quer falar com Mané,
e agora José?

É preciso mudar os cenários?
Colocar a platéia no palco?

Misturam-se os enredos,
transferência de papéis,
e enquanto ISSO,
a peça a tudo assiste.

 (Rowell, 2002 – http://www.freudpage.info/interpretacao_ao_vivo.html)

Os sonhos normalmente atendem a vários desejos ao mesmo tempo. As mesmas forças inconscientes que atuam em nossos sonhos também estão presentes em nossa vida desperta.

Para se compreender o sentido psicanalítico do inconsciente,  frequentemente usa-se a metáfora do iceberg, sendo que a parte que é facilmente visível, corresponde a uma pequena área de sua verdadeira dimensão, ou seja, o consciente. Sua maior parte permanece submersa e inescrutável, ou seja, o inconsciente.

Para tentar interpretar seus sonhos, você pode, logo ao despertar,  anotar tudo o que conseguir se lembrar, mesmo que o conteúdo pareça absurdo.  Deve incluir também a maneira como se sentiu: se teve medo, se estava angustiado, curioso, feliz…

Dois exemplos de sonhos, durante um processo psicanalítico e duas possíveis interpretações:

(1) Fase em que a sonhadora se sentava na poltrona – ela está sentada na parte mais profunda da piscina e se surpreende ao perceber que pode falar normalmente dentro d’água, sem se afogar!

(2) Fase em que a sonhadora se deitava no divã – ela está dentro da banheira cheia d’água e, apesar de não ter uma das laterais, ela se surpreende ao perceber que o líquido não derrama e nem inunda o banheiro!

No sonho (1), ela compreende que pode falar com a analista e entrar em contato com vários aspectos do seu inconsciente, sem temer uma ameaça à sua vida mental – morte psíquica – ao tentar lidar com eles.

No sonho (2), ela compreende que pode relaxar e se entregar ao processo psicoterapêutico, sem temer que os conteúdos da sua mente não encontrem um espaço adequado para contê-los e intui que seu mundo mental pode se expandir para um universo psíquico.

Os sonhos são uma ferramenta poderosa! Muitos artistas e cientistas famosos encontraram sua inspiração em sonhos. Alguns exemplos são: as equações matemáticas de Srinivas Ramanujan foram reveladas a ele em sonhos, a inspiração para Jekyll & Hyde foi encontrada em sonhos, o famoso “Yesterday” de Paul McCartney veio a ele em sonhos, o DNA foi descoberto em um sonho, Einstein descobriu o princípio de relatividade depois de um sonho vívido … e a lista continua …

Seu poder, seu potencial, sua verdadeira pessoa podem ser encontrados através dos sonhos.

Se aprendermos a habilidade de dominar nossas emoções, então todos teremos esse imenso poder mental para criar uma vida bem-sucedida de amor, alegria e propósito.

Tudo que é preciso para se sentir plena está dentro de nós mesmas. Decidir fazer essa viagem para dentro de si e buscar a melhor versão de si mesma, sem padrões, sem comparações, simplesmente buscando a melhor pessoa que você pode ser em todos os aspectos da sua vida, primeiro para você mesma e claro para todos que a rodeiam também.

ENTRE O SONO E OS SONHOS

Fernando Pessoa, 1933

Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

oooOooo

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