Hiperconectividade: como ela contribui para a ansiedade?

A hiperconectividade é uma característica constante de nossas vidas. Contanto que o acesso à internet esteja disponível, temos acesso à um vasto mundo digital com o celular em mãos. Podemos verificar e-mails, aplicativos de mensagens instantâneas, redes sociais, jogos eletrônicos e muito mais. 

As crianças já sabem desvendar aparelhos tecnológicos antes dos 10 anos. A maior fonte de entretenimento dos adolescentes é a internet, contribuindo para que passem horas pendurados no computador ou no celular. Uma realidade até então inédita para as gerações mais jovens. 

Apesar da tecnologia ter se tornado indispensável para nós, nem tudo o que reluz é ouro. O hiperconexão excessiva pode causar problemas para a saúde mental e depauperar aspectos de nossas vidas. 

O que é hiperconectividade?

Esse termo faz referência à hiperconexão tecnológica. Ele ainda não possui um significado oficial, mas é uma característica facilmente identificável em nossas vidas. 

Estamos cada vez mais conectados na internet através de dispositivos tecnológicos, como notebooks, computadores, smartphones, tablets, smartwatches, assistentes pessoais digitais, smart TVs, entre outros. 

Além disso, muitos eletrodomésticos e equipamentos já são capazes de se conectar entre si e formar uma rede própria, construindo o chamado “estilo de vida inteligente”. 

Dependemos desses aparelhos para trabalhar, buscar conhecimento, fazer compras, ter novas experiências, nos entreter e, sobretudo, nos comunicar com outros indivíduos. Gradualmente estamos sendo encorajados a depender deles através de aplicativos desenvolvidos por empresas, bancos e órgãos do governo.

Outra característica da sociedade onde a hiperconectividade reina é a produção de conteúdo por não profissionais ou profissionais com pouca visibilidade. Vídeos, fotografias, ilustrações, filmes amadores e músicas podem ser compartilhados com milhares de pessoas ao redor do mundo. Assim, temos mais opções de conteúdo para consumir.

Em síntese, não há como escapar da hiperconexão. A tendência é que mais soluções tecnológicas apareceram ano após ano, forçando até mesmo quem não é fã de tecnologia a depender dela para certas necessidades. 

Qual é a relação entre hiperconectividade e ansiedade?

Embora o nosso dia a dia tenha se tornado mais prático com os aparatos tecnológicos e a internet, a hiperconectividade também tem um lado negativo. O excesso de estímulos e conteúdos consumidos diariamente pode aumentar a ansiedade, estresse, e insatisfação, além de causar depressão. 

Como os fatores ligados à hiperconectividade que contribuem para a deterioração da saúde mental são variados, os separamos em categorias abaixo. 

Insatisfação com a vida

Uma das maiores redes sociais da atualidade, o Instagram, recentemente removeu a contagem de “likes” das fotografias, dando a opção a cada usuário de torná-la visível para si mesmo ou não. 

Essa mudança foi motivada pelas constantes suposições que a rede social estaria contribuindo para a infelicidade dos usuários ao possibilitar a exposição a estilos de vida “perfeitos”, viagens inacabáveis e luxo disponível para poucos. 

Hiperconectividade: como ela contribui para ansiedade?

Além disso, as belas fotografias incentivam a busca infindável pelo corpo perfeito, dando origem a uma comunidade de pessoas obcecadas com a aparência. Os próprios usuários criavam desafios esdrúxulos para perder peso e se assemelharem aos modelos das fotos.  

Ao passar muito tempo consumindo esses tipos de conteúdo, alguns usuários se tornam insatisfeitos com as suas próprias vidas. Por que a vida do outro é mais emocionante, bonita e interessante que a deles? Assim, ficam ansiosos toda vez que avaliam as suas vidas e descobrem que há componentes faltando nelas. 

Embora a solução da rede social não acabe com todos os problemas, é um começo para tornar os ambientais virtuais mais agradáveis. 

Solidão

A psicóloga Americana Sherryl Turkle, em seu livro “Alone Together: Why we expect more from technology and less from each other” (Juntos separados: Por que esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros?), trata de alguns problemas que podem vir da hiperconexão constante. Para ela, os dispositivos ocupam um vazio com o qual não sabemos mais lidar.

Os momentos de solidão são substituídos pela navegação nas redes. Esse movimento, ainda que pareça inócuo, pode levar a uma inabilidade de ficar sozinho e, com isso, diminuir o autoconhecimento. Se não nos conhecemos, como formaremos conexões valiosas com as pessoas com quem vivemos?

Os chamados “relacionamentos líquidos” são outra característica da hiperconectividade. As pessoas têm mais facilidade para se relacionar com outras nas redes sociais, mas, devido à natureza digital dessas relações, elas nem sempre são duradouras. 

Da mesma forma, os seus relacionamentos “da vida real” são escassos e pouco profundos, impossibilitando uma integração verdadeira entre os indivíduos. Não é possível replicar o que é feito no mundo virtual fora dele. Assim, as pessoas simplesmente não sabem o que fazer para aprofundar seus relacionamentos. 

Elas podem ter uma agenda virtual cheia de contatos e conversar com dezenas de indivíduos no dia a dia, mas não possuírem um relacionamento sólido com nenhuma deles.

Déficit de atenção

O uso excessivo da tecnologia também impacta a capacidade de concentração de crianças, jovens e adultos. Como o ambiente virtual é mais dinâmico, o tipo de atenção concedida a ele é diferente. 

Somos bombardeados com imagens, vídeos, gráficos, animações, músicas, links e outros recursos assim que entramos em uma página da web. Para conseguirmos acompanhar essa quantidade enorme de informações, focamos em cada coisa somente por um curto período.

As interações fora da internet podem se tornar enfadonhas em comparação ao dinamismo do mundo virtual. Estudantes podem apresentar dificuldades para se concentrar nas aulas, profissionais podem achar as reuniões tradicionais tediosas e longas conversas entre amigos podem acabar se tornando chatas. 

O déficit de atenção causado pela hiperconectividade consequentemente aumenta a frequência dos erros e dos desentendimentos quando um indivíduo recebe instruções orais ou impressas. A ansiedade pode surgir da incapacidade de manter a atenção no cotidiano. 

Saturação de estímulos

Estar conectado o tempo todo faz com que não tenhamos respiro de coisas ruins que podem acontecer conosco e com quem amamos. Notícias ruins se espalham rapidamente pelas redes sociais, contribuindo para devaneios paranoicos. Será que o mundo está de fato tão violento ou é somente um recorte criado pelo mundo digital? 

Quando não encontramos tempo para digerir os acontecimentos da vida real e os estímulos das redes, ficamos saturados e cada vez mais próximos de chegar ao esgotamento psicológico

Até mesmo os conteúdos agradáveis, os quais consumimos diariamente por vontade própria, podem causar sobrecarga. A questão, então, não é somente se uma determinada informação lhe deixa triste ou feliz. A quantidade de informações consumidas em um curto período é a principal problemática dessa questão.  

Como diminuir a hiperconectividade?

Como a tecnologia não vai a lugar algum, somos nós quem precisamos aprender a administrá-la de maneira saudável. Como grande parte das gerações já estão familiarizadas com a internet e os aparelhos tecnológicos, a tendência é que mais soluções sejam apresentadas a nós – cada vez mais rápidas, inovadoras e úteis. 

Sendo assim, precisamos estabelecer limites inteligentes para encontrar um equilíbrio entre o tempo dedicado à tecnologia e aos demais departamentos de nossas vidas. A solução para isso pode ser implementar características do “estilo de vida tradicional” ao “estilo de vida moderno”. 

1. Enriqueça o seu cotidiano 

Hiperconectividade: como ela contribui para ansiedade?

Traga para o seu cotidiano aquelas coisas que você mais gosta: hobbies, vontades, preferências, alimentos, atividades físicas, pessoas, experiências e assim por diante. Idealmente, os passatempos não teriam relação com a internet/tecnologia para que outras competências e áreas do cérebro sejam exercitadas.

Ter conversas olho-no-olho são igualmente essenciais para combater as consequências exaustivas da hiperconectividade. Convide amigos para tomar um café ou fazer um programa de fim de semana e coloque a conversa em dia. 

A decoração da sua casa e espaço de trabalho também colaboram para o bom humor, sabia? Transforme o seu cantinho em um ambiente aconchegante, repleto de coisas que lhe despertam alegria e boas lembranças. 

2. Desconecte-se com mais frequência

Programe-se para se desconectar completamente da tecnologia de vez em quando. Faça uma caminhada, brinque com as crianças, leia um livro, tenha um fim de semana romântico, leve seu pet para passear, pratique um esporte com amigos e viaje para locais distantes. 

Observe como as pessoas se comportam nesses momentos e converse com elas. Preste atenção na vida como ela é fora das telas. Aos poucos, você irá reencontrar aquele desejo por apreciar as coisas pequenas do cotidiano. 

3. Use a tecnologia com responsabilidade

Tenha responsabilidade na hora de usar a tecnologia para não desenvolver uma dependência ou danificar o seu humor em decorrência dela. 

Por exemplo, não consuma conteúdos desagradáveis, não leve o celular para a mesa de refeições, evite passar horas ininterruptas na internet, não abuse das redes sociais enquanto estiver conversando com alguém ou em um evento social e evite a tecnologia momentos antes de dormir para afastar a insônia

4. Pratique o relaxamento 

Técnicas de relaxamento podem ajudar a combater a ansiedade originária da hiperconectividade. Elas podem ser tanto incluídas no seu dia a dia após o expediente ou logo pela manhã quanto feitas ocasionalmente com profissionais especializados para aliviar a tensão. 

Meditação, exercícios de respiração profunda, yoga, diário da gratidão, exercícios de imaginação, mindfulness, atividades físicas e acupuntura combatem pensamentos ansiosos, emoções negativas, estresse e tensão muscular. Também atuam como reguladores naturais de humor, necessários para nos ajudar a manter o equilíbrio emocional. 

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta