Como yoga contribui para sua saúde mental?
8 de outubro de 2020
Tempo de leitura: 17 minutosÉ fato: saúde física e mental andam juntas. Exercícios aeróbicos e uma rotina regrada de caminhadas, alongamento e até musculação são recomendados com frequência para apoiar o tratamento de transtornos mentais. Entre essas atividades, talvez yoga seja a que melhor une os dois mundos.
Leve e simples para quem deseja começar e intensa após certo tempo de experiência, a prática pode realmente fazer a diferença na vida de quem está com problemas emocionais. Inseri-la no dia a dia traz uma consciência única do corpo, da respiração e do lugar que ocupamos no universo, além de expandir os horizontes em relação ao autoconhecimento e superação dos limites mentais, físicos e espirituais.
Isso porque yoga vai muito além do trabalho com o corpo, que inclui até mesmo os órgãos internos. O ritual, na verdade, é uma verdadeira filosofia repleta de emoções, sensações e energias que fluem por meio de posições específicas, relaxamento, meditação e reflexões profundas.
Quer saber mais sobre a prática e como ela pode ajudar também na saúde mental? Confira o artigo que preparamos!
O que é yoga?
Yoga, por definição, vai muito além da prática. Na verdade, trata-se de uma filosofia de vida que surgiu na Índia e existe há aproximadamente 5 mil anos. Ela extrapola os exercícios e atinge todas as esferas do cotidiano.
Portanto, para entender realmente o que é o termo, é importante se questionar primeiro sobre os motivos de ele existir e as razões pelas quais esse modo de viver rege o dia a dia de tantas pessoas. A ideia aqui é muito mais curtir os momentos do que efetivamente atingir um objetivo.
Envolve o preenchimento do vazio interno que todos temos, e não pode ser ocupado por nada físico ou espiritual prontamente ao nosso alcance. É necessário desenvolver o que preencherá esse espaço dentro do corpo e da mente.
Existem diversas linhas de yoga, cada uma com seu foco, e não necessariamente envolvendo a parte física da atividade. Enquanto algumas priorizam os fluxos energéticos do corpo, há a Jnana Yoga, que envolve o estudo das escrituras e a Bhakti, por exemplo, que foca na devoção, rituais e cantos, entre outras.
O nome vem da palavra “yuj”, que em sânscrito significa unir, ou integrar. Isso pode se referir à união entre a consciência individual e o universo (consciência cósmica), quanto entre o nosso corpo, mente e espírito. Voltando à prática física, isso é feito por meio das posturas, que estimulam a meditação, reflexão e respiração.
A base da filosofia e “O Yoga de 8 partes”
A raiz dessa filosofia aponta Patanjali (o Pai do Yoga), um sábio indiano, que fundamentou e sistematizou as bases do yoga em oito partes, escritas em pequenos textos chamados de Yoga Sutras (196, mais precisamente). Esse conjunto é chamado de ashtanga.
Os passos são os seguintes:
1. Yama (ou Disciplina)
Independentemente da linha, a yoga precisa dos yamas, que nada mais são do que preceitos que envolvem a conduta ética e o caráter por trás da filosofia. De acordo com os praticantes, sem essas orientações voltadas para o convívio agradável perante a sociedade e consigo mesmo é impossível tranquilizar a mente e chegar à alma.
Os yamas são divididos em cinco partes:
- Ahimsa (Não-violência) — é necessário evitar não só o mal em relação aos outros, mas também voltado para si mesmo;
- Satya (Verdade) — honestidade acima de tudo. Mentiras exigem desculpas, que ocupam um espaço importante dentro da memória, e fazem com que a mente perca tempo e potencial com detalhes que não são úteis para o autodesenvolvimento;
- Asteya (Não roubar) — também toca no que diz respeito a invejar os bens de outras pessoas. É uma menção ao desapego, já que o apego ao que é material, bem como roubar, causa perturbações na mente, que podem afastar do crescimento quem pratica a filosofia;
- Brahmacharya (Continência) — moderação em todos os aspectos da vida, desde a alimentação ao sexo. Comer muito e ter relações sexuais com diversas pessoas vai contra o preceito, por exemplo;
- Aparigraha (Não cobiçar) — o sentimento possessivo pode gerar sofrimento e angústia, já que a felicidade é constantemente condicionada a ele. É importante entender que tudo que é material é nosso temporariamente, pelo tempo em que estamos aqui. Por isso, saber usufruir está acima de possuir;
2. Niyamas (Autodisciplina)
Os niyamas estão ligados às atitudes e ações que o praticante do yoga deve apresentar e priorizar ao viver consigo mesmo. Há quem diga, inclusive, que é possível saber a disciplina de alguém para a filosofia somente verificando essas ações. Assim como os yamas, também são divididos em cinco partes:
- Saucha (Pureza) — basicamente, envolve manter o corpo limpo. Alimentação saudável, evitar álcool e tabagismo e praticar as posições do yoga. Entretanto, também envolve a mente, que deve estar livre de sentimentos perturbadores, como os que são apontados nos yamas;
- Santosha (Contentamento) — a felicidade deve existir apesar dos componentes externos da vida ou de outras pessoas. Para ela, deve bastar somente o estado de paz interior e sua manutenção, sendo que ambos dependerão somente do praticante;
- Tapas (Austeridade) — é a disciplina que necessitamos para atingir nossos objetivos, a força de vontade que ultrapassa as dificuldades. Necessário para chegar à auto-realização buscada pelo yoga;
- Swadhyaya (Estudo de si mesmo) — entender o yoga e a si próprio utilizando a literatura sagrada da filosofia. Basicamente é a procura pelas habilidades que permitirão o autoconhecimento e a compreensão sobre a própria natureza;
- Ishvara Pranidhana (Entrega à vida) — após os passos acima, há o reconhecimento de que o praticante pode, então, se entregar àquilo que está acima dele em termos espirituais. Passa pela aceitação de que há um ser divino, ao qual nossa essência está ligada. Neste estágio, já é possível seguir o caminho da devoção.
3. Asanas (Posturas)
As posturas são a parte mais conhecida da prática do yoga, e envolvem efetivamente a parte física da filosofia. Elas influenciam, principalmente, nos sistemas endócrino e nervoso, estimulando até mesmo o funcionamento de alguns outros órgãos internos.
Apesar de físicas, as posturas têm como principal natureza o trabalho com a mente, favorecendo a concentração e a conexão com posições que não são comuns para o ser humano em seu dia a dia por meio do estímulo de músculos e partes do corpo que normalmente não são cuidadas.
O objetivo é abrir caminho sem obstáculos para as energias, em conjunto com a reflexão e o domínio da a consciência, a fim de ampliá-la pela união entre corpo e mente. Dessa maneira, torna-se mais simples lidar com as inquietações e os aspectos frágeis dos pensamentos. O yoga oferece, em médio ou longo prazo, habilidades para que seja possível conviver melhor com os problemas que afetam o emocional, e até reduzi-los.
4. Pranayama (Controle da força/energia vital)
O pranayama envolve o controle e expansão de toda a energia vital pelo trabalho feito com a respiração. Ao reduzir o ritmo das inspirações e expirações, é possível passar essa calma para a mente. Além disso, concentrar-se em como está respirando tira sua mente de todos os outros aspectos à sua volta.
Para que o pranayama seja feito, é muito importante levar em conta os quatro passos: inspirar, manter o ar nos pulmões, expirar e segurar os pulmões vazios por um tempo.
Esse tipo de exercício está aliado às práticas do yoga, principalmente nos asanas, e não só melhora a capacidade respiratória como influencia positivamente no sistema nervoso e harmoniza as sensações do corpo e da mente, mantendo-os em um ritmo comum.
5. Pratyahara (Abstração dos sentidos)
O quinto passo está diretamente relacionado à meditação. É o ato de deixar os sentidos em segundo plano e mergulhar na mente, esquecendo o externo e trazendo a prática para dentro de si. É, em suma, ouvir e perceber somente a própria intuição.
Com isso, é possível evitar os pensamentos desordenados e organizá-los com mais tranquilidade e eficiência, já que constituem um dos principais fatores que impedem o indivíduo de meditar com total dedicação.
6. Dharana (Concentração)
O Dharana tem como objetivo evitar as flutuações mentais, e embora seja parecido com o Pratyahara, se refere especificamente à concentração que é necessária para abrir caminho rumo à prática meditativa.
Ações como cantar mantras, manter os olhos fixos em algum local ou repetir partes de cantos pode ajudar. No início é difícil conseguir o foco máximo em termos de concentração, mas o treino leva à melhor experiência.
7. Dhyana (Meditação)
O Dhyana é a meditação propriamente dita. Após o Pratyahara e o Dharana, é possível meditar de maneira completa e atingir os objetivos da prática em sua totalidade. A mente está dominada por você, e o controle de seus pensamentos é totalmente acessível.
8. Samadhi (Hiperconsciência)
O último passo é quando os níveis mais profundos da consciência se abrem para o praticante. Há quem diga que é nesse momento que ocorre a iluminação e a alma finalmente se liberta, permitindo preencher o vazio que todos sentimos.
Aqui, há a compreensão de quem o indivíduo é no universo, e de como sua existência se une ao que é cósmico e espiritual.
Como o yoga pode contribuir para a melhora da saúde mental?
Agora que você entende um pouco mais sobre a prática do yoga, provavelmente percebeu que muitos aspectos dessa filosofia estão ligados ao tratamento de transtornos psicológicos. A união entre o exercício físico e o mental é especialmente importante, e é encontrada nas posições e preceitos priorizados em todos os detalhes do yoga.
É reconhecido o potencial que a prática de todas as etapas, em especial os ásanas e as meditativas, tem para auxiliar nas questões emocionais, já que trazem bem estar, uma maior sensação de presença no tempo de agora e uma maior conexão com o corpo. Isso sem falar, claro, na grande evolução em termos de autoconhecimento!
Naturalmente, a prática, sozinha, não é o suficiente para tratar nenhum tipo de transtorno. Porém, unir o yoga a um acompanhamento psicológico/psiquiátrico, por exemplo, pode ser uma ótima chance de buscar a solução para diversos transtornos.
Veja alguns detalhes sobre como a prática ajuda diretamente em alguns casos, e como você deve fazer para aproveitar esses benefícios!
Yoga para ansiedade
A ansiedade está diretamente ligada a uma conexão disfuncional entre a nossa mente e os acontecimentos que estão à volta dela. É algo relacionado ao controle do medo e da sensação de ameaça. Quem sofre com o transtorno pode ter diversos sintomas, dentre os quais se destacam a taquicardia, suor excessivo, respiração descompassada e falta de concentração.
Os sinais da ansiedade têm a ver com nosso estilo de vida, que normalmente deixa de lado o “olhar para dentro” e o autocuidado em prol da rapidez e da eficiência cobrada pelas diversas esferas presentes em nosso cotidiano. Sendo assim, uma prática que fará com que nos deixemos mergulhar em nós mesmos é algo que se mostra efetivo.
Com a prática do yoga, é possível modificar a maneira como lidamos com essas emoções e, além disso, começar a controlar a respiração com mais tranquilidade, aquietando a mente e todo o corpo.
Essa consciência elevada faz com que se tenha mais cuidado e prazer com tudo, incluindo a alimentação. As escolhas são feitas com mais calma e análise, por meio de reflexões mais profundas sobre quem somos e porque queremos aquilo, sempre priorizando nosso próprio bem estar.
É importante pensar que a mente segue o ritmo da respiração, então, ao controlar a entrada e saída de ar de seu corpo por meio do Pranayama e dos ásanas, o praticante passa a ter também mais facilidade para domar os pensamentos e se fazer mais presente no agora — o que é muito importante, já que na maioria das vezes a ansiedade perturba nossa mente nos fazendo pensar no que já aconteceu, ainda vai acontecer ou talvez nem aconteça.
Como realizar a técnica básica de respiração?
Sente em uma posição confortável, cruzando as pernas e mantendo a coluna ereta. Leve as mãos ao peito, uma sobre a outra. Os polegares devem estar cruzados e encostados no coração.
Levando em conta os 4 passos do Pranayama, (inspirar,segurar,expirar, manter os pulmões vazios por um tempo), faça a seguinte sequência:
- inspire e expire pelas narinas;
- inspire e expire pela boca;
- inspire pelo nariz e expire pela boca;
- inspire pela boca e expire pelo nariz.
Uma dica: sempre que for usar a boca para a respiração, deixe seus lábios em uma posição como se fosse assobiar.
Vale lembrar que essa sequência de controle da entrada e saída de ar não necessariamente precisa estar aliada a uma prática maior, com ásanas e meditação, mas é uma boa ideia para momentos em que seja necessário se acalmar para evitar crises ou até mesmo controlá-las.
Caso tenha interesse e queira, entender como meditar pode ser uma ótima maneira de continuar esse exercício, e então caminhar mais fundo no conhecimento sobre o yoga e suas formas de prática.
Yoga para depressão
No caso da depressão, os benefícios que o yoga tem para a ansiedade também se aplicam. Afinal, ela também pode aparecer em quadros depressivos. Entretanto, um outro ponto importante deve ser reforçado aqui, que é a questão hormonal.
Como se sabe, em muitos momentos a depressão envolve aspectos químicos, e um deles é o hormonal. A desregulação dos hormônios pode ser um fator crucial para o desenvolvimento da depressão, e o yoga pode ajudar muito nesse sentido.
Isso porque uma prática regular dos ásanas, aliada à meditação e às técnicas de respiração estimula a tireóide e, assim, amplia a produção e liberação de hormônios como a serotonina, a propamina e a endorfina, que além de aumentar a oxigenação do sangue ainda relaxam os músculos e trazem uma sensação de bem-estar.
O autoconhecimento oferecido pela prática também é um importante detalhe que auxilia na melhora dos sintomas da depressão. A autoestima é melhorada, porque o praticamente passa a se enxergar de outra maneira, o que diminui sua insegurança em relação a si mesmo principalmente em questões físicas, já que a mente passa a ser o ponto mais importante.
Esse cenário todo, incluindo um maior equilíbrio entre o corpo e a mente, faz com que a pessoa passe a ser mais aberta ao convívio social. Isso evita o isolamento, que é um sintoma comum da depressão.
Ao frequentar as aulas de yoga, por exemplo, haverá um compartilhamento de toda aquela energia e pensamentos em comum, e essa sensação agradável de pertencimento pode ajudar a tirar a pessoa da vida isolada que pode estar levando.
Yoga para estresse
Sendo uma prática tão tranquila e calma, os benefícios para a redução do estresse são evidentes até mesmo ao ver como tudo funciona. De fato, controlar a respiração e ter alguns períodos para focar somente em você, entendendo o que acontece com suas emoções e se conhecendo, é excelente para acalmar os ânimos e reduzir os sintomas de uma vida estressante.
Entretanto, existem também os benefícios químicos, como no caso da depressão. Aqui, essa questão fica por conta da diminuição do cortisol, que ocorre quando você se concentra em reduzir os pensamentos que geram o estresse, mais negativos.
O yoga fará com que você avalie melhor os detalhes de cada momento, respire, medite e tente chegar a soluções sem impulsos e explosões de raiva que podem, na verdade, dificultar a clareza dos seus pensamentos.
Aprender a estar mais presente naquele lugar, naquele momento, amplia sua concentração e faz com que, antes de agir, você saiba como lidar com a questão. Há menos dispersão, e o foco é maior.
Redução da fadiga mental
Um dos maiores problemas quando falamos de estresse é o burnout, que pode surgir em situações nas quais o trabalho realmente nos desestabiliza e torna impossível viver de maneira plena. Casos como esse acabam por gerar um esgotamento excessivo, uma fadiga mental que nos faz perder completamente a paz e resolver desistir em muitos momentos.
Tanto a prática física das posições do yoga quanto a própria parte de respiração e meditação farão com que você tenha não só mais força para lidar com os desafios do dia, mas também a possibilidade de vislumbrar um futuro (ou até o momento atual) que case mais com seus objetivos.
É possível controlar a mente e tentar trabalhar para que a fadiga seja controlada. Antes que ocorra o esgotamento psicológico, o praticamente pode encontrar quais técnicas funcionam para que a situação torne-se mais estável e ele possa continuar seu dia de trabalho com menos dores de cabeça e estresse.
Isso sem falar na redução da tensão muscular, típica de casos de estresse severo, que também ocorre devido à prática física do yoga. Com menos dores, há menos fadiga mental e, claro, também em relação ao corpo.
Combine a yoga com o atendimento psicológico!
Entendeu como o yoga pode reforçar o seu tratamento psicológico e tranquilizar os sintomas dos transtornos mentais?
Agora, se você já pratica essa filosofia há algum tempo e está buscando novos horizontes em termos de autoconhecimento, seja para a melhora de algum transtorno ou simplesmente para que sua saúde mental seja ainda melhor, a ajuda de um psicólogo pode potencializar todo o cenário.
Um profissional como esse pode trabalhar ao seu lado para que você tenha uma jornada ainda mais bonita e particular de autoconhecimento, aceitação e compreensão de seu lugar no universo. Já pensou nessa possibilidade?
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