A neurose é um quadro clínico atípico definido por sentimentos e emoções negativas. Há diversos tipos de neurose que podem afetar uma pessoa. Os indivíduos neuróticos possuem grandes apreensões sobre tudo a sua volta. Além disso, são emocionalmente vulneráveis e não reagem bem a mudanças ou críticas.
Você já deve ter ouvido alguém falar “é uma neura minha”. Popularmente, a palavra neura é usada como uma gíria para classificar um comportamento ou problema atípico. Por exemplo, pessoas que são impecáveis na organização ou que se preocupem demais com afazeres diários e profissionais.
Embora o conceito de “neura” utilizado pelas pessoas no dia a dia não esteja totalmente alinhado com as definições da psicanálise, um fator está totalmente correto em ambos: a preocupação excessiva. Esta é muitas vezes originada de vestígios do passado que nos perseguem em todas as novas situações.
O agravamento dos sentimentos e emoções negativas que constantemente atingem os neuróticos pode causar transtornos mentais, como depressão, ansiedade e fobias.
Todavia, para compreendermos a totalidade deste quadro clínico, precisamos embarcar em uma viagem pela história da psicanálise e da classificação dos transtornos mentais.
Este termo costumava ser utilizado para se referir a distúrbios psicológicos e doenças nervosas, como Alzheimer e Parkinson, as quais interferem na personalidade. Foi usado pela primeira vez em 1769, pelo médico escocês William Cullen. Ele acreditava que essas patologias estavam associadas à má gestão emocional.
Todavia, em 1893, Sigmund Freud redefiniu o conceito para fazer referência à forma como as pessoas relacionam-se consigo mesmas e como reagem à vida.
A neurose é um dos pontos principais da psicanálise freudiana. Freud acreditava que a angústia e sofrimento são causados pelo inconsciente. São as perturbações preservadas nele que alimentam este estado psíquico.
Ele definiu três categorias de psiconeuroses, transtornos emocionais enraizados em traumas de infância: neuroses atuais (resultantes de impedimentos da satisfação sexual), neuroses de transferência (mecanismo de defesa, como histeria ou fobia) e neuroses narcísicas (quadros psicóticos).
Porém, este termo já era compreendido há muito tempo. Pelo menos, como uma definição inicial de comportamentos considerados anormais.
Pessoas ansiosas, nervosas e depressivas eram vistas como um empecilho para a sociedade e para si mesmas. Assim, suas condutas incomuns eram interpretadas como desordens mentais incuráveis, definidas como neuroses.
Ao longo da história, foram levantadas diversas hipóteses sobre a origem da neurose. Freud acreditava que esta surgia de um conflito entre o eu e o id, sendo que as necessidades do eu devem ser protegidas a todo custo dos impulsivos irracionais do id.
Ou seja, o nosso eu, a nossa personalidade, devem se manter afastados das vontades impulsivas (gritar com o chefe, agredir alguém no trânsito) que não condizem com a realidade.
Outra teoria é que a neurose está relacionada a um conflito psíquico possivelmente originado na infância. Este conflito é recalcado o que, na psicanálise, é o fenômeno que atua como mecanismo de defesa contra ideias que sejam prejudiciais ao eu. Em outras palavras, são situações, memórias ou sentimentos que nós reprimimos para proteger a nós mesmos.
Quando o neurótico passa por uma situação negativa que afeta a sua saúde mental, ele procura substituir o evento passado com uma realidade mais satisfatória. Neste mundo fantasioso, ele procura aliviar suas angústias e satisfazer seus desejos. Mas, como este não é real, existe o conflito entre a fantasia e a realidade.
Logo, as causas da neurose são diversas e sujeitas de investigação psicológica para determinar fatores específicos.
Com a expansão da psicanálise, foram surgindo vários tipos de neurose. Após a morte de Freud, diversos psicanalistas, como Winnicott e Kohut, desenvolveram novas versões das neuroses com base no self – representação do “eu”.
Porém, primeiramente, devem ser compreendidas as definições criadas por Freud, pois essas foram base para muitos estudos e novas classificações dentro da área.
Além dessas três, há diversos tipos de neurose. Veja algumas abaixo:
Originada de acontecimentos violentos ou assustadores que deixam marcas no emocional da pessoa.
Caracterizado por ideias compulsivas que tomam conta da pessoa, como de limpeza e de perigo. Assim, a pessoa fica sempre alerta para as situações que lhe trazem desejo de compulsão. É o caso da hipocondria e do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Presença de uma fobia ou medo de locais, objetos, situações e pessoas. Comportamentos de esquiva, isolamento social e de fuga são comuns. É constante o desejo de se livrar da situação indesejada.
Relacionado ao desejo de chamar atenção e de conquistar a piedade alheia, ou a pacientes que são incapazes de encontrar a verdadeira causa de suas frustrações. Ao estudar esta neurose, Freud notou também frequência maior nas mulheres. Ele defendia que pacientes que apresentavam histeria tinham sofrido algum abuso sexual.
Sofrimento derivado de consecutivas situações de fracasso.
Repetição de situações infelizes, muitas vezes causadas pelos próprios indivíduos. As pessoas não percebem que estão causando essa repetição por estarem alheias aos seus próprios comportamentos.
Quando se fala em neurose, muitas vezes entra o assunto da psicose. Todavia, ambos são muito diferentes. A psicose é um transtorno mental em que as pessoas interpretam a vida de maneira distinta, podendo resultar na perda de contato com a realidade.
Na verdade, a psicose não é uma doença, mas um sintoma de outros transtornos mentais, como a esquizofrenia.
Durante um surto psicótico, a pessoa experimenta uma perturbação dos sentimentos e de seus pensamentos. Possui dificuldades para entender o que é real e o que é um delírio (crenças fortes e atípicas que não são compartilhadas pelos demais) ou alucinação (a pessoa vê ou ouve coisas que não estão lá).
Já os muitos tipos de neurose resultam de uma perturbação emocional contínua que pode afetar a vida da pessoa em pequena ou grande escala dependendo do caso. Embora a realidade também seja afetada por pensamentos e crenças equivocadas, a interpretação do neurótico não chega a ser influenciada por alucinações.
A instabilidade emocional e preocupação em excesso com determinados objetos e cenários são características intrínsecas da neurose. A pessoa neurótica imagina um resultado desastroso de uma situação simples, frustrando-se com seus próprios pensamentos ruins e explodindo com quem está próximo.
Logicamente, a fantasia nesses casos raramente se concretiza. O sofrimento antecipado é, então, em vão. Sua única utilidade é trazer ainda mais angústia e aflição para o paciente.
Alguns sintomas da neurose são:
Eventualmente, as pessoas neuróticas se tornam intolerantes com experiências sociais os quais consideram desagradáveis. Por conta de suas reações excessivas aos eventos cotidianos, passam a ser indesejadas pelos demais.
Vale resaltar que o termo “neurótico” passou a ser costumeiramente usado para se referir a pessoas com determinadas condutas desgostáveis. Algumas pessoas até mesmo se referem a si mesmas como neuróticas por gostarem de limpeza ou organização. Porém, esta expressão coloquial é diferente da definição clínica de neurótico.
Com o passar das décadas e aparecimento de grandes eventos históricos, como as guerras mundiais, a psicologia e a psicanálise foi se desenvolvendo. Os profissionais passaram a ter maior entendimento das neuroses.
A partir da publicação do DSM-5, manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais, em 2013, os tipos de neurose foram desmembrando-se em diversos transtornos para melhorar o tratamento desses. Assim, a terminologia neurose foi substituída pelos termos transtorno depressivo, transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, transtornos dissociativo, etc.
As neuroses são tratadas com psicoterapia e/ou psicanálise. A abordagem cognitiva-comportamental é a mais recomendada para o tratamento, pois trabalha na forma como a pessoa vê, sente e pensa em relação ao sofrimento e a dor emocional.Gostou do post? Então assine nossa newsletter para receber, em sua caixa de emails, notificações de nossos conteúdos e novidades!
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