Psicopatia: como identificar um comportamento psicopata
17 de novembro de 2017
Tempo de leitura: 10 minutosA psicopatia está entre os distúrbios mentais mais difíceis de diagnosticar e detectar. O psicopata pode parecer normal e até mesmo ser encantador. No entanto, ao psicopata falta consciência e empatia, tornando-o manipulador, volátil e muitas vezes (mas não é sempre) criminoso. Este distúrbio é objeto de fascínio popular e angústia clínica: a psicopatia adulta é amplamente impermeável ao tratamento, embora existam programas para tratar jovens insensíveis e sem emoção na esperança de impedir que eles se transformem em psicopatas.
Sociopatia x Psicopatia
Muitos psicólogos forenses, psiquiatras e criminologistas usam os termos sociopata e psicopata de forma intercambiável. Os principais especialistas discordam sobre se há diferenças significativas entre as duas condições. Entretanto existem distinções claras e significativas entre eles.
A quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSM-5), divulgada pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013, lista tanto sociopatia quanto psicopatia sob o título de Transtorno de Personalidade Anti-social . Esses distúrbios compartilham muitos traços comportamentais comuns que levam à confusão entre eles. Os traços-chave que os sociopatas e os psicopatas têm em comum incluem:
- Um desrespeito pelas leis e costumes sociais;
- Um desrespeito pelos direitos dos outros;
- A falta de remorso ou culpa;
- Uma tendência para mostrar comportamento violento;
Além de suas semelhanças, os sociopatas e os psicopatas também possuem características comportamentais únicas.
Sociopatas
Os sociopatas tendem a estar nervosos e facilmente agitados. Eles são voláteis e propensos a explosões emocionais, incluindo ataques de raiva. É provável que não sejam educados e vivam nas margens da sociedade, incapazes de manter um emprego estável ou ficar em um lugar por muito tempo. É difícil, mas não impossível para os sociopatas formar grupos com os outros. Muitos sociopatas podem formar um apego a um determinado indivíduo ou grupo, embora não tenham em conta a sociedade em geral ou suas regras. Nos olhos dos outros, os sociopatas parecerão muito perturbados. Qualquer crime cometido por um sociopata, incluindo o assassinato, tenderá a ser casual, desorganizado e espontâneo, em vez de planejado.
Psicopatas
Os psicopatas, por outro lado, são incapazes de formar vínculos emocionais ou sentir empatia real com os outros, embora muitas vezes tenham personalidades sedutoras ou mesmo charmosas. Os psicopatas são muito manipuladores e podem facilmente conquistar a confiança das pessoas. Eles aprendem a imitar as emoções, apesar da incapacidade de senti-las, e parecerão normais às pessoas desavisadas. Os psicopatas são muitas vezes bem educados e mantêm empregos estáveis. Alguns são tão bons na manipulação e simulação, que eles têm famílias e outros relacionamentos de longo prazo, sem que aqueles que o rodeiam suspeitem de sua verdadeira natureza.
Comportamentos observados em Psicopatas
Boa lábia
O psicopata é bem articulado e ótimo marketeiro pessoal. Como um ator em cena, conquista a vítima bajulando e contando histórias mirabolantes de si. Com meia dúzia de palavras difíceis, se passa por sociólogo, médico, filósofo, escritor, artista ou advogado.
Ego inflado
Ele se acha o cara mais importante do mundo. Seguro de si, cheio de opinião, dominador. Adora ter poder sobre as pessoas e acredita que nenhum palpite vale tanto quanto suas ideias.
Mentiroso patológico
Mente tanto que às vezes não se dá conta de que está mentindo. Tem até orgulho de sua capacidade de enganar. Para ele, o mundo é feito de caças e predadores, e não faria sentido não se aproveitar da boa-fé dos mais fracos.
Sede por adrenalina
Não tolera monotonia, e dificilmente fica encostado num trabalho repetitivo ou num casamento. Precisa viver no fio da navalha, quebrando regras. Alguns se aventuram em rachas, outros nas drogas, e uma minoria, no crime.
Reação estourada
Reage desproporcionalmente a insulto, frustração e ameaça. Mas o estouro vai tão rápido quanto vem, e logo volta a agir como se nada tivesse acontecido – é tão sem emoções que nem sequer rancor ele consegue guardar.
Impulsividade
Embora racional, não perde tempo pesando prós e contras antes de agir. Se estiver com vontade de algo, vai lá e consegue tirando os obstáculos do caminho. Se passar a vontade, larga tudo. Seu plano é o dia de hoje.
Comportamento Antisocial
Regras sociais não fazem sentido para quem é movido somente pelo prazer, indiferente ao próximo. Os que viram criminosos em geral não têm preferências: gostam de experimentar todo tipo de crime.
Ausência de culpa
Por onde passa, deixa bolsos vazios e corações partidos. Mas por que se sentir mal se a dor é do outro, e não dele? Para o psicopata, a culpa é apenas um mecanismo para controlar as pessoas.
Sentimentos superficiais
Emoção só existe em palavras. Se namorar, será pelo tesão e pelo poder sobre o outro, não por amor. Se perder um amigo, não ficará triste, mas frustrado por ter uma fonte de favores a menos.
Falta de empatia
Não consegue se colocar no lugar do próximo. Para o psicopata, pessoas não são mais que objetos para usar para seu próprio prazer. Não ama: se chegar a casar-se e ter filhos, vai ter a família como posse, não como entes queridos.
Irresponsabilidade
Compromisso não lhe diz nada – tende a ser mau funcionário, amante infiel e pai relapso. Porém, como a família e os amigos são fonte de status e bens materiais, para cada mancada já tem uma promessa pronta: “Eu mudei. Isso nunca mais vai acontecer de novo”.
Má conduta na infância
Seus problemas aparecem cedo. Já começa a roubar, usar drogas, matar aulas e ter experiências sexuais entre 10 e 12 anos. Para sua maldade, não poupa coleguinhas, irmãos e nem animais.
Como identificar a Psicopatia
Quando falamos de psicopatia, estamos falando de um espectro. Ela pode ser identificada ou diagnosticada através da utilização de um checklist de 20 itens, desenvolvido por um psicólogo canadense chamado Robert D. Hare. Hare é especialista em psicologia criminal e psicopatia, tendo escrito obras importantes como “Psicologia das Investigações Criminais”. De acordo com o checklist idealizado por Hare, o limiar para a psicopatia clínica se dá através da obtenção de uma pontuação de 30 ou mais. A anatomia do cérebro, a genética e o ambiente de uma pessoa podem contribuir para o desenvolvimento de traços psicopáticos.
Escala de Robert Hare
A escala de Robert Hare é um checklist de verificação para psicopatia, também chamada de Escala de Hare. No teste, um clínico entrevista um potencial psicopata e o classifica em 20 critérios, como “comportamento sexual promíscuo” ou “impulsividade”. Em cada critério, o sujeito é classificado em uma escala de 3 pontos: (0 = item não se aplica, 1 = item se aplica um pouco, 2 = item definitivamente se aplica). As pontuações são somadas para criar uma classificação de zero a 40. Qualquer um que obtém 30 pontos ou mais é provavelmente um psicopata.
Em 1991 Hare criou o método de avaliação para diagnosticar os graus de psicopatia de uma pessoa e identificou os critérios hoje universalmente aceitos para diagnosticar os portadores desse transtorno de personalidade. O instrumento pondera traços de personalidade prototípicos de psicopatia. Ele foi projetado para avaliar de maneira segura e objetiva o grau de periculosidade e de adaptação à vida comunitária de condenados, e os países que o instituíram apresentaram considerável índice de redução da reincidência criminal. Apenas no ano 2000 Escala Hare PCL-R (Psycopathy Checklist Revised) foi traduzida e validada no Brasil.
O teste
O teste a seguir é para determinar seu grau de psicopatia. Este teste foi baseado na Escala de Robert Hare, o maior especialista no assunto. Esta escala é usada por psiquiatras, portanto tente respondê-lo adequadamente como você realmente é, pois caso contrário o resultado pode não ser agradável.
- Você tem “excesso de brilho” ou charme superficial
- Você tem um excesso de autoestima
- Você necessita de estimulação constante, não gosta de monotonia e tem propensão ao tédio
- Você é um mentiroso patológica, daqueles que sente orgulho de enganar as pessoas
- Você está sempre manipulando
- Você apresenta total falta de remorso ou culpa
- Você possui “afeto superficial” ou “sentimentos superficiais”
- Você é insensível ou possui completa falta de empatia
- Você tem um “estilo de vida parasita”, está sempre tirando proveito dos outros
- Você tem grande dificuldade em controlar suas atitudes
- Você tem um histórico de comportamento sexual promíscuo
- Você tem um histórico de problemas comportamentais na infância
- Você não possui objetivos realistas de longo prazo
- Você é excessivamente impulsivo
- Você tem um alto nível de irresponsabilidade
- Você não assume a responsabilidade por suas próprias ações, coloca sempre a culpa em outras pessoas.
- Você já teve muitas relações “conjugais” de curto prazo
- Você tem um histórico de delinquência juvenil
- Já experimentou uma “revogação de liberdade condicional”
- Você exibe “versatilidade criminal”
Resultado
Se você obteve mais de 30 pontos (ou seja, você respondeu “um pouco” ou “definitivamente” a maioria dessas perguntas) então você pode ser um psicopata. Se você classificou menos do que isso, respire. Você é normal!
Tratamento
A psicoterapia é um dos principais tratamentos para pessoas com esse distúrbio mental. O acompanhamento psicoterapêutico pode ser fundamental para aliviar alguns sintomas.
A psicoterapia pode ser realizada individualmente entre um psicólogo e o paciente ou em uma configuração de grupo e até mesmo para familiares afetados.
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A Psicopatia nas telas
Mindhunter, série original Netflix que estreiou no último mês de outubro, traz a psicopatia para as telas mais uma vez. O seriado, que se passa no final da década de 1970, mostra dois agentes do FBI investigando a mente de assassinos em série e psicopatas.
Entre 1970 e 1980, assassinos que cometeram crimes violentos nos Estados Unidos se tornaram objeto de estudo do FBI, que buscava entender os gatilhos e motivações dos criminosos. O material coletado pelo trabalho de apuração dos agentes especiais John Douglas e Robert Ressler, nos primórdios do que viria a ser a psicologia forense, deu origem ao livro Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano (publicado no Brasil pela Intrínseca).
No passado filmes como Seven (1995), Hannibal (2001) e Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) também abordaram o comportamento de psicopatas e assassinos em série. E quem não se lembra do personagem Coringa, originado nos quadrinhos do Batman?
Fontes:
Without Conscience, de Robert Hare, The Guilford Press, 1993.
Artigo atualizado em: 29/10/2019
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