Vamos falar das consequências do racismo na saúde mental das pessoas negras_

Vamos falar das consequências do racismo na saúde mental das pessoas negras?

Olhares desconfiados, frases de exclusão, julgamento pelo local de moradia e escolaridade, perseguições nas ruas e até mesmo dentro de supermercados, essas são algumas das situações racistas que as pessoas negras enfrentam em uma sociedade composta pelo racismo institucional e estrutural.

De acordo com o IBGE, 56,10% das pessoas brasileiras se declaram negras, o grupo reúne pretos e pardos, assim é possível considerar que as pessoas negras representam a maioria da população brasileira.

O racismo é baseado em disparidades injustas, em marginalização e opressão de pessoas negras com base em uma hierarquia racial socialmente construída.  É composto de barreiras que limitam as pessoas de desfrutarem de dignidade e igualdade por causa de sua raça e que por isso, afeta diretamente a saúde mental e a rotina cotidiana.

A exclusão promovida pelo racismo

Quando se é excluído de uma sociedade, de grupos de pessoas específicas, de ações no ambiente corporativo ou até mesmo de celebrações, o estresse aparece, alterando o humor e com a possibilidade de baixar a autoestima.

Pessoas que sofrem discriminação racial são propensas a desenvolver dificuldades emocionais e comportamentais, estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. São situações que comprometem diretamente a saúde mental e o bem estar das vítimas, pesquisas americanas relatam que os eventos estressores relacionados à raça podem ser considerados fatores de risco mais intensos para o sofrimento psicológico do que outros eventos estressantes. Vamos treinar a empatia, tente imaginar o efeito causado pelas frases abaixo:

– “O seu cabelo parece com o bombril que eu uso em casa”.

– “O que você está fazendo aqui? Aqui não é lugar para gente da sua laia.”

– “Vou revistar você, você não tem cara de gente de bem.”

– “Ah, você trabalha como gerente? Pensei que não tivesse saído do cargo de assistente.”

– “Até que as pessoas pretas fazem filhos bonitos”.

-”Tinha que ser coisa de preto.”

– “Para uma negra você é até bonita”.

As frases acima geram desconforto nas vítimas, as fazem questionar sobre o seu tom de pele, sobre as suas origens e sobre o seu futuro, quando as vítimas lembram das discriminações que sofreram, inúmeros pensamentos surgem, gerando sentimentos de culpa, tristeza, insegurança e complexo de inferioridade, cada pessoa reage de uma forma, entretanto as consequências de um ato de racismo não fica apenas nas palavras que foram faladas, mas desenvolvem traumas e feridas na alma que despertam os sintomas de intrusão (incapacidade de tirar da mente os pensamentos sobre o que aconteceu), vigilância (incapacidade de dormir, por medo do perigo), raiva, perda de apetite, sintomas de apatia e evitação.

As mulheres negras por exemplo além de vivenciarem um turbilhão de pensamentos e sentimentos conflitantes relacionados ao ato, ainda são vítimas de situações de machismo que reforçam a desigualdade racial causada pela estrutura social em que se exerce sobre a figura da mulher uma hipersexualização de sua condição. Desta forma, as mulheres negras sofrem tanto pelo racismo, quanto pelo machismo, esses dois fatores influenciam na saúde mental da mulher negra que carrega toda a carga de objetificação e o sentimento duplo da opressão. 

E como os psicólogos podem ajudar as vítimas que sofreram/sofrem de racismo?

Os profissionais de psicologia podem auxiliar de diversas formas, vai depender da abordagem de trabalho de cada um, porém o principal auxílio é realizado por meio do acolhimento da vítima que visa promover alívio e bem estar, segurança para expressar-se e com o propósito de elevar sua autoestima, reduzindo o desconforto daquele primeiro momento. Em casos que o psicólogo identifica sintomas graves e frequentes gerados por transtornos como depressão, estresse pós-traumático, entre outros, a administração do processo terapêutico passa a ser com técnicas específicas que ajudam a desestigmatizar a relação do racismo internalizado com a busca por seus direitos.

A psicoterapia também atua na prevenção e na redução de danos causados por discriminações e situações de bullying, grande parte dos casos provenientes de racismo traz a compreensão de que o tratamento psicológico pode pautar-se em técnicas distintas para ampliar o entendimento sobre a questão do racismo e saúde mental do paciente, além de oferecer um processo de reeducação e reforço positivo dos direitos de cada pessoa, valorizando sua subjetividade, proporcionando autonomia e ensinando formas diferentes de lidar com possíveis situações e conflitos, sejam elas causadas por fatores internos ou externos.    

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