Terapia Relacional Sistêmica: saiba tudo sobre esta abordagem

A Terapia Relacional Sistêmica teve início em Curitiba na década de 1980, com a psicóloga Solange Maria Rosset. Ela deriva da terapia sistêmica, que enxerga o indivíduo como um sistema em funcionamento. 

Para exemplificar, pense nas peças de um relógio de ponteiro. Para que esses continuem marcando as horas e os minutos, todas as partes devem desempenhar o seu papel dentro da estrutura mecânica. Se uma estiver com defeito, os ponteiros permanecerão imóveis.  

O mesmo se aplica às pessoas. Quando todos os fatores que constituem o ser (emoções, crenças, comportamentos, pensamentos) estão em equilíbrio, estamos de bem com a vida. Já na situação contrária, problemas emocionais que afetam a nossa saúde, carreira e relacionamentos começam a tomar conta. 

É comum pensar na terapia sistêmica como uma terapia voltada apenas para famílias ou grupos já que, neste caso, cada membro corresponde a uma parte do sistema. No entanto, esta abordagem também pode ser aplicada em processos individuais.  

O que é Terapia Relacional Sistêmica?

O aspecto relacional desta terapia refere-se ao estado de “ser em relação” das pessoas. Nós estamos constantemente interagindo com outros indivíduos e conosco. Nossos relacionamentos são circulares. Ou seja, eles são formados por processos de relacionamento os quais apresentam características específicas.  

Na Terapia Relacional Sistêmica, existem alguns pontos chave que conduzem o tratamento terapêutico. Para serem capazes de fazer mudanças positivas em seu comportamento, as pessoas precisam compreender as especificações do seu próprio sistema de funcionamento. 

Novos comportamentos, sentimentos e crenças podem ser implementados a partir desse ponto de partida. O objetivo final da terapia é desenvolver a autonomia do paciente para que ele consiga criar estratégias de funcionamento mais eficazes

Em outras palavras, identificar comportamentos problemáticos e ajudar o paciente a desenvolver formas mais saudáveis e eficientes de lidar com os impasses de sua vida. 

Além disso, como o comportamento de uma pessoa desencadeia reações e comportamentos em outra, o cenário ideal seria o de parceria. Nesta abordagem, a responsabilidade tanto para uma boa convivência quanto do bem-estar individual é de todos. 

Outro fator de relevância é que não existem culpados. A noção de certo e errado é transformada. 

Existem apenas as consequências de nossas ações e como elas interferem em nossas vidas. As qualidades de ‘bom’ ou ‘mal’ não são atribuídas aos comportamentos. Assim, o jogo de apontar dedo acaba e as pessoas conseguem se entender sem julgamentos

Padrão de funcionamento

Dentro da Terapia Relacional Sistêmica, este padrão é construído na infância. A criança aprende o padrão de funcionamento com a família. Ela absorve fatores implícitos no comportamento e no ambiente familiar. 

Por isso, muitas pessoas não conseguem entender traços de personalidade e crenças que regem as suas vidas, especialmente quando essas são negativas. Quando as suas origens são investigadas, normalmente descobre-se que a causa está enraizada em algum acontecimento, lembrança ou problema familiar do passado.  

A maneira como os pais e demais parentes próximos lidam com as situações da vida dita como a criança vai responder as mesmas ou diferentes situações. 

É possível identificar os aspectos do padrão de funcionamento ao observar como a pessoa faz uso deles nas relações sociais, como, por exemplo, a comunicação, a forma de se vestir, a profissão escolhida, a sexualidade, a saúde, e muito mais. 

Este padrão é repetido inconscientemente. Nesta abordagem terapêutica, ele é estudado e questionado até o paciente tomar consciência dele e tomar responsabilidade por suas ações, deixando de repetir o padrão às cegas. 

Padrão de interação

O padrão de interação também é referente à repetição de condutas, porém, está associado às estratégias que a pessoa utilizada para reagir às situações da vida. Ele é composto por regras fixas e implícitas, as quais o paciente acredita precisar seguir para interagir com o mundo. 

Essas estratégias, além de poderem ser limitadas, podem não ser tão úteis quanto a pessoa acredita. Ainda assim, ela age de acordo com as regras pré-estabelecidas na infância ou no convívio com familiares, procurando manter o status quo. 

Por exemplo, em uma situação de estresse, em vez de analisá-la logicamente e se afastar do sentimento negativo, a pessoa fica nervosa e desconta a irritação nos demais. O acesso de raiva apenas causa mais perturbação emocional e deixa quem estiver por perto igualmente estressado. 

Na terapia, o padrão de interação é suavizado para que a pessoa seja capaz de utilizar outras estratégias e ser mais flexível. Ela passa a reagir de acordo com o que a situação em si pede e não como o seu padrão dita.   

Como é feito o atendimento terapêutico?

O paciente pode ser um indivíduo, uma família, um casal ou um grupo de pessoas. Na primeira sessão, a única atividade realizada é a de reconhecimento das queixas e de definição de objetivos

Ao longo do atendimento, o terapeuta desenvolve estratégias para ajudar o paciente a identificar o seu padrão de funcionamento. Para a Terapia Relacional Sistêmica ocorrer bem, o paciente precisa ter certo nível de entendimento dos componentes de seu padrão.  

Em seguida, são feitas as redefinições. Elas são importantes para alterar os desejos estereotipados, ou seja, o que ele acredita almejar para si, mas, na verdade, foi encorajado a se sentir assim. Esta redefinição parte sempre da proposta que o paciente precisa se responsabilizar por suas ações e problemas

É natural haver resistência e recaídas, pois a repetição inconsciente é quebrada com o passar do tempo. Cada paciente reage de uma forma diferente aos questionamentos propostos pelo terapeuta. Para uns, deixar a zona de conforto pode ser menos doloroso do que para outros. 

Mesmo que haja o desejo de mudar, pode levar meses ou anos até a mudança ser efetivada completamente. A chave para tornar o processo constante está na repetição de bons padrões de comportamento. Aos poucos, o paciente perceberá que a escolha de ter uma vida feliz e de qualidade está em suas mãos. 

Este dilema é chamado de pedido paradoxal. Consiste na simultaneidade do desejo de mudança e de permanecer igual. O terapeuta traça estratégias para quebrar esse paradoxo e seguir adiante com o atendimento. 

Terapia individual

A Terapia Relacional Sistêmica voltada para o indivíduo objetiva desenvolver a autossuficiência do indivíduo. O paciente é estimulado a analisar as situações desagradáveis em sua vida para identificar a sua possível contribuição em cada uma. 

A autorresponsabilidade é encorajada a todo instante para que o paciente possa cessar a perpetuação de comportamentos negativos. Assim, ele se torna apto a aprender novas estratégias de funcionamento. 

Cada indivíduo possui um nível de consciência de seu padrão de funcionamento e de resistência para modificá-lo. Cabe ao profissional analisar o que funcionará para cada paciente. A versatilidade é um fator essencial da Terapia Relacional Sistêmica. 

Em casos de experiências traumáticas na infância ou na adolescência, o paciente é levado a compreender que essas situações extremamente negativas não definem a sua essência. Ele pode escolher viver além delas e encontrar um caminho novo e mais acolhedor para seguir com a sua vida. 

Outro ponto investigado são os álibis relacionais, os quais protegem e servem como desculpas para as pessoas evitarem a mudança. Estes podem ser o sentimento de solidão, rejeição e pertencimento, além da autoestima e as compulsões. A pessoa se apega a esses fatores inconscientemente. 

Terapia familiar

Na abordagem familiar, a família é vista como um sistema. Cada membro tem a sua responsabilidade dentro dele e capacidade para influenciar o outro. A Terapia Relacional Sistêmica, então, oferece uma oportunidade para as famílias se reorganizarem como um conjunto para prevenir conflitos desnecessários. 

Dentro do sistema maior, existem os subsistemas, formados por relacionamentos minoritários que compõem o todo. As relações entre o casal, entre os pais e os filhos, entre os irmãos, entre os parentes de convívio próximo são analisadas como entidades a parte. 

A estrutura familiar é ainda composta por funções básicas. Cada membro possui um grupo de tarefas específicas. A mãe tem a função materna, o pai tem a função paterna, os filhos têm a função de aprendizagem, entre outras. Quando cada um está ciente e de acordo com as funções desempenhadas, o sistema familiar age em uníssono.  

Ao longo do tratamento, são identificadas oportunidades de aprendizagem e de mudança. Os membros da família devem estar dispostos a colaborar uns com os outros. 

Terapia de Casal

Para melhorar a qualidade de seus relacionamentos, muitos casais procuram a Terapia Relacional Sistêmica

Semelhante à terapia familiar, o casal é um sistema. Ambas as partes recebem informações objetivas de seu padrão de funcionamento como uma dupla e são encorajadas a fazerem movimentos de mudança. Eles também precisam enxergar o padrão de funcionamento um do outro. 

A partir desta compreensão, o casal consegue usar o relacionamento como fonte de crescimento pessoal e emocional em vez de sofrimento e frustração. 

A terapia permite que os casais desenvolvam um olhar mais aguçado não apenas sobre seu papel dentro do sistema, mas sobre o amor, o namoro, o casamento, as brigas, a comunicação, os momentos de carinho, e outros aspectos.  

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta