Pansexualidade: você já ouviu falar?

Pansexualidade é uma orientação sexual que desperta muitas dúvidas por ser considerada uma “novidade”. Nos últimos anos, os estudos sobre sexualidade humana se multiplicaram e aprofundaram rapidamente. 

O sexólogo norte-americano Alfred Kinsey (1894 – 1956) foi um dos primeiros estudiosos a explorar a sexualidade. Assim, ele criou uma escala para demonstrar que ela não se encaixa somente apenas em duas categorias: a feminina e a masculina. 

Graças aos seus estudos, foi identificado que pessoas também podem ser bissexuais, assexuais e ainda ter outras orientações sexuais, como é o caso dos pansexuais. 

O que é pansexualidade?

Pansexual é o indivíduo que sente atração por pessoas independente do gênero delas, de como se expressam para o mundo e de sua orientação sexual. Ou seja, a pessoa pan pode se sentir atraída por pessoas heterossexuais, homossexuais, bissexuais, dentre outras. 

Na pansexualidade, o interesse se dá por traços de personalidade e características da aparência. A pessoa pan se interessa pelo jeito de ser do outro indivíduo, a maneira como ele se veste e se comporta, opiniões e interesses, defeitos e qualidades e elementos específicos de sua aparência.

Sendo assim, a atração sexual pode não existir até que haja convivência (breve ou não) com o outro. Por exemplo, a pessoa pan que valoriza a assertividade pode se sentir atraída por um indivíduo que convive há um tempo quando ele expressa essa característica. 

O termo ‘pansexualismo’ foi utilizado primeiramente por Sigmund Freud na década de 20. O psicanalista o definiu como o conjunto de pensamentos, comportamentos e atividades psíquicas que possui como base a sexualidade ou instinto sexual. Freud acreditava que os desejos, sonhos, mecanismos de defesa e aspirações humanas tinham como raiz a sexualidade. 

Hoje, muitos psicólogos discordam dessa teoria, mas reconhecem as contribuições de Freud para a compreensão dos desejos sexuais. O termo pansexual passou a ser utilizado na atualidade para descrever a orientação sexual por pessoas. Deste modo, cada pessoa pan se relaciona de uma forma única uma vez que seu objeto de interesse é amplo.

Há diferença entre bissexualidade e pansexualidade?

Uma dúvida bem comum tanto dentro quanto fora do movimento LGBTQIAP+ é se existe diferença entre pessoas bissexuais e pansexuais. Há quem acredite que ambas as orientações sexuais são a mesma coisa enquanto outros afirmam haver distinções claras entre elas. 

Muitas pessoas queer afirmam, ainda, que é uma questão de como elas se sentem, portanto, não se preocupam em se encaixar em rótulos. 

É fato, no entanto, que a pansexualidade e a bissexualidade possuem pontos em comum. Em ambos os casos, os indivíduos sentem atração por pessoas de ambos os gêneros, masculino e feminino. Sendo assim, a distinção entre as sexualidades pode residir na maneira como ela é sentida. 

Pessoas pansexuais descrevem a atração sexual como um conceito abstrato, com ênfase em qualidades e aspectos da personalidade. Embora a aparência também detenha importância, ela não é o elemento principal.  

Já para as pessoas bissexuais costuma ser o oposto: apesar de a personalidade ser importante, o interesse pela aparência física do outro pode falar mais alto. 

Além disso, algumas pessoas preferem utilizar o termo pansexual ao bissexual por ele abranger pessoas cisgênero e transgênero, bem como pessoas intersex. Ainda assim, há especialistas em sexualidade que defendem que a bissexualidade também é caracterizada pela atração pelos mesmos indivíduos. 

Como se pode ver, a questão é complexa. Mas não importa se uma pessoa se identifica como bissexual ou pansexual, ou tenha tendência a flutuar entre ambas, todas as orientações sexuais devem ser respeitadas. 

Mitos sobre a pansexualidade

Essa orientação sexual é considerada “nova”, assim como muitas outras cujos indivíduos da geração millenials e Z tipicamente se identificam. Para os mais antigos ou quem não tem muito conhecimento de sexualidade, ela pode ser vista como “moderna”, “confusa” ou “uma fase”. 

Essas interpretações formam um conjunto de crenças equivocadas que dificultam a compreensão não apenas dessa orientação, mas da sexualidade e a diversidade de gênero como um todo. 

Pensando nisso, esclarecemos mitos comuns acerca da pansexualidade abaixo.

1. Pansexuais se sentem atraídos sexualmente por objetos e animais

Ainda é comum acreditar que a atração sentida por pessoas pansexuais se estende para objetos e outros seres vivos, como plantas e animais. Essa dúvida permanece em grande parte das pessoas, e claro, não é verdadeira. 

2. Pansexuais se sentem atraídos por todos, sem exceção

Também se acredita que os pansexuais se sentem atraídos por qualquer indivíduo, bastando somente um olhar. Isso não é verdade. Da mesma forma que um homem heterossexual não é atraído por todas as mulheres que conhece, pessoas pansexuais também não sentem atração por todos os indivíduos que encontram pela frente. 

É comum que esse pensamento nasça do medo de ser o objeto de interesse de um indivíduo pansexual, especialmente se ele estiver envolto de desinformação e preconceito. É semelhante à crença equivocada que as mulheres homossexuais se sentem atraídas por todas as mulheres, por exemplo. 

É possível que uma pessoa de uma determinada orientação sexual sinta atração por alguém sem interesse nela. Isso não significa que ela irá automaticamente investir nesses sentimentos somente porque se sentiu atraída. Se o outro não sente atração por ela, essa pessoa deve buscar alguém que tenha, certo? 

3. É preciso ter ficado com várias pessoas para ser pansexual

Na verdade, não. 

Pessoas pansexuais podem se relacionar com quem desejarem. Embora as definições de orientações sexuais e identidades de gênero ajudem as pessoas a se sentirem representadas e encontrarem um direcionamento, elas não são regras nem obrigações

Não é porque um indivíduo pan se sente atraído por pessoas transsexuais que ele deve ter um relacionamento com uma, por exemplo.

Às vezes quem ainda está confuso sobre a complexidade da sexualidade humana desvaloriza a palavra de uma pessoa pan porque ela tem um relacionamento com alguém do sexo oposto. Se é assim, então ela de fato é heterossexual e diz o contrário para chamar atenção ou por estar confusa, certo? Não! 

As pessoas pansexuais não precisam necessariamente agir conforme diz a teoria e se relacionarem com pessoas bissexuais, transgênero, assexuais, entre outros. Elas sentem e vivem a sua sexualidade todos os dias, portanto, sabem como ela funciona. Pode não fazer sentido para os outros, mas aí já não é problema delas. 

4. Pansexuais não conseguem ser felizes com uma única pessoa

A definição do que é pansexual também pode gerar a seguinte confusão: se as pessoas pansexuais se sentem atraídas por pessoas em geral, então elas devem querer ter vários relacionamentos. 

Esse é outro mito. Uma pessoa pode ser pansexual e nunca ter tido um relacionamento com alguém, como também é possível que ela tenha tido múltiplos relacionamentos ou um único relacionamento para toda a vida. 

Independente por quem se sentem atraídas e com qual gênero se identifiquem, as pessoas têm vontades, preferências, gostos e desgostos. Assim, elas podem fazer todo tipo de escolha quando o assunto é relacionamentos. Dessa forma, podem optar por um relacionamento aberto, bem como escolher curtir a vida de solteiro (com segurança sempre!). 

Nós não somos a a nossa sexualidade. A sexualidade é somente uma parte.  

5. Pansexuais estão apenas confusos

Quando alguém se descobre pansexual, pode ter muitas dúvidas sobre a sua própria sexualidade. Esse processo de autodescobrimento é comum a todas as pessoas. À medida que ele amadurece e tem múltiplas experiências, esse indivíduo começa a entender mais sobre quem ele é. 

Por isso, não é legal dizer que uma pessoa pan, bi ou gay está apenas confusa. Pode ser que no futuro ela se identifique com uma sexualidade ou gênero completamente diferente, mas isso será definido unicamente por ela. 

É normal que pais, sobretudo, não saibam muito bem como reagir quando seus filhos afirmam ter uma orientação sexual considerada “não convencional”. O importante nesse momento é não desvalorizar como eles se sentem, demonstrar apoio e educá-los (conforme a idade) sobre sexualidade para que não se sintam inadequados.

Como saber se sou pansexual?

Somente você pode determinar se você é ou não é pansexual. A reflexão pode ser muito útil nesse processo de autoconhecimento. Você pode fazer isso sozinho, pedir conselhos de pessoas LGBTQIA+ ou até mesmo levar as suas dúvidas para um psicólogo. 

Algumas perguntas que você pode se perguntar são: 

  • Por quem eu já me senti atraído?
  • Me senti atraído por pessoas sem saber o seu gênero?
  • Me senti atraído por pessoas após conhecer um pouco de sua personalidade?
  • Quando penso em um cônjuge ideal, o gênero é um fator importante?
  • Como a pansexualidade me faz sentir? Confortável ou desconfortável?
  • Como me identificar como pansexual me faz sentir em comparação a me identificar como bissexual, homossexual e heterossexual?
  • O que costuma me atrair nas pessoas?

Ainda é muito comum haver receio no momento da descoberta ou da exploração da sexualidade quando ela não se encaixa no padrão mais aceito na atualidade, que é a heterossexualidade. Tirar um tempo para se autoconhecer pode ser benéfico para acabar com medos, vergonha e dúvidas. 

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Tatiana Pimenta

CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta

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