Burnout: tire suas dúvidas sobre a síndrome
18 de dezembro de 2016
Tempo de leitura: 13 minutosCom os assuntos relacionados à saúde mental no trabalho ganhando cada vez mais espaço, é importante falarmos sobre a síndrome de burnout.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Gattaz Health & Results, 18% dos brasileiros são vítimas deste transtorno, o que gera um cenário bastante preocupante, que precisa de atenção.
Um dos últimos avanços foi o fato de que, em janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS), passou a incluir o burnout na lista da 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), como um “fenômeno ocupacional”.
E por que isso é importante?
Proporciona uma visibilidade muito maior para esta condição mental que ainda sofre com tantos estigmas e precisa ser abertamente discutida para que seja possível prevenir e diagnosticar casos com mais eficiência.
É sobre isso que vai aprender neste artigo, que está repleto de informações úteis sobre o burnout, também conhecido como síndrome do esgotamento mental no trabalho. Continue a leitura para conferir tudo!
O que significa ter um burnout?
Nem todos sabem, mas apesar do termo ter se disseminado há pouco tempo, o burnout já vem sendo discutido há muitos anos.
O distúrbio emocional foi descrito em 1974 pelo psicólogo americano, Herbert Freudenberger. Ele foi um dos primeiros a notar alterações de humor, motivação e personalidade atreladas à exaustão profissional, resultando no conceito clínico de burnout.
A principal característica da síndrome de burnout é o estresse crônico e a tensão emocional causados por condições de trabalho desgastantes.
Vale pontuar que é um distúrbio psíquico mais propenso a se desenvolver em algumas profissões, com atenção para aquelas que exigem envolvimento interpessoal intenso e direto, como médicos, advogados, policiais, professores, enfermeiros etc.
Durante a pandemia de Covid-19, pudemos assistir ao número de casos de burnout explodindo em profissionais da área da saúde devido às condições de trabalho extremamente desgastantes do período.
O distúrbio, portanto, tende a surgir quando o indivíduo passa por situações de âmbito profissional exaustivas, como excesso de responsabilidades, competitividade, pressão etc.
Quais são os três pilares da síndrome do burnout?
O burnout é uma condição incapacitante, que provoca o esgotamento mental, emocional e físico de uma pessoa. As suas três dimensões se caracterizam por:
- Exaustão emocional: cansaço excessivo, com sensação de ir além dos próprios limites e se sentir sem recursos emocionais e físicos para lidar com as situações;
- Despersonalização: reação negativa em relação às dificuldades, falta de interesse e preocupação com o trabalho;
- Baixa realização profissional: sentimento de improdutividade e incompetência, podendo gerar sintomas como isolamento, depressão, falta de energia, baixa tolerância, irritabilidade, problemas no sono.
A pessoa que atinge o último estágio tem grandes chances de precisar se afastar das suas atividades profissionais para se tratar. Lembrando que, de acordo com a lei, todos têm direito ao afastamento por licença médica em casos mais graves.
Quando há o diagnóstico de um médico psiquiatra, o trabalhador deve apresentar o atestado e, assim, terá direito a uma licença por, no mínimo, 15 dias. No caso de períodos mais longos, é possível contar com o benefício de auxílio-doença do INSS.
Quais são as diferenças entre estresse e burnout?
Um ponto muito importante é saber diferenciar estresse e burnout, que definitivamente não são a mesma coisa.
O estresse não é uma doença. Trata-se da forma natural do corpo reagir a situações que exigem muito esforço emocional.
O problema começa quando o estresse se torna constante e prolongado, ou seja, não é superado. Nesses casos, se não forem tomadas medidas preventivas, é possível desenvolver um quadro de estresse crônico.
Outro ponto importante de diferenciação é que o estresse pode ser decorrente de questões de diversos âmbitos da vida, o que significa que não se limita apenas ao trabalho.
Por outro lado, o burnout é restrito ao ambiente profissional no qual uma pessoa está inserida e, se não for tratado, é capaz de desencadear transtornos de humor.
Quais são os sintomas da síndrome de burnout?
Para procurar ajuda quando algo não vai bem, é preciso ter clareza sobre quais são os sintomas do burnout, lembrando que é uma condição exclusivamente relacionada ao ambiente profissional.
O diagnóstico é clínico e, portanto, leva em consideração o histórico do paciente e a sua relação com o trabalho, além de analisar a presença de alguns sintomas que você poderá conferir adiante.
O maior perigo é acreditar que se trata de um cansaço passageiro e, por isso, não dar a devida importância ao problema. A dica aqui é se manter atento em relação a como o seu trabalho está impactando a sua saúde física e mental, prestando atenção em sintomas como:
- Agressividade
- Isolamento;
- Exaustão física e mental;
- Ausência no trabalho ou presenteísmo;
- Problemas de memória e concentração;
- Irritabilidade;
- Mudanças muito bruscas de humor;
- Pessimismo;
- Ansiedade;
- Baixa autoestima;
- Dores de cabeça;
- Cansaço;
- Insônia;
- Dores musculares;
- Sudorese;
- Palpitação.
Lembrando que não é porque você identificou os sintomas em si que deve se autodiagnosticar e, muito menos, se automedicar. A síndrome de burnout é algo complexo, que só pode ser tratada por um time de especialistas, que normalmente conta com psiquiatras e psicólogos.
Quais são as consequências do burnout?
O burnout gera inúmeros prejuízos para a vida de uma pessoa, sendo um dos principais o risco do estresse se tornar crônico. Os sintomas não irão desaparecer sozinhos, portanto, é preciso de ajuda especializada para o tratamento.
Além de todos os sintomas listados acima, que afetam o dia a dia de qualquer indivíduo, é importante pontuar que o burnout, se não for tratado, pode acarretar em consequências preocupantes para a carreira.
A incapacidade de se manter produtivo e com bom desempenho, além dos sentimentos negativos e da insegurança, interrompem o crescimento de um profissional que, sem o distúrbio, teria tudo para continuar evoluindo cada vez mais.
Já para as empresas, casos de burnout geram consequências que afetam todo o ecossistema de trabalho, ocasionando prejuízos de todos os tipos, inclusive financeiros:
- Queda de produtividade: problemas de concentração, baixa motivação ocasionam falhas e atrasos em excesso;
- Impacto negativo na marca empregadora: dificuldades para atrair novos talentos;
- Aumento do turnover e absenteísmo: alta rotatividade, faltas e atrasos;
- Clima organizacional ruim: colaboradores com percepção negativa sobre a empresa;
- Aumento do presenteísmo: profissionais presentes fisicamente, mas ausentes mentalmente no ambiente de trabalho.
Quais são as causas do burnout?
O burnout pode ter diversas causas, tudo depende das características do ambiente de trabalho no qual a pessoa está inserida. No geral, os principais desencadeadores são:
Sobrecarga de trabalho
Médicos e enfermeiros que trabalham por muitas horas, ou até mesmo dias seguidos, são um ótimo exemplo de horas em excesso de trabalho. Na rotina em escritórios isso também é bastante comum.
Trabalhar muitas horas sem pausas para descanso e lazer é um dos principais motivos que, com o passar do tempo, gera o esgotamento físico e mental.
Outro tipo de sobrecarga é a de funções, que acontece quando o trabalhador não tem as ferramentas ou o conhecimento necessário para executar as suas tarefas, gerando acúmulo de responsabilidades e sentimentos de incapacidade e angústia.
Conflitos e competitividade
Ambientes de trabalho permeados por conflitos, desavenças e competições desleais também estão propensos a gerar problemas de saúde mental, como o burnout, nos colaboradores.
A falta de harmonia e paz no dia a dia profissional gera uma rotina negativa e tensa, em que os funcionários se enxergam como competidores e não aliados.
Como consequência, não há segurança psicológica na empresa, que diz respeito à construção de um ambiente de trabalho colaborativo, harmonioso e receptivo, no qual as pessoas se sentem confortáveis e seguras para serem quem são e compartilharem ideias, experiências e opiniões.
Excesso de pressão e metas inatingíveis
A pressão pode vir de diversas formas. Em muitos casos, nasce de metas inatingíveis, fazendo com que o trabalhador se desespere por não conseguir atingir as expectativas e se sinta incompetente.
Aqui, é preciso saber diferenciar cobranças e incentivos saudáveis, que são úteis para manter os colaboradores motivados, e pressões tóxicas e nocivas à saúde mental.
Lideranças tóxicas e despreparadas
Os líderes têm um papel muito importante na manutenção da saúde e do bem-estar de qualquer ambiente de trabalho. São pessoas que atuam como grandes referências dentro de uma empresa e, por isso, precisam estar preparadas para tais responsabilidades.
Existem vários tipos de falas e comportamentos tóxicos das lideranças, sendo alguns exemplos bem comuns:
- Incapacidade de aceitar erros;
- Arrogância;
- Falta de estímulo à diversidade;
- Autoritarismo;
- Ausência de liberdade para os membros do time;
- Preconceitos e prejulgamentos;
- Incentivo a uma cultura competitiva tóxica;
- Falta de suporte técnico e emocional ao time.
O burnout tem tratamento?
O burnout é uma condição que pode evoluir para quadros graves, mas a boa notícia é que tem tratamento.
Ao detectar que algo não vai bem, a primeira coisa a se fazer é marcar uma consulta com um médico psiquiatra, que irá realizar o diagnóstico correto do seu quadro, após excluir a possibilidade de transtornos mais graves como a depressão ou a ansiedade.
O tratamento pode incluir:
- O uso de antidepressivos;
- Psicoterapia;
- Outras atividades como meditação, exercícios físicos e tempo de qualidade de descanso e lazer.
Como prevenir o burnout?
Para finalizar este artigo, é recomendado incluir na sua rotina alguns comportamentos de prevenção ao burnout para evitar o seu desenvolvimento em qualquer fase da sua vida.
Além de se manter atento aos sintomas, as orientações são as seguintes:
1.Planeje-se para ter uma rotina mais equilibrada
Em muitos casos, a falta de planejamento gera um dia a dia caótico, em que a pessoa não dá conta de todas as suas responsabilidades. No ambiente profissional, isso também não é incomum: a falta de planejamento leva ao excesso de horas de trabalho e a sobrecarga de tarefas.
A consequência? Muito trabalho e pouco descanso e lazer.
Por isso, tire um tempinho da sua semana para organizar as prioridades. Evite abraçar o mundo de uma vez, pois isso só vai trazer consequências negativas para a sua saúde e bem-estar.
2. Defina limites
Criar os seus limites na vida profissional é fundamental para não se deixar cair na pressão de virar noites trabalhando. Saiba dizer “não” e recusar uma reunião de última hora se for necessário.
Isso não significa ser irresponsável, pelo contrário. É sobre ser responsável com a sua saúde e com o seu trabalho a fim de não permitir que ele tome conta da sua vida.
3. Tenha conhecimento sobre os seus gatilhos de estresse
O que é capaz de te tirar do sério no dia a dia de trabalho? Ter consciência sobre isso é importante para evitar, sempre que possível, gatilhos de estresse que, com o tempo, podem gerar problemas mais graves para a sua saúde.
Aliás, esse tipo de conhecimento é fundamental até mesmo para se posicionar no trabalho em relação a algumas situações que não serão toleradas por serem tóxicas e pouco saudáveis.
4. Trabalhe em lugares que prezam pela saúde mental
É claro que nem sempre é possível mudar de trabalho imediatamente quando as coisas não vão bem.
Mas, dentro das suas possibilidades, assim que detectar que o ambiente no qual você está inserido é um problema para a sua saúde mental, procure por alternativas.
Quanto mais você entende o que está por trás da síndrome de burnout, maior é a sua capacidade de fazer escolhas muito mais saudáveis na carreira.
5. Pratique exercícios físicos
Não é novidade que mexer o corpo com frequência é uma das formas mais eficazes de combater problemas de saúde mental.
Manter uma rotina de exercícios físicos, portanto, é uma recomendação de qualquer profissional da saúde para aliviar o estresse, a tensão e a ansiedade. Não deixe de incluir esse hábito nas suas semanas.
6. Não deixe de lado descanso e lazer
Falando em prevenção, não podemos deixar de lembrar que a vida não é apenas trabalho.
Para ter equilíbrio e saúde, é preciso priorizar outras esferas além da carreira.
Cultivar hobbies, manter relacionamentos com amigos e familiares, ter uma boa rotina de sono, tirar férias… Tudo isso faz parte de um dia a dia no qual você está cuidando de si para não sofrer um burnout em algum momento.
7. Faça psicoterapia
Por fim, uma das melhores formas de cuidar da sua saúde mental é por meio do acompanhamento de um psicólogo.
A terapia é uma ferramenta de autoconhecimento extremamente valiosa, que pode te acompanhar ao longo da sua vida toda. Quanto mais você se conhece, tem percepção e controle sobre as suas emoções, maiores são as chances de manejar situações desconfortáveis com maturidade emocional.
No caso da síndrome de burnout, a psicoterapia é uma forma de prevenção e tratamento. Ao longo das sessões, você aprende a identificar gatilhos e desenvolver estratégias para combater os problemas.
Cuide da sua mente para viver melhor
Agora que você já sabe como o burnout é perigoso e conhece os seus principais sintomas, entende a importância de adotar um estilo de vida mais saudável e equilibrado.
Se não estiver se sentindo bem, não tenha medo ou vergonha de procurar ajuda especializada. A síndrome de burnout tem tratamento e o quadro pode ser revertido se você priorizar os cuidados com a sua mente.
Para continuar aprendendo sobre saúde mental, navegue pelo nosso blog, que está repleto de conteúdos sobre o assunto!