TEP: Entenda o Transtorno de Personalidade Esquizotípica

O Transtorno de Personalidade Esquizotípica, assim como outros transtornos de personalidade, se manifesta através de padrões de comportamento e de pensamento, reações, percepções e ideias atípicas. Trata-se de uma condição composta por traços de personalidade mal-adaptativos que prejudicam o convívio social.

O que é Transtorno de Personalidade Esquizotípica? 

O transtorno de personalidade esquizotípica (TPE), ou transtorno esquizotípico de personalidade (TEP), é uma condição que afeta a capacidade de estabelecer vínculos afetivos devido a distorções da realidade e comportamentos excêntricos. 

Em outras palavras, a pessoa com TEP tem um distanciamento considerável da realidade em virtude de ideias paranoicas, pensamentos fantasiosos e ilusões sensoriais. A desorganização de devaneios e da fala também é uma característica desse transtorno.

A sua visão dos relacionamentos, das pessoas e de si mesma é dominada por pensamentos negativos e, por vezes, irreais. Por exemplo, ela não firma amizades porque acredita que é diferente dos demais e será alvo da maldade alheia.  

A percepção distorcida da realidade tem papel fundamental em sua incapacidade de criar laços afetivos. Ela acredita em fatos que não condizem com a verdade ou inventa situações que nunca ocorreram. Dessa forma, baseia a sua opinião nesses devaneios ilusórios e cria uma realidade única para si. 

É muito comum que pessoas com TEP não tenham amigos e somente estabeleçam vínculos com parentes de primeiro grau que se dedicam ao seu cuidado. Conseguem interagir com outros em momentos de necessidade, mas preferem não fazê-lo quando possível. 

Existe relação com a esquizofrenia? 

Devido ao termo “esquizotípico”, pode haver confusão acerca da relação deste transtorno de personalidade com a esquizofrenia.

Na verdade, a esquizofrenia é uma patologia caracterizada pela psicose, ou seja, perda total do contato com a realidade. Embora o transtorno de personalidade esquizotípica tenha sintomas semelhantes, eles se manifestam em um grau muito menor

O que causa este transtorno?

Segundo o DSM V, fatores biológicos e genéticos exercem grande influência no desenvolvimento deste transtorno de personalidade. 

Ele costuma aparecer no início da vida adulta e estudos apontam para maior reincidência em homens. Entretanto, não há uma causa exata para esta condição de saúde. 

Alguns transtornos mentais são considerados comorbidades, como a depressão. Mais da metade dos pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica tiveram, pelo menos, um episódio depressivo severo. 

Outro dado relevante disponibilizado pelo DSM V é que cerca de 30% a 50% dos indivíduos diagnosticados com TEP têm depressão ou uma dependência química. 

Como identificar o Transtorno de Personalidade Esquizotípica?

TEP - Entenda o Transtorno de Personalidade Esquizotípica

Pessoas com TEP possuem uma visão distorcida dos relacionamentos interpessoais e das interações sociais. A partir disso, elas apresentam determinados comportamentos e pensamentos que, a longo prazo, causam mal a elas e aos outros. 

Veja alguns exemplos abaixo:

1. Pensamentos paranoides

A paranoia é um sintoma muito presente no TEP. Por isso, ele pode ser confundido com o transtorno da personalidade paranoide (TPP) em um primeiro momento. Todavia, existem outros sintomas que diferenciam essas duas condições. 

A pessoa com transtorno paranoide suspeita que os outros estão sempre planejando prejudicá-la, mesmo quando não há evidência para tal. Ela analisa o comportamento alheio erroneamente para construir argumentos para justificar os seus medos, mas raramente encontra razões plausíveis. 

Já a pessoa com transtorno de personalidade esquizotípica, apesar de também ter comportamentos paranoicos, tem crenças excêntricas, desorganização de pensamentos e ilusões. 

2. Pensamentos mágicos

Outro sintoma deste transtorno de personalidade são os pensamentos mágicos. Consistem em devaneios que a pessoa possui poderes mágicos, como clarividência ou telepatia, e pode fazer rituais. Ela exibe uma preocupação excessiva com fenômenos sobrenaturais e acredita estar envolvida ou ser a causa deles. 

3. Ideias de referência

Ideias de referência são noções que eventos diários possuem um significado extraordinário, o qual a pessoa com TEP acredita ser somente para ela. Assim, cria narrativas em cima dessas noções excêntricas e as utiliza como base para as suas condutas e pensamentos. 

4. Hipersensibilidade

Devido à hipervigilância causada pela paranoia, pessoas com TEP se ofendem facilmente e sem motivo. Elas levam frases, conversas e acontecimentos para o lado pessoal, tirando-os do contexto original. Como possuem uma interpretação distorcida da realidade, têm dificuldade para resolver conflitos e perdoar.  

5. Discurso peculiar

Outro sintoma deste transtorno é o discurso peculiar. A pessoa fala coisas sem sentido e se enrola nas palavras, além de utilizar muitas metáforas e ser vaga em suas observações. Também é comum que fale de um jeito excessivamente complexo, sendo de difícil compreensão. 

Quem conversa com ela não consegue compreender o que realmente quer dizer ou se, de fato, ela possui um objetivo com as suas falas. 

6. Ansiedade social 

A ansiedade é uma consequência comum da dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Como este transtorno de personalidade torna os indivíduos paranoicos, sensíveis e temerosos em relação ao mundo, eles se sentem muito ansiosos em situações sociais. 

TEP - Entenda o Transtorno de Personalidade Esquizotípica

Mesmo quando frequentam ambientes seguros, como a casa de um parente ou a de um amigo íntimo da família, eles não conseguem relaxar e anseiam pelo momento de deixar o recinto. Esta ansiedade está associada, sobretudo, a medos paranoicos.  

7. Ilusões 

As ilusões ocorrem quando os estímulos sensoriais são interpretados de modo incorreto. Por exemplo, a pessoa com TEP confunde o barulho do vento com a voz de alguém ou vê pequenos objetos como insetos. Ela também pode achar que o toque da roupa no corpo ou de outra pessoa é um animal caminhando sobre seu corpo.

É igualmente comum que essa pessoa tenha ilusões somáticas, que se caracterizam pela crença de que uma parte do corpo está lesionada ou de que está gravemente doente. 

As ilusões são diferentes das alucinações. As primeiras são motivadas por estímulos encontrados no ambiente. Eles podem ser auditivos, olfativos, visuais ou táticos. As alucinações, por outro lado, se originam de estímulos que não estão presentes no ambiente. 

Quais os critérios para o diagnóstico?

Para ser considerado transtorno de personalidade esquizotípica, padrões de pensamento e comportamentais atípicos devem ser recorrentes em múltiplas situações e persistirem por vários anos. 

O desconforto em relação aos relacionamentos interpessoais deve ser intenso o suficiente para gerar ansiedade e ser motivado por crenças infundadas. Pelo menos cinco dos sintomas mencionados anteriormente também devem estar presentes para que seja feito o diagnóstico. 

O transtorno de personalidade esquizotípica não deve ser confundido com o transtorno da personalidade esquizoide. 

Neste último, o indivíduo não tem interesse em manter relacionamentos íntimos e expressão limitada de emoções. Porém, suas condutas não são motivadas por pensamentos mágicos, ilusões e crenças excêntricas. 

Outra diferenciação importante é entre condições que apresentam sintomas psicóticos. No TEP, eles devem acontecer posteriormente aos demais. O transtorno deve persistir quando os sintomas psicóticos se tornam ausentes. É diferente de uma condição cujos sintomas psicóticos são persistentes, como a esquizofrenia. 

Quando procurar tratamento para o TEP?

Um médico ou psicólogo deve ser procurado assim que os sintomas forem notados. Geralmente, essa percepção ocorre somente com a recorrência dos mesmos e por outras pessoas. Familiares próximos percebem a diferença no comportamento da pessoa com TEP com mais facilidade.

Normalmente, pessoas com transtornos de personalidade não buscam tratamento por conta dos sintomas. Elas aprendem a conviver com eles, então, para elas, eles se tornam normais. A busca por tratamento é motivada pelas consequências desagradáveis de seus atos e a constante sensação de rejeição

O tratamento primário para esta condição de saúde é feito com medicamentos psiquiátricos para diminuir a ansiedade, sintomas psicóticos e possíveis sintomas depressivos. Portanto, é importante procurar um psiquiatra.

A psicoterapia deve ser aliada no tratamento. É por meio dela que o paciente consegue modificar os seus padrões de comportamento e de pensamento, além de fazer a manutenção das condutas sadias adquiridas ao longo do acompanhamento. 

A terapia cognitivo-comportamental, em particular, apresenta muita eficácia. O indivíduo com transtorno de personalidade esquizotípica consegue adquirir habilidades sociais, controlar a ansiedade em momentos sociais e perceber seus próprios com o auxílio desta abordagem

A terapia familiar também demonstra ter bons resultados com pacientes com TEP. 

Como os parentes de primeiro grau são os únicos relacionamentos íntimos desses indivíduos, eles podem ajudá-lo a desenvolver as suas habilidades sociais e incentivar interações com pessoas fora do núcleo familiar.  

Além disso, ao ouvir os seus parentes próximos, o paciente consegue fortalecer a percepção correta acerca de sentimentos, atitudes e pensamentos alheios. 

Como ajudar alguém com TEP?

Conviver com uma pessoa com transtorno de personalidade é um desafio, especialmente quando são condições menos comuns. Não há muita orientação disponível para quem convive com uma pessoa com transtorno da personalidade paranoide ou esquizoide, por exemplo. 

Familiares devem ter paciência ao interagir com o indivíduo dom TEP. É imprescindível a compreensão que ele não possui controle sobre seus comportamentos peculiares. A percepção de suas atitudes só acontece durante o tratamento. Este, por sua vez, pode ser longo.

O diálogo com esse indivíduo deve ser sempre tranquilo e claro para que ele compreenda as intenções por trás das palavras. Interações sociais ou demonstrações de afeto não devem ser forçadas.

A terapia online pode ajudar familiares a ajudarem alguém com este transtorno de personalidade.

Além de proporcionar um ambiente seguro para o desabafo e a expressão de sentimentos, a terapia também auxilia o controle emocional e a aquisição de conhecimento sobre transtornos mentais e de personalidade.  

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta