LGBTQIA+ no mercado de trabalho: como reforçar a diversidade?

Muito se fala sobre diversidade e inclusão quando o assunto é LGBTQIA+ no mercado de trabalho.  Cada vez mais, as empresas estão trabalhando para tornar o quadro de colaboradores diverso em todos os âmbitos, mas, mesmo assim, as pessoas LGBTQIA+ ainda não alcançaram a igualdade e, muitas vezes, ainda lutam pelo mínimo: respeito e as mesmas oportunidades.

Por mais que diversos avanços já tenham sido conquistados, como a determinação do STF que caracteriza a discriminação por orientação sexual um crime, o reconhecimento da união homoafetiva como uma entidade familiar e a descaracterização da transexualidade como um distúrbio mental, ainda há muito pelo o que lutar, principalmente no âmbito profissional.

Um estudo realizado pela maior rede profissional do mundo, o LinkedIn, revelou que 35% dos entrevistados LGBTQIA+ já sofreu algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho, seja esta velada ou direta. A pesquisa apontou que piadas e comentários homofóbicos são as formas de discriminação mais comuns.

Dito isto, não há como negar a importância de se aprofundar nas necessidades e desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Neste artigo, você poderá conferir as principais informações sobre o assunto e entender qual é o papel da sua empresa neste contexto.

LGBTQIA+ no mercado de trabalho: quais são os principais desafios?

A parcela de pessoas LGBTQIA+ precisa lutar constantemente contra o preconceito em diferentes esferas da vida e na carreira o cenário, infelizmente, ainda não é diferente. São diversos os desafios que esses indivíduos enfrentam para conseguir um emprego, se sentir confortável no ambiente de trabalho, crescer na carreira e por aí vai.

Em seguida, confira alguns dos principais desafios que as pessoas LGBTQIA+ encaram no âmbito profissional:

Dificuldade para conseguir emprego

Para começo de conversa, há um grande abismo quando o assunto é “conseguir um emprego”. As pessoas LGBTQIA+ já sofrem com o preconceito logo nessa primeira etapa da carreira, se deparando com mais dificuldades para conseguir um trabalho.

Uma pesquisa realizada pela Elancers revelou um dado chocando: 20% das empresas brasileiras não contratam lésbicas, gays, travestis e transexuais devido à sua orientação sexual e identidade de gênero. E, para completar, 11% só contrataria uma pessoa LGBTQIA+ se ela não ocupasse cargos mais elevados.

Não precisa dizer mais nada, não é mesmo? O preconceito é gigantesco e apesar de tanto se falar sobre aceitação e inclusão, muitas organizações ainda cultivam uma cultura que vai exatamente contra isso.

Menos oportunidades para assumir cargo de níveis superiores

A mesma pesquisa feita pelo LinkedIn já citada anteriormente também revelou que apenas 13% das pessoas LGBTQIA+ afirmou ocupar ou já ter ocupado um cargo de diretoria ou C-level. Além disso, na época do estudo, somente 15% ocupava ou já tinha ocupado em algum momento da carreira um cargo de coordenação e gestão.

Logo, estes são dados que apontam que a comunidade LGBTQIA+ não tem as mesmas oportunidades e, portanto, são poucos que chegam aos cargos mais altos dentro de uma organização.

Dificuldade para dar o melhor de si no trabalho

Isso pode acontecer com algumas pessoas LGBTQIA+ porque se sentem tão acuadas e preocupadas com a sua orientação sexual e identidade, que ficam mais focadas em esconder ou camuflar a própria vida para não serem descobertos. A consequência? Acabam sendo menos produtivas e estão mais propensas a falhas, o que não é benéfico para o profissional nem para a empresa em si.

Preconceito velado ou direto

Boa parte das pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho afirma que já foi alvo de preconceito, normalmente por meio de piadas ou comentários inapropriados. Além dos efeitos colaterais na autoestima e saúde mental, o preconceito afeta o sentimento de pertencimento no trabalho e, consequentemente, a motivação e felicidade.

É comum que essas pessoas se sintam sozinhas, sem terem alguém com quem compartilhar a sua verdadeira identidade. Tudo isso pode resultar em quadros de ansiedade e depressão que afetam a vida pessoal e profissional.

Desinformação que leva à ignorância

O que é diferente de nós costuma causar estranhamento, por isso, as pessoas têm a tendência de se aproximar daquilo que já é conhecido. Esse tipo de comportamento, infelizmente, é a raiz de muitos julgamentos e estereótipos que ainda existem.

Boa parte do preconceito no mercado de trabalho é consequência do tabu que envolve os assuntos relacionados ao público LGBTQIA+, que acabam não sendo discutidos abertamente. Dessa forma, as pessoas continuam com ideias cristalizadas equivocadas e a roda do preconceito não é interrompida.

Necessidade de se encaixar nas normas sociais

Outro grande desafio é o fato de que, para conseguir ou manter um emprego, as pessoas LGBTQIA+ muitas vezes precisam camuflar suas verdadeiras identidades para se encaixarem em “padrões aceitáveis”. Algumas empresas podem instruir essa parcela de colaboradores a não falar ou se vestir de uma determinada maneira.

Com isso, cria-se um estado permanente de vigilância que, com o passar do tempo, pode se tornar extremamente exaustivo e impactar a saúde mental.

Falta de apoio correto aos colaboradores LGBTQIA+

Não podemos generalizar, mas existe uma boa parcela de empresas que ainda não oferece o apoio correto aos seus funcionários LGBTQIA+. Em um caso em que alguém sofre preconceito de outros colegas por conta da sua orientação sexual, por exemplo, não basta simplesmente mudar esse profissional de área para que não tenha mais contato com os agressores.

Ou pior: pedir que mude sua forma de ser, falar ou se vestir para evitar as piadas ou comentários. É necessário ter medidas mais duras, que reafirmem que nenhum tipo de discriminação será tolerada no ambiente de trabalho. Caso contrário, os casos continuarão ocorrendo e as pessoas LGBTQIA+ se sentirão incomodadas e pouco acolhidas.

As graves consequências na saúde mental

Segundo o Ministério da Saúde, a discriminação devido à orientação sexual ou identidade de gênero está diretamente relacionada ao adoecimento mental, podendo ocasionar transtornos de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, o suicídio. Além das agressões verbais, muitos sofrem agressões físicas também, que podem acabar levando à morte.

Para completar a questão toda que engloba a saúde mental do público LGBTQIA+, não podemos deixar de citar outros fatores de estresse, como a dificuldade de autoaceitação e muitas vezes o preconceito dentro da própria família. Tudo isso pode agravar ainda mais os quadros mentais.

Portanto, quando discutimos sobre LGBTQIA+ no mercado de trabalho, estamos falando sobre uma questão que tem um impacto muito maior na vida pessoal de cada uma dessas pessoas. Isso porque todo preconceito e fator de estresse pode comprometer ainda mais o equilíbrio emocional que, por diversos fatores, já sofre angústias e pressões de vários lados.

Qual é o papel das empresas na inclusão LGBTQIA+ no mercado de trabalho?

Cada empresa deve assumir o seu papel e trabalhar a inclusão no ambiente de trabalho. Não basta simplesmente realizar uma ação sobre o assunto uma vez por ano e restante dos dias ignorar a questão. O que mais falta nas organizações é uma postura firme e coerente em relação ao assunto.

Confira, em seguida, algumas ações que unem discurso e prática que podem ser executadas na sua empresa em prol da inclusão e diversidade:

Cultura organizacional voltada para a diversidade

Quando estamos falando sobre inclusão e diversidade no ambiente de trabalho, é necessário que estes sejam valores enraizados na cultura da empresa. É importante que todos que se relacionem com a organização de alguma forma reconheçam que se trata de um lugar que levanta essa bandeira.

Ações esporádicas e pontuais não trazem resultados consistentes, por isso, um dos primeiros passos deve ser revisar a cultura organizacional. Como as pessoas na empresa são condicionadas a agir, falar, pensar e conduzir o dia a dia de trabalho? Se diversidade e inclusão não estiverem enraizadas aqui, então nenhuma ação será eficiente.

Processo seletivo às cegas

Quando estamos falando sobre a necessidade de dar chances iguais a todos os candidatos a uma vaga, infelizmente muitas vezes os vieses inconscientes atrapalham no momento do recrutamento.

Para garantir a imparcialidade no momento da seleção, muitas empresas têm adotado o processo seletivo às cegas, em que informações como idade, gênero, raça são ocultadas no momento para que o recrutador não se deixe levar por preconceitos e estereótipos. Assim, são avaliados apenas atributos e competências que são realmente relevantes para o cargo e função em questão.

Informação e diálogo com todos os colaboradores

Outra ponto importante é o acesso à informação e o diálogo sobre o público LGBTQIA+. É necessário que o assunto não seja tratado como tabu e sim discutido abertamente entre todos os colaboradores.

Cabe à empresa promover conversas sobre o tema para derrubar preconceitos e estereótipos que ainda atrapalham o dia a dia de trabalho dessas pessoas. Para esta ação, pode ser interessante:

  • criar um Comitê de Diversidade;
  • convidar diversos profissionais para abordar o assunto em palestras informativas, como psicólogos e também uma pessoa LGBTQIA+ com uma história aspiracional.

Ações que incentivem a diversidade

Mas é claro que só falar não é o caminho para realmente promover a inclusão nas empresas, é preciso agir também. Para isso, é necessário pensar em ações estratégicas, por exemplo, algo relacionado ao mês de orgulho LGBTQIA+.

É válido que a organização se posicione e crie algumas ações para promover o assunto durante esse período. Além das ações internas, com os colaboradores, a empresa também pode fazer campanhas nas redes sociais e em outros canais para se posicionar com o público externo.

Apoio psicológico

Como já foi citado anteriormente, a saúde mental das pessoas LGBTQIA+ sofre impactos severos do preconceito. Quando há algum caso de discriminação no ambiente de trabalho, é necessário que a empresa se posicione e tome uma atitude em relação ao ocorrido.

Oferecer suporte psicológico é uma das iniciativas que podem contribuir para um dia a dia de trabalho mais saudável ao público LGBTQIA+, mas também é importante para outros colaboradores trabalharem questões relacionadas ao preconceito e tabus sobre o assunto.

Por isso, é uma estratégia inteligente que as empresas ofereçam a psicoterapia como benefício corporativo aos funcionários. Com parceiros como a o Vittude Corporate, é possível levar o auxílio psicológico aos colaboradores de maneira simples e acessível. No fim do dia, todos saem ganhando e a empresa garante que está cumprindo o seu papel e fomentando um ambiente mais saudável.

Por que as empresas devem promover a diversidade?

Um estudo da McKinsey & Company10 revelou que empresas com diversidade de gênero têm 15% a mais de chances de ter rendimentos acima da média. Já em relação à diversidade racial e étnica, esse número sobe para 35%. Além disso, um estudo da Harvard Business Review11, apontou que nas empresas em que o ambiente de diversidade é reconhecido, os colaboradores estão 17% mais engajados e dispostos a irem além das suas responsabilidades.

Não podemos negar, portanto, que promover a diversidade, seja ela de qualquer tipo, nas organizações é essencial para o crescimento de todos os envolvidos. De um lado, colaboradores mais dispostos, motivados e felizes. De outro, uma empresa que colhe os frutos em termos de produtividade e maiores lucros.

Exemplos de empresas que atuam em prol da diversidade e inclusão

Por fim, mas não menos importante, confira alguns exemplos de empresas que já assumiram o seu papel e estão trabalhando ações que visam promover a igualdade para o público LGBTQIA+ no mercado de trabalho:

Grupo Pão de Açúcar

O Grupo Pão de Açúcar é parceiro do Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIA+ e da Transempregos e só em 2019 chegou a contratar 31 profissionais trans para suas lojas. Além disso, a empresa participa do #AgoraVai, um festival que visa capacitar indivíduos trans para o mercado de trabalho por meio de treinamentos, oficinas e dicas para entrevistas.

Internamente, foi criado o grupo Orgulho LGBT, do qual participam mais de 60 colaboradores e são realizadas atividades e ações para atrair e reter talentos, além de ações que têm como objetivo conscientizar sobre a comunidade.

Nubank

A fintech onde 26% dos colaboradores se declaram LGBTQIA+ está sempre realizando campanhas e ações voltadas para esse público.

Em 2021, lançou a campanha “Cheios de Orgulho” e lançou uma edição limitada de porta-cartão e cadernos com as cores de algumas bandeiras LGBTQIA+, comercializados na loja virtual do banco digital. Todo o lucro das vendas será convertido para projetos sociais ou organizações sem fins lucrativos, sendo a TODXS uma das parceiras beneficiadas.

Natura

A gigante Natura oferece benefícios de saúde aos casais LGBTQIA+, como licenças parentais estendidas (maternidade de seis meses e paternidade de 40 dias). Também garante berçário sem custo, para pais e mães, independentemente do gênero ou da orientação sexual.

Além disso, em parceria com a Casa 1, dá cursos profissionalizantes de maquiagem para transexuais, iniciativa que é patrocinada pela marca Natura Faces.

Dê um primeiro passo rumo à inclusão e diversidade

Se a sua empresa ainda não tem um ambiente diverso e nem conta com iniciativas voltadas para a inclusão, não dá mais para esperar. Incluir estratégias voltadas para o público LGBTQIA+ na sua organização é essencial para que a empresa cresça e cultive um ambiente saudável.

A mentalidade preconceituosa é ultrapassada e nociva e, cada vez mais, as pessoas estão em busca de oportunidades de trabalho que prezem pela diversidade e inclusão. Quando a sua empresa se posiciona em relação a este assunto, maior é a garantia de um quadro de colaboradores mais feliz, produtivo e motivado, além do fortalecimento da sua imagem como marca empregadora.

Para continuar lendo artigos como este, navegue pelo blog do Vittude Corporate!

Bruna Cosenza

Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.

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