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Políticas de saúde mental do Brasil: quais são elas e quais os deveres das empresas?

Um dos maiores desafios à saúde mental no ambiente de trabalho é combater o tabu existente sobre o assunto. E não é por acaso. As políticas de saúde mental no Brasil foram estabelecidas só em 2001. 

Como você verá neste artigo, até pouco tempo atrás a humanidade tinha ideias muito errôneas acerca da saúde mental e do bem-estar psicológico de pessoas com transtornos mentais

Até cerca de 30 anos atrás, pessoas mentalmente adoecidas poderiam ser colocadas à força em manicômios e hospitais-colônia. Espaços onde eles ficavam isolados de todo o convívio social e, na maior parte das vezes, não tinham o tratamento adequado. 

A mentalidade de que estas pessoas deveriam ter um acompanhamento multidisciplinar, ser internadas apenas quando o tratamento clínico não surtisse resultado e depois da internação, serem ressocializadas é extremamente recente. 

Mesmo assim, existem exigências legais sobre a responsabilidade das empresas em relação à saúde mental dos funcionários e é fundamental que o RH saiba disso para evitar sanções jurídicas e problemas internos. 

Neste conteúdo, você vai entender: 

Políticas de saúde mental: qual é o papel do Estado e das empresas na busca de bem-estar psicológico?

Será que você já ouviu falar em alguma política de saúde mental? Se a resposta for “não”, saiba que isso é totalmente compreensível. Afinal, ela é um recém-nascido na história do nosso país – como você vai ver a seguir. 

Porém, conhecer as iniciativas públicas é fundamental para entender o contexto da saúde mental que afeta os colaboradores pelos quais você é responsável. 

Afinal, como diz o neurocientista português António Damásio: “Não somos máquinas de pensar, somos máquinas de sentir que pensam.” 

Nossas emoções afetam nosso cérebro, que afeta tudo o que fazemos em todas as áreas da vida. Inclusive no trabalho. Pouco a pouco, as empresas estão se dando conta disso. 

Uma pesquisa da Willis Towers Watson (WTW) mostrou que de 2015 para 2021, 33% das empresas ampliaram seus programas de bem-estar. E não é por acaso. A verdade é que o número de pessoas adoecidas também aumentou: 25% das empresas afastaram de 1 a 5 colaboradores entre 2021 e 2022, segundo uma reportagem divulgada no Valor Econômico. 

Ou seja, não estamos falando só para defender uma causa. Cuidar da saúde mental já é uma necessidade real para as empresas, que deixam dinheiro na mesa toda vez que um colaborador precisa ser afastado. Ou antes disso, com a queda de rendimento. 

O Estado brasileiro tem, sim, o dever de tornar não só a saúde em geral, mas a saúde mental acessível para a população. Mas, sejamos honestos, isso ainda não está acontecendo. 

E é neste momento que as empresas precisam se prontificar! Tanto pela sua responsabilidade social, como falaremos mais à frente, como para prevenir-se de problemas sérios que estão batendo à porta.

Nos tópicos seguintes, conheça um pouco mais da história do Brasil em relação à saúde mental e saiba quais as obrigações das empresas diante da lei. 

Histórico das políticas de saúde mental no Brasil

A conversa sobre a saúde mental no Brasil começa com a promulgação da Constituição Federal, em 1989. Com a redemocratização, a tônica era a de busca por direitos da população. 

Dez anos antes, foi fundado o movimento antimanicomial. Seguindo os ensinamentos do psiquiatra italiano, Franco Basaglia, a ideia era romper a prática de institucionalização.

Ou seja, de simplesmente colocar as pessoas com transtornos mentais em manicômios, onde ficariam totalmente excluídas da sociedade e, em muitos casos, sob tortura, maus tratos e muitas formas de desrespeito aos direitos humanos.

A linha de Basaglia, inclusive, foi recomendada pela OMS a partir de 1973. Ou seja, podemos dizer que o Brasil estava antenado à vanguarda da saúde mental no mundo. 

Reforma Psiquiátrica

Por isso já em 1989 foi proposta a Lei 10.216, focando numa experiência de cuidados à saúde mental num viés mais comunitário, formando uma rede integrada, como vemos neste artigo publicado no Cadernos de Saúde Pública:

“(…) a partir daí, deve-se ter por base as equipes de saúde mental comunitárias e a internação de agudos em hospital geral, devidamente articuladas com a atenção primária e os serviços de reabilitação psicossocial.”

Hoje, ela é o principal documento da saúde mental pública brasileira, que está estruturada a partir do SUS em quatro pilares:

  • Centros de Atenção Psicossociais (CAPS)
  • Serviços residenciais terapêuticos
  • Centros de Convivência e Cultura
  • Leitos de atenção integral dos CAPS III

E os principais desafios, segundo o Ministério da Saúde, é atuar pela ratificação das diretrizes do SUS pela Lei da Reforma Psiquiátrica, outro nome para a Lei 10.216/01, e a III Conferência Nacional de Saúde Mental. Especialmente se considerarmos as tentativas de reverter todo este trabalho incentivando de maneira velada a institucionalização há pouco tempo. 

Também é importante saber que, desde a sua promulgação, a Política de Saúde Mental passou a incluir setores relacionados a:

  • Álcool e drogas
  • Saúde mental de crianças e adolescentes

Isso faz muito sentido quando observamos que 25% das mortes por álcool nas Américas acontecem no Brasil, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde. E que o suicídio entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos aumentou mais do que 40% em uma década, segundo o Mapa da Violência do Ministério da Saúde. 

Qual a responsabilidade das empresas com a saúde mental dos funcionários?

Exatamente porque a discussão sobre saúde mental ainda é muito recente no Brasil, não existe uma lei ou norma específica que postule o papel das empresas em relação a este quesito. 

Porém, sabemos que as empresas têm responsabilidades sociais como cuidar da saúde e segurança do trabalho, fazer uma boa gestão de recursos humanos, além de promover uma cultura que assegure o respeito aos direitos humanos, etc. 

Além disso, a legislação brasileira possui diversas menções em relação aos direitos relacionados à saúde e isso envolve o ambiente profissional. 

Veja os pontos principais abaixo:

Constituição Brasileira

A Constituição Federal é o maior guia para definir as obrigações civis em qualquer ambiente, inclusive no trabalho. Portanto, torna-se necessário que estas sigam suas premissas.

Segundo o Art. 7º:

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria da sua condição social:

(…)

XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.

Este item antecipa uma parte importantíssima em Direito do Trabalho: a Saúde e Segurança do Trabalho (SST). 

Além disso, segundo um artigo armazenado na Biblioteca Digital de Justiça do Trabalho:

A saúde do trabalhador é um direito humano, um valor fundamental do sistema jurídico, alicerçado no princípio ontológico da dignidade da pessoa humana. 

Trata-se de um bem jurídico que compõe o catálogo das necessidades básicas do ser humano, na teoria do mínimo existencial. 

Como um direito essencial, deve a saúde ser entendida como o mais completo bem-estar físico-funcional da pessoa, em seus aspectos negativo e positivo.”

Política de Saúde Mental

A já citada Lei 10.216/01 postula no Art. 2º que:

São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II – ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV – ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V – ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

(…)

Medicina do Trabalho

A Lei 6.514, de 1977, está presente na CLT e oficializa as questões relacionadas à Medicina e Segurança do Trabalho. 

Art . 157 – Cabe às empresas:

I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;

II – instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;

III – adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente;

IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

Vale a pena observar que, hoje em dia, ela também se relaciona com a saúde mental uma vez que, por exemplo, a síndrome de Burnout é considerada uma doença ocupacional pela CID-11

CIPA

A existência da CIPA, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio, é de fundamental importância para assegurar justamente o que é mencionado na Constituição Brasileira e nos anais do Direito do Trabalho. Sua regulação se dá pela NR 5.

É importante ressaltar que desde março de 2023, diante da Lei 14.457, ela também é responsável por realizar treinamentos de conscientização e sensibilização em relação ao assédio. As empresas que ainda não estão em dia com isso precisam regularizar este quesito o quanto antes! 

ESG

E, para além dos aspectos legais, é importante ressaltar a importância das práticas de ESG, uma forte tendência no mercado diante da mudança do comportamento dos consumidores.

O S, de ESG, simboliza “social” e também se relaciona com a garantia de um ambiente interno socialmente saudável. 

Além destas ações ajudarem a manter uma boa imagem no mercado e acompanhar a mentalidade do seu público-alvo, elas ainda são benéficas para o bem-estar do colaborador quanto para a sua produtividade – algo extremamente benéfico para as empresas. 

A regra é clara: investir na saúde mental dos colaboradores é investir na própria empresa. Na verdade, a própria OMS já disse que a cada R$1 investido em saúde mental, R$4 retornam para a empresa.

Interessante, não?

Saúde mental é inegociável

Mesmo com a Lei da Reforma Psiquiátrica, que tem um caráter vanguardista entre a saúde mental pública no mundo todo, a teoria é diferente da prática. 

Especialmente num país que, em muitos casos, não possui verba o suficiente destinada a politicas de saúde mental: apenas 2,5% de toda a verba destinada para a saúde. 

Espantoso, não? Muitas cidades sequer contam com psicólogos no SUS. Além disso, estamos atravessando a maior crise já vista na saúde suplementar depois da pandemia de COVID-19. 

Isso significa que os planos de saúde simplesmente não tem psicólogos e psiquiatras o suficiente para atender a demanda. Sem falar no tabu que, como você viu neste artigo, ainda é forte e faz com que as pessoas evitem procurar ajuda profissional.

Este contexto ainda se dá num momento em que a emergência sanitária torna-se uma emergência de saúde mental. 

Veja os dados!

Segundo a OMS, somos:

  • o país mais ansioso do mundo;
  • o segundo país mais estressado, logo, com mais casos de Burnout;
  • o quinto com mais pessoas depressivas.

Além disso, a preocupação dos brasileiros com a saúde mental praticamente triplicou em quatro anos segundo a pesquisa Global Health Service Monitor. Se, em 2018, apenas 18% das pessoas se preocupavam com transtornos de ansiedade e depressão, em 2022 este número saltou para 54% de acordo com o estudo. 

E como isso afeta as empresas?

Simples. Os colaboradores levam tudo isso para dentro da empresa. É urgente que os líderes e profissionais que cuidam dos trabalhadores entendam que nenhum problema pessoal fica da porta para fora.

Somos seres biopsicossociais. Nenhuma área funciona separada da outra. 

Se a mãe de um colaborador está enfrentando um câncer, por exemplo, ele não vai conseguir compartimentalizar e ficar 100% focado no trabalho. Sua preocupação vai estar em prover toda a ajuda necessária. 

E, ao contrário do que acontece em muitas organizações, punir ou chamar a atenção dele só vai piorar as coisas. Para ambos. Ao invés disso, é dever da empresa ajudá-lo. Agora imagine isso multiplicado por 20, 50, 100, 200 colaboradores. 

Profissionais mentalmente saudáveis funcionam melhor. Numa situação como esta, não é possível solucionar o problema, mas existem formas de aliviar muito suas consequências para o colaborador

Sensibilizar e educar os colaboradores para o cuidado com a saúde mental, além de oferecer auxílio psicológico especializado já vai fazer muita diferença. Aliás, segundo outro dado da OMS, a cada R$1 real investido em saúde mental, R$4 retornam para a empresa.

A Vittude é a única empresa do mercado especializada em saúde mental corporativa. Somos parceiros de empresas como o grupo Boticário, a L’Oreál, a Telhanorte, a Olist, entre outras grandes organizações brasileiras. 

Acreditamos que a raiz de empresas sustentáveis está em colaboradores saudáveis. 

Por isso, oferecemos não só a psicoterapia através da nossa plataforma, que garante o apoio que o seu colaborador precisa, mas também construímos soluções diagnósticas e educacionais para estruturar um Programa de Saúde Mental, por exemplo. 

Afinal, só a terapia não faz milagre. Muitas empresas, infelizmente, tem um clima organizacional que se torna a origem de muitos adoecimentos. Isso também precisa mudar para que o seu investimento tenha retorno. 

Vamos juntos nessa?

Converse com um de nossos especialistas para criar um programa que atenda as necessidades diretas da sua organização!

Carol Motta

Redatora sênior, especialista em SEO On Page, cientista social e com experiência em conteúdos de saúde e RH. Trabalha para viver num mundo em que as pessoas sejam mais saudáveis e as organizações, mais inclusivas.

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