Paranoia ou precaução: será que estamos medrosos demais?

É paranoia, medo, ansiedade, raiva ou precaução? 

Diariamente, recebemos milhares de informações diferentes sobre o mundo e o local onde moramos. Enquanto algumas são agradáveis, a maioria desperta algo ruim dentro de nós. A TV e as redes sociais estão repletas de notícias de escândalos políticos, guerras, violência, maldade, corrupção e o surgimento de novas patologias. 

Você pode tentar fugir desses assuntos desagradáveis e de repente ser lembrado deles ao conversar com as pessoas. Afinal, notícia ruim se espalha com muita, muita velocidade! 

Inevitavelmente pensamentos com a mesma baixa qualidade começam a rondar as nossas mentes. “Será que o mundo está mesmo tão perigoso”?, “Se eu fizer tal coisa ou ir a um determinado local, estarei me arriscando” e “Preciso me precaver cada vez mais!”. De súbito começamos a pensar em rotas de fuga para cenários perigosos e em planos “B” caso algo devastador aconteça. 

Essa avalanche de devaneios e emoções ruins é perigosa para a saúde mental. Algumas pessoas desistem de ir a determinados lugares, de viajar, de encontrar gente querida e até de sair de casa por conta dela. 

O que é paranoia?

A paranoia se caracteriza por um estado constante de ansiedade e desconfiança em resposta a um medo específico. Ela causa a hipervigilância, a qual leva as pessoas paranoicas a estarem sempre atentas aos seus arredores. 

Pensamentos paranoicos dão origem a crenças falsas que aumentam o temor. Por exemplo, “estou sendo seguido” ou “todos querem me pegar”. Esses padrões de pensamento não têm base na realidade, mas são fervorosamente alimentados pela pessoa paranoica. Eles podem estar associados tanto à pessoa paranoica ou terceiros quanto aos ambientes que ela frequenta. 

Todos nós temos momentos de paranoia, especialmente após vivenciar uma experiência negativa ou entrar em contato com uma notícia muito ruim. O “será…?” fica flutuando em nossa cabeça, instigando especulações e fantasias trágicas. Mas eles passam logo. 

O problema é quando esses efêmeros momentos se tornam corriqueiros.    


O que é uma pessoa paranoica?

Paranoia ou precaução: será que estamos medrosos demais?

A pessoa paranoica está sempre com medo de uma ameaça iminente à sua vida ou à vida de entes queridos. Ela crê estar sendo perseguida por alguém, uma organização secreta ou até mesmo uma entidade sobrenatural. Essas crenças são criadas a partir de medos que atingem dimensões exageradas. 

Ela costuma tentar fazer os outros enxergarem as suas crenças como verdadeiras e demonstrarem seu apoio. Assim, ela pode ter comportamentos incomuns e tomar decisões pouco sensatas. Quando são refutadas, elas se distanciam e se recusam a acreditar que o que pensam não é verdade. 

A pessoa paranoica também desconfia facilmente de quem ela não conhece e até mesmo de desconhecidos na rua. Ela teme que alguém tire vantagem dela, a machuque ou a engane de alguma forma, mesmo que não haja indicações de que isso acontecerá. 

Dessa forma, essa pessoa pode tentar se esconder do objeto da sua ansiedade ou confrontá-lo com agressividade, como se quisesse destruí-lo. 

Este comportamento paranoico causa o afastamento gradual de amigos, familiares e colegas de trabalho, o que acaba confirmando os medos da pessoa paranoica de não poder confiar em ninguém. 

Além da ansiedade e do medo, ela sente extremo cansaço mental e físico. Por estar sempre preocupada com alguma coisa, não consegue relaxar e aproveitar o dia. O estresse aos poucos vai afetando a sua saúde e causar uma doença psicossomática, por exemplo. 

Qual é a diferença entre paranoia e preocupação?

Como dito, todas as pessoas experimentam momentos de paranoia. Elas vêm uma notícia na TV sobre um assalto na vizinhança e ficam com medo de serem as próximas vítimas, então passam a olhar mais vezes por cima do ombro e checar se há indivíduos estranhos no bairro antes de sair de casa. 

Essa é uma resposta natural a algo que demanda algo tipo de cuidado, como, por exemplo, evitar um assalto. Em outras palavras, é uma preocupação compreensível com algo que pode acontecer. 

Após alguns dias ou semanas sem novas notícias de violência na vizinhança, as pessoas começam a relaxar e, embora mantenham um certo grau de atenção, não deixam de viver as suas vidas. A lembrança da notícia desaparece dos seus pensamentos, retornando somente quando alguém menciona o ocorrido. 

Já o excesso de preocupação com o futuro se transforma em paranoia. A pessoa paranoica vive pensando no “e se…?”. E se eu sair de casa e algo ruim me acontecer? E se eu for assaltado ou sequestrado? E se alguém que eu amo se ferir? Como consequência disso, ela começa a sabotar a própria vida na tentativa de evitar essas situações. 

Alguns transtornos mentais, como o transtorno bipolar e transtornos de personalidade específicos, intensificam a ansiedade e interferem no controle da impulsividade. Sendo assim, é mais fácil para indivíduos com essas condições ficarem paranoicos. 

Até onde devemos nos preocupar?

O Brasil é um país onde muitos crimes acontecem. Infelizmente, a quantidade é tamanha que notícias trágicas são abundantes em noticiários e programas de TV. As redes sociais, que idealmente seriam fontes de entretenimento e conexão, replicam esses conteúdos. 

O consumo incessante dessas mídias vai graduando afetando a saúde mental. A paranoia não surge da noite para o dia. Ela cresce a cada encontro com o medo e a ansiedade. Por conta da sementinha da preocupação plantada em nossas mentes, começamos a ter comportamentos de segurança os quais podem se enrijecer com o passar do tempo e culminar em comportamentos paranoicos.  

Por isso, é importante identificar quando você está se preocupando demais com questões que não pode controlar e, acima de tudo, com acontecimentos improváveis. 

Não importa o quanto nos preparamos e nos cuidamos, às vezes situações ruins acontecem. É claro que devemos estar sempre alertas para evitar o perigo, especialmente quando estamos em um local desconhecido ou pouco movimentado. 

Aquele conhecido conselho de mãe “não dê sorte ao azar” é válido em várias situações do dia a dia. Se você pode estacionar em um local seguro, mesmo pagando para isso, por que deixar o carro em um ponto escuro e distante do seu destino? Dependendo da situação, essa decisão pode aumentar as chances de um roubo. 

Porém, não podemos deixar de viver somente porque existe a possibilidade de algo ruim nos acontecer. É melhor se concentrar em experimentar a alegria em todos os momentos da sua vida em vez de evitar vivências e recusar oportunidades. 

Como ser menos paranoico? 

Para frear a paranoia, é preciso modificar a sua mentalidade e a forma como enxerga a vida. Em vez de dedicar tanta energia ao pessimismo, por que você não tenta ver o lado bom do mundo e das pessoas? Este pode parecer um conselho clichê, mas não deixa de ser eficaz. 

Veja algumas dicas de como alcançar esse objetivo. 

1. Lute contra os pensamentos paranoicos

Paranoia ou precaução: será que estamos medrosos demais?

Traga os seus pensamentos de volta a realidade praticando exercícios simples. Um deles é colocar na balança os cenários mais prováveis de se realizarem e os mais improváveis. 

Depois, pense logicamente sobre eles. Quais as chances de isso acontecer neste momento? Como você pode resolver esse problema caso isso se concretize? Como pode se prevenir de modo realista? Combata os pensamentos paranoicos com a razão e a realidade, apontando as falhas em seu raciocínio ansioso.  

2. Consuma menos mídias nocivas

Evitar completamente as notícias sobre o país e o mundo é impraticável. Você precisa saber de, pelo menos, algumas informações para tomar decisões, construir um bom modo de vida e se cuidar. Afinal, as notícias são utilidade pública e devem ser consumidas!

Entretanto, se a quantidade exorbitante de negatividade presente na mídia e nas redes sociais lhe causam mal, diminua o consumo. Veja somente o que é relevante para a sua vida e não se aprofunde em detalhes mórbidos. Se necessário, marque um horário para verificar as notícias, como, por exemplo, após o expediente. 

Se se sentir mal após consumir algum tipo de informação, distraia a sua mente com conteúdos divertidos ou inicie uma conversa leve. Dessa forma, você conseguirá controlar o seu humor

3. Respire fundo

Quando a sombra do medo ou da ansiedade surgir em sua mente, respire profundamente. O ato de respirar fundo alivia a tensão do corpo e cessa o fluxo de pensamentos caóticos. Então, feche os folhos e inspire profundamente algumas vezes até o coração desacelerar. Só então retorne às suas obrigações.   

4. Faça planos, mas não se apague a eles

Você não precisa deixar de fazer planos para evitar a ansiedade e a preocupação excessiva. O planejamento é indispensável para alcançar os seus objetivos e ter uma vida do jeito que você idealiza. Assim, faça planos e tenha sonhos sim! 

O que você não pode fazer é se apegar aos seus planos como se eles fossem coletes salva-vidas. Como a vida é composta de imprevistos, pessoas inflexíveis acabam se frustrando com mais frequência porque seus planos nem sempre dão certo. Abrace a imprevisibilidade enquanto tenta realizar os seus planos.

As únicas coisas que você pode controlar, de fato, são as suas reações aos acontecimentos. Isso inclui as suas emoções, palavras, pensamentos e comportamentos

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta