Mania: desvendando a mente de uma pessoa maníaca

Pode ser difícil compreender totalmente a mente de uma pessoa maníaca. Durante um episódio ou crise maníaca, ela se transforma, agindo de maneira excêntrica, e esta mudança abrupta causa estranheza aos demais.

Quem está de fora precisa compreender que, durante um episódio, a pessoa perde o controle do próprio comportamento. Ela pode participar de atividades perigosas ou falar o que não deveria, mesmo que magoe os sentimentos de terceiros. E tudo isso sendo feito de maneira semi-inconsciente devido à perturbação cognitiva.

Normalmente, problemas de memória costumam surgir após o fim do episódio e a pessoa é incapaz de se lembrar de todas as suas ações enquanto estava maníaca. Ou seja, é complicado atribuir à responsabilidade total dos atos a ela.

O que é mania?

A mania é uma das fases do transtorno bipolar, também conhecido por transtorno maníaco-depressivo, em que a pessoa maníaca esbanja intensa euforia.

Influenciada pela oscilação drástica do humor, ela passa a ter atitudes, pensamentos e objetivos anteriormente inexistentes. Ademais, esta fase pode durar semanas ou meses, o que acaba comprometendo os relacionamentos interpessoais e o desempenho no trabalho.

A mania dividi-se em algumas subcategorias:

  • Mania disfórica: o sintoma predominante é a irritação e o mau humor, resultando em agressividade. É comum haver a destruição de objetos, até mesmo os de valor sentimental, e comportamentos autodestrutivos neste estado. Está associada ao diagnóstico do transtorno bipolar I.
  • Mania eufórica: é o contrário da mania disfórica. A pessoa se sente muito bem e sua autoestima se eleva consideravelmente. As sensações boas, contudo, também podem acarretar em atitudes inconsequentes, como direção perigosa e consumo descontrolado.
  • Hipomania: um quadro mais leve da mania com sintomas menos intensos. Apesar de interferir menos no dia a dia da pessoa, ainda incentiva comportamentos incomuns.

Como acontece a mania?

Nem toda pessoa com transtorno bipolar sofre com alternâncias entre os episódios maníacos e os depressivos. Algumas são mais propensas a sentir sintomas depressivos ou sintomas maníacos enquanto outras sentem ambos igualmente. Além disso, para uns, as oscilações de humor acontecem com frequência e para outros, é quase inexistente.

Algumas situações podem servir como gatilhos para a mania, sendo elas experiências negativas (morte de alguém próximo, catástrofes naturais, eventos violentos), uso de drogas e álcool, dificuldades para atingir objetivos (conseguir uma promoção, ganhar uma competição) distúrbios do sono, e, no caso das mulheres, TPM.

Alguns fatores menos estressantes, mas igualmente perturbadores para quem os vivencia, também podem despertar uma crise, como barulhos muito altos, luzes ofuscantes, multidões e excesso de cafeína ou nicotina.

Para descobrir quais situações agem como gatilho, a pessoa bipolar precisa fazer uma autoavaliação para, assim, desenvolver mecanismos para lidar com elas de forma que não prejudiquem o seu psicológico.

Características de uma pessoa maníaca

Tanto a mania disfórica quanto a eufórica compartilham sintomas em comum, mas a diferença é que na primeira a irritabilidade é mais intensa.

Brigas, discussões, xingamentos e destruição de objetos são os meios encontrados para descarregar a raiva. Exemplificando, a pessoa pode falar “verdades” indesejadas ou fazer provocações infundadas aos amigos e familiares, contribuindo para o afastamento desses. Ou seja, a mania disfórica faz com que a pessoa perca a noção das consequências e desabafe o que está entalado na garganta.

Já na fase eufórica, há uma intensa descarga de energia que afeta tanto o corpo quanto a mente: sentimentos de grandeza, invencibilidade e autoapreciação exagerados. Logo, a pessoa maníaca imagina que pode conquistar tudo o que deseja. Nenhum sonho é grande demais.

Ela sente a súbita necessidade de fazer um grande investimento ou iniciar um negócio próprio ou começar um relacionamento. Por isso, se envolve com diversas atividades ao mesmo tempo, mas não chega a finalizar nenhuma. A distração é muito comum e acaba mudando o foco da atenção da pessoa para o próximo grande feito.

Essas fantasias espalhafatosas agem como estimulantes para condutas incompreensíveis, as quais podem assustar amigos, familiares e colegas de trabalho.

Abaixo, veja outros sintomas da mania:

Tagarelice

Tagarelar sobre assuntos extraordinários, como invasão de alienígenas e teorias da conspiração, se torna rotineiro. A pessoa maníaca pode até discursar horas a fio sobre assuntos técnicos que obviamente não domina.

Raciocínio perturbado

Como a mente da pessoa em estado de mania está a mil por hora, é difícil fazer conexões racionais entre as ideias. Dessa forma, ela se perde durante a execução de atividades, apresentando dificuldades para cumprir ordens simples, ou atropela os próprios pensamentos.

Um exemplo são associações como “Me esqueci de alimentar o gato hoje de manhã. Será que vai ter temporal mais tarde? Preciso comprar pão depois do trabalho. Ah! Meu irmão mandou mensagem. Como será que ele está?”.

Também pode chegar a conclusões inapropriadas e de caráter fantasioso sobre situações comuns. Por exemplo, pode acreditar que o motivo por trás da ausência de um amigo na confraternização de sexta-feira à noite esteja relacionado a um assalto ou assassinato.

Comportamento sexual impróprio

A elevação da libido resulta em um comportamento sexual voraz. A busca por parceiros sexuais é prolongada por semanas. A pessoa se envolve com desconhecidos de forma imprudente e não dá importância para suas identidades.

Fanatismo religioso

De súbito, a pessoa maníaca se envolve com uma religião ou passa a atribuir acontecimentos à ação de Deus. Sua fala começa a girar em torno de uma religiosidade recém-descoberta. Pode até chegar a afirmar que passou por experiências divinas, como conhecer anjos ou receber instruções de conduta do criador.

Comportamentos autodestrutivos

A necessidade por apostas, abuso de substâncias, rachas, festas, brigas com desconhecidos e esportes radicais surge de repente. A pessoa não se dá conta do quão perigosas são suas atitudes e nem dá ouvidos a quem pretende alertá-la. Acredita estar fazendo o melhor para si ao satisfazer seus desejos mais primários.

Grande produtividade

É muito comum haver picos de produtividade referentes a projetos profissionais ou pessoais durante a mania. Há uma explosão de criatividade, levando a pessoa a pintar, escrever ou tocar um instrumento com afinco. É especulado que artistas famosos, como Vincent Van Gogh, Virgina Woolf e Kurt Cobain, tiveram transtorno bipolar e produziram grandes obras durante a mania.

A pessoa maníaca também sente grande inclinação para organização e limpeza, chegando a reorganizar cômodos inteiros e equivocadamente se livrar de objetos pessoais, como roupas, porta retratos, utensílios de cozinha e objetos decorativos.

O que acontece após a mania?

Após a mania, a depressão pode se instalar.

Ao revisitar suas ações e palavras durante o episódio através de relatos de terceiros, a pessoa com transtorno bipolar sente-se mal e culpada e, como não consegue identificar a crise durante a mania, também pode frustrar-se com sua falta de controle. Essa reação natural age como gatilho para a fase depressiva.

Assim que a fase da mania passar, é recomendado fazer uma reflexão sobre o ocorrido para identificar se houveram gatilhos positivos para cessá-lo. Para evitar outros casos, é possível estabelecer horários regulares para dormir, fazer refeições e se exercitar. É vital que a vida da pessoa maníaca seja rotineira e estruturada, pois imprevistos podem despertar episódios.

Além disso, se preparar para passar por situações que costumam despertar a mania também é recomendado. Infelizmente, não é possível garantir 100% que outro episódio não aconteça, porém, este cuidado reduz a probabilidade de reincidências.

Como auxiliar uma pessoa maníaca?

O transtorno bipolar é uma doença crônica que requer um tratamento de longo prazo. Como é comum a pessoa se sentir muito bem durante ele, pode considerar cessá-lo erroneamente. A maioria dos indivíduos portadores do transtorno bipolar precisa de medicamentos para não sofrer com os sintomas e cessar crises maníacas e depressivas.

Tratamento medicamentoso

O psiquiatra definirá qual medicamento será mais eficiente para tratar o transtorno, controlando os episódios ou fazendo com que se extinguem totalmente. As respostas dependem da condição de cada paciente e o médico pode passar mais de um remédio para tratar tanto as crises maníacas e depressivas, quanto estabilizar o transtorno na vida cotidiana.

Tratamento terapêutico

A terapia é um tratamento muito eficaz quando feito em conjunto com a medicação. Além de educar a pessoa sobre o próprio transtorno e suas fases críticas, o tratamento terapêutico fornece orientação para o paciente e para sua família. Assim, informados, todos podem ajudar a pessoa com transtorno a ter uma vida mais leve. Dentro da psicoterapia, os tratamentos mais utilizados são: terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar e psicoeducação. 

Mudanças no modo de vida

Para conviver com o transtorno bipolar e prevenir episódios maníacos, algumas atitudes podem ser tomadas.

  • Estabeleça horários para seguir no dia a dia;
  • Estabeleça uma rotina para o sono;
  • Evite possíveis gatilhos para não entrar em crise maníaca;
  • Peça ajuda de amigos e familiares para se manter firme no tratamento;
  • Fique de olho em sua vida financeira (para não gastar exageradamente durante uma crise);
  • Estabeleça lembretes diários para tomar a medicação.

Assim sendo, a Vittude está à disposição para ajudá-lo a lidar com crises maníacas bem como compreender mais sobre o transtorno de bipolaridade. Acessando nosso site, você já pode marcar uma consulta online com um dos nossos psicólogos especialistas e iniciar o seu tratamento imediatamente de sua residência!

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta