Saúde Ocupacional

CID 11: o que muda e como se adequar?

O que é a CID-11?

A Classificação Internacional de Doenças é um documento extenso que classifica todas as doenças existentes para a padronização de diagnósticos e comunicação internacional. 

Através dele, é possível ter uma visão mais clara sobre a realidade na saúde populacional em cada país e, assim, governos e autoridades médicas podem se planejar. 

A CID-11 é amplamente usada por profissionais da saúde e foi criada pela ONU em 1983 Atualmente, estamos na 11ª versão, que foi atualizada em janeiro de 2022. 

As principais mudanças relacionam-se com:

  • Distúrbios de jogo
  • Resistência antimicrobiana
  • Transexualidade
  • Transtorno do Espectro Autista (TEA)
  • Transtorno de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
  • Estresse Pós-Traumático
  • Síndrome de Burnout

Importante: a transexualidade não é mais vista como um transtorno mental e passou a ser designada como “incongruência de gênero”. 

Qual a relação da CID-11 com a Síndrome de Burnout?

Segundo a última edição, a Síndrome de Burnout é oficialmente considerada uma doença ocupacional. Até então ela era considerada um problema de saúde mental e psiquiátrico, ou seja, uma questão meramente individual.

Na nova classificação, a comunidade médica mostra que já tem um entendimento mais claro sobre a doença e que ela não é apenas uma questão individual, mas tem profunda relação com o ambiente de trabalho. 

Segundo a nova definição, a Burnout é um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. 

Ou seja, ela tem como origem o estresse. Algo comum, que todos nós passamos, mas quando esse quadro não é observado e tratado, acaba evoluindo para um cenário com prejuízos muito mais drásticos.

Essa mudança gera enormes mudanças tanto para pacientes quanto para profissionais de RH e saúde ocupacional. 

Continue a leitura para entender mais!

Quais os benefícios da nova classificação?

Utilizar a CID-11 não é só recomendável, mas é uma prática obrigatória e essencial para garantir que os pacientes tenham um tratamento condizente com a realidade à sua volta. 

Veja, a seguir, alguns dos seus principais benefícios!

Atualização das doenças existentes

Sem dúvida o aspecto fundamental sobre a CID-11 é a atualização de doenças novas e já existentes. 

As doenças novas tem seus sintomas descritos, um tratamento específico e uma profilaxia estabelecida. É o caso, por exemplo, da Covid-19. Já doenças existentes podem passam por novas descobertas, fazendo com que elas sejam tratadas de maneiras mais eficientes. 

Diagnóstico e tratamento de saúde mental

Assim como as doenças físicas, novas características sobre doenças mentais podem ser descobertas – como o caso da Síndrome de Burnout citada anteriormente. 

Através da padronização de doenças:

  • O acesso a medicamentos e serviços de saúde mental é facilitado;
  • Novas pesquisas podem ser feitas com critérios uniformes;
  • O diagnóstico oficial ajuda na comunicação entre os profissionais de saúde e também na identificação dos transtornos.

Direitos trabalhistas

Um grande benefício para os colaboradores é a possibilidade de ter seus direitos assegurados.

Por causa da nova classificação, a Síndrome de Burnout pode ser enquadrada juridicamente como um processo de assédio moral. Isso dá garantias ao trabalhador para que a empresa seja punida de acordo com a lei brasileira. 

Saiba que práticas configuram assédio moral e o que diz a lei!

Além disso, através da CID-11 é possível:

  • Monitorar a saúde através de aplicativos;
  • Melhorar a atenção básica de saúde;
  • Utilizar práticas menos invasivas;
  • Caminhar em direção a uma medicina mais humanizada;
  • Curar ou amenizar transtornos psicológicos e doenças;
  • Reduzir a taxa de mortalidade;
  • Incluir novos tipos de terapia em clínicas particulares ou planos de saúde;
  • Auxiliar no desenvolvimento de hábitos mais saudáveis;
  • Observar com mais atenção a saúde de grupos específicos e aumentar a inclusão social;
  • entre outros.

Qual o impacto da saúde mental no ambiente de trabalho?

Ter saúde mental não é apenas estar livre de doenças ou transtornos psicológicos. 

Segundo a OMS, é “um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade”. 

Ou seja, a saúde mental não afeta só a nossa vida particular, mas também a vida profissional. 

Parece algo óbvio, mas infelizmente muitas lideranças e profissionais de RH ignoram completamente essa questão. Aliás, muitas empresas ainda têm um clima organizacional em que pessoas com transtornos mentais sofrem bullying e todo tipo de constrangimentos. 

A falta de diagnóstico depressivo, por exemplo, custa US$ 1 trilhão anualmente para a economia global. A depressão é um dos transtornos mais comuns, afetando mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo e, muitas vezes, esse diagnóstico demora a vir justamente pelo preconceito infundado de familiares, amigos e líderes ou colegas de trabalho. 

A prova disso é que, numa pesquisa realizada pela Kenoby, 93% dos profissionais de RH consideraram que falta ação das empresas em relação à saúde mental dos colaboradores. 

Segundo a mesma pesquisa, em 71% das empresas não existe uma pessoa ou área dedicada a este cuidado – apesar de muitas dizerem que se preocupam, sim, com o assunto. 

Podemos observar claramente que ainda vivenciamos um cenário em que o discurso não acompanha o que acontece na prática. 

Já “pega mal” não cuidar dos colaboradores, mas – mesmo com dados alarmantes – observamos um cuidado muito maior com o lucro da organização do que com a saúde de quem ajuda a conquistar estes resultados. 

Uma saúde mental precária dos profissionais significa:

  • Absenteísmo;
  • Presenteísmo;
  • Afastamentos;
  • Queda na produtividade;
  • Performances medianas ou abaixo do esperado;
  • Baixo engajamento;
  • Alto turnover;
  • Muitos custos burocráticos e judiciais para a empresa.

Você quer perpetuar este cenário ou melhorar o contexto em que você e as pessoas à sua volta trabalham?

Veja outros dados sobre a saúde mental no ambiente de trabalho!

Como as organizações podem se adaptar?

Felizmente, existem diversas maneiras de desenvolver a saúde mental no trabalho, evitando todos esses prejuízos já citados. A CID-11 vem para auxiliar as empresas nesse sentido. 

A intenção é melhorar o cenário interno da empresa em diversos aspectos. Veja a seguir os principais!

Políticas e práticas de saúde mental alinhadas à CID-11

A CID-11, além de todos os benefícios já citados, pode ser um documento para inspirar ações relacionadas à saúde mental e inclusão. 

Entender que a Síndrome de Burnout é uma doença ocupacional, por exemplo, pode ajudar a desenvolver novas normas, planejar programas de saúde mental e orquestrar ações para prevenir este e outros transtornos. 

Desenvolver políticas de inclusão e vagas afirmativas para pessoas transsexuais, trabalhando a cultura organizacional para evitar casos de transfobia, também é adequar a empresa à CID-11.

Nesse sentido, políticas para inserir pessoas autistas, com TDAH e outros transtornos neurológicos, também são muito importantes. 

São estratégias que têm uma relação íntima com D&I, mas que também podem melhorar o employer branding e a imagem da organização em geral, assim como seu posicionamento no mercado. 

Capacitação e treinamento de gestores

Muito se fala sobre promover uma liderança sensível à saúde mental e isso é fundamental! Mas é importante dar um passo para trás. Será que os gestores, além de não estarem ajudando, estão prejudicando a saúde mental dos colaboradores?

Uma pesquisa da BTA Associados mostrou que 8 em cada 10 profissionais executivos sofrem com chefes tóxicos. Também é muito comum que a Burnout e outros transtornos se desenvolvam em ambientes tóxicos.

Nesse caso, o trabalho pode ser a origem de uma saúde mental fragilizada. Mas, tanto para melhorar o ambiente interno quanto para proteger efetivamente a saúde mental dos funcionários, a capacitação e o treinamento são fundamentais.

Inclusive para que a mentalidade de chefe, que dá ordens e espera resultados jogando toda a responsabilidade para os profissionais contratados, torne-se a mentalidade de líder, em que este arca com pelo menos metade das responsabilidades pelos resultados e pergunta sempre, em primeiro lugar, como pode ajudar. 

Mas, além disso, vale a pena ressaltar que a sensibilização destes para com as questões de saúde mental é um pré-requisito básico para:

  • Desenvolver uma liderança empática;
  • Gerenciar a carga de trabalho;
  • Atuar ativamente na resolução de conflitos;
  • Comunicar-se de maneira eficaz e positiva;
  • Valorizar os profissionais.

A ideia é, além de sensibilizar gestores ou líderes, criar uma rede de apoio organizacional e disponibilidade para o diálogo. Até porque um posicionamento diferente dos líderes influencia todos os funcionários a mudarem o seu comportamento também. 

Conscientização e redução do estigma em relação aos transtornos mentais

Se você está num cenário de psicofobia e bullying com pessoas que têm transtornos mentais, investir numa iniciativa de saúde mental pode não ser o suficiente. 

E isso não é responsabilidade (apenas) dos colaboradores que não usam o serviço!

É papel da empresa conscientizar tanto os funcionários quanto líderes e profissionais C-level da importância de cuidar da sua saúde. 

Mostrar que isso não é uma fraqueza, que um psicólogo não é simplesmente “uma pessoa desconhecida que não sabe nada sobre você” e que isso não diminui em nada o seu valor pessoal. 

Ao contrário, a inteligência emocional é uma das soft skills mais procuradas hoje em dia. Uma habilidade que pode ajudar muito a manter relacionamentos saudáveis dentro e fora do trabalho.

Nesse sentido, realizar eventos corporativos com profissionais especializados nos temas que mais afetam a saúde mental dos colaboradores da sua empresa pode trazer resultados impressionantes!

Esses eventos podem ser presenciais ou virtuais e ainda ter diferentes propostas. Uma roda de conversa quinzenal para toda a equipe atende a objetivos diferentes de um treinamento estruturado para lideranças. 

Ambos são fundamentais. Quem define qual é melhor é o seu contexto atual. 

Clima organizacional saudável

Um ambiente de trabalho que promove bem-estar e saúde de maneira integral não é construído da noite para o dia. A maioria de nós, inclusive, cresce achando que odiar o trabalho é normal. 

Que o ambiente de “The Office” é inevitável e funcionários não têm o direito de dizer o que realmente pensam da empresa ou serão demitidos. 

Ferramentas como a Pesquisa de Clima Organizacional são muito importantes, mas tem pouca veracidade quando não são acompanhadas por assessments, rodas de conversa frequentes e treinamentos. 

Para que as ações e programas desenvolvidos sejam eficazes, é preciso conhecer quais condições de trabalho prejudicam o bem-estar dos colaboradores. 

A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho lista os seguintes fatores: 

  • Volume de trabalho excessivo;
  • Exigências contraditórias;
  • Falta de clareza sobre a função do colaborador;
  • Comunicação deficiente;
  • Intimidação e assédio moral

Para ajudar a coletar e analisar dados, pode ser interessante utilizar alguma plataforma de People Analytics, que vem revolucionando a área de Gestão de Pessoas. 

A Vittude é uma empresa que quer democratizar o acesso à saúde mental no ambiente de trabalho. 

Somos referência no mercado, atendendo empresas enterprise e podemos te auxiliar a desenvolver treinamentos, programas de saúde mental, rodas de conversa.

Além disso, nosso principal serviço é uma plataforma de saúde mental com psicólogos que passaram por um processo de seleção rigorosa para atender os colaboradores da sua empresa com o maior nível de eficácia. 

Que tal ter a Vittude como parceira para te ajudar nestes desafios? Converse com um dos nossos especialistas

Carol Motta

Redatora sênior, especialista em SEO On Page, cientista social e com experiência em conteúdos de saúde e RH. Trabalha para viver num mundo em que as pessoas sejam mais saudáveis e as organizações, mais inclusivas.

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