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Síndrome da cabana: o medo de sair de casa e as consequências

Períodos muito longos de isolamento interferem significativamente no bem-estar e nas relações sociais. É preciso ficar atento para detectar sinais de alerta que apontam para um problema mais grave, como é o caso daqueles que convivem com a síndrome da cabana.

O contexto da pandemia causada pela Covid-19 ocasionou repentinamente o isolamento social e, consequentemente, trouxe muitos medos e inseguranças. Diante disso, muito tem se falado sobre esta síndrome que afeta tanto o dia a dia dos indivíduos.

Para entender melhor sobre o que se trata, suas causas e sintomas, continue a leitura deste artigo que contém informações importantes. Dessa forma, você poderá detectar os sinais de alerta em si mesmo ou pessoas próximas.

O que é a síndrome da cabana?

A síndrome da cabana se trata de um fenômeno psicológico de natureza fóbico-ansiosa descrito pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1900, para se referir aos caçadores que ficavam muito tempo isolados durante os invernos rigorosos e depois disso tinham dificuldades para socializar e retornar à sociedade.

A sua principal característica é um medo excessivo e desproporcional de sair de um ambiente onde se estivera por muito tempo confiado e que passa a ser considerado seguro do que o mundo externo. Por mais que a síndrome da cabana não faça parte da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), é preciso ficar atento aos seus sintomas que podem se transformar em graves transtornos de ansiedade, depressão ou agorafobia.

Os efeitos da pandemia no medo de sair de casa

Para ficar ainda mais claro e refletir sobre exemplos bem atuais, basta pensar na pandemia da Covid-19, que pegou todo mundo de surpresa, afinal, ninguém imaginava que a doença causaria tantas restrições e mortes.

O isolamento social foi imposto em praticamente todos os países do mundo, o que fez com que as pessoas precisassem mudar de repente as suas rotinas. Durante meses e meses, deixaram de encontrar amigos e familiares e passaram a conviver apenas com aqueles que dividiam a mesma residência. Para quem morava sozinho foi ainda mais complexo.

O tempo foi passando e as incertezas e inseguranças aumentando, sem indícios de um fim próximo para a pandemia. Um dos principais efeitos colaterais dessa situação toda foi o impacto negativo na saúde mental das pessoas, com o aumento de casos de depressão e ansiedade. Também nesse cenário se manifestou a síndrome da cabana, quando mesmo sem uma ameaça próxima ou imediata, a pessoa não se sente segura fora da sua própria casa.

Como diferenciar a “ansiedade normal” de algo mais sério?

Os sinais de alerta, portanto, aparecem quando esse medo começa a impedir a pessoa de realizar as suas tarefas cotidianas, trabalhar e conviver tranquilamente em sociedade até mesmo quando a situação de confinamento já terminou. Nesses casos, é necessário buscar auxílio profissional porque a ansiedade deixou de ser algo natural.

É importante ter em mente que o medo, diante de uma ameaça, é adaptativo. Durante a pandemia, por exemplo, o medo de contrair a doença faz com que as pessoas lavem as mãos, usem máscara e evitem aglomerações. O problema é quando deixa de ser um medo pautado na adaptação e no cuidado e se transforma em esquiva e paralisação.

Quais são os sintomas da síndrome da cabana?

Algumas pessoas são mais suscetíveis a não terem respostas adaptativas em situações que demandam muito de si mesmas. Aquelas que têm um histórico de doenças mentais, como transtornos de ansiedade, pânico ou depressão podem necessitar um suporte profissional antecipado para evitar questões mais graves.

Em casos da síndrome da cabana, o isolamento gera a angústia e o medo excessivo de sair de casa. Entre os principais sinais de alerta, é preciso ficar de olho no seguinte:

  • angústia profunda;
  • falta de motivação;
  • inquietação;
  • perda ou ganho de apetite;
  • irritabilidade;
  • problemas de concentração;
  • falta de ar;
  • tontura;
  • sudorese;
  • insônia ou excesso de sono;
  • taquicardia;
  • desconfiança das pessoas;
  • tristeza excessiva.

Quais são as causas da síndrome da cabana?

A principal causa da síndrome da cabana é o longo período de confinamento, que faz com que algumas pessoas tenham dificuldade para lidar com as suas emoções em relação ao isolamento físico e social. O ponto de atenção é quando os sintomas passam a prejudicar o bem-estar e a qualidade de vida do indivíduo, como acontece quando ele não consegue mais sair de casa, por exemplo.

É importante ressaltar que muitas pessoas gostam de ficar mais tempo em casa e, na realidade, não sentem tanto os efeitos negativos do isolamento. Portanto, a síndrome da cabana só acontece de fato quando há uma dificuldade visível de retornar de forma saudável às rotinas comuns do convívio coletivo. Nesses casos, o cérebro se acostuma à nova configuração de vida e entende que a única maneira de garantir a segurança é ficando dentro da “cabana”.

Qual é o tratamento?

Não há um tratamento específico, mas várias medidas que podem ser tomadas de acordo com o quadro de cada pessoa. Os profissionais da área da saúde serão responsáveis por realizar um diagnóstico adequado e oferecer as orientações mais adequadas para superar a síndrome.

As principais formas de tratamento são:

Fazer terapia

O auxílio de um psicólogo é fundamental em casos de síndrome da cabana. Isso porque se trata de um profissional que, ao longo das sessões de terapia, irá ajudar o paciente a refletir sobre seus padrões de comportamento e inseguranças para que, dessa forma, seja capaz de criar estratégias de enfrentamento.  

Uma das linhas da psicologia para casos como esse é a cognitivo comportamental, em que é analisada a origem do comportamento problemático e propostas para superá-lo.

O acompanhamento psicológico é recomendado, principalmente, para evitar que a síndrome ocasione o desenvolvimento de transtornos psicológicos mais graves, como depressão, ansiedade etc.

Tomar medicações

Em alguns quadros, pode ser necessário consultar um psiquiatra para avaliar a necessidade de introduzir medicações que visam corrigir a química cerebral alterada com o estresse que deu origem ao fenômeno. Nesses casos, é fundamental seguir com acompanhamento psiquiátrico e jamais se automedicar.

Fazer exercícios físicos

Ter uma rotina de exercícios físicos também é muito importante para a manutenção da saúde mental. A prática regular de atividades proporciona sensação de calma e bem-estar, além de reduzir sintomas de ansiedade e depressão. Além disso, diminui o estresse, melhora a disposição e a qualidade do sono.

Meditar

A meditação é uma prática milenar com diversos benefícios para a saúde mental, entre eles:

  • redução do estresse;
  • diminuição de sintomas depressivos e de ansiedade;
  • melhora na qualidade do sono.

Para sentir os benefícios é preciso praticar com regularidade, portanto, quem está começando pode utilizar aplicativos de meditação guiada para não perder a motivação.

Criar uma nova rotina

A criação de uma nova rotina é importante para manter os hábitos saudáveis e encontrar novas formas de garantir o bem-estar em momentos de isolamento. É preciso se reinventar e buscar novos hobbies e formas de espairecer a mente para que o dia a dia seja adaptado às restrições da situação de confinamento.

Além disso, também é necessário incluir momentos de socialização (mesmo que digitais) para se conectar com amigos e familiares.

Respeitar o seu tempo

Por fim, respeitar o seu tempo faz parte do tratamento da síndrome da cabana também. Fazer um pouquinho por dia e celebrar as pequenas vitórias é fundamental para se sentir motivado e ganhar confiança novamente. Conhecer e respeitar os seus limites é um ato de gentileza com a sua saúde mental.

O auxílio de um psicólogo será importante nesse momento, mas para ter ideia de como pode ser o passo a passo, imagine que um dia você vai até a porta de casa e observa a rua. No outro, anda um pouco pela calçada e no próximo dá uma volta no quarteirão.

Outra dica é se recordar das boas lembranças prazerosas que envolviam o convívio social antes do isolamento. Dessa forma, você condiciona o cérebro a reduzir o medo diante de situações relacionadas ao meio externo. Pense nas viagens, aniversários, festas e passeios que foram especiais.

Prevenção é o melhor caminho

Não cuide da sua saúde mental apenas nos momentos extremos, quando você já está sofrendo com alguma questão mais grave. A prevenção é sempre a melhor escolha para ter mais bem-estar e qualidade de vida.

Por isso, em situações desafiadoras ou inusitadas, sempre que sentir necessidade procure auxílio psicológico e não se esqueça de manter uma rotina saudável e equilibrada. A sua mente agradece!

Bruna Cosenza

Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.

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