Síndrome de Tourette: Como funciona a mente de quem tem o transtorno e quais os tratamentos?

A Síndrome de Tourette é uma condição incompreendida. Em filmes e seriados norte-americanos, ela é retratada como algo cômico, mas não há nada de engraçado nesse transtorno. Ele prejudica a vida diária de quem o possui, danificando a sua autoconfiança e autoestima. 

O que é a Síndrome de Tourette?

A Síndrome de Tourette é um transtorno caracterizado por tiques motores ou vocais variados. Eles variam de uma semana para a outra, ou se modificam ao longo dos meses. Sendo assim, é quase impossível prever quais tiques aparecerão em seguida. 

As pessoas com Tourette relatam ser praticamente impossível resistir à vontade de falar ou expressar esses tiques, mesmo que sejam inapropriados. O estresse de se manter em silêncio ou imóvel tende a piorar a condição e manifestar tiques mais intensos. Por conta disso, pessoas com Tourette têm dificuldade para controlar seus impulsos

O transtorno comumente aparece na infância, entre os quatro a seis anos, de acordo com o MDS V. Ele alcança o seu pico de gravidade por volta dos 10 a 12 anos e diminui na adolescência. Os tiques apenas persistem até a idade adulta em 1% das pessoas.

Quais as causas da Síndrome de Tourette?

A Síndrome de Tourette pode estar associada às seguintes condições psiquiátricas: Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade e transtorno de aprendizado. Logo, entende-se que a criança com Tourette a manifesta como “sintoma” de outra condição. 

No entanto, ainda não existe um consenso sobre a causa específica dessa síndrome. Como também pode ter origem genética ou ser consequência de um desequilíbrio nos impulsos que transmitem informação entre neurônios, identificar uma única causa por trás da Tourette é difícil. 

Pessoas com outras patologias, como doença de Huntington ou encefalite, também podem desenvolver tiques. Em ambos os casos, contudo, eles não são considerados Tourette.

Quais os sintomas da Síndrome de Tourette?

A ansiedade é um dos sintomas predominantes da síndrome, seguida pelos tiques. Eles são separados em duas categorias: os simples (movimentos e vocalizações breves) e os complexos. Esses duram mais tempo e podem evoluir para uma combinação de tiques simples. 

Eles também podem ter um significado social, característica que costuma causar problemas para o indivíduo e seus familiares. Não raro pessoas com Tourette sentem necessidade de usar termos preconceituosos ou fazer gestos obscenos em público. 

Como as pessoas que presenciam esses tiques não compreendem a situação, podem se ofender e tirar satisfação. Essa situação eleva o estresse do indivíduo com Tourette. 

Abaixo, veja uma lista de tiques. 

  • piscar os olhos;
  • fazer caretas;
  • balançar os ombros;
  • fungar;
  • tossir;
  • fazer sons guturais ou gestos obscenos; 
  • movimentar a cabeça repentinamente;
  • repetir palavras ou sílabas de forma involuntária. 
Síndrome de Tourette: Como funciona a mente de quem tem o transtorno e quais os tratamentos?

Caso o seu filho manifeste alguns desses tiques, consulte um médico o mais breve possível. Repreender a criança com Síndrome de Tourette não a ajudará a controlar os seus impulsos. Na verdade, os tiques provavelmente se tornarão mais frequentes e indesejados. 

Como é a mente da pessoa com Tourette? 

Um desejo enorme de manifestar um tique é sentido antes de sua ocorrência, semelhante à compulsão vivenciada por pessoas com TOC. O indivíduo, então, fica tenso e ansioso. Muitos descrevem a compulsão como uma vontade irresistível de espirar, tossir ou coçar uma parte do corpo. Quando cede à necessidade de fazer o tique, sente uma sensação breve de alívio.

Em épocas de estresse emocional, os tiques se manifestam mais frequentemente. A pessoa com Tourette raramente consegue controlá-los. 

Quando alguém chama atenção para eles, a pessoa fica ansiosa por ser o centro das atenções e esse nervosismo piora os sintomas do transtorno. Portanto, é recomendado não reagir aos tiques, tratando-os como se não estivessem acontecendo

Os tiques podem ser parecidos ou completamente diferentes. A intensidade e frequência de cada um se modificam com a passagem do tempo. Às vezes, eles começam de maneira súbita, assustando quem estiver ao redor. Embora seja compreensível, essa reação pode deixar a pessoa com Tourette desconfortável e incentivar mais tiques. 

Além disso, os tiques podem ocorrer diversas vezes em um único dia (nos quadros mais graves, em uma única hora) e desaparecer por completo por meses a fio.

Viver com Tourette tende a ser extremamente desagradável, especialmente durante a puberdade, quando os indivíduos ficam mais sensíveis às opiniões alheias.  O transtorno pode prejudicar o desempenho escolar e atrapalhar a formação de novas amizades. 

Os comentários maldosos e o tratamento diferenciado vindo de terceiros afetam a autoestima do indivíduo, incentivando-o a se isolar.  

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico acontece através da avaliação de um médico. Quando feito precocemente, a criança consegue se livrar da síndrome mais rápido e aproveitar melhor a sua infância. 

Os pais também compreendem que os filhos não estão fazendo má criação, mas, sim, convivendo com um transtorno sério. Esse conhecimento evita que agravem a condição com castigos ou brigas injustas. Assim sendo, os pais devem buscar um médico logo após a percepção dos primeiros tiques.

O diagnóstico é feito com base nos sintomas e em sua duração. Para que a Síndrome de Tourette seja identificada com sucesso, e não confundida com outros distúrbios de tique, as consultas médicas poderão ser periódicas. Os tiques vocais e motores devem acontecer por, pelo menos, seis meses. 

Para auxiliar no diagnóstico, os pais podem ficar de olho na manifestação dos tiques e anotar tanto a sua frequência quanto a sua variedade. Depois, podem apresentar as informações ao médico. 

Existe tratamento para a Síndrome de Tourette?

Felizmente, a síndrome é totalmente tratável. O seu tratamento é composto por terapia (para adultos e crianças) e medicamentos, podendo ser interdisciplinar ou requerer somente um deles. 

Se o quadro clínico da pessoa não for grave, um número limitado de consultas com o psicólogo pode ser o suficiente para tranquilizá-la e modificar como trata o tique. Quanto menos prestar atenção nele, mais fácil será para controlá-lo.

A Terapia Cognitivo-Comportamental e os medicamentos psiquiátricos são as formas de tratamento mais eficazes em casos graves. 

O grau de gravidade do transtorno é medido conforme a vida da pessoa é afetada pelos sintomas. Por exemplo, se ele levá-la ao isolamento social ou à depressão o quadro é considerado grave.  

Terapia Cognitivo-Comportamental

Essa abordagem psicoterapêutica é eficaz por ter como enfoque a reversão de hábitos ruins. A Terapia Cognitivo-Comportamental modifica comportamentos, substituindo as condutas causadoras de sofrimento por condutas sadias. 

As técnicas cognitivo-comportamentais ajudam os pacientes com Tourette a controlarem os seus tiques e a reduzirem a ansiedade do adiamento da compulsão. O paciente aprende a descrever e a identificar o tique, analisando em quais momentos do dia ele é mais frequente e quais hábitos contribuem para mantê-lo. 

Em seguida, é incentivado a desenvolver um comportamento capaz de concorrer com o tique. No caso da Tourette, os pacientes costumam aprender a desfocalizar da compulsão, modificando o objeto de sua atenção. Esse novo hábito é repetido dezenas de vezes para reforçar o novo padrão comportamental. 

Síndrome de Tourette: Como funciona a mente de quem tem o transtorno e quais os tratamentos?

Com o tempo, o paciente consegue combater o desejo irresistível de manifestar um tique e recuperar a sua autoestima. O psicólogo também pode ensinar técnicas de relaxamento simples para aliviar a tensão e o estresse.  

A duração do tratamento depende da resposta do paciente às técnicas utilizadas e da existência de outros transtornos. Se o transtorno-obsessivo compulsivo ou o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade forem identificados, também será necessário tratá-los. 

Medicamentos psiquiátricos 

Se o tique estiver interferindo na autoimagem e na execução de tarefas diárias da pessoa, é recomendado procurar um psiquiatra para avaliar a necessidade do uso de medicamentos. Para as crianças, os médicos costumam prescrever uma dose mais baixa somente para que elas tolerem os tiques ao longo do dia.

O medicamento mais utilizado para tratar a Tourette é a clonidina. Ele também ajuda a controlar a ansiedade e os sintomas de TDAH, caso esses acompanhem o transtorno. No entanto, esse fármaco apenas deve ser usado após o aval do médico. 

Caso o tratamento seja feito exclusivamente para a hiperatividade, outros medicamentos podem ser receitados. 

Em relação aos quadros mais acentuados, os antipsicóticos tendem a ser melhores para reduzir os sintomas da síndrome. A dose é igualmente baixa nessa situação já que o medicamento não será usado para tratar a psicose. 

Como ajudar alguém com Síndrome de Tourette?

Para não constranger a pessoa com Tourette e evitar o agravamento dos tiques, existem algumas atitudes que devem fazer parte do dia a dia:

  • evitar comentários maldosos;
  • não demonstrar irritação em relação aos tiques ou chamar atenção para eles;
  • não forçá-la a enfrentar gatilhos para a Tourette;
  • pessoas com Tourette não devem ser repreendidas.

Em vez disso, devem demonstrar apoio, compreensão e amor. As crianças devem ser levadas ao médico e ao psicólogo e os adultos, incentivados a buscar tratamento para erradicar o sofrimento no dia a dia. 

Na Vittude, você encontra psicólogos online prontos para fazer exatamente isso. Tanto crianças quanto adultos podem se beneficiar com as consultas virtuais. Além disso, diversos profissionais em nosso repertório são especialistas na Terapia Cognitivo-Comportamental.

Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta