Mulher no mercado de trabalho: como a empresa pode ajudar a evitar preconceitos e o sexismo?

Vivemos em uma sociedade marcada pela desigualdade de gênero há muitos anos. Situações caóticas, como a pandemia, evidenciam ainda mais as dificuldades enfrentadas pela mulher no mercado de trabalho.

A piora dos índices impactou, principalmente, as mulheres. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de mulheres trabalhando no terceiro trimestre de 2020 ficou em 45,8%, o nível mais baixo desde 1990. A pandemia apenas acentuou ainda mais no mercado de trabalho um problema social que já existia, a desigualdade de gênero.

Além de todas as essas questões relacionadas à entrada no mercado de trabalho, a mulher também enfrenta outros desafios, como preconceitos e sexismo. Apesar dos avanços e conquistas até hoje, ainda há um longo caminho pela frente.

Nesse cenário, é importante que as empresas entendam que precisam assumir suas responsabilidades e proporcionar um ambiente de trabalho saudável e igualitário. Mas, afinal, o que as organizações podem fazer para evitar preconceitos contra a mulher? Confira algumas dicas práticas que separamos neste artigo.

Quais são os desafios da mulher no mercado de trabalho?

A desigualdade de gênero se trata de uma questão histórica que ainda é capaz de provocar arrepios. É assustador pensar que até meados da década de 60, as mulheres casadas precisavam de autorização legal do marido para entrar no mercado de trabalho. Foi apenas em 1988 que, enfim, a Constituição oficializou a igualdade de gêneros.

Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que enxerga o homem como provedor, enquanto a mulher não teria condições de assumir o papel de mãe, dona de casa e profissional ao mesmo tempo.

Mesmo com cada vez mais mulheres ganhando os holofotes em suas carreiras, a diferença ainda é brutal. Um estudo da Bain & Company aponta que apenas 3% das mulheres no Brasil ocupam cargos de liderança. Além disso, a pesquisa também revelou que para 82% das mulheres e 62% dos homens, criar um ambiente de trabalho mais inclusivo, com oportunidades de crescimento iguais para homens e mulheres, deveria ser uma das grandes prioridades das empresas.

Infelizmente, no mundo real, nem todas as organizações já começaram a colocar o discurso em prática. Com isso, muitas mulheres acabam sendo injustiçadas no caminho rumo aos seus objetivos profissionais.

Os vieses inconscientes

Um dos obstáculos principais obstáculos são as ideias preconcebidas, decorrentes de questões históricas que nos perseguem até hoje. Tais ideias são chamadas por especialistas de vieses inconscientes, que fazem com que em momentos decisivos, o recrutador acabe dando preferência para os homens em uma vaga ou promoção.

Mas por que isso acontece? Ainda convivemos com a ideia preconcebida de que as mulheres, em algum momento, irão despriorizar a carreira em prol dos cuidados com a família e, assim, não serão tão eficientes como os homens.

Insegurança

Todo esse contexto gera consequências psicológicas na mulher. Um estudo do LinkedIn apontou que, se comparadas aos homens, elas têm uma propensão 20% menor de se candidatar para uma vaga. Outras pesquisas também revelam que as mulheres só se sentem seguras para se candidatar a uma vaga se preencherem 100% das qualificações.

Tudo isso demonstra um cenário no qual as mulheres se cobram de uma maneira muito mais agressiva do que os homens. Muitas vezes não se enxergam como capacitadas para alcançar uma oportunidade dentro da empresa. Infelizmente, a ideia do “sexo frágil” ainda persiste e persegue muitas mulheres que não acreditam no próprio potencial.

Diferenças de salários

Outra desigualdade enfrentada pela mulher no mercado de trabalho é a questão salarial. Uma pesquisa conduzida pelo IBGE apontou que apesar da queda na desigualdade de salários entre 2012 e 2018, as mulheres ainda ganham, em média, 20,5% menos do que os homens no nosso país.

Já a Pesquisa Profissionais da Catho revelou que apenas 27% das posições elevadas são ocupadas por mulheres e que elas podem ter uma remuneração 39% menor do que os homens.

Assédio sexual

Mais um problema que boa parte das mulheres já enfrentou no trabalho é a questão do assédio.

Uma pesquisa do LinkedIn junto da Think Eva revelou a triste realidade de que quase metade das mulheres já sofreu assédio sexual no ambiente de trabalho. Entre as entrevistadas, 15% pediram demissão após o ocorrida e somente 5% recorreram ao RH para sinalizar o caso. O estudo apontou que mesmo entre os cargos mais altos, o assédio não deixou de existir: 60% das mulheres em cargos de gerência e 55% que são diretoras afirmaram já terem sofrido assédio.

A impunidade, descaso e o medo de serem expostas estão entre as principais barreiras que impedem essas mulheres de denunciarem problemas como esse.

Como as empresas podem ajudar a evitar esses problemas?

Se estamos falando sobre a mulher no mercado de trabalho, nada mais justo do que ressaltar que as empresas têm grandes responsabilidades para reduzir os preconceitos e o sexismo. Afinal, promover oportunidades iguais para todos é essencial para criar um dia a dia de trabalho mais justo e saudável. E é isso que boa parte dos profissionais esperam hoje em dia das organizações das quais fazem parte.

Pensando nisso, separamos algumas dicas essenciais para começar a mudar a realidade da sua empresa e criar um ambiente mais inclusivo e diverso. Não deixe de conferir!

Levante discussões sobre o assunto

O primeiro passo é falar abertamente sobre os desafios da mulher no mercado de trabalho e ressaltar que a desigualdade de gênero é um problema que precisa ser enfrentado. A única maneira de começar a interromper linhas de pensamento equivocadas e promover ações inclusivas é falando sobre o assunto.

Para isso, é válido considerar garantir que todos na empresa tenham clareza de que esta é uma bandeira importante e que será discutida constantemente dentro da organização. É necessário ficar claro que atitudes preconceituosas e sexistas não serão toleradas.

Além disso, para inspirar e garantir informações de qualidade, também é interessante convidar institutos de pesquisas e mulheres que são referências no mercado de trabalho para darem palestras e workshops. Dessa forma, a disseminação do assunto se torna mais atrativa para os colaboradores.

Crie um comitê de diversidade

Uma ação prática capaz de resultar em resultados eficientes é a criação de um comitê de diversidade. Além das questões relacionadas à mulher no mercado de trabalho, também podem ser discutidos outros pontos de desigualdade.

Para funcionar, é necessário garantir a seriedade e o comprometimento de todos os participantes do comitê. No início, é necessário levantar informações que ajudem a traçar um diagnóstico atual da empresa, contemplando questões como:

  • dados demográficos, ou seja, qual é a diversidade entre os colaboradores;
  • benefícios em prol da diversidade;
  • quantidade de denúncias de assédio, racismo, homofobia etc;
  • diferenças salariais.

A partir de dados como esses, é possível entender quais ações precisam ser priorizadas. O comitê pode sugerir:

  • mudanças no recrutamento e seleção;
  • alterações nos critérios para a promoção;
  • mudanças na política de benefícios;
  • promover orientações em relação à discriminação e preconceitos etc.

Oriente as lideranças

Todos os esforços em prol de um dia a dia mais inclusivo para a mulher no mercado de trabalho irão por água abaixo se no meio do caminho as lideranças não forem corretamente treinadas e orientadas.

É extremamente importante que o CEO, diretores e outros cargos elevados da empresa se posicionem em relação a essas questões. Além disso, devem se demonstrar engajados no movimento. Esses profissionais devem servir de exemplo para os outros colaboradores. Portanto, em hipótese alguma podem falar ou agir de maneira preconceituosa e capaz de ferir a diversidade.

Elimine estereótipos e vieses inconscientes

Como já citado anteriormente, estamos cercados por estereótipos e vieses inconscientes que, infelizmente, interferem na igualdade de gênero no mercado de trabalho. Além da conscientização sobre esses vieses inconscientes, existem outras maneiras de trabalhar para que eles não interfiram em decisões importantes da empresa, como preenchimento de vagas ou promoções.

Nos processos seletivos, por exemplo, há soluções que envolvem tecnologias avançadas com abordagens baseadas em dados capazes de eliminar preconceitos inconscientes que estão embutidos nos seres humanos. Tais ferramentas são confiáveis e capazes de determinar quais candidatos possuem com as melhores competências para um determinado cargo.

Outro exemplo é a “seleção às cegas”, na qual é priorizada a análise das competências e habilidades do candidato. Dessa forma, para evitar vieses inconscientes, o recrutador não tem acesso às informações pessoais, como idade, gênero, estado civil, endereço etc.

Ofereça suporte psicológico

Ao longo deste artigo, nos deparamos com dados e informações que revelam como a mulher no mercado de trabalho sofre com a desigualdade de gênero e diversos preconceitos. É claro, portanto, que tudo isso impacta o psicológico de alguma forma.

Quando uma mulher sente insegura em uma reunião, com receio de se expor, ou quando tem medo de se candidatar para uma promoção, fica evidente que ela está sofrendo com diversas questões relacionadas à insegurança, autoestima e por aí vai.

Isso sem contar quando episódios de assédio e sexismo explícito no dia a dia de trabalho se tornam um problema constante. Muitas empresas ainda contam com um ambiente predominantemente masculino, que não oferece oportunidades justas às mulheres: áreas de tecnologia, investimentos e engenharia são alguns exemplos.

Com tantos desafios a serem superados pelas mulheres, poder contar com o apoio psicológico nesse momento é essencial para viver melhor e se sentir preparada para enfrentar tantos problemas. As empresas, por sua vez, podem auxiliar nesse processo oferecendo um auxílio psicológico por meio da psicoterapia como um benefício corporativo.

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Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.