Há uma grande dificuldade social em lidar com a morte. É possível perceber isso por meio das mortes institucionalizadas, rituais cada vez mais curtos ou inexistentes e a dificuldade em entrar em contato com sentimentos que evoquem a tristeza e a dor. Décadas atrás, o “beber o morto”, os longos velórios, os velórios em casa, todos esses rituais traziam proximidade a morte e ao rompimento. Possibilitavam a expressão da dor e uma organização emocional o que auxiliava muito no processo do luto.
Se falar de morte já é difícil, pensa falar de morte em um momento de vida? A perda gestacional ou neonatal é um dos lutos mais complexos e de menor validação social. Estamos falando que em um momento de vida há morte. A efemeridade da vida fica escancarada. A proximidade da morte em qualquer momento do ciclo vital expõe a fragilidade do ser humano. E com toda essa contradição e sentimentos confusos temos inúmeros pais sendo negligenciados em suas dores.
Dizer aos pais que acabam de perder seu filho em algum momento da gestação ou pós-nascimento que “logo terão outro filho”, “foi melhor assim”, “vocês nem vão sentir tanto já que quase não conviveram” ou “foi vontade de Deus” não é saudável.
Essas afirmações e tantas outras coisas só menosprezam e invalidam todo o investimento emocional. Invalidam as expectativas e os desejos que permeavam a chegada desse filho. Sonhos que muitas vezes são construídos antes mesmo da concepção. Elas fazem com que esse luto seja vivido no isolamento, sem expressão, podendo gerar complicadores e até mesmo um processo de luto complicado.
Sentimentos de fracasso e culpa são comuns. E a dificuldade de validar essa nova identidade socialmente – pais de um filho morto, pode ser grande, o que dificulta a expressão dessa dor. O homem, muitas vezes, se coloca como coadjuvante. Abafa sua dor com a intenção de não aumentar o sofrimento da esposa. No entanto, ele também fez investimentos emocionais, construindo sonhos e planos para a vivência com esse filho. Dar espaço, validar e tornar possível a comunicação entre esse casal sobre essa perda é muito importante. Muitas vezes a mulher sente-se incomodada. Inadequada diante de sua dor e a falta de expressão do marido, provocando um distanciamento.
Nesse momento, vale ressaltar a importância do acolhimento emocional. Mostrar aos casais que emoções como tristeza, frustração e choque são absolutamente normais e esperadas diante desta perda.
Falar com pessoas que tiveram experiência semelhante, participar de grupos ou buscar ajuda especializada são formas de expressar esses sentimentos e dar vazão a essa dor. Podendo assim perceber seus recursos e força para continuar seu caminho com essa nova realidade. A psicoterapia também pode ser um excelente caminho para elaborar melhor os sentimentos desse luto.
A perda gestacional é um acontecimento potencialmente traumático. Enfrentá-la e ultrapassá-la é uma tarefa que coloca em causa o equilíbrio psicossomático dos casais, em especial da mulher. Caso perceba que o sofrimento emocional não está diminuindo, procure a ajuda de um psicólogo.
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