Quais são os transtornos mentais comuns no trabalho e como preveni-los?
3 de janeiro de 2024
Tempo de leitura: 13 minutos“A definição de insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Essa frase conhecida do físico alemão Albert Einstein torna explícito o contexto de saúde nas organizações.
Uma pesquisa da Infojobs mostrou que 86% das pessoas mudariam de emprego por motivos relacionados à saúde mental.
Além disso:
61% não se sente feliz ou satisfeito no trabalho e
78% conhece alguém que já precisou se afastar por adoecimento psicológico.
A verdade é que jogamos a sujeira da saúde mental por tanto tempo que agora estamos com sérias dificuldades para sair dessa realidade à beira do impossível.
Mas, alguma coisa precisa ser feita. Você já se perguntou, por exemplo, quais são os transtornos mentais mais comuns?
Neste artigo, vamos de mostrar:
Quais os transtornos mentais comuns no trabalho?
O bem-estar psicológico dos colaboradores tem sido uma preocupação crescente.
Inclusive, o Ministério da Saúde acabou de atualizar a lista de doenças relacionadas ao trabalho. O número praticamente dobrou: antes existiam 182 doenças e agora são 347.
Entre as que foram adicionadas estão a síndrome de burnout e transtornos psicológicos como o estresse grave, o abuso de álcool, café e drogas ilícitas e ainda a tentativa de suicídio.
Veja, a seguir, os transtornos mentais mais comuns na população brasileira ativa.
Ansiedade
A ansiedade é o transtorno mental mais comum no Brasil. Ela afeta 26% das pessoas, segundo o levantamento nacional da Covitel 2023, focado em doenças crônicas não transmissíveis.
Mas, além disso, é importante considerar a subnotificação que sabemos que existe.
Tanto pelo estigma ainda vivo em relação à saúde psicológica quanto pelo fato de que muitas pessoas ainda desconhecem o diagnóstico, logo, não conseguem ligar os sintomas ao transtorno.
Isso compõe um ciclo vicioso, já que a postura mais comum é se envergonhar por achar que está “louco” ou ver o outro com estigmatização e preconceito.
Não por acaso o Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
E, também de acordo com a OMS, a ansiedade é mais prevalente em países onde há mais desigualdade social, violência e outros fenômenos que podem afetar gravemente o bem-estar das pessoas.
Imagine só a mente de uma pessoa que tomou um café da manhã com calma numa casa ampla e com área verde em volta; e, por outro lado, a de outra que divide uma casa de 30m² com a esposa, três filhos e ainda passou por uma batida policial antes mesmo de pegar o ônibus para trabalhar.
Duas realidades radicalmente diferentes têm efeitos opostos na química cerebral e, consequentemente, no estado mental.
Depressão
Apesar de ter um componente genético, cada vez mais a ciência descobre que os fatores ambientais têm uma influência enorme no desenvolvimento desse transtorno tão comum.
Como uma doença psiquiátrica, seu tratamento é multidisciplinar de médio a longo prazo. além dos remédios, a psicoterapia é fundamental para averiguar a origem do transtorno e ainda mudanças no estilo de vida podem ser necessárias.
A cada ano, a ansiedade e depressão geram um déficit de US$1 trilhão para empresas do mundo todo, segundo a OMS.
Casos de depressão ainda aumentaram 45% com a pandemia, de acordo com uma pesquisa da Covitel. A falta de socialização, o luto de pessoas queridas e o medo diante de um futuro incerto são algumas das prováveis causas.
Tentativas de suicídio
Também é fundamental considerar que o aumento da depressão está relacionado como crescimento do suicídio e das tentativas de suicídio no Brasil, já que a maioria das pessoas que tenta tirar a própria vida tem depressão.
Em uma década, é notável que a taxa aumentou 43%, como afirma o Conselho Federal de Medicina, e que ela continua subindo nas Américas, apesar de ter diminuído no resto do mundo.
Uma mistura que pode ser letal também é o transtorno depressivo ou de personalidade com o abuso de substâncias como álcool e/ou drogas ilícitas, que também aumentou nos últimos anos.
Atualmente, são 6 milhões de pessoas no Brasil fazendo uso abusivo do álcool. Segundo as normas da OMS, mais do que 10g de álcool por semana, ou seja, 5 latinhas de cerveja (350ml) já é considerado abuso desta substância.
E tanto o abuso de álcool como a tentativa de suicídio podem ser relacionados com o trabalho, como nos mostra a lista atual do Ministério da Saúde.
Estresse ocupacional
No Brasil, 70% das pessoas economicamente ativas estão estressadas, segundo dados da International Stress Management Association (ISMA-BR). E, uma pesquisa realizada por nós, da Vittude, mostrou que 37% delas convive com níveis graves de estresse.
Todos esses dados mostram uma realidade que não pode mais ser escondida: estamos vivendo de maneira insustentável. Nossa fisiologia está pedindo socorro.
É notável que outros hábitos negativos têm sido adotados para lidar com o estresse, como o uso abusivo de álcool. Ou seja, a saúde em geral vai sendo deteriorada. E uma das principais origens desse fenômeno está justamente no trabalho.
Altos níveis de estresse podem gerar casos de burnout, que acontece quando todos os limites do corpo já foram ultrapassados.
Síndrome de burnout
A síndrome do esgotamento profissional não é mais considerada um transtorno pela OMS, mas merece um espaço aqui tanto pela sua alta prevalência
quanto pela sua definição.
De acordo com esta mesma organização, a burnout é uma síndrome decorrente do estresse ocupacional crônico não gerenciado com sucesso
Também é importante mencionar que ela atinge 30% dos trabalhadores brasileiros. assim, tem uma frequência tão alta que somos o segundo país com mais casos no mundo todo.
A maior característica da doença é a exaustão em relação ao trabalho. E, sem, isso é real! Não é desculpa para não trabalhar. Infelizmente esse é um discurso que ainda ronda os corredores das empresas e precisa ser desmentido.
Por isso contar com excelência em saúde mental é cada dia mais importante.
Aliás, veja que a depressão não tratada pode levar ao suicídio assim como o estresse ocupacional pode gerar um burnout. Por isso, a prevenção é essencial!
Como eles afetam a rotina de trabalho?
É desnecessário dizer que transtornos como esses podem afetar gravemente a saúde mental das pessoas que são colaboradores na sua empresa.
Afinal, nosso sistema nervoso é um só e regula nosso comportamento, que é afetado pelo processamento de situações externas assim como as sensações e sentimentos provocados por elas.
Inclusive, do ponto de vista da empresa, existem diversas consequências preocupantes. Algumas delas estão listadas abaixo.
Mas, além disso, é preciso considerar os seus malefícios para a vida dos trabalhadores, que podem ser irreversíveis e até torná-los incapazes profissionalmente. Por isso, cada vez mais a postura institucional, no Brasil e no mundo, é de mostrar como essa é uma responsabilidade compartilhada.
E que gera sanções cada vez maiores quando a empresa não faz a sua parte.
Queda da produtividade
Não há como produzir da mesma maneira com a saúde mental alterada. Ela afeta a cognição, a memória, a capacidade de aprendizagem, a interação social e uma série de outros aspectos.
Aliás, uma pessoa nem precisa ter um transtorno. Quem nunca perdeu a capacidade de focar no trabalho diante de um problema em casa ou a preocupação com uma questão de saúde de uma pessoa querida?
Não por acaso, de acordo com uma pesquisa da OMS, uma empresa recebe um retorno quatro vezes maior, relacionado justamente com ganho de produtividade, quando investe em saúde mental.
Mudança de comportamento
Como já foi dito, a saúde mental influencia diretamente o comportamento. Pessoas que estão atravessando transtornos, como ansiedade ou depressão, podem se isolar, ficar mais impacientes, mais sérias, etc.
Tudo isso impacta fortemente os relacionamentos, tanto no trabalho como na vida pessoal. E pode gerar mais situações de conflito entre os colegas, afetando o clima organizacional em geral.
A pior reação da empresa seria culpar uma pessoa que já está adoecida.
Mas é o que acontece quando não existe uma maturidade em relação a transtornos psicológicos. O ideal é que a empresa monitore essa pessoa e ao mesmo tempo discuta internamente o que pode ser feito para ajudar o colaborador.
Melhor ainda é quando isso não fica só sob responsabilidade do RH ou dos gestores de saúde, mas quando os gestores da empresa colocam isso na pauta do dia. Até porque, esse cuidado exige investimento e, sem isso, a situação tende a virar uma bola de neve.
Facilmente a saúde mental de outras pessoas também será afetada e um problema de resolução não tão complexa pode ficar muito mais difícil de resolver. Além de ir impactando negativamente a empresa cada vez mais, através de absenteísmo, afastamentos, FAP e RAT aumentados e até processos judiciais.
Presenteísmo
Outra característica bastante comum e que está ligada com a queda da produtividade é o presenteísmo. E, ao contrário do que se pensa, este pode afetar a empresa muito mais do que o absenteísmo.
Ele acontece de maneira silenciosa. Afinal, você vê o colaborador indo ao trabalho, muitas vezes nem sequer se atrasando, então acha que ele está trabalhando “normal”. Mas, só a partir da análise de produtividade e engajamento, quando estes são feitos, é que se começa a perceber esta queda.
Muitas vezes, isso pode demorar meses até ficar claro. E, mais uma vez, a melhor iniciativa não é cobrar o colaborador, mas perguntar se ele está com algum problema em casa e como a empresa pode ajudá-lo.
Veja que essa é a conduta de quem assume a responsabilidade e está disposta a fazer a sua parte pelo bem-estar das pessoas que compõem a equipe.
O que fazer para evitar que se manifestem?
A melhor estratégia relacionada à saúde física e mental é sempre a prevenção, como já foi dito. Depois que uma doença ou um transtorno mental se instala, a recuperação é muito mais difícil.
Obviamente, o sofrimento também é muito maior e isso afeta não só a pessoa adoecida, como suas relações, o que só aumenta a intensidade dos sintomas.
Por isso, vamos te mostrar algumas das medidas que são fundamentais para prevenir este quadro e também para que, pouco a pouco, o cenário interno das empresas, junto ao cenário social como um todo, vá melhorando e um futuro seja possível.
Combater o estigma
O primeiro passo é entender como os colaboradores veem a saúde mental.
Isso porque boa parte dos brasileiros ainda percebem mesmo os transtornos mentais mais comuns como “coisa de gente louca” e mantendo uma visão preconceituosa, de exclusão e higienismo.
A verdade é que essa visão não patologizante sobre o tema é muito recente. Afinal, a internação compulsória de pessoas que, muitas vezes, nem sofriam de transtornos mentais, só foi abolida há menos de 50 anos atrás.
Ou seja, ainda há muito trabalho para ser feito. Para a maioria ainda é difícil entender que ter um distúrbio psicológico não é motivo para vergonha ou culpa. Ao contrário, é algo que requer tratamento especializado como qualquer doença.
Por isso, o primeiro passo é fazer rodadas de conscientização e sensibilização com todos os colaboradores, independente do seu nível hierárquico. Aliás, os líderes são os primeiros que precisam ser treinados, já que são responsáveis por times de pessoas.
Estruturar um plano com workshops, palestras, rodas de conversa e outros eventos sobre o assunto é importantíssimo. Quando são identificadas as questões mais urgentes, melhor ainda. Porque melhores serão os resultados.
Mudança na cultura empresarial
Mudar a forma de pensar a saúde mental através das atividades citadas acima já é um começo, mas também é preciso revisar práticas que podem ser abusivas e tóxicas.
Fazer reuniões na hora do almoço, abusar de horas extras, sobrecarregar os colaboradores com demandas que não estão nos seus contratos, microgerenciá-los, normalizar assédio entre muitas outras podem estar fazendo a empresa sangrar.
É claro que o cenário ideal não existe. Mas, justamente por isso, devemos pressupor que sempre existem questões para serem melhoradas.
Você sabe quais são as principais queixas dos colaboradores em relação à organização? Se não sabe, já passou da hora de procurar entendê-los melhor. Analisar indicadores como turnover e clima organizacional é super importante.
Melhor do que isso é instituir um diálogo saudável. Porém, caso não seja possível, fazer pesquisas anônimas pode ajudar também.
Oferecer psicoterapia
Depois que a consciência e sensibilidade dos colaboradores com relação aos transtornos mentais, comuns e raros, já melhorou – e você conseguiu mensurar isso – é interessante que eles possam fazer sessões semanais de psicoterapia.
Isso precisa vir depois das outras etapas, porque, do contrário, não terá eficácia. Se a visão for muito negativa sobre o processo psicoterapêutico, eles não vão aderir ao benefício. Se as mudanças não ocorrerem na empresa, mesmo que eles realizem as sessões, não fará muita diferença.
Mas, não significa que é algo sem importância.
Contar com a escuta de qualidade de um psicólogo especialista na questão que o colaborador tem interesse em trabalhar é uma das principais ferramentas para a melhora do autoconhecimento, do bem-estar psicológico e de tudo o que se relaciona com sua saúde mental. Inclusive o engajamento no trabalho!
A Vittude é a empresa líder em saúde mental corporativa do mercado.
Já são mais de 650 mil vidas impactadas através de parcerias com grandes empresas como o Grupo Boticário, Vivo, Ambev, L’óreal Brasil, entre outras.
Tenha acesso ao nosso ecossistema de saúde mental, com acesso a diagnósticos de saúde mental, atividades educacionais, plataforma online de psicoterapia e uma gestão de dados para tornar os resultados cada vez mais assertivos.
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