3 dicas para inclusão de pessoas com deficiência em funções remotas

A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é um tema que precisa ser discutido dentro e fora das empresas. Em uma sociedade na qual tanto se fala sobre diversidade, indivíduos com algum tipo de deficiência ainda são esquecidos por muitos.

Infelizmente, existe uma ideia equivocada de que pessoas com certas limitações têm baixa capacidade produtiva e não são capazes de entregar ótimos resultados.

Mas, além da conhecida Lei de Cotas, o que as organizações podem fazer pelo inclusão de pessoas com deficiência tanto no trabalho presencial como no modelo remoto? É sobre isso que você vai aprender neste artigo!

O que diz a Lei de Cotas para PCDs?

PCD é a sigla de pessoas com deficiência A Lei de Cotas existe desde 1991 e tem como objetivo promover a inclusão desses indivíduos no mercado de trabalho. Ela se aplica a quem possui deficiência física, auditiva, visual, mental ou múltipla (visível ou não no ambiente de trabalho).

A lei determina que as empresas com 100 ou mais funcionários garanta uma parcela de suas vagas para pessoas com deficiência. O número depende da quantidade de colaboradores da organização:

  • de 100 a 200 funcionários: 2% para PCDs;
  • de 201 a 500 funcionários: 3% para PCDs;
  • de 501 a 1000 funcionários: 4% para PCDs;
  • acima de 1000 funcionários: 5% para PCDs.

Além disso, as pessoas com deficiência têm todos os direitos segundo a CLT e há a possibilidade de horários flexíveis e reduzidos (com salário proporcional) dependendo do grau de deficiência e/ou necessidade de tratamento.

Quais barreiras as pessoas com deficiência enfrentam no mercado de trabalho?

Segundo dados do IBGE, por volta e 45 milhões de brasileiros têm alguma deficiência, o que corresponde a 24% da população do país. No entanto, apenas 1%, pouco mais de 400 mil, estão no mercado de trabalho.

Este cenário vai contra pesquisas que apontam que quanto maior a diversidade no ambiente organizacional, melhores são os resultados das empresas.

O que acontece é que, infelizmente, ainda existem diversas barreiras culturais, de oportunidades, preconceitos, entre outros. Confira, em seguida, algumas delas:

Preconceitos e falta de informação

Apesar de vivermos em uma sociedade que fala muito sobre diversidade, ainda há muitos preconceitos que atrapalham pessoas com deficiência na inserção no mercado de trabalho.

A disseminação de informação de qualidade e confiável sobre a importância da inclusão e igualdade entre os indivíduos é essencial para combater o preconceito que existe.

Falta de qualificação profissional

Diversas empresas justificam que não contratam PCDs porque não há profissionais qualificados o suficiente.

Há um ponto importante aqui, que é a formação básica, um enorme desafio para que, posteriormente, as pessoas com deficiência consigam espaço no mercado de trabalho. Por isso, tanto se fala sobre educação inclusiva hoje em dia.

Poucas oportunidades de trabalho

Há organizações que enxergam a Lei de Cotas apenas como uma obrigação legal e mesmo com este incentivo, muitas não cumprem o que deveriam em termos de contratação de PCDs.

Além disso, em diversos casos não há adaptação às limitações do funcionário no dia a dia de trabalho e, em sua maioria, acabam sendo oferecidas vagas de baixa qualidade, como em níveis operacionais.

Falta de acessibilidade

A acessibilidade ainda é um ponto extremamente preocupante no Brasil. Em vários ambientes públicos as pessoas com deficiência enfrentam dificuldades e o mesmo acontece no mercado de trabalho.

As empresas precisam garantir a acessibilidade nos escritórios e no trabalho remoto, com adaptações que ajudarão os PCDs a se sentirem mais confortáveis e aptos para a execução de seus trabalhos.

Quais são os benefícios de ter PCDs na empresa?

Contratar PCDs não deve ser visto apenas como uma obrigação legal. Existem vários benefícios interessantes que merecem a atenção das empresas. Confira:

Maior diversidade

Uma das grandes vantagens da contratação de pessoas com deficiência é que o ambiente organizacional se torna muito mais diverso e inclusivo. Quando profissionais com backgrounds e características diferentes se unem para trabalhar em conjunto, o dia a dia fica muito mais rico e nascem novas formas de encarar os desafios do dia a dia.

Além disso, existem pesquisas que apontam como a diversidade é benéfica para que as organizações alcancem melhores resultados.

Redução do preconceito

Sair da bolha e conviver com pessoas diferentes de nós é necessário para quebrar preconceitos. Por isso, a convivência com PCDs pode ser muito benéfica e ajudar os colaboradores da empresa na eliminação de barreiras e estereótipos.

Melhorias na acessibilidade

A contratação de PCDs faz com que a organização invista em acessibilidade, o que é essencial para receber estes profissionais. Dessa forma, tanto o escritório como eventos promovidos pela empresa se tornarão mais acessíveis e isso contribuirá para o fortalecimento de uma imagem positiva.

Aperfeiçoamento dos processos seletivos

Outro ponto benéfico é que ao contratar pessoas com deficiência é necessário aprimorar o recrutamento também. Afinal, vários processos precisarão de mudanças e adaptações.

Uma das principais vantagens é que o time de RH tende a cultivar um novo olhar em relação à atração de novos talentos. Com isso, passa a selecionar os candidatos, prioritariamente, a partir de suas habilidades e adequação à vaga, independentemente de suas dificuldades provenientes de uma deficiência.

Mais humanização e colaboração

Trabalhar com PCDs é muito interessante para desenvolver um quadro de funcionários mais humano e colaborativo. A convivência com pessoas com deficiência ensina sobre inclusão, respeito e a importância da participação ativa de todos para que os resultados sejam alcançados.

Como promover a inclusão de pessoas com deficiência no ambiente de trabalho?

Agora é a hora de entender, na prática, como pode ser trabalhada a inclusão de pessoas com deficiência no dia a dia da empresa. Confira, desde orientações sobre o processo seletivo até ações de rotina que ajudam no processo:

Promova um recrutamento acessível

É possível criar um processo seletivo disponível em formatos alternativos, como Braille e letras eletrônicas. Além disso, podem ser realizadas algumas mudanças, como ter à disposição um intérprete de libras e testes em Braille.

Prepare-se para receber as PCDs no processo seletivo

Seja para etapas presenciais ou online, é preciso que o recrutador esteja preparado para receber os candidatos que têm alguma deficiência. Para isso, é válido se informar sobre as suas limitações e necessidades.

Tome cuidado com os questionamentos nas entrevistas

Perguntas sobre a deficiência da pessoa não devem ser discriminatórias. Apenas questione aquilo que pode ser importante para realizar ajustes ao longo do recrutamento ou promover uma melhor adaptação do profissional no ambiente de trabalho.

Prepare as lideranças e as equipes

Para que a inclusão de pessoas com deficiência seja efetiva não basta apenas contratar os PCDs e não preparar os demais colaboradores para recebê-los. É essencial que as lideranças recebam algum tipo de treinamento e sejam incentivadas a cultivar uma cultura em prol da diversidade.

Os outros colaboradores também precisam estar preparados para receber as PCDs. Para isso, é interessante que tenham clareza sobre a deficiência do novo funcionário. Assim, podem criar novas rotinas de trabalho e formas de acessibilidade no dia a dia. Com isso, há melhor integração e um clima muito mais harmônico.

Cultive uma cultura voltada para a diversidade

A cultura organizacional deve trabalhar constantemente o foco na diversidade, reforçando que nenhum tipo de preconceito será admitido. Ao fomentar essa cultura, cria-se um ambiente de muito mais respeito e empatia, em que todos conseguem aceitar as diferenças com positividade.

Crie um ambiente mais acessível

É essencial que o ambiente de trabalho seja o mais acessível possível. Para isso, podem ser necessárias algumas adaptações tecnológicas e também no escritório e em eventos.

Devem ser analisadas se existem barreiras com as seguintes características:

  • arquitetônica — barreiras ambientais físicas;
  • atitudinal — preconceitos, estereótipos e discriminações;
  • comunicacional — barreiras na comunicação interpessoal;
  • metodológica — barreiras nas técnicas de trabalho;
  • instrumental — barreiras nos instrumentos e ferramentas de trabalho;
  • programática — barreiras invisíveis embutidas em políticas e normas da empresa.

A empresa não deve encarar esse tipo de investimento como gastos desnecessários e sim como parte de um plano de inclusão que irá beneficiar todos os colaboradores e o crescimento da própria organização.

Foque em estratégias ergonômicas

A ergonomia tem como foco a adaptação de aspectos do trabalho às condições psicofisiológicas do funcionário. As pessoas com deficiência necessitam de algumas dessas adaptações para que consigam acessar o local de trabalho, terem conforto, segurança e independência.

Alguns exemplos de adaptações são:

  • sinalização tátil, sonora e visual de forma integrada;
  • banheiros adequados;
  • rotas acessíveis.

E a inclusão no modelo de trabalho remoto?

A pandemia mudou a realidade de muitas empresas, que passaram a trabalhar remotamente ou em esquema híbrido. Por mais que essas mudanças sejam tranquilas e confortáveis para muita gente, nem sempre é simples para as PCDs, que precisam de algumas adaptações para conseguirem trabalhar no home office da melhor forma possível.

Confira, em seguida, o que pode ser feito pensando na inclusão de pessoas com deficiência no modelo de trabalho remoto:

Plataformas de videoconferência acessíveis

Não podemos negar que, com o home office, as videoconferências ganharam um espaço ainda maior no dia a dia de trabalho. No entanto, para as PCDs é importante que as plataformas utilizadas sejam compatíveis com leitores de telas e outros softwares para quem tem problemas na visão.

Há também a possibilidade de utilizar o suporte de audiodescrição, em que alguém descreve as imagens para os indivíduos com deficiências visuais.

Já para as pessoas com deficiências auditivas, pode ser necessário um intérprete de libras e/ou legendas nas reuniões e apresentações. A empresa pode contratar um intérprete, que será essencial para que as PCDs consigam participar das reuniões ativamente.

Ferramentas e ambiente de trabalho

Outro ponto importante no home office é considerar que pessoas com deficiências físicas podem precisar de algum móvel ou aparelho que auxilie na execução das suas tarefas.

Pensando nisso, a empresa deve transportar tais itens para a casa do funcionário ou, se necessário, comprar novos para a adaptação no trabalho remoto.

Flexibilidade para a adaptação

Não podemos nos esquecer também de que pessoas com alguma deficiência intelectual ou no espectro autista podem demorar um pouco mais para se adequar à nova rotina. Nesses casos, as lideranças devem ser mais flexíveis e acompanhar de perto o processo de adaptação.

Empresas que são exemplo na inclusão de pessoas com deficiência

A Natura é um ótimo exemplo de organização que não só cumpriu a Lei de Cotas como a superou e está em 7,2% (por volta de 350 colaboradores) de PCDs. Tanto empenho vem trazendo resultados interessantes, pois a empresa foi a quarta colocada no ranking mundial de Companhias Mais Diversas e Inclusivas, feito pela consultoria financeira Refinitiv, dos Estados Unidos.

Além disso, a Natura promove iniciativas importantes, como quando, em 2019, 50 funcionários aprenderam voluntariamente a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para apoiar quem tinha alguma deficiência auditiva.

Vale ressaltar também a Raia Drogasil, cliente da Vittude, que em 2012 criou um programa para acelerar as suas metas de inclusão de pessoas com deficiência e bater a cota de 5%. Hoje, mais de 2 mil funcionários são PCDs.

Como anda a inclusão de PCDs na sua empresa?

Após a leitura deste conteúdo você deve estar refletindo sobre a inclusão de pessoas com deficiência na sua organização, não é mesmo? Se ainda não existem iniciativas voltadas para a diversidade e acessibilidade, já é a hora de começar a traçar novas estratégias.

Empresas que focam em inclusão saem ganhando em produtividade, resultados e employer branding. Não se esqueça disso!

Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.