Existencialismo: o que é a psicoterapia existencial

O existencialismo é o conceito que sustenta a psicoterapia existencial.

A psicoterapia existencial é uma forma de psicoterapia baseada no modelo da natureza humana e na experiência desenvolvida pela tradição existencial da filosofia européia.

O existencialismo se concentra em conceitos universalmente aplicáveis à existência humana, incluindo morte, liberdade, responsabilidade e significado da vida

Ao invés de considerar as experiências humanas como ansiedade e depressão como presença de uma doença mental, a psicoterapia existencial vê essas experiências como estágios naturais em um processo normal de desenvolvimento e amadurecimento do ser humano.

Compreendendo o existencialismo

A psicoterapia baseada no existencialismo tem como pressuposto que o ser humano é livre para fazer escolhas. Logo, elas determinam quem ele se torna perante o mundo e perante a si mesmo. 

Para o existencialismo, o ser humano é primeiro “existência”, para depois ser “essência”. Significa que não existe uma natureza que determine o que o indivíduo será. Ou seja, sua essência só é formada após existir. Ela é formada através de suas vivências e experiências, da sua liberdade e responsabilidade de fazer escolhas. 

A psicologia existencial combina grandes questões da filosofia com os princípios da psicologia. Nessa abordagem são estudadas como questões filosóficas afetam a psique e o comportamento dos indivíduos. 

Nesse artigo vamos falar sobre a origem do existencialismo. Entenderemos como a psicoterapia existencial é empregada para estimular a liberdade do indivíduo de fazer escolhas, buscando dar sentido a sua existência. 

Origem da psicoterapia existencial

A terapia existencial tem origem nas teorias dos filósofos Friedrich Nietzsche e Soren Kierkegaard. 

Kierkegaard instituiu a teoria de que o descontentamento humano poderia ser superado somente através de sabedoria interna. Kierkegaard focou sua filosofia em questões existenciais e significados da vida, como: “Quem sou eu?”, “Por que eu existo?”, “Qual a minha contribuição para o mundo”, “Qual o sentido da vida?”, entre outras. 

Depois, Nietzsche introduziu a ideia de livre arbítrio e responsabilidade social desenvolvendo ainda mais a teoria do existencialismo. 

Após a segunda guerra mundial, mais precisamente na Europa, o existencialismo se popularizou em razão de obras, textos, romances e peças de teatro de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. A força que a teoria tomou no pós-guerra tem relação com a recuperação de concepções de liberdade e individualidade. 

Mais tarde, a psicoterapia existencial chegou aos Estados Unidos, e psicólogos como Rogers e Maslow estudaram sobre essa abordagem. Por isso, conclui-se que a psicologia humanista teve forte influência da psicologia existencial, retomando alguns de seus procedimentos e temas principais.

Jean-Paul Sartre e o Existencialismo

Sartre publicou a palestra L’Existentialisme est un Humanisme (O existencialismo é um humanismo), que foi alterado na tradução para a conjunção mais branda Existentialism and Humanism (Existencialismo e Humanismo). 

Sartre afirmou que “a existência vem antes da essência”. Isso quer dizer que, os seres humanos não têm um propósito ou natureza pré-estabelecida. Tampouco tem a obrigação de ser ou fazer qualquer coisa.  Sartre era ateu e defendia a não existência de um Deus que determinasse a essência e valores dos seres humanos. Sua ideia principal é de que, primeiro, o ser humano existe. Através de suas ações e formas de viver a vida, determina a sua essência. 

O existencialismo ateu diz que, não existindo Deus, todas as crenças universais desaparecem, originando a subjetividade da moral e do conjunto de regras que orientam o comportamento humano. Dessa forma, surge um sentimento de angústia, revelando uma fragilidade humana. Essa afirmação invoca também que o ser humano é o único responsável sobre seus atos. Menciona, ainda, a necessidade de orientar a sua existência para um projeto individual ou social de forma livre.

O existencialismo cristão, representado por Karl Jaspers e Gabriel Marcel, defende a existência de Deus, sendo ele o criador de tudo e de todos. De acordo com essa linha, acredita-se que a vontade humana é subjugada à vontade divina, sem qualquer liberdade.  

Sartre recebeu muitas críticas por conta de suas teorias. Tais críticas incluíam a ideia de que o existencialismo se concentra tanto nas escolhas dos indivíduos que ignora a solidariedade da humanidade. Observa-se o licenciamento de crimes hediondos em nome da livre escolha existencial, rejeitando a noção de leis morais dadas por Deus. 

Em resposta a essas críticas, Sartre concentrou suas análises nos conceitos de abandono, angústia e desespero.

Angústia, Abandono e Desespero no Existencialismo

Para o existencialismo, a angústia é relacionada às escolhas que o indivíduo faz não somente para si, mas também para a humanidade. Trata-se da responsabilidade que envolve o ato de fazer escolhas. Ou seja, o ser humano vive em uma angústia existencial. 

O abandono (ou desamparo), no existencialismo, refere-se à afirmação de que não temos Deus ou uma natureza universal que determine o nosso ser e nossas escolhas. Sendo assim, não há nada dentro ou fora de si para se apegar, não há um ponto de segurança para se apoiar ou algo para culpar pelas nossas escolhas. 

O desespero é a ação sem esperança, pois o ser humano vê que pode escolher algo, mas não tem a esperança ou ilusão de contar com os outros, pois cada um é livre para fazer suas próprias escolhas. É o desespero de perder o que nos fez tornar o que somos, ou seja, quando nossas escolhas dependem da escolha de outros.  

Essas definições reforçam que o existencialismo é o conjunto de ideias que responsabiliza o ser humano pelas suas escolhas e seus atos. É também colocada a ideia de que não há justificativas ou desculpas para as nossas ações. O que somos e o que fazemos não está condicionado à fatores externos. Não são produtos de invenções, destino ou criação divina. O ser humano existe para se inventar, pois não há nada antes de sua existência. 

Conflitos trabalhados na psicoterapia existencial 

A terapia existencial baseia-se na crença de que os indivíduos experimentam conflitos intrapsíquicos devido a interações com fatos da vida humana, conhecidos como dados existenciais. São reconhecidos pelos menos quatros dados existenciais primários:

  • Liberdade e responsabilidade associada
  • Morte
  • Solidão
  • Sentido da vida

Liberdade

No existencialismo, a liberdade é o que comanda a essência. Sendo um ser livre, o indivíduo decide a sua própria vida e arca com as responsabilidades de sua escolha. Trata-se do livre arbítrio, da liberdade de fazer escolhas e viver a vida da forma que o satisfaça. 

Morte

Na visão existencialista, a morte é a ocorrência que determina o fim da existência. Heidegger, um importante filósofo existencial, coloca a morte como parte da vida. Para a psicoterapia existencial, é necessário encontrar um equilíbrio entre estar consciente da morte sem ser dominada por ela. A realidade da morte pode nos encorajar e motivar a aproveitar ao máximo as oportunidades e valorizar o que temos na vida. 

Solidão

A solidão é um termo que faz referência a estar sozinho no mundo. Essa condição faz parte da vida. Mesmo estando rodeados de amigos, família e outros relacionamentos, em determinado momento o indivíduo percebe que depende apenas de si mesmo para realizar os seus objetivos pessoais. É difícil compreender a solidão. No entanto, quando ela é entendida, é possível constatar que cada ser é único. Cada indivíduo possui percurso singular e história de vida única. Cada um apresenta uma maneira própria e individual para buscar sentido para a sua vida. 

Sentido da vida

A vida enquanto apenas “existência”, não tem sentido. Logo, a consciência disso leva o indivíduo buscar um sentido para a sua existência. Ou seja, buscar o desenvolvimento pessoal e a autorrealização. Através desse entendimento, o indivíduo decide um projeto de vida, para que o sentido da vida seja pertinente a suas realizações. 

Processo dos terapeutas existenciais

Os psicólogos existenciais não se concentram apenas no “ser”, mas também no que o indivíduo pode se tornar. Eles buscam ajudar o cliente a encontrar o seu caminho, uma jornada que lhe possibilite a autorrealização.

Os terapeutas buscam não enfatizar o passado do indivíduo. Em vez disso, trabalham para que a pessoa em terapia descubra e explore as oportunidades de escolhas que estão à sua frente. 

Por meio da terapia, e do trabalho de retrospecção, o indivíduo é levado a refletir sobre as suas decisões passadas. Analisar as crenças que o levaram a fazer uma determinada escolha, apenas como uma forma de criar uma percepção mais profunda do “eu”. 

A visitação às escolhas e experiências passadas é utilizada como uma ferramenta para promover a liberdade e a assertividade. A pessoas exploram as razões de seus conflitos intrapsíquicos e as decisões que as levaram a suas circunstâncias atuais. 

Existencialismo e as convenções sociais

As convenções sociais, normas e ideologias culturais, crenças ou atitudes rígidas levam o ser humano a um estado de descontentamento e doença. Ao sentimento de não ter controle sobre a sua vida e suas escolhas. 

A psicoterapia existencial trabalha com esses conflitos sem negar a existência deles. Por isso, muitas vezes, o termo existencial é descrito como “as dores da existência”. Isso significa, que a psicoterapia existencial não deseja impedir que os indivíduos enfrentem suas dores, e sim lutem para superá-las. 

O objetivo é fazer com que o cliente em terapia se livre de cadeias obrigatórias que podem impedir que ele viva em plenitude. Quando essas pessoas respondem positivamente à terapia, experimentam o autoconhecimento, autoconsciência e motivação, conseguindo enxergar um projeto de vida que as levem a se autorrealizar. 

Os psicólogos existenciais trabalham não apenas identificar e reduzir sintomas de doenças mentais. Tampouco atuam somente nos vícios, problemas de relacionamento e outros problemas psicológicos. O objetivo é abordar como uma pessoa define propósito de vida. Conduzir uma reflexão sobre seu próprio significado de uma vida bem aproveitada e bem vivida. 

Problemas de saúde mental e comportamental que podem ser tratados com essa terapia são: depressão, ansiedade, dependências de substâncias, estresse pós-traumático, entre outras. Quando o indivíduo passa a perceber que é o principal responsável pela sua recuperação, a probabilidade de sucesso do processo terapêutico aumenta de forma significativa. 

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta