Gagueira: nome técnico, tipos de exercícios e tratamento

Gagueira é um dos Transtornos de Fluência, enquadrados dentro do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) como transtornos de comunicação. A fluência é o aspecto de produção da fala que se refere à continuidade, suavidade e esforço. Fluência é definida como a fala de fluxo contínuo e suave, que é decorrente de uma integração harmônica entre os processamentos neurais envolvidos na linguagem e no ato motor. A gagueira, o transtorno de fluência mais comum, é uma descontinuidade no fluxo de fala caracterizada por repetições (sons, sílabas, palavras, frases), prolongamentos de som, blocos, interjeições e revisões, o que pode afetar a velocidade e o ritmo da fala. Essas disfluências podem ser acompanhadas por tensão física, reações negativas, comportamentos secundários e evitação de sons, palavras ou situações de fala.

Estatísticas da Gagueira

De acordo com o Instituto Brasileiro de Fluência, a incidência da Gagueira é de 5% na população brasileira. Isso significa dizer que mais de 10 milhões de pessoas são afetadas pela gagueira durante o desenvolvimento da linguagem no Brasil. A prevalência da gagueira é de 1%, ou seja, cerca de 2 milhões de brasileiros gaguejam de forma crônica (há anos ou décadas).

A gagueira tipicamente tem suas origens na infância. A maioria das crianças que gaguejam, começam a fazê-lo em torno de 2 anos e meio de idade. Aproximadamente 95% das crianças que gaguejam começam a fazê-lo antes dos 5 anos de idade.

Principais sintomas 

Todos os oradores produzem disfluências, que podem incluir hesitações, tais como pausas silenciosas e interjeições de enchimentos de palavras. O famoso ééééé, ahhhhh ou qualquer outro tipo de pausa ou interrupção ao longo do discurso natural.  No entanto, alguns sinais podem ser evidenciados em quem efetivamente sofre com a Gagueira:

  • Uso mais frequente de interjeições. Por exemplo: “tipo assim, então, tá, né?!”
  • Prolongamento de sons. O som é emitido por maior tempo do que o esperado. Por exemplo: “Popopodeeee me ajudar popopor fafaaavor”
  • Ansiedade ou nervosismo excessivos para produzir uma palavra ou som e iniciar uma palavra, frase ou expressão
  • Ansiedade para iniciar um discurso, devido às sucessivas experiências com a fala gaguejada
  • Movimentos motores involuntários como: tensões faciais, tremores de lábios, mandíbula, piscar de olhos, entre outros.
  • Redução significativa da capacidade de se comunicar de forma eficaz

Outros Transtornos de Fluência

Além da gagueira, outros dois transtornos menos conhecidos estão englobados dentro do conceito de fluência: a taquilalia e taquifemia. Ambos estão relacionados a uma taxa de articulação (velocidade de fala) elevada, suficientemente intensa para prejudicar a inteligibilidade da mensagem.

Taquilalia

Trata-se da articulação muito rápida da fala, na qual a pessoa atropela as palavras e pode prejudicar a inteligibilidade da mensagem. Porém, a Taquilalia não está ligada a qualquer disfluência ou gagueira e não compromete a integridade do discurso.

Taquifemia

Apresenta os mesmos sintomas da Taquilalia, porém, dois outros sintomas também são obrigatórios para o diagnóstico: pouca consciência do distúrbio e aumento de hesitações e disfluências.  Porém, a Taquifemia não deve ser confundida com a gagueira, um distúrbio multifatorial que tem muitas outras características que compõem seu quadro.

Os indivíduos que possuem o transtorno também podem apresentar troca de letra na fala e escrita, dificuldade para encontrar palavras, dificuldades sintáticas, discurso confuso, dificuldade de leitura e escrita, desatenção, hiperatividade, impulsividade, retardo no desenvolvimento de linguagem e no desenvolvimento motor.

Tratamento

O tratamento para transtornos de fluência deve ser altamente individualizado e baseado em uma avaliação completa da fluência da fala, fatores de linguagem, componentes emocionais, atitudinais e impacto na vida.

Um profissional de saúde especializado deverá considerar o grau dos comportamentos disfluentes da criança e como a comunicação geral são influenciados por um transtorno coexistente (por exemplo, outros distúrbios de fala ou linguagem, síndrome de Down, TEA ou TDAH). Determinando, assim, como o tratamento pode ser ajustado assertivamente.

A gagueira não é um distúrbio emocional ou afetivo e sim, um distúrbio neuroquímico que afeta as estruturas pré-motoras da fala. Por isso, é importante procurar um fonoaudiólogo a fim de ver o melhor tratamento disponível. Um acompanhamento multidisciplinar, com um psicólogo, é extremamente efetivo no tratamento da gagueira no que se refere à dificuldades de autoestima, autoimagem e ansiedade. Além disso, um psicólogo especializado pode proporcionar ao indivíduo técnicas facilitadoras da fluência e, no caso de crianças, também trabalhar com a família para auxiliar a criança a falar de forma mais suave e fluente.

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Exercícios recomendados para os transtornos de fluência

Exercícios de relaxamento e alongamento para os lábios, língua, pescoço e ombros são recomendados para o tratamento. Estes exercícios diminuem a sensação de urgência para falar.

Relaxe o corpo:

  • Libere a tensão nas costas, pescoço e braços. Relaxe os ombros, deixe-os caírem ao nível natural.
  • Mexa os lábios por alguns segundos antes de falar. Cantores fazem isso como aquecimento.
  • Remova qualquer tensão colocada nas pernas e nos braços. Gire o tronco.

Relaxe a mente:

  • Diga a si mesmo: “Sou maior que a gagueira; essa gagueira não é maior que eu!”.
  • Concentre sua atenção em sua mente. Permita gentilmente que sua atenção chegue até as pontas mais distantes de seu corpo, respirando uniformemente. Isso pode ser feito através da meditação.

Fique na frente de um espelho e converse com você mesmo

Apenas comece a falar sobre qualquer coisa – como foi seu dia, como está se sentindo, o que planeja fazer mais tarde – e observe a gagueira desaparecer.

  • Falar em frente a um espelho não é a mesma coisa que conversar com outra pessoa; porém, este exercício deve lhe dar uma boa carga de confiança. Lembre-se do quão bem você falou em frente ao espelho enquanto se preparar para conversar com outra pessoa.
  • Tente falar consigo mesmo diariamente por 30 minutos. Pode parecer estranho no início, mas o exercício é escutar a própria voz sem gaguejar. Isso lhe dará muita confiança.

Leia livros em voz alta

Sua habilidade de se comunicar irá melhorar. Apenas leia em voz alta. Será difícil no início, mas aprenderá como respirar. Um grande problema que a maioria dos gagos possui é não saber quando respirar durante leituras ou conversas. Com a leitura, você fará naturalmente exercícios de respiração e se livrará da gaguez com algum tempo.

Reduza a velocidade da fala

Exercícios de velocidade, que fazem o paciente perceber as diferenças entre a fala lenta, normal e rápida. Diminuir a velocidade de fala geralmente reduz a ocorrência da gagueira. Para aprender a falar mais devagar, é necessário treinar a redução da velocidade na leitura e na fala espontânea. No início, a diminuição da velocidade de fala parece um pouco forçada, mas, com o treino, vai se tornando cada vez mais natural e automática.

Aumente o uso de pausas

Exercícios de pausa silenciosa, que ensina a frequência adequada da fala ao paciente. A utilização de um maior número de pausas na fala também é uma estratégia eficiente para diminuir a ocorrência da gagueira. Mas, se as pausas forem muito numerosas ou muito longas, a fala também vai soar pouco fluente. Por isso, o treino deve ser organizado para que a pessoa que gagueja aprenda a utilizar mais pausas na fala, mas em quantidade e duração adequadas.

Suavize a tensão muscular

A pessoa que gagueja, muitas vezes, utiliza um excesso de tensão muscular para articular os sons da fala. Quando isso ocorre, percebe-se que há excesso de esforço físico para falar, que se manifesta principalmente nos bloqueios. A suavização consiste em aprender a articular os sons da fala com menor solicitação muscular. No início, a diminuição da tensão muscular é voluntária, mas, com o treino, vai se tornando natural. O treino envolve a prática da suavização na leitura e na fala espontânea.

Como ajudar

Pessoas que convivem com crianças que gaguejam (pais, irmãos, amigos e professores) podem colocar em prática atitudes simples para ajudá-los:

  • Ouvir a criança com atenção e manter a calma e naturalidade enquanto ela fala;
  • Reservar um tempo para conversar com a criança, sem distrações;
  • Falar devagar e sem pressa, sem perder a naturalidade da fala;
  • Incentivar todos da família a serem bons ouvintes;
  • Não chamar atenção para a gagueira durante interações diárias;
  • Aceitar a criança como ela é,  não reagindo negativamente, não criticando e não punindo a criança quando ela gaguejar.

Filme de referência: O Discurso do Rei (2011)

Sinopse: O Príncipe Albert da Inglaterra deve ascender ao trono como Rei George VI, mas ele tem um problema de fala. Sabendo que o país precisa que seu marido seja capaz de se comunicar perfeitamente, Elizabeth contrata Lionel Logue, um ator australiano e fonoaudiólogo, para ajudar o Príncipe a superar a gagueira. Uma extraordinária amizade desenvolve-se entre os dois homens, e Logue usa meios não convencionais para ensinar o monarca a falar com segurança.

Fontes

American Speech Language Hearing Association

Instituto Brasileiro de Fluência

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Autor

Tatiana Pimenta

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CEO e Fundadora da Vittude. É apaixonada por psicologia e comportamento humano, sendo grande estudiosa de temas como Psicologia Positiva e os impactos da felicidade na saúde física e mental. Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley. É maratonista e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. Você também pode me seguir no Instagram @tatianaacpimenta