Puberdade e adolescência: como a terapia pode ajudar a lidar com as mudanças?
25 de setembro de 2020
Tempo de leitura: 9 minutosA puberdade é um período complicado e instigante para os adolescentes. Ao mesmo tempo em que estão animados devido à grande quantidade de descobertas, estão confusos e, em alguns casos, irritadiços.
Os pais costumam ser o alvo principal dessa irritação recém-descoberta, que procura afastá-los e desafiá-los.
A transição da infância para a adolescência é um momento suscetível a muito estresse. Nesta fase, costumam aparecer problemas emocionais e de comportamento.
Os adolescentes, não sabendo como lidar com tantos sentimentos e sensações novas, tendem a reagir de maneira impulsiva e inconsequente.
É possível, no entanto, que essa transição seja mais harmoniosa. Os pais, tutores e outros familiares podem ajudar o adolescente a compreender as mudanças que acometem o seu corpo e mente.
Como a puberdade afeta o emocional?
A puberdade costuma acontecer entre os 10 a 17 anos. A idade inicial pode variar dependendo de vários fatores, podendo adiantar ou retardar o processo de transformação da criança em adolescente.
As meninas passam por mudanças fisiológicas antes e também as terminam mais cedo que os meninos.
As mudanças físicas, hormonais e sexuais são facilmente percebidas por estarem à vista. Os órgãos genitais crescem e se desenvolvem graças à produção e liberação de hormônios sexuais.
Eles também são os responsáveis por iniciar o ciclo menstrual nas meninas e pelo crescimento de pelos em diversas áreas do corpo.
Durante esse período também ocorrem alterações neurológicas, cognitivas, sociais e psicológicas. Com tantos aspectos novos para se acostumar, é compreensível que os adolescentes se comportem de maneiras inusitadas ou não saibam como administrá-los.
A principal fonte de confusão emocional costuma estar associada à busca pela identidade. Esta é expressa por meio de diferentes comportamentos, os quais, na mente do adolescente, fazem todo o sentido.
Por meio de atividades, hobbies e panelinhas, ele procura a identificação com algo ou alguém.
Os seus achados podem levá-lo a abandonar esportes ou atividades praticadas desde a infância, ou até mesmo amizades formadas quando criança.
Essa postura de desbravamento é totalmente normal durante a puberdade. A volatilidade de atitudes, contudo, costuma confundir pais e tutores.
Por outro lado, o adolescente pode ter sentimentos de inadequação e de solidão, baixa autoestima, estresse, vergonha do corpo ou personalidade e medo do aumento de responsabilidades.
Em razão disso, distinguir uma conduta típica da adolescência de uma conduta causada por um transtorno mental requer observação cautelosa e investigação na terapia.
Problemas típicos encontrados na puberdade
O adolescente na puberdade caminha de encontro às questões da vida adulta, que antes não tinham importância para ele.
A vida social passa a ser movimentada e as opiniões alheias são levadas em consideração na tomada de decisão. O modo de se arrumar e se vestir, bem como os novos interesses, podem ser modificados conforme influências exteriores.
Até certo ponto, o desejo de se afastar dos pais, mudar hábitos e gostos, sair com os amigos e namorar é considerado normal. Quando esses fatores se tornam obsessões e levam o adolescente a ter problemas de conduta, podem indicar que algo está errado.
Outro cenário que também pode ser indicativo de irregularidade é quando o adolescente não demonstra interesse na escola, em atividades extracurriculares e em amizades.
Basicamente, quando tudo o que considerava parte de sua vida deixa de fazer sentido.
A verdade é que compreender as preocupações dos adolescentes pode exigir certo exercício mental. O fato de manterem silêncio sobre seus verdadeiros sentimentos também não ajuda a apaziguar os pais.
Como estão imersos em problemas e apreensões próprias da vida adulta, por vezes não conseguem se conectar com as causas do estresse dos filhos ou simplesmente não sabem como abordar assuntos delicados sem causar conflitos.
Para fins de esclarecimento, veja alguns dos problemas típicos trazidos pela puberdade abaixo:
- preocupação excessiva com a aparência;
- baixa autoestima;
- dúvidas sobre a própria identidade;
- necessidade de comportar-se de forma semelhante aos amigos/colegas, mesmo contra sua vontade;
- ruptura com a segurança providenciada pela infância;
- pressão para agir de determinada maneira ou para obter excelência escolar;
- desenvolvimento de depressão, ansiedade e fobias. Filhos de pais que já tiveram ou tem algum transtorno mental são mais suscetíveis a desenvolverem um;
- preocupação com reputação e popularidade;
- sexo ou engajamento em atividades sexuais sem segurança;
- modificação da dinâmica entre amizades feitas na infância;
- isolamento social;
- frustração exagerada ao não atingir objetivos;
- necessidade de mostrar amadurecimento;
- desejo de se manter afastado dos pais e familiares;
- esconder emoções e sentimentos, evitando procurar ajuda quando está com problemas; e
- bullying.
Por que fazer terapia na adolescência?
Adentrar a vida adulta subitamente não é nada fácil.
Obviamente, um adolescente não possui as mesmas responsabilidades que um adulto de 25 anos, mas já começa a ter entendimento mais maduro sobre o mundo.
A eclosão de emoções e dúvidas, porém, não costuma ser bem processada durante a puberdade.
Os adolescentes reagem intensamente às decepções, erros, vitórias, realizações, relacionamentos e quaisquer situações comuns da vida.
Não é porque são dramáticos, mas sim porque algumas ligações no interior do sistema límbico, o grande responsável pelas emoções, ainda não estão totalmente formadas.
Deste modo, a interpretação dos acontecimentos e emoções alheias não é tão crítica.
Por conta disso, eventos pequenos podem tomar proporções gigantescas e fugir do controle. Uma simples pergunta é capaz de aborrecer ou magoar. Um comentário pode ser mal interpretado. Quando se lida com adolescentes, a linha entre o aceitável e o desagradável é muito tênue.
As reações exageradas podem ser vistas como desagradáveis pelas famílias e, então, silenciadas. A repressão emocional, embora possa parecer transformar um adolescente grosseiro em um tranquilo, não é nada saudável.
A terapia na fase da puberdade concede esclarecimentos muito necessários para lidar com o turbilhão de emoções e as mudanças incessantes. Abaixo, veja algumas formas que a terapia pode abrandar a adolescência!
Busca pela identidade
Iniciar a busca pela identidade às cegas pode acabar em frustração em qualquer idade. Por isso, a terapia tem como um de seus alicerces o autoconhecimento.
Além de identificar traços de personalidade, hábitos e comportamentos que podem estar gerando sofrimento, o ato de se autoconhecer também é acolhedor. A sensação de “sou um alienígena” desaparece ou se ameniza quando se descobre as razões para agir e/ou pensar de determinada maneira.
Gestão de emoções na puberdade
O psicólogo instiga a reflexão sobre as emoções na terapia.
Por que você se sente assim? O que pode ter causado tal emoção? Como expressá-la o ajudou ou o prejudicou? O que pode ser feito na próxima vez? Todas essas respostas são, eventualmente, respondidas pelo paciente à medida que ele aprende a gerir as próprias emoções.
O desenvolvimento da inteligência emocional na adolescência garante uma jornada mais tranquila pelas descobertas típicas desta fase, além de preparar o adolescente para uma vida adulta mais centrada.
Diminuição de conflitos familiares e entre amigos
Na terapia, o psicólogo também conduz os pacientes a pensarem sobre os conflitos vivenciados em seu círculo na sociedade.
Como a vida social é de extrema importância para a maioria dos adolescentes, a terapia pode ajudá-lo a evitar conflitos e a compreender o seu papel no meio.
Além disso, pode instruí-lo sobre como evitar más companhias. Na adolescência, tende-se a ceder às pressões sociais para ser aceito. Ora partes da personalidade são reprimidas ora são exaltadas.
Essas alterações recorrentes podem prejudicar a busca pela identidade e prolongar a sensação de “não-pertencimento” até a vida adulta.
Administração do estresse e da ansiedade
Os adolescentes estão sofrendo cada vez mais com a ansiedade e o estresse. A pressão imposta pela sociedade para desempenharem bem na escola e, logo em seguida, obterem excelência acadêmica e profissional está causando sérios danos à saúde mental dos mais novos.
A terapia é o antídoto para o excesso de estresse e ansiedade na vida diária, além de prevenir transtornos mentais graves, como a depressão.
Por meio da gestão de emoções e da mudança de hábitos negativos, o adolescente consegue enfrentar as pressões externas enquanto cuida da saúde mental.
Elevação da autoestima
A terapia trabalha questões emocionais que impedem as pessoas de alcançarem o seu verdadeiro potencial, como vergonha e falta de autoestima.
É muito comum desgostar da aparência ou personalidade na adolescência por uma série de fatores, que podem ser explorados com o psicólogo.
Desenvolver o amor-próprio e a autoconfiança em adolescentes pode levar alguns meses, já que costumam ser monossilábicos nas primeiras consultas. Eles geralmente se soltam diante do psicólogo no decorrer do acompanhamento psicológico.
Estabelecimento de objetivos
Até os mais jovens precisam de um propósito de vida ou, ao menos, objetivos para enriquecer o seu desenvolvimento cognitivo.
A terapia possibilita a descoberta de novos interesses, bem como o estabelecimento de objetivos que estimulam a produtividade, como fazer um curso ou praticar um esporte. Embora o adolescente possa se demonstrar arredio no início, é recomendado incentivá-lo a persistir.
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