Relacionamento aberto: será que ele funciona para você?
22 de junho de 2019
Tempo de leitura: 10 minutosRelacionamento aberto é aquele onde duas pessoas, em um relacionamento monogâmico, tomam a decisão consensual de explorar a não-monogamia.
A decisão por manter um relacionamento aberto pode significar uma variedade de coisas. Da inclusão de novos parceiros sexuais juntos ou separadamente, até o desenvolvimento de relacionamentos românticos externos.
Aparentemente, para o sucesso de uma relação assim, não há uma receita de bolo. A monogamia, enquanto estilo de relacionamento mais popular, não é o único estilo de relacionamento disponível. De fato, novas pesquisas sugerem que as pessoas em relacionamentos abertos ou poliamorosos são, na verdade, tão felizes, se não mais felizes, quanto as relações monogâmicas
E, como a discussão tem sido crescente, decidimos falar um pouco sobre o tema. Que tal debatermos um pouco sobre o assunto e entendermos melhor essa possibilidade, só para evitarmos conclusões apressadas?
Neste post, reunimos informações bem esclarecedoras, que não têm o intuito de encerrar a discussão. Ao contrário: queremos promovê-la!
A liberdade de ser pede o reconhecimento das escolhas — tanto das próprias quanto dos outros. Conhecer uma ideia não exige que você mude de opinião. Seu relacionamento não precisa ser aberto. Mas é sempre bom que a mente seja…
O que significa estar em um relacionamento aberto?
O termo “aberto” confere a ideia de algo arejado, sem grilhões, sem obrigações. Em contrapartida, um relacionamento “fechado” pode parecer quase claustrofóbico!
Talvez, nesse ponto esteja a origem de uma série de interpretações equivocadas.
Um relacionamento dito fechado corresponde ao modelo monogâmico que, por uma série de questões — que não cabem na discussão deste texto — convencionamos como ideal, normal e melhor.
Já o relacionamento aberto, propõe uma quebra nesse “contrato” de monogamia. Ele cria alternativas nas quais o casal possa ter relações paralelas, sem que isso seja visto como traição.
Qual modelo, afinal, é o melhor? O que devemos entender é que ambas situações permitem condições para uma convivência saudável, com respeito mútuo e com foco na felicidade dos parceiros. O melhor relacionamento, portanto, é aquele que funciona para o casal.
“Fechado” seria um adjetivo melhor aplicado a qualquer tipo de relacionamento — entre duas ou mais pessoas — que, justamente, não se pautasse pelo diálogo, pela busca de consenso e satisfação dos envolvidos. Esse, certamente, é um modelo falido…
Quem já teve um relacionamento monogâmico, sabe que é um tipo difícil de se manter… Pede paciência, aprendizado e, ocasionalmente, termina. Com o relacionamento aberto é exatamente igual!
Não é mais fácil — porque, afinal, nenhum relacionamento é. Não significa que vale tudo e que os sentimentos estão protegidos.
O desejo e o afeto romântico
A grande diferença está na negociação do desejo. Quando você embarca numa relação monogâmica, aceita certas regras quanto à condução do desejo. Define que apenas uma pessoa receberá seu afeto romântico e que o sexo será exclusivo com aquele determinado parceiro. Burlando esses limites, o compromisso cai por terra.
Lógico que, além dessas combinações mais triviais, existem tantas outras, que cada casal discute em sua intimidade de coexistência.
Não existe fórmula de namoro ou casamento monogâmico ideal. Ele se adequa conforme as personalidades envolvidas, conceituando traição, por exemplo, de maneira singular.
Pensando assim, nos aproximamos da ideia de relacionamento aberto. Ora, se o que significa traição, o que magoa e o que não será admitido, pode ser interpretado de diferentes formas, não cabe pensar se a fidelidade sexual é mesmo tão imprescindível?
Para você, pode ser que seja. Para outro, pode representar uma convenção desnecessária. O que a experiência da relação aberta mostra é que uma preferência não exclui a validade de outra.
Uma relação monogâmica tem seus problemas, mas pode ser povoada de extrema felicidade. Porque o casal vive bem assim, se sente completo e satisfeito com a escolha. E uma relação aberta? Também enfrenta seus entraves, mas se confirma no bem viver.
O único relacionamento problemático é aquele que sufoca, que desrespeita o outro, que bloqueia e impõe regras que não priorizam o comum acordo. Vontades em desarmonia não trazem boa companhia…
O que determina o que é certo e errado se resume em consenso. Se ele estiver presente, é o que basta para que a busca pelo prazer seja positiva.
Diferença entre relacionamento sério e aberto
Será que um relacionamento aberto não é sério? De fato, quando se usa a expressão para definir uma relação de contatos casuais, sem maiores envolvimentos emocionais, podemos pensar dessa forma.
Contudo, não é esse o caso de namoros ou casamentos abertos, nos quais a ideia de conexão e companheirismo está implícita.
Um relacionamento aberto pode ser mais leve, pois a possessividade passa longe. Doa-se ao outro — e a si — a liberdade de exercer desejos. Porém, a liberdade exige confiança, bom senso, cuidado com sentimentos envolvidos e total respeito a limites — sim, eles também fazem parte da relação aberta!
Pense o que você julga um relacionamento sério. Exclua, de sua lista, a questão da monogamia. O que resta, se aplica a qualquer casal.
A seriedade está em se comprometer a viver a individualidade, sem machucar a outra pessoa. Nunca prejudicar, não mentir, ridicularizar, forçar ou manipular vontades.
Seriedade se mede pela confiança, honestidade e sinceridade envolvidas. Se há cumplicidade e amor, o que falta para o relacionamento ser visto como sério?
Regras do relacionamento aberto
Não existe um molde, um padrão fixo, que estabeleça regras de um relacionamento aberto. Cada casal define o rumo da experiência, combina condições que julga importantes, chega a consensos particulares.
Talvez, mais do que falarmos em regras, deveríamos falar de premissas. E aqui podemos pontuar duas, sem as quais nenhum relacionamento aberto — ou não — é realmente saudável. As premissas fundamentais são diálogo e autoconhecimento.
Viver uma relação aberta é um processo de descoberta. A conversa precisa acontecer a todo momento. Como não existe uma receita pronta, os envolvidos precisam analisar o que desejam, o que consideram positivo, o que não estão dispostos a aceitar. E, claro, durante o processo da experimentação, podem mudar de ideia!
O autoconhecimento é essencial porque, sem reconhecer os próprios limites e motivações, fica complicado encontrar expectativas realistas, garantir a autoestima no lugar e negociar as “cláusulas do contrato”.
Abrir mão de si, para agradar o outro, inevitavelmente traz muita dor e frustração. Não é preciso viver um relacionamento aberto para saber disso. Qualquer relação humana enfrenta o mesmo risco.
Pontos que precisam ser pensados antes de abrir a relação
Em primeiro lugar, o casal deve ter certeza de que entendem relacionamento aberto da mesma forma. É preciso ouvir e falar com maturidade e transparência. Antes da prática, a teoria precisa estar bem resolvida.
É apenas sexo ou os parceiros podem se permitir outros níveis de envolvimento? Conhecidos, ex-namorados, amigos em comum fazem parte da lista de possibilidades ou estão vetados? O pacto de não-exclusividade vale para todos os dias da semana, em qualquer lugar ou, por exemplo, fica restrito a momentos de viagens?
Enquanto ambos não estiverem seguros do que desejam viver e o que consideram saudável permitir ao outro, melhor não avançar.
A teoria pode se mostrar falha. Por isso, a comunicação precisa ser ativa e contínua. Ajustes podem ser consentidos. E, inclusive, é permitido chegar à conclusão de que o relacionamento aberto não está dando certo! Afinal, nenhuma relação vem com garantias de sucesso.
Quando o relacionamento aberto não funciona
As vantagens do relacionamento aberto são tentadoras: maior liberdade para o desejo (sem culpas), enorme cumplicidade entre o casal, quebra da rotina, amadurecimento psicológico, ausência do fantasma da traição tradicional…
Contudo, nada disso se realizará se a abertura do casal a novos parceiros for motivada por uma crise, uma tentativa de “salvar” o namoro ou casamento. O nome disso é cilada.
Incluir outras pessoas não é a resposta quando existem desentendimentos, desgaste ou decepções. Não pode ser uma desculpa para o adiamento de um fim. Se dois não estão satisfeitos, é até injusto esperar que terceiros deem conta de trazer felicidade.
Plataformas como a Vittude podem facilitar a busca por um psicólogo que atenda a requisitos específicos para atender a todos que precisem de acompanhamento. Acesse nosso site e confira você mesmo todas as oportunidades oferecidas!
Outro grande equívoco é abraçar a vontade do parceiro, para não perdê-lo, sem compartilhar da mesma filosofia de vida. O relacionamento aberto deve ser interessante para ambos, promovendo satisfação recíproca.
Em resumo, o relacionamento principal precisa ser sólido, os envolvidos devem estar plenamente cientes das emoções que precisarão administrar e das responsabilidades que irão assumir. Se a busca pelo “amor livre” for uma estratégia para fugir da solidão, melhor rever os conceitos.
Para tudo ficar bem, é fundamental que tudo comece bem. Sem subterfúgios ou concessões que alimentarão mágoas e inseguranças devastadoras.
Quem pode viver um relacionamento aberto?
Qualquer pessoa que esteja disposta a reinterpretar os sentidos do amor está apta a viver um relacionamento aberto.
É preciso ter convicção da escolha, se desvencilhando do peso de opiniões alheias. Não espere aprovação e entendimento de todos. Lembre que a decisão é sua e do parceiro. Se ambos estiverem felizes, é o que conta.
A opção de abrir o relacionamento pode ser excelente para jovens casais, bem como para parceiros de longa data, que se amam, respeitam e conhecem o suficiente para experimentar a liberdade sexual, sem a carga negativa dos ciúmes e suspeitas de traição.
Apenas não se iluda, imaginando que o relacionamento aberto é um caminho desimpedido de dúvidas e necessidade de aprendizados. É fundamental apostar em si, manter a autoestima em dia e o autoconhecimento em evolução.
Se estiver considerando a ideia, que tal conversar com um psicólogo ou um terapeuta sexual, para se aprofundar, primeiro, no amor-próprio? Quanto mais cientes estamos de nossas decisões, propósitos e motivações, mais sensatos e firmes serão nossos passos.
A terapia traz equilíbrio e impede que fantasias nos guiem para escolhas equivocadas. Se a base do relacionamento aberto bem-sucedido é o diálogo, invista no empoderamento de sua voz, vontade e sexualidade. Quanto mais inteiros somos, mais podemos nos multiplicar, sem ferir sentimentos alheios — e, muito menos, os próprios.
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