TRANSTORNOS-ALIMENTARES_-POR-QUE-AUMENTARAM-COM-A-PANDEMIA_

Transtornos alimentares: Por que aumentaram com a pandemia?

Lidar com transtornos alimentares não é nada fácil, e a tarefa fica ainda mais árdua nesse contexto pandêmico. Mas por que os transtornos alimentares aumentaram com o surgimento do COVID-19?

Essa é uma questão muito importante a ser respondida e, graças aos esforços da comunidade científica, temos algumas respostas. Nos últimos anos, o prevalecimento dos transtornos alimentares – principalmente entre adolescentes e jovens – tem sido um problema muito recorrente. Estudos publicados, em 2019, descobriram que esses transtornos alimentares entre os jovens do mundo inteiro mais do que dobraram entre os anos de 2000 e 2018. Mas afinal, o que esse vírus tem a ver com esses transtornos?

Com a pandemia do novo Coronavírus, novos desafios surgiram para as pessoas que sofrem com os transtornos alimentares e também para aqueles que os tratam. Apesar de ainda não existirem estudos mais amplos que mensurem o grande impacto do Covid-19, há muitos sinais de que, infelizmente, esse vírus contribuiu para aumentar o domínio dos transtornos alimentares. Um exemplo é a National Eating Disorders Association, uma ONG que ajuda indivíduos e famílias afetadas por transtornos alimentares. Ela relatou um aumento de 40% nas ligações em sua linha de suporte desde março de 2020.

Um outro estudo de 2020, com 1.000 participantes diagnosticados com transtornos alimentares, nos EUA e na Holanda, descobriu que as pessoas que já possuem o diagnóstico de anorexia ficaram mais propensas a comer ainda menos refeições diárias, jejuar e ingerir alimentos de baixa caloria desde o surgimento do Coronavírus. Ainda segundo esse estudo, pessoas com bulimia e transtorno da compulsão alimentar periódica tiverem episódios mais frequentes e maior desejo de comer de maneira compulsiva.

Os transtornos alimentares realmente estão aumentando na pandemia?

Num todo, o Covid-19 gerou fatores de riscos sociais ainda mais amplos que podem fragilizar e prejudicar a saúde mental e possibilitar o surgimento dos temidos transtornos alimentares. Ficar desempregado com dívidas a vencer ou ter conflitos graves com familiares que moram em sua casa são momentos estressantes, que se tornaram frequentes nessa fase de isolamento social, que fazem com que o risco de desenvolver algum transtorno alimentar seja muito maior. Além disso, esse contexto pandêmico de isolamento social e mortes gerou o aumento de muitos casos de ansiedade, problemática que, inegavelmente, possui ligação direta com os transtornos alimentares.

Pesquisas de cientistas do Centro de Pesquisa Translacional de Bronfenbrenner, que se concentram na percepção e na abordagem dos desafios em torno da saúde mental de adolescentes e jovens adultos, apontam que para diversas pessoas a comida acaba gerando a sensação de controle em meio a uma vida repleta de circunstâncias incontroláveis. Mas o que isso teria a ver com a pandemia do novo Coronavírus? Ainda segundo esses cientistas, como no ano passado a vida e a rotina passaram a ser incertas e desconhecidas para muitos, em específico os jovens, o pressentimento de poder controlar o que comer passou, então, a ser uma opção disponível a ser experimentada mediante a um ambiente de estresse, incertezas e inseguranças.

Somado a tudo isso, a pandemia também gerou outros agravantes para os que possuem algum transtorno alimentar. Dentre os quais podemos começar destacando a insegurança alimentar, ou seja, a falta de um acesso regular a alimentos saudáveis. Uma referência disso é os EUA, já que dados preliminares apontam que lá a insegurança alimentar mais que triplicou com a chegada do Covid-19. Estudos evidenciam que jovens com insegurança alimentar são mais sujeitos a estar acima do peso e mais predispostos a adotarem comportamentos nada saudáveis para o controle de seus pesos.

Outro assunto a ser discutido são as medidas de restrições de interação social tomadas pelas autoridades para tentar frear a disseminação do vírus, que acabou fazendo com que muitas pessoas “fugissem” para as redes sociais como uma “substituta” dessa interação. Há evidências que apontam que o consumo das mídias digitais, principalmente com um uso problemático, contribui com o desenvolvimento dos quadros de transtorno alimentar – levando a percepção de uma autoimagem negativa e gerando comportamentos mais negligentes em relação à alimentação.

Os indivíduos que sofreram com os transtornos alimentares na pandemia também tiveram um acesso reduzido à academias, consultas frequentes referentes à seu bem-estar… ferramentas aliadas à melhoria de sua saúde física e mental, as quais pioraram o cenário clínico desses indivíduos por não estarem presente em suas rotinas.

 

Como lidar com os transtornos alimentares na pandemia?

Graças aos avanços de estudos, existem muitas formas de lidar com o risco e o aumento dos transtornos alimentares nesse contexto do Covid-19. Consultas virtuais, por exemplo, são uma excelente opção para quem lida bem com terapia; existem também grupos de apoio online que se reúnem independente da localização geográfica dos integrantes dessa rede de apoio.

Além disso, também pode-se tomar medidas eficientes individualmente para diminuir os riscos ou os sintomas desses transtornos, como limitar o consumo das redes sociais, especialmente os conteúdos que reforçam um certo padrão de corpo a ser seguido ou noticiários de desastres na TV; tudo isso é uma forma eficaz de autocuidado que pode reduzir os impactos desse isolamento social.

Encontrar formas criativas de estabelecer interações sociais com outras pessoas enquanto as medidas de distanciamento social se mantêm também é uma solução: promova chamadas descontraídas entre amigos, participe de rodas de conversa virtuais etc. Praticar de exercícios ao ar livre, desenvolver hobbies, participar de uma organização religiosa ou buscar cursos e aulas online também são boas opções para ajudá-lo nessa busca.

Espero que por meio deste artigo você tenha compreendido a relação entre os transtornos alimentares e a pandemia. O recado que fica é o seguinte: apesar de nosso contexto ter aumentado os riscos e o predomínio dos transtornos alimentares, existem muitas medidas que para te auxiliar na prevenção e no tratamento. Não deixe de buscar seu bem-estar!

Avalie esse artigo:

Comentários:

8 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Sônia Dequech
2 anos atrás

Parabéns, Raquel! 🙂
Abordou de uma maneira excelente mais este grande problema que a pandemia nos trouxe!

Lindielly
2 anos atrás

Muito bom, é assunto que deveria ser abordado mais vezes. Parabéns👏

Eilane Corrêa de Castro
2 anos atrás

Extremamente necessário e henriquecedor! 🙏🏻🙏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Jéssica Naves
2 anos atrás

Muito bom!! Retrata exatamente o que estamos vivendo, bem esclarecedor!

Ramona Andrade Xavier
2 anos atrás

Muito bom. Adorei. Exatamente isso que estamos vivendo. 👏😍

Felipe Andrade
2 anos atrás

👏🏾👏🏾

ricardo ricardo
2 anos atrás

Artigo muito bom e de grande importância nesse momento que estamos vivendo, onde a ansiedade, e mais do que nunca a incerteza nos afeta diretamente!

Karen Santos
2 anos atrás

Sensacional! Parabéns Raquel!