Anorexia nervosa: causas, sintomas e tratamentos disponíveis

A anorexia nervosa é um distúrbio alimentar caracterizado pela restrição persistente na ingestão de alimentos, pelo medo intenso de ganhar peso e por distúrbios no peso ou forma como indivíduo enxerga o próprio corpo.

Para algumas pessoas, restringir o consumo de alimentos e perder peso pode ser uma tentativa de coordenar áreas da vida que estão fora de seu controle. Sua imagem corporal distorcida pode comprometer sua saúde e auto-estima. Também pode ser uma maneira de expressar emoções percebidas como muito complexas ou assustadoras, como dor, estresse ou ansiedade.

As razões por trás do desenvolvimento de anorexia nervosa diferem de pessoa para pessoa. As causas conhecidas incluem predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais, sociais e culturais. Uma dieta muito restritiva e o excesso de exercícios físicos podem ser fatores contribuintes para o início da anorexia. Mulheres e meninas com anorexia podem apresentar comportamentos de dieta em uma tentativa de alcançar um “padrão de magreza” culturalmente construído, enquanto os homens podem exercitar-se e controlar sua dieta para conseguir um corpo muscular.

É geralmente aceito que a anorexia seja mais frequentemente diagnosticada em mulheres ao longo das idades. No entanto, estudos populacionais recentes sugerem que, em adolescentes, há um número igual de homens e mulheres que sofrem desta doença.

Definindo Anorexia Nervosa

Abastecimento energético restrito

Uma pessoa com anorexia é incapaz de manter o que é considerado um peso normal e saudável. É comum observar indivíduos anoréxicos perderem uma quantidade considerável de peso em um curto período de tempo.

Um medo de ganhar peso

Mesmo quando as pessoas com anorexia estão abaixo do peso, morrendo de fome ou desnutridas, elas ainda possuem um medo intenso de ganhar peso ou ficar com excesso de peso.

Imagem corporal distorcida ou perturbada

Quando alguém tem anorexia, a quantidade de atenção que colocada na imagem do corpo é enorme. A auto-estima do indivíduo pode se tornar inteiramente definida pela forma como enxergam o próprio corpo diante do espelho. Um anoréxico desenvolve uma visão distorcida do seu corpo. Eles visualizam sua própria imagem com excesso de peso quando, na realidade, eles estão perigosamente abaixo do peso.

Anorexia nas telas

O filme “O mínimo para viver”, produzido pela Netflix traz um alerta para os sinais da anorexia, distúrbio alimentar responsável por um uma alta taxa de mortalidade entre jovens.

O longa conta a história de Ellen, semelhante a de milhares de garotas e garotos que convivem com a anorexia. Ellen tem o hábito de calcular a quantidade correta de calorias de cada refeição. Quando ninguém está vendo, ela faz abdominais que provocam hematomas em suas costas, uma vez que seus ossos estão expostos pela falta de gordura corporal. Nas refeições, ela corta os alimentos em pedacinhos pequenos e os espalha pelo prato, a fim de enganar os pais e amigos de que está se alimentando de forma satisfatória. Ao invés de se alimentar bem, ela come cada vez menos.

Subtipos de Anorexia Nervosa

Existem dois subtipos de anorexia nervosa, e ambos são transtornos mentais muito graves que requerem tratamento.

Restrição alimentar

Pessoas com este subtipo impõem restrições severas sobre a quantidade e o tipo de alimentos que eles consomem. Isso pode se manifestar de maneiras diferentes, incluindo alguns ou todos os seguintes:

  • Restringir certos grupos de alimentos (por exemplo, carboidratos, gorduras);
  • Contar calorias em todas as refeições;
  • Pular refeições;
  • Impor regras obsessivas e pensamento rígido (por exemplo, comer apenas alimentos que são de uma determinada cor).

Esses comportamentos restritivos em torno de alimentos podem ser acompanhados por exercícios excessivos.

Anorexia nervosa e restrição alimentar

Compulsão alimentar

As pessoas com este subtipo também colocam restrições severas sobre a quantidade e o tipo de alimento que eles consomem. Além disso, a pessoa exibirá o comportamento de purga e também pode se envolver em compulsão alimentar. Compulsão alimentar envolve comer uma grande quantidade de comida e sentir uma “perda de controle”. O comportamento de purga envolve o vômito auto induzido ou o uso abusivo de laxantes, diuréticos ou enemas para compensar a ingestão de alimentos.

Quais são os sinais de alerta de Anorexia Nervosa?

A percepção precoce de um quadro de anorexia, seus sinais e sintomas pode fazer uma grande diferença na duração e gravidade da doença. Procurar ajuda ao primeiro sinal de alerta é muito mais eficaz do que esperar até que a doença esteja em pleno andamento. Se você ou alguém que você conhece está exibindo algum ou uma combinação desses sinais, é vital procurar ajuda e apoio o mais rápido possível.

Alguém com anorexia pode exibir qualquer combinação dos seguintes sinais de alerta:

Sinais físicos

  • Perda de peso rápida ou mudanças frequentes de peso;
  • Ausência ou alteração da menstruação em meninas e mulheres (amenorreia) e diminuição da libido em homens;
  • Desmaio ou tonturas;
  • Sensação de frio na maioria das vezes, mesmo em climas quentes (causado pela má circulação e também pela baixa gordura corporal);
  • Arritmia cardíaca e convulsões;
  • Sensação de inchaço, constipação intestinal ou o desenvolvimento de intolerâncias alimentares;
  • Sensação de cansaço, fadiga e esgotamento. Em algumas vezes acompanhada de alterações no sono, sono intermitente, onde há a sensação de não dormir bem;
  • Letargia (estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir) e pouca energia;
  • Mudanças faciais (por exemplo, olhos pálidos, afundados e olheiras);
  • Enfraquecimento de músculos e ossos;
  • Cabelo fino aparecendo no rosto e no corpo.

Sinais psicológicos

  • Preocupação excessiva com a alimentação, comida, corpo e peso;
  • Ansiedade constante e irritabilidade em torno das refeições;
  • Intenso medo de ganhar peso;
  • Dificuldade em manter um peso corporal normal para a sua idade e altura;
  • Depressão e ansiedade;
  • Capacidade reduzida de pensar e maior dificuldade de concentração;
  • Pensamento “preto e branco” (por exemplo, pensamentos rígidos sobre alimentos sendo “bons” ou “ruins”);
    Ter uma imagem corporal distorcida (por exemplo, se vê como excesso de peso quando eles estão realmente abaixo do peso);
  • Baixa autoestima e perfeccionismo;
  • Isolamento social;
  • Dificuldade ou indecisão para aceitar a busca por um tratamento psicológico;
  • Aumento da sensibilidade aos comentários relacionados com alimentos, peso, forma do corpo, exercício;
  • Insatisfação extrema da imagem corporal.
O excesso de preocupação com o peso é um dos principais sinais

Sinais comportamentais

  • Comportamento de dieta (por exemplo, jejum, contagem de calorias, evitando grupos de alimentos, como gorduras e carboidratos);
  • Uso indevido e deliberado de laxantes, supressores de apetite, enemas e diuréticos;
    Comportamentos repetitivos ou obsessivos relacionados à forma e ao peso do corpo (por exemplo, pesar-se todos os dias ou mais de uma vez ao dia, olhar-se no espelho obsessivamente, comprimir a cintura, utilizar cintas e modeladores);
  • Evidência de compulsão alimentar (por exemplo, desaparecimento ou acumulação de alimentos);
  • Comer em privado e evitar refeições na presença de outras pessoas;
  • Comportamento anti-social, passando cada vez mais tempo sozinho;
  • Manter segredos em torno dos hábitos de alimentação (por exemplo, dizendo que eles comeram quando não o fizeram, escondendo alimentos não consumidos);
  • Prática de exercícios físicos de forma compulsiva ou excessiva (por exemplo, exercitar-se em mau tempo, continuar a exercitar-se quando está doente ou lesionado e sofrendo emocionalmente quando a prática de exercício não é possível);
  • Alterações radicais nas preferências alimentares (por exemplo, excluem repentinamente do cardápio os alimentos que sempre tiveram no passado, relatando alergias ou intolerâncias alimentares, tornando-se vegetarianos, veganos ou lacfree);
  • Rituais obsessivos em torno da preparação e ingestão dos alimentos (comer muito devagar, cortar alimentos em pedaços muito pequenos, insistir que determinadas refeições sejam servidas exatamente no mesmo dia da semana);
  • Preocupação com a preparação de alimentos por outros, receitas e nutrição;
  • Comportamentos autodestrutivos, abuso de substâncias ou tentativas de suicídio.
Anorexia nervosa: mulher comprimindo a cintura.

Fatores de risco

  • Pressão social originidana de alto padrão estético, por vezes distorcido ou irreal, como comparar-se a modelos;
  • Presença de outros transtornos psicológicos como ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo;
  • Alteração na produção de hormônios;
  • Baixa autoestima;
  • Genética – presença de familiares com histórico do transtorno.

Quais são os riscos associados à Anorexia Nervosa?

Os riscos associados à anorexia são graves e podem ser fatais. Eles incluem:

  • Anemia (deficiência de ferro);
  • Comprometimento do sistema imunológico, ficando doentes com mais frequência;
  • Problemas gastrointestinais como gastrite, dor abdominal, constipação e diarreia;
  • Perda ou perturbação da menstruação em meninas e mulheres (amenorreia);
  • Aumento do risco de infertilidade em homens e mulheres;
  • Insuficiência ou falência renal;
  • Osteoporose – uma condição que leva deixa os ossos frágeis e facilmente fraturados;
  • Problemas cardíacos (arritmia, anormalidades cardíacas, parada cardíaca súbita);
  • Morte.

Tratamento

A eficácia do tratamento psicológico é clinicamente comprovada para reduzir a gravidade, impacto e duração da anorexia. Os objetivos a longo prazo do tratamento psicológico para a anorexia são reduzir o risco de comprometimento da saúde, incentivar o aumento de peso, comportamentos normais de alimentação saudável e exercício, com plena recuperação psicológica e física como objetivo final.

Idealmente, o tratamento das pessoas com anorexia é administrado de forma ambulatorial, com tratamento psicológico e monitoramento físico fornecido por profissionais de saúde, que possuem conhecimentos especializados em transtornos alimentares.

Trata-se de um tratamento multidisciplinar, que deve envolver o trabalho de médicos, psicólogo e nutricionista. O foco é iniciar uma conscientização, através de uma psico-educação e reeducação alimentar.

O principal objetivo é recuperar os quilos perdidos em função do transtorno e da baixa ingestão de calorias dos meses anteriores. Essa recuperação precisa ocorrer em um ritmo seguro de forma que o paciente recupere a sua saúde.

Já o psicólogo, trabalhará a questão da autoimagem e autoestima. É importante que o paciente desenvolva uma relação consciente com seu corpo e com a comida.

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Tratamentos psicológicos

É importante ressaltar que qualquer abordagem psicoterapêutica pode ser utilizada no tratamento de quadros de anorexia. Um fator relevante para determinar se você deve ou não trabalhar com um determinado psicólogo é o seu nível de conforto pessoal com o profissional.

Algumas abordagens têm se mostrado bastante efetivas no tratamento como a Análise do Comportamento, a Terapia Cognitiva Comportamental, a Psicologia Analítica, Terapia centrada na pessoa, assim como intervenções focadas na família e terapias de grupo. Os antidepressivos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS ou SSRI) ou antipsicóticos também podem ser usados para tratar a anorexia.

No entanto, é crucial observar que nenhuma medicação deve ser utilizada como único tratamento ou tratamento primário para anorexia. Em vez disso, ele deve ser usado em conjunto com a psicoterapia apropriada para o tratamento do distúrbio.

É possível a recuperação da Anorexia Nervosa?

Sim. É possível recuperar-se da anorexia, mesmo que tenha vivido com a doença por muitos anos. O caminho para a recuperação pode ser longo e desafiador, no entanto, com a equipe certa apoiando o indivíduo e um alto nível de compromisso, a recuperação é viável. Procure ajuda de um profissional com conhecimento especializado em transtornos alimentares.

Como encontrar ajuda?

Se você suspeita que você ou alguém que você conhece tenha anorexia, é importante procurar ajuda especializada imediatamente. Quanto mais cedo for a procura, mais perto estará da recuperação. Embora seu médico de família não seja especialista em distúrbios alimentares, ele pode ser uma fonte confiável de informação e orientação. Ele poderá encaminhá-lo a um profissional com conhecimentos especializados em saúde, nutrição e distúrbios alimentares.

Também é possível utilizar plataformas tecnológicas como a Vittude. Você poderá utilizar um serviço de geolocalização e filtros de especialidade. Analisar o currículo do profissional. Verificar a recomendação de outros usuários e escolher a opção mais apropriada para suas necessidades. Se você estiver em um local remoto, com pouco ou nenhum acesso a serviços de psicologia, também poderá optar pelo consultório virtual.

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Nessa modalidade é possível conversar com um psicólogo através de chamadas de videoconferência, a qualquer dia, local e hora. Este serviço tem sido muito utilizado por brasileiros que estão expatriados e têm dificuldade em receber orientações de um psicólogo em uma língua diferente da materna.

Fontes: 

Eating Disorder Hope 

National Eating Disorder Collaboration

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta