O que é o Dia nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra?

O Dia Nacional de Mobilização Pró Saúde da População Negra é celebrado todo mês de outubro desde 2007, mas ainda é uma data pouco conhecida pela maioria dos brasileiros. A sua importância, contudo, é notória em um país onde a população negra é extremamente vulnerável em comparação ao restante dos grupos demográficos.  

Se você não sabe nada sobre esse tema, confira em seguida as características que tornam a saúde da população negra um assunto que merece ser discutido. 

O que é dia nacional de mobilização pró saúde da população negra?

O dia 27 de outubro foi estabelecido como a data em que a atenção do país se volta para a saúde da população negra.

Nesta data, são normalmente realizadas atividades em bairros e comunidades para informar a população negra sobre seus direitos, bem como para introduzir os profissionais da saúde e a população geral ao debate sobre a relação entre racismo e saúde pública.  

A população negra possui demandas de saúde específicas, as quais precisam ser colocadas em evidência para incentivar a mobilização de gestores, profissionais da saúde, instituições e governantes. 

Muitas delas estão relacionadas ao racismo estrutural e à discriminação vivida pela população negra no cotidiano. Ambos esses fatores por vezes tornam as necessidades de saúde dos indivíduos e famílias negras em problemas invisíveis. 

O acesso restrito dessa população a serviços de saúde de qualidade (tanto para a saúde física quanto a saúde mental) levou a criação, em 2009, da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra pelo Ministério da Saúde. 

O objetivo principal dessa política é reduzir desigualdades étnico-sociais no país. Combater o racismo em instituições de saúde e serviços oferecidos pelo SUS também faz parte das premissas dessa política. 

Por que é importância discutir a saúde da população negra? 

O que é o Dia nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra?

Grande parte da população brasileira é composta por indivíduos negros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Cerca de 54% da população é negra, embora nem todos os brasileiros correspondentes a esse grupo demográfico se autodeclarem negros. Dessa parcela, 70% são pobres e vivem em situações de vulnerabilidade. 

Em outras palavras, há uma expressiva desigualdade social e econômica entre os grupos étnicos brasileiros cujos efeitos são sentidos, sobretudo, no acesso à saúde, educação e oportunidades de trabalho.  

Para que o nosso país alcance a igualdade em todas as áreas – sociais, econômicas, políticas, de gênero, entre outras – é preciso falar sobre os obstáculos que distanciam esse cenário da realidade, certo? Discutir amplamente esse assunto é necessário não apenas no dia nacional de mobilização pró saúde da população negra, mas durante o ano todo. 

Esse seria o cenário ideal, mas, como sabemos que não é assim na prática, faz sentido estipular uma data específica para trazer à tona problemas que ainda precisam ser solucionados e incentivar a oferta de serviços de saúde a quem mais precisa. 

Para você entender o quão importante é falar sobre a saúde da população negra especificamente, separamos quatro fatores fundamentais abaixo.  

Necessidades de saúde 

O Ministério da Saúde aponta que algumas doenças genéticas são mais comuns entre a população negra, como diabetes tipo II, hipertensão arterial, miomas, anemia falciforme, entre outras. Na população geral, por exemplo, a taxa de reincidência dessas condições é de 2% a 6%. Já na população negra, esse índice chega a 10%. 

Acompanhamento médico diferenciado é necessário devido à gravidade dessas patologias, mas nem sempre as pessoas negras têm acesso aos serviços de saúde. 

A falta de escolaridade é uma das razões para isso uma vez que, sem conhecimento básico sobre doenças comuns, indivíduos podem não dar importância a sintomas óbvios, ter dificuldade para encontrar tratamento em virtude do analfabetismo ou serem enganados por pessoas mal-intencionadas. 

Grande parcela da população negra vive em ambientes insalubres, com saneamento básico ausente ou deficiente, e tem uma dieta irregular por não conseguir comprar alimentos nutritivos que são base da alimentação dos brasileiros. Sendo assim, estão mais vulneráveis a doenças infecciosas.        

Racismo estrutural 

Você já perguntou o que o racismo tem a ver com a saúde? Ou se existe mesmo um impacto desse problema social na saúde das pessoas? A verdade é que sim, o racismo estrutural presente na sociedade brasileira há centenas de anos tem impacto significativo na saúde da população negra.

Grupos minoritários no geral sofrem com a desatenção das instituições de saúde às suas necessidades básicas e fatores associados às condições de suas vivências.  

Por exemplo, faz sentido que em um local onde as pessoas não tenham acesso à um saneamento básico de qualidade haja uma atenção especial para patologias decorrentes desse serviço ruim. 

Como nem sempre é tomado esse cuidado, contudo, essa população vulnerável acaba sofrendo por mais tempo com doenças que afetam a sua mobilidade, disposição física, estado emocional, condição financeira e longevidade.  

Além disso, uma das consequências mais marcantes do racismo estrutural brasileiro é a violência contra as pessoas negras. Sete a cada dez pessoas assassinadas no Brasil são negras, segundo dados da campanha nacional Vidas Negras da Organização das Nações Unidas (ONU). 

O que é o Dia nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra?

Os jovens de 15 a 29 anos são as maiores vítimas da violência. Consequentemente, o número de jovens negros que sofrem ferimentos graves ou letais nos hospitais é alto. Certas lesões podem prejudicar a realização de atividades simples no dia a dia e dificultar o encontro de um trabalho no futuro. 

Outros dados importantes são a respeito das vítimas de feminicídio no Brasil. 

Cerca de 61% delas são mulheres negras. Elas também são a maioria das vítimas de violência sexual, chegando ao índice de 50,9%. Logo, as mulheres negras têm tanto a saúde física quanto mental mais afetada em comparação às mulheres brancas por conta dessas agressões. 

Pandemia de COVID-19 

Dados mais recentes apontam que os negros e pardos foram os mais afetados pela pandemia de COVID-19, que se iniciou no Brasil em março de 2020 e perdurou por mais de um ano. 

Conforme informações do Mapa da Desigualdade, em setembro de 2021, 47,6% das mortes registradas entre a população negra foram de COVID-19. Esse percentual é muito menor na população branca, que chega aos 28,1%. 

Mulheres negras e pardas compõem a maioria das vítimas, correspondendo a 56,2% dos óbitos maternos registrados entre 2020 e 2021. A Fundação Oswaldo Cruz revelou que esse número é mais que o dobro das mortes maternas de mulheres brancas. 

Entre as possíveis razões por trás dessas estatísticas estão o acesso restrito aos serviços básicos de saúde, menores chances de consultas pré-natais, necessidade de trabalhar para fora durante os períodos de alta contaminação do coronavírus, falta de informação acerca da doença e má condição financeira.

Saúde mental da população negra

Todos os fatores mencionados acima afetam negativamente a saúde mental das pessoas negras. As condutas racistas e violentas, bem como a dificuldade para acessar serviços básicos para sobrevivência e bem-estar, corroboram para o adoecimento e morte precoce da população negra. 

O reconhecimento do racismo estrutural e que você pode ser uma vítima de discriminações em diversas esferas da vida por si só já abala o estado emocional.  

Viver sabendo que você terá que realizar o dobro do esforço para ter acesso às mesmas oportunidades de quem não precisa sequer se esforçar ou precisa se esforçar pouco para encontrá-las pode ser desmotivador. Essa perspectiva pode causar baixa autoestima e medo de viver. 

A possibilidade de sofrer violência bruta ou letal é outro motivo de preocupação constante para pessoas negras, principalmente para os homens jovens. 

O racismo estrutural, portanto, causa muito sofrimento psíquico e estresse no cotidiano. O risco de desenvolver depressão, ansiedade e outros transtornos mentais tende a ser maior entre a população negra. 

Uma pesquisa de 2018 do Ministério da Saúde apontou que jovens negros do sexo masculino, entre 10 e 29 anos, possuem cerca de 45% a mais de probabilidade de cometer suicídio que jovens brancos da mesma faixa etária. 

Fazer recortes é necessário!

O dia nacional de mobilização pró saúde da população negra também coloca em perspectiva a necessidade de fazer recortes dentro de problemas sociais. Há indivíduos que não compreendem por que é necessário falar da relação da saúde e a cor da pele, etnia, condição financeira e gênero. 

Se somos todos iguais, não é mais lógico falar sobre saúde no geral? 

Embora todas as pessoas sejam, de fato, iguais, grande parte delas ainda não têm acesso às mesmas oportunidades para viver bem e com saúde. Esses empecilhos por vezes estão relacionados a questões raciais, culturais, econômicas e de gênero. 

Como cada situação envolve fatores únicos, como formas diferentes de discriminação, exige soluções únicas. Elas devem ser observadas e estudadas extensivamente, considerando recortes ainda mais específicos, como faixa etária, gênero, ocupação, orientação sexual, estado civil e escolaridade. 

Essa metodologia faz parte da pesquisa cientifica, a qual é essencial para entendermos os problemas urgentes da nossa sociedade. 

Então, datas estabelecidas especificamente para um grupo social não devem ser ignoradas. Procure entender o significado dela e refletir sobre as questões propostas pelo movimento por trás dela. Você certamente encontrará uma explicação detalhada para a importância daquele dia e das atividades promovidas durante ele. 

Este artigo lhe ajudou a compreender o que é o Dia Nacional da Mobilização Pró Saúde da População Negra? Se sim, então compartilhe-o com familiares e amigos para disseminar a importância dessa data nacional.

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta