Você gosta do seu trabalho, mas parece que tudo perdeu o encanto?
30 de julho de 2020
Vamos conversar um pouco sobre a Síndrome do Burnout, no ambiente de trabalho. No jargão popular em inglês, burnout refere-se aquilo de deixou de funcionar por absoluta falta de energia, ou seja, não tem mais combustível, está esvaziado, exaurido de força.
Algumas vezes é possível sentir-se assim no trabalho. Hoje, muitos profissionais precisam dar conta de extensas obrigações, acúmulo de responsabilidade, metas desafiadoras, prazos curtos, equipe desalinhada. E se você for um líder ou gerente de pessoas, essa pressão aumenta ainda mais.
O adoecimento no trabalho
O Burnout começou a aparecer na literatura médica na década de oitenta, mas só ganhou força no Brasil no início dos anos 2000.
Há aproximadamente quinze anos, quando estava na minha segunda especialização, me chamava a atenção o nível de estresse em profissionais que diziam fazer exatamente o trabalho que imaginaram para suas vidas.
Por serem educadores de crianças em situação de vulnerabilidade, esses profissionais podiam dedicar mais tempo e serem remunerados por trabalhos sociais que outros profissionais faziam de forma voluntária. Mas muitos demonstravam sofrimento e até adoecimento.
Definição de Burnout
A definição de Burnout, segundo os autores que começaram a pesquisar a fundo esse problema, Maslach e Jackson em 1986, é a seguinte:
“Reação à tensão emocional crônica, gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com problemas”.
Vamos pensar juntos agora. Gerada a partir de contato direto e excessivo com outros seres humanos, a partir daí já é possível caracterizar quase todas as pessoas em idade produtiva e que possuem algum emprego, particularmente quando estão preocupados e com problemas.
Nos dias de hoje são poucas as pessoas que podem dizer tranquilamente que não estão preocupadas com algo, principalmente se levarmos em consideração o cenário econômico e político atual e a situação de riscos à saúde que estamos vivendo com a pandemia do novo Coronavírus.
Mas para compreendermos melhor, as primeiras pesquisas sobre Burnout estavam voltadas para profissionais de atendimento direto a emergências e situações de estresse ou a equipes que trabalhavam com desenvolvimento e educação, como os médicos, enfermeiros, policiais, agentes penitenciários, professores e atendentes de saúde básica.
Antes de começar a se utilizar o termo Burnout, esse problema podia ser conhecido como estresse laboral, esgotamento profissional, estresse laboral ocupacional, síndrome do estresse ocupacional entre outros. Será que você conhece alguém que se afastou do trabalho por esse motivo?
O esgotamento mental em função do trabalho
Até 1999 não era possível se afastar mais de quinze dias e conseguir o benefício do abono pelo INSS, mas em maio desse ano foi aprovado um decreto onde Burnout foi considerado um motivo para afastamento com remuneração garantida. Isso foi um avanço no reconhecimento dos problemas de saúde mental que atingem os trabalhadores.
Mas quais são as características da Síndrome do Burnout? Vamos conhecer um pouco melhor e aprender a identificar se você pode estar em risco ou sofrendo com isso. Observam-se três comportamentos:
a) Exaustão Emocional
A exaustão emocional está ligada à falta de recursos emocionais, ao sentimento de que não se é útil aos outros, e que não se tem nada para lhes oferecer, não ter energia para mais nada.
b) Despersonalização
Quando o profissional trata os clientes, colegas e a instituição de maneira impessoal. É um estado psíquico em que prevalece a crítica exacerbada de tudo e de todos os demais e do meio ambiente. Fica difícil conviver com esse comportamento, parece que a pessoa mudou de personalidade e está fria com todos.
c) Diminuição da realização pessoal no trabalho
Tem mais a ver com autoavaliação de forma negativa. As pessoas se sentem infelizes com elas próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional. Experimentam um declínio no sentimento de competência e no êxito no seu trabalho e de sua capacidade de interagir com outras pessoas.
Acham que tudo que fazem está ruim, mesmo que isso não seja percebido pelos outros.
Sintomas comuns e incidências
As pessoas mais suscetíveis a apresentarem a Síndrome de Burnout são caracterizadas como competitivas, impacientes, esforçadas.
São pessoas com muita empatia, humanas, que trabalham com dedicação profissional, e estão sempre preocupadas em apresentar um bom trabalho. Podem não lidar bem com críticas, e costumam apresentar traços de ansiedade, sofrendo por antecipação.
Os estudos sobre a síndrome trazem mais dados interessantes para poder te ajudar a se observar. Não apresentam diferenças em relação ao gênero mais atingido, porém sabe-se que em mulheres a característica de esgotamento emocional é mais presente enquanto que nos homens a característica mais forte é a despersonalização que explicamos acima.
Outro dado interessante é que essa síndrome atinge mais pessoas de nível superior, solteiras, divorciadas ou viúvas.
E o que fazer para lidar com esse transtorno no trabalho?
Mesmo quando gostamos do nosso trabalho corremos o risco de adoecer, porque existem vários fatores que podem interferir na nossa saúde mental e não temos total controle sobre tudo.
As questões que citei no início, como a situação do país, a situação atual da pandemia, tudo pode influenciar nosso estado de humor.
Contudo, vamos voltar para seu trabalho. Agora observe se tem o suporte necessário para fazer acontecer um bom resultado, se utiliza as ferramentas que sua empresa dispõe, se faz o uso saudável da tecnologia, se tem bons hábitos de alimentação.
Tudo isso parece corriqueiro e simples, mas tem impacto direto sobre seu funcionamento mental. Lembre-se de olhar para dentro antes de olhar para fora, pois as respostas já estão dentro de você, basta procurar ajuda para acessá-las.