Orientação Psicológica Online: você sabe o que é?

Orientação Psicológica Online ou terapia online é uma modalidade recente de atendimento psicológico que tem crescido amplamente na América do Norte, Europa e Ásia.

A orientação psicológica online permite que brasileiros que moram em outros países e cidades menores possam ter acesso a consultas com psicólogos experientes. Os atendimentos funcionam através de vídeo-consultas, podendo contar com o apoio de e-mail chat.

Há algum tempo percebemos o crescimento das discussões sobre terapia online. Discute-se sobre os potenciais resultados, desafios, regulamentação e capacitação dos psicólogos para o atendimento online. Os debates sobre terapia online, polêmicos e por vezes rodeados de completa falta de profundidade, tem atraído o interesse de profissionais da área, da população e também na mídia.

Nesse contexto decidimos escrever este artigo sobre Terapia Online, baseado em fontes confiáveis e de alta credibilidade. O objetivo do texto é compartilhar conhecimento. Tentar desmistificar os tabus que rodeiam a psicologia e se tornam maiores quando envolvemos a tecnologia.

A evolução da tecnologia

Há 10 anos atrás, smartphones e aplicativos para celulares nem sequer existiam. O boom das empresas ponto com ocorreu no final da década de 1990. O Google foi fundado em 1998, o facebook surgiu em 2004 e o primeiro iphone foi lançado em 2007.  Desde então temos visto muita coisa mudar, inclusive nas relações humanas, em nosso comportamento e também na forma como acessamos diversos tipos de serviços. Isso não é diferente com a saúde.

Uma pesquisa publicada em novembro de 2017 indica a existência de cerca de 325 mil aplicativos de saúde disponíveis na Apple Store e na Google Play, sendo que 78mil apps foram criados somente no último ano. Cerca de 6% desses apps estão focados em saúde mental, de acordo com o NCBI (National Center for Biotechnology Information).

Observando esses dados, é possível concluir a saúde também está passando por esta fase de transformação digital. E quando falamos em saúde mental, não é diferente. Às vésperas da entrada de 2018 não podemos negar que cada vez mais as pessoas estão procurando pelas facilidades advindas da tecnologia.

Cada vez mais pessoas procuram por um psicólogo na internet, e elas se deparam com a opção de serem atendidas através de meios digitais. O que é importante saber sobre terapia online ao agendar uma consulta com um psicólogo online?

Entendemos que existem pontes relevantes que precisam ser discutidos e explorados. 

Acessibilidade

Quantos de vocês já pararam para refletir quantos municípios brasileiros não possuem sequer um psicólogo para atendimento presencial?

Como prover atendimento para pessoas que moram em áreas remotas e zonas rurais?

Como atender brasileiros que estão fora do país? Brasileiros que encontram dificuldade em receberem atendimento psicológico em uma língua diferente da materna? Ou até mesmo nos casos onde a fluência do idioma não impede que haja um abismo cultural que inviabiliza a construção do vínculo, tão necessário em uma sessão de terapia. O que fazer diante desses casos? Deixamos as pessoas sem atendimento?

Universalizar os serviços de saúde e de psicologia

Um dos princípios fundamentais do código de ética do profissional de psicologia afirma que: “O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.” Desconhecemos melhor instrumento que o uso da tecnologia para universalizar o acesso a serviços. Afinal de contas, como levar orientação psicológica de qualidade para as fazendas alagadas no Pantanal, ou para as regiões ribeirinhas da Amazônia? Como atender os milhares de municípios brasileiros que não possuem um profissional de psicologia sequer para atender a população?

Negar o atendimento psicológico online não é o mesmo que privar essas populações de terem saúde mental? A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um completo estado de bem estar físico, mental e social.

Negar o atendimento online não é ir contra até mesmo o que diz a nossa constituição? Uma vez que esta pressupõe  que a saúde é condição indispensável à garantia da vida humana.  Não deveria o Estado também se preocupar ampliar o acesso à saúde mental nas redes públicas através do atendimento psicológico online?

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O que outros países estão fazendo?

O que temos a aprender com outros países sobre a Terapia Online? Um dos exemplos de atuação exemplar é o da Finlândia. Esta matéria, do jornal inglês The Guardian, apresenta um case de sucesso. Há 10 anos atrás a Finlândia começou a utilizar recursos da internet para atender pessoas que moravam em regiões afastadas. Em uma parceria entre o governo e um hospital, pessoas de todo país podem acessar serviços de terapia online no combate aos sintomas de depressão, muito comuns em países frios e com pouca incidência de sol. Nos dias atuais, o serviço conhecido como Mental Health Hub é usado por todos os hospitais do país. E a terapia online tem se provado eficaz e popular, tendo atingido todo o território do país em 2015. Somente em 2016, 545 mil finlandeses utilizaram o serviço, o que representa 10% da população. Incrível, não é mesmo?

Agora vamos pensar no Brasil. Vivemos no país que possui a maior taxa de ansiedade do mundo, de acordo com a OMS. Temos a quinta pior taxa de depressão e sabemos que a maioria dessas pessoas diagnosticadas não se tratam. A grande pergunta é: porque não se tratam? Existem várias respostas, mas uma delas com certeza absoluta é a falta de acesso.

Na Vittude, o serviço de orientação psicológica online já permite que pessoas que moram em sítios, zonas rurais e cidades que não possuem profissionais de psicologia sejam atendidas. Alguns de nossos pacientes relatam que para conseguir atendimento presencial, seria necessário um deslocamento de pelo menos 50 ou 60 kms.

Terapia online x Orientação psicológica online

No Brasil os serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância são reconhecidos. No entanto, eles são autorizados desde que sejam pontuais, informativos e focados em um tema proposto. Esses atendimentos, chamados de Orientação Psicológica Online, são regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia. Entende-se por orientação o atendimento realizado em até 20 encontros ou contatos virtuais.

Também são autorizados os processos de seleção de pessoal, a aplicação de testes devidamente regulamentados, a supervisão clínica do trabalho de psicólogos, desde que de forma eventual ou complementar ao processo de formação profissional presencial.  Além disso é permitido o atendimento eventual de pacientes em trânsito ou viagem e daqueles que se encontrem impossibilitados de comparecer ao atendimento presencial.

Resumindo, a regulamentação atual permite os atendimentos psicológicos online sejam realizados em um dificuldade momentânea emocional. É indicada para casos pontuais como a perda de um emprego, uma briga com um cônjuge, a orientação de pais em relação aos filhos ou esclarecimento de uma dúvida em relação a determinadas situações. Não deve ser utilizada para quadros de transtornos mentais graves, diagnósticos de depressão, esquizofrenia ou transtorno bipolar.

E a Terapia online?

Uma das grandes discussões entre profissionais da área está em como diferenciar o processo psicoterapêutico de uma orientação. Ainda mais complexo é afirmar que uma atendimento psicológico não seja “terapêutico”. Acreditamos que ainda haverá uma grande evolução para o uso da expressão Terapia online no Brasil. Em países como Estados Unidos, Reino Unido e Finlândia os termos Online Therapy e Teletherapy são amplamente aceitos e utilizados pela comunidade de saúde. As áreas de telemedicina avançam mundialmente, promovendo maior acesso aos cuidados com a saúde. Plataformas como a Better Help, Talkspace, Breakthrough Behavioral, Plusguidance e Babylon Health seguem crescendo e ganhando cada vez mais adeptos.

Fato é que o atendimento psicológico online, seja ele chamado de terapia online ou de orientação psicológica online, traz benefícios para os pacientes que utilizam o serviço.

O serviço tem sido usado por mães que enfrentam sintomas da depressão pós-parto, por pessoas com dificuldade de locomoção, pessoas acamadas após um procedimento médico, obesos mórbidos e pessoas em locais de difícil acesso como as áreas rurais.

Terapia online na maternidade

A orientação psicológica online tem ajudado mães logo após o nascimento de um filho

Regulamentação

A Orientação Psicológica Online é regulamentada pela Resolução CFP 11/2012, atualmente em revisão. Há grupos de trabalho em diversas regiões do país atuando para deixar a norma mais assertiva em relação ao avanço da tecnologia.

Segundo a resolução acima citada, todo profissional de psicologia que deseje atender seus pacientes através de meios digitais, deve estar devidamente registrado e ativo no Conselho Regional de Psicologia da sua região. Esse psicólogo deve, também, manter um site ativo, com domínio .com.br. A permissão de funcionamento do site tem a duração de 3 anos, renováveis após esse período.

O Atendimento Psicoterapêutico realizado por meios tecnológicos de comunicação a distância pode ser utilizado em caráter exclusivamente experimental. Ou seja, psicoterapia online é permitida para fins de estudos acadêmicos. O reconhecimento da validade dos resultados das pesquisas em atendimento psicoterapêutico realizadas por meios tecnológicos de comunicação a distância dependerá da ampla divulgação dos resultados e do reconhecimento da
comunidade científica e não apenas da conclusão de pesquisas isoladas.

Para que um psicólogo possa atender online existem dois caminhos. Eles precisa ter um site próprio, registrado no conselho de psicologia, devidamente autorizado a atender. Ou o psicólogo pode estar vinculado a uma plataforma que ofereça esse serviço. Nos dois casos é preciso conferir se a plataforma está autorizada pelo Conselho Federal de Psicologia. Se você está procurando atendimento psicológico online, verifique se seu psicólogo possui site próprio e se está autorizado a atender nessa modalidade. Se a tua escolha for por uma plataforma como a Vittude, verifique a existência do selo com a autorização do CFP.

selo de autorização do conselho federal

Selo de autorização da Vittude

Efetividade da Terapia online

Um estudo da Universidade de Zurique dividiu um grupo de 62 pacientes ao meio e descobriu que a depressão foi aliviada em 53 por cento daqueles que receberam terapia online, em comparação com 50 por cento que tiveram aconselhamento pessoal. Três meses depois de concluir o estudo, 57 por cento dos pacientes online não apresentaram sinais de depressão em comparação com 42 por cento com terapia convencional.

Um artigo publicado pelo Dr. Elias Aboujaoud, da Universidade de Stanford, mostrou resultados efetivos no tratamento de depressão através de atendimento psicológico mediados por meios tecnológicos, ou seja, através da Terapia Online. No estudo, pessoas diagnosticadas com depressão, fobia social, síndrome do pânico, fobias específicas como a Aracnofobia, disfunções sexuais e distúrbios relacionados com a imagem do próprio corpo obtiveram resultados muito semelhantes no tratamento online, quando comparados com o tradicional atendimento psicológico presencial.  O estudo também aborda a utilização de instrumentos de realidade virtual para o atendimento de pacientes com fobia social, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e abuso de substâncias químicas.

O tema controverso ainda carece de muitos mais estudos para que se possa estabelecer a eficácia e a segurança desses tratamentos. Na conclusão do trabalho é apontada uma estimativa de que até 2020 cerca de 50% dos atendimentos relacionados a saúde mental serão conduzidos digitalmente. Dr. Elias afirma ainda que Tele Terapia é parte integral do avanço da Telemedicina.

Estudos de eficácia no Brasil

Infelizmente sofremos de uma grande falta de produção científica em nosso país. Muito se fala.  Há muita discussão em torno do tema.  Há debates se devemos ou não chamar o atendimento psicológico online de Terapia online. No entanto, pouco se pesquisa e consequentemente temos poucos resultados de estudos locais.  Em 2017, Cláudia Catão, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo, defendeu a tese: “Eficácia das psicoterapias breves psicodinâmicas pela internet, por meio de videoconferência, no tratamento de adultos com Transtorno Depressivo Maior“. Torcemos que mais e mais teses e estudos sejam publicados. Que profissionais como a Dra. Cláudia continuem contribuindo para aumentar o volume de informações relevantes disponíveis.

Sigilo e proteção de dados médicos

O atendimento online para áreas de saúde ainda é muito novo em nosso país. Ainda não temos regulamentações específicas que disciplinem a proteção dos dados de saúde.

Os Estados Unidos, por exemplo, possui uma regulamentação chamada HIPAA (Health Insurance Portability and Accountability Act). Sua regra de privacidade regula o uso e divulgação de informações de saúde sigilosas. Ela exige que as entidades cobertas tomem medidas razoáveis para garantir a confidencialidade das comunicações com pessoas físicas.  O acesso a equipamentos que contenham informações sobre saúde deve ser cuidadosamente controlado e monitorado. Os sistemas de informação que alojam informações sigilosas de saúde devem ser protegidos contra invasões de hackers.

Pouco se fala sobre isso por aqui. É possível observar que muitos psicólogos utilizam ferramentas como skype, facetime e até mesmo o whatsapp para o atendimento psicológico online. O que poucos sabem é que nem sempre estas ferramentas irão proteger os dados sensíveis de seus pacientes. Correm o risco de invasões, observações de partes de seus atendimentos e quebra do sigilo. Algumas das plataformas hoje existentes no Brasil já estão atentas a essa questão de segurança. Portanto, na hora de escolher onde ser atendido, seja exigente e verifique se as empresas estão atentas aos padrões de segurança das informações.

Desafios do atendimento psicológico online no Brasil

Um dos grandes desafios para atingirmos serviços online de qualidade está na infraestrutura do Brasil. A nossa conexão de internet é para lá de ruim e isso compromete a qualidade dos atendimentos. Mesmo plataformas mais leves, que demandam menos dados na transmissão de vídeo, não conseguem atender de forma satisfatória a necessidade de um procedimento de saúde. Basta refletir um pouquinho, quantas vezes você já tentou chamar um amigo pelo vídeo do whatsapp ou pelo skype e teve dificuldades? Não conseguir ver a pessoa do outro lado ou não conseguiu manter a conversa por um longo tempo até se irritar? E há uma explicação para isso: a regulamentação do serviço é falha e o controle dela também o é.

Em 2013, a Anatel, agência responsável por regulamentar a prestação do serviço de Internet banda larga fixa, publicou uma norma que obriga provedores de Internet banda larga a respeitar a média mensal de, no mínimo, 70% da velocidade contratada pelo assinante. A norma estabelece ainda que a velocidade instantânea, medida no momento do acesso, não pode estar abaixo de 30% do valor contratado.

Conexões de internet na prática

E o que isso significa, que efetivamente nenhuma operadora é obrigada a entregar a velocidade que contratamos e pagamos mensalmente. Ao contratar um plano de 10Mbps, por exemplo, o cliente deverá ter a média mensal de velocidade mínima de 7 Mbps.  Já a velocidade instantânea, aferida em velocímetro no momento da conexão, deve ser de, pelo menos, 30% do plano contratado. Ou seja, 3 Mbps no nosso exemplo.

E na prática, o que vemos é que nem isso chega de fato aos consumidores. Em nossa plataforma conseguimos medir as taxas efetivas entregues no momento de um atendimento online. Além da maioria das operadoras entregarem uma velocidade média abaixo do estabelecido. A oscilação no período de 50 minutos é imensa. Essa oscilação pode ser conferida na figura abaixo, retirada de um monitoramento de um atendimento realizado na Vittude. Observe que a conexão dos dois usuários oscila o tempo inteiro durante os minutos de monitoração.

Terapia online desafios da conexão de internet no Brasil

Oscilação da conexão de internet durante um atendimento online

Barreiras a serem derrubadas

Essa falta de infraestrutura compromete o avanço dos atendimentos. No entanto, a conexão de internet está longe de ser o maior entrave na busca de saúde mental. A maior resistência ainda reside no fator cultural em relação aos serviços de psicologia em geral. Ainda há muito tabu e muita barreira a ser derrubada. Precisamos falar muito mais em saúde mental e menos de doença mental. Precisamos entender que a prevenção é sem dúvida alguma melhor e mais eficaz do que a remediação. Quanto mais pessoas e profissionais se unirem para levar conhecimento e acesso, melhor será o resultado para toda uma população!

Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude. Faz psicoterapia pessoal há mais de 5 anos. É apaixonada por psicologia e comportamento humano. É uma grande estudiosa de diversos assuntos relacionados à saúde mental.  Tem dedicado atenção especial ao tema da felicidade e à forma como reprogramamos nosso cérebro para ter mais emoções positivas.

Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta