Mulheres na Psicologia: 9 nomes que mudaram a história

O papel das mulheres na psicologia é expressivo. Diversas profissionais de nações distintas dedicaram anos de suas vidas aos estudos da mente humana, expandindo teorias existentes ou criando as suas próprias com base em experimentos e análises. 

A maioria das profissionais da psicologia, psicanálise e psiquiatria enfrentaram obstáculos para serem ouvidas em épocas que mulheres eram consideradas inferiores aos homens e tinham acesso dificultado às universidades e ao mercado de trabalho. 

Já outras ainda precisaram lutar contra o preconceito racial para conseguirem desenvolver e aplicar os seus estudos da psique humana.

Mulheres na psicologia: história e contribuições 

Atualmente, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), 9 entre 10 profissionais da área são mulheres.

Neste mês da mulher, a Vittude decidiu trazer alguns nomes que conquistaram reconhecimento e importância no campo da psicologia (e afins) ao longo dos anos.

O conhecimento que temos hoje da ludoterapia, psicopedagogia, psicologia feminina, psicanálise, psicologia familiar, entre outras áreas, é o resultado do esforço dessas profissionais. 

1. Anna Freud (1895 – 1982)

Anna Freud era a mais nova de seis irmãos e a única que deu continuidade aos estudos da psicanálise desenvolvidos pelo pai, Sigmund Freud. Ela visava transformar a psicanálise em uma prática útil e acessível, que fizesse diferença na vida das pessoas.

Contribuiu com um repertório extenso de artigos científicos e livros sobre temáticas variadas, como sonhos (um dos objetos de estudo prediletos do pai), psicologia infantil, desenvolvimento psíquico durante a puberdade e Ego

O seu livro “O Ego e os Mecanismos de Defesa” explora as funções do ego e como as pessoas utilizaram métodos únicos para defenderem a sua ideia de “eu”. Ela catalogou uma série de mecanismos, tais como:

  • Projeção: a capacidade de ver os seus defeitos em outras pessoas;
  • Repressão: necessidade de conter pensamentos e emoções;
  • Deslocamento: transferência de sentimentos negativos para terceiros; e
  • Regressão: retorno a uma idade mais jovem mentalmente. 

2. Mary Whiton Calkins (1863 – 1930)

A americana Mary Whiton se dedicou ao estudo de uma série de fenômenos psíquicos ao longo de sua carreira. Ela também possuía um grande interesse pelos sonhos. Durante muito tempo, anotou os seus sonhos assim que despertava. Ela desejava compreender a relação entre o estado de consciência e os mecanismos por trás dos sonhos.  

Para ela, os sonhos frequentemente se assemelhavam aos pensamentos cultivados ao longo do dia. Múltiplos pontos da sua pesquisa se contrapuseram as teorias do sonho de Freud, que acreditava que esse fenômeno era resultado de conflitos emocionais ainda não resolvidos.

Já em relação à memória, Mary conduziu experimentos para compreender como, de fato, as pessoas se lembram das coisas e quais elementos possuem mais importância para elas. Os seus estudos serviram de base para a psicologia cognitivista. 

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3. Mary Ainsworth (1913 – 1999)

O trabalho da americana-canadense Mary Ainsworth revelou a influência dos vínculos afetivos no período da infância na formação da personalidade. Ela conduziu o experimento conhecido como “Situação Estranha”. 

Nele, uma mãe e uma criança ficavam em um cômodo sozinhas. De repente, uma pessoa desconhecida entrava. Em seguida, a mãe deixava a criança sozinha com o estranho, retornando apenas minutos depois. A presença do estranho despertava sentimentos específicos na criança.

Graças à sua pesquisa, Mary descobriu os níveis de apego que crianças podem estabelecer com seus pais ou cuidadores. Ela categorizou as suas descobertas em três estilos de apego: seguro, evitativo e ambivalente ou resistente. 

Os achados de Mary enriqueceram a teoria do apego desenvolvida por John Bowlby (1907 – 1990), que se refere aos efeitos dos cuidados maternos nos bebês e crianças.

4. Leta Hollingworth (1886 – 1939)

Pioneira na psicologia americana, Leta Hollingworth dividiu os seus estudos em duas áreas: inteligência e crianças superdotadas, e psicologia feminina. Leta desafiou concepções da época que classificavam as mulheres como inferiores aos homens.

Suas pesquisas revelaram que os hospitais psiquiátricos atendiam mais pacientes homens que mulheres, pois a saúde mental da população feminina era tratada com descaso. Além disso, Leta desmistificou a noção que a menstruação deixava as mulheres “semi-inválidas”. 

Por um período de três meses, ela analisou como 23 mulheres e dois homens executavam uma variedade de tarefas. O seu objetivo era identificar a oscilação das habilidades mentais e motoras ao longo do experimento. O resultado não mostrou diferença na performance das mulheres durante o ciclo menstrual

5. Melanie Klein (1882 – 1960)

Não se pode falar sobre mulheres na psicologia sem mencionar Melanie Klein, a percursora da ludoterapia. A psicóloga observou que as crianças se comunicavam melhor durante a terapia quando em contato com jogos e brinquedos. 

Como as crianças não respondiam muito bem as técnicas freudianas utilizadas nas sessões de psicanálise, Melanie começou a usar o brincar para investigar os sentimentos e padrões comportamentais dos pequenos. Ela concluiu que as brincadeiras possibilitavam o acesso ao mundo interior das crianças. 

Melanie também contribuiu para a psicologia do desenvolvimento. Ela analisou como os diferentes estágios do crescimento afetam as crianças e, consequentemente, a qualidade da sua jornada até a vida adulta. 

Por exemplo, criou o termo “Posição Depressiva” para se referir ao momento que a criança compreende que é um “eu” separado da mãe e entra em contato com as peculiaridades do mundo. 

6. Karen Horney (1885 – 1952)

Karen Horney Blankenese foi uma psicanalista alemã cujas teorias questionavam certas concepções tradicionais freudianas. Por isso, suas contribuições para a psicologia são consideradas neo-freudianas. 

Ela discordava das diferenças entre a psicologia de homens e de mulheres propostas por Freud. Segundo ela, essas distinções possuíam grandes influências sociais e culturais, além de biológicas.  

Karen também contribuiu para o estudo das neuroses. A sua teoria é amplamente utilizada na atualidade. Ela sugere que as neuroses resultam da ansiedade, a qual, por sua vez, é originada das relações interpessoais.

Assim, situações como dominação, indiferença, admiração exagerada ou ausência de admiração, falta de respeito pelas necessidades básicas, falta de orientações verdadeiras, atitudes contraditórias, injustiça, descriminação, entre outras, contribuem para o surgimento de neuroses.

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7. Inez Beverly Prosser (1987 – 1934)

Inez Beverly Prosser é um nome notável entre as contribuições das mulheres na psicologia. É considerada a primeira mulher afro-americana a receber um Ph.D em psicologia nos Estados Unidos.

Ela estudou as diferenças de personalidade de crianças negras que frequentavam escolas segregadas ou integradas durante a segregação racial, chegando à conclusão que essas crianças recebiam um atendimento melhor em escolas segregadas. As suas descobertas colaboraram para o debate da segregação escolar entre as décadas de 1920 e 1930. 

Inez também corroborou para o entendimento do impacto da desigualdade racial na saúde mental de crianças e adolescentes afro-americanos. Em sua dissertação de mestrado, destacou a necessidade de educar as crianças conforme as suas capacidades e carências intelectuais, e não de sua situação socioeconômica. 

Ela identificou que estudantes afro-americanos passavam por muito estresse em escolas integradas em razão do isolamento racial. Assim, defendia as escolas segregadas já que proporcionavam uma experiência menos estressante aos alunos. 

Todavia, Inez lamentava que a segregação fora estipulada em primeiro lugar, trazendo sérias consequências para a saúde mental de crianças e adolescentes. 

8. Nise da Silveira (1905 – 1999)

Embora Nise da Silveira fosse formada em psiquiatria, ela colaborou significativamente para a psicologia brasileira em uma época dominada por tratamentos agressivos e desrespeito com pacientes de transtornos mentias.

Ela se opôs a métodos que julgava inapropriados, como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, camisas de força e lobotomia. Então, implementou técnicas lúdicas no tratamento de pacientes esquizofrênicos, permitindo que se expressassem através da pintura e do desenho. 

Nise posteriormente reuniu os trabalhos no Museu de Imagens do Inconsciente, recebendo destaque internacional. Em 1957, os quadros dos pacientes foram expostos no II Congresso Internacional de Psiquiatra, em uma exposição inaugurada por Carl Jung, um dos maiores estudiosos da psique humana.

Nise enxergava o valor de tratamentos terapêuticos aliados à psiquiatria. Por isso, também introduziu a interação com animais domésticos no tratamento de transtornos mentais. Os pacientes cuidavam dos cachorros que habitavam no pátio do hospital. 

Para conhecer o trabalho de Nise, recomendamos o excelente filme “Nise: O coração da Loucura”.

9. Annita de Castillo e Marcondes Cabral (1911 – 1991)

Annita de Castillo foi fundadora do curso de psicologia da Universidade de São Paulo (USP). A sua participação no reconhecimento e posterior fundação do curso de psicologia é parte fundamental da história da psicologia no Brasil. 

A psicóloga foi responsável pela formação de diversos profissionais, além de incentivá-los a buscar mais conhecimento tanto em território nacional quanto no exterior. Ela também organizou o I Congresso Brasileiro de Psicologia e criou um anteprojeto de criação do curso de psicologia e da regulamentação da profissão junto com outros psicólogos.

Após anos de reformulação do documento, o Ministério da Educação (MEC) enfim regulamentou a profissão no Brasil em 1962. Logo, diversas universidades brasileiras implementaram cursos de psicologia a partir desta data. Pelo restante de sua vida, Annita se dedicou a aprimorar o curso na USP e no Brasil.

Vale destacar que segundo dados do Conselho Federal de Psicologia (CFP), 9 entre 10 profissionais desta área são mulheres.

#Elasinspiram

A participação extensa e significativa das mulheres na psicologia ajudou a moldar o conhecimento da psique humana e a possibilitar o atendimento clínico conhecido hoje. 

A Vittude acredita que histórias como as apontadas neste artigo podem servir de inspiração para milhares de outras mulheres. Em razão disso, nós criamos o #Elasinspiram, projeto que compreende o valor das vivências femininas. 

Sabemos que mulheres ainda passam por muitas experiências desagradáveis ao empreender e buscar lugares de destaque no mundo, e ainda assim, quanto conseguem, passam essa experiência adiante para que outras façam o mesmo.

Por isso, convidamos algumas delas para compartilhar as suas histórias de força, sabedoria, determinação e persistência.

Quer saber mais? Acesse o site do projeto Vittude apresenta: #ElasInspiram e seja inspirada(o) por cada uma delas!

Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta