A piromania é um distúrbio mental?

Piromania é o termo utilizado para categorizar os indivíduos que possuem grande fascínio por atear fogo em objetos ou iniciar pequenos incêndios. 

Você provavelmente já ouviu essa palavra em filmes, seriados e livros. De fato, piromaníacos são personagens comuns em produções culturais, principalmente as de gênero policial. Apesar de ser vista como uma característica interessante em um personagem fictício, essa condição psicológica é muito séria.

O piromaníaco não consegue resistir a urgência de colocar fogo em objetos ou em estruturas, embora saiba das consequências desse ato. Ele pode causar incêndios graves por não ser capaz de controlar os seus impulsos. 

Devido à escassez de pesquisas sobre esta condição, é difícil mensurar a sua ocorrência. Estudos americanos indicam que menos de 1% da população é diagnosticada exclusivamente com esse distúrbio mental. Na maioria dos casos, outras patologias psicológicas estão presentes. 

O que é piromania?

A piromania é, de fato, uma condição de saúde. De acordo com o DSM V, ela é classificada como um distúrbio da impulsividade. Essa categoria de distúrbios consiste na dificuldade extrema de resistir a impulsos ou tendências destrutivas. 

No caso deste transtorno mental, existe uma necessidade quase irresistível de atear fogo em objetos, em estruturas e até mesmo em propriedades, estando desocupadas ou não. O piromaníaco é fascinado pelo fogo e sente prazer em observar as chamas. Ele também se satisfaz com o processo de preparação do pequeno incêndio que causará. 

O planejamento, a escolha do lugar ou do objeto, a compra das ferramentas necessárias e quaisquer “etapas” desse processo são apreciadas pelo piromaníaco. Assim, uma vez que ele engaja nesse comportamento, se torna mais difícil resistir a ele no futuro. 

Quem tem esse distúrbio mental tem dificuldade de cessar esse hábito por sentir grande prazer e satisfação ao atear fogo. As sensações boas se sobrepõem ao bom senso e as consequências negativas que podem surgir dessa ação. 

Embora o sentimento de culpa esteja presente em alguns indivíduos, ele não é forte o bastante para motivar o fim desses comportamentos. Há, ainda, piromaníacos que gostam de atear fogo para ver a reação das pessoas e a movimentação dos bombeiros. 

Eles permanecem perto do local para observar a mobilização dos profissionais e o pânico generalizado. Essa necessidade representa um perigo maior à vida das pessoas. Os alvos desses indivíduos geralmente são propriedades privadas ou públicas, terrenos baldios e grandes objetos. 

O que significa piromania?

Quando uma pessoa demonstra um interesse incomum pelo fogo é chamado de piromaníaco. De origem grega, “piro” significa fogo ou inflamação. 

Já o termo “mania” na psicologia é utilizado para classificar um distúrbio mental associado à compulsão. Também é o nome dado à fase eufórica do transtorno de bipolaridade. Outros exemplos de transtornos mentais que levam o termo “mania” no nome são mitomania, tricotilomania e megalomania. 

Sintomas de piromania

Indivíduos com piromania não colocam fogo em tudo o que enxergam pela frente nem possuem o impulso de fazê-lo diariamente. Na verdade, é mais comum que essa necessidade apareça a cada seis semanas. 

Os primeiros sintomas aparecem durante a puberdade e podem diminuir ou persistir pela vida adulta. Esta condição também pode se manifestar em crianças. Em especial, em crianças com dificuldades de aprendizado. Mas, não há muitos estudos que indicam com exatidão a correlação entre esses transtornos.  

Os sintomas da piromania são:

  • Necessidade incontrolável de atear fogo;
  • Fascínio pelas chamas e por objetos utilizados para incendiar, como isqueiros e fósforos;
  • Sensação de prazer ou de alívio após colocar fogo em um objeto, bem como ao observar as fagulhas;
  • Tensão ou excitação antes de satisfazer o impulso;
  • Interesse incomum por crimes de incêndio;
  • Vontade de observar o fogo enquanto queima um objeto;
  • Sentimento de culpa ou de remorso após cometer o ato;
  • Interesse incomum por equipamentos que causam incêndio.

Em outras palavras, a vontade de atear fogo não está relacionada a uma motivação específica. Por exemplo, ela não tem relação com a necessidade de encobrir um crime ou de realizar um protesto. Também não tem associação com ganhos financeiros. O impulso de atear fogo simplesmente surge porque o indivíduo sente desejo de fazê-lo.

O que causa a piromania?

A causa exata deste transtorno não é conhecida ainda. Todavia, especula-se que sua origem esteja associada a desequilíbrios químicos no cérebro, fatores estressores e fatores genéticos. 

Estudos identificaram que o controle de impulsividade pode ser hereditário, ou que componentes desse controle possam ser hereditários. Deste modo, a piromania e outras condições relacionadas a ausência de autocontrole pode ter motivações genéticas. No entanto, ainda não há evidências expressivas sobre essa teoria.

No caso de adolescentes, a piromania pode ter ligação com situações de estresse e a incapacidade de administrar emoções. Para sentir-se melhor, o adolescente exterioriza emoções negativas através de comportamentos destrutivos. 

Entretanto, é preciso procurar um profissional da saúde, como um psicólogo, para fazer uma avaliação completa da psique do adolescente. Como nessa fase o controle da impulsividade é costumeiramente mais fraco, as condutas piromaníacas podem não ter ligação com o transtorno mental. 

Critérios para o diagnóstico

O diagnóstico desta condição é um tanto complexo. Isso porque os impulsos de atear fogo podem estar associados a outros transtornos mentais, especialmente os que afetam a capacidade de resistir a impulsos.

Impulsos piromaníacos podem ser sintomas secundários do transtorno de bipolaridade, depressão, compulsões (por jogo, compras ou alimentos), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de personalidade antissocial e transtorno de conduta. Indivíduos que fazem uso de substâncias também podem ter condutas piromaníacas.

A história de vida da pessoa com histórico de atear fogo também é investigada. Adolescentes e adultos que passaram por situações de abuso ou de negligência por vezes podem engajar em comportamentos destrutivos.

Não significa que esses indivíduos sejam piromaníacos, mas, sim, que sofrem com sintomas do transtorno de estresse pós-traumático e não conseguem expressar seus sentimentos de forma saudável.  

Para que uma pessoa receba o diagnóstico de piromania, é necessário fazer uma investigação de seu comportamento e de seus pensamentos em relação ao hábito de colocar fogo em objetos.

O DSM V, ainda, determina que os critérios de diagnóstico são:

  • Necessidade de provocar incêndios em mais de uma ocasião;
  • Sentimento de tensão antes do ato e alívio após cometê-lo;
  • Intensa atração pelo fogo e objetos relacionados a ele;
  • Sensação de prazer ao atear fogo ou observar incêndios;
  • Inexistência de sintomas de outras patologias.

Dificuldades no diagnóstico

É importante destacar que diagnósticos raramente acontecem. Pessoas com essa condição não costumam buscar ajuda ou compreender o seu comportamento a fundo. Elas sentem medo de serem julgadas por amigos e familiares. Em casos extremos, temem ser descobertas pela polícia. 

Geralmente, o piromaníaco procura ajuda por ter sintomas acentuados de ansiedade, pânico, depressão ou estresse. Durante o tratamento de um desses transtornos mentais, a tendência piromaníaca é identificada. 

Segundo este estudo, cerca de 3% a 6% dos pacientes psiquiátricos apresentam sintomas correspondestes aos critérios de diagnóstico do DSM V.

A identificação de tendências piromaníacas em crianças é igualmente desafiadora. A criança por vezes “brinca” com isqueiros, fósforos e velas por ter curiosidade sobre o fogo. Em alguns casos, essa postura curiosa pode dar início à incêndios dentro de casa. 

Um relatório americano identificou que 46% dos incêndios registrados em residências no ano de 2010 foram iniciados por crianças de cinco anos ou menos, segundo a The Recovery Village

Esse comportamento pode ser corrigido mediante orientação dos pais ou do psicólogo. Quando a criança é educada a não brincar com fogo e essa conduta persiste, no entanto, é provável que ou a piromania, ou outro transtorno mental seja a causa desses comportamentos. 

Fatores de risco

Apesar de não haver uma quantidade satisfatória de pesquisas que indicam quais são os fatores de risco para esta condição, três elementos já foram observados nos poucos casos diagnosticados. A maioria dos piromaníacos são:

  1. Homens;
  2. Têm cerca de 18 anos;
  3. Apresentam habilidades sociais pouco desenvolvidas.

Tratamentos possíveis para piromania

Uma vez identificada, a piromania pode ser tratada. Ela pode se tornar crônica se não for devidamente tratada. O tratamento para esta condição é composto pela psicoterapia e a administração de remédios controlados (prescritos por psiquiatras regulamentados).

A terapia é focada na dificuldade de controlar impulsos. O psicólogo procura descobrir o porquê do paciente não conseguir resistir a urgências destrutivas. Dessa forma, consegue ensiná-lo a extravasar essas necessidades de uma forma saudável. O paciente, então, passa por uma ressignificação desse comportamento. 

Se as tendências piromaníacas estiverem associadas a outras condições psicológicas, como estresse pós-traumático ou depressão, o psicólogo também faz o tratamento desses sintomas. Em conjunto com o paciente, ele revisita os acontecimentos do passado para que sejam vistos sobre uma perspectiva mais sadia. 

Assim, o paciente deixa de ser incomodado por lembranças, medos ou condutas originadas de eventos passados. 

No caso de pacientes crianças ou adolescentes, a participação dos pais ou cuidadores é muito importante durante todo o acompanhamento psicológico. O ideal é fazer consultas individuais e em grupo para que o paciente consiga progredir. 

A duração do tratamento psicológico é variável já que depende do quadro de cada paciente e da resposta à psicoterapia

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Tatiana Pimenta

CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta

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