Racismo institucional: como evitar e promover a igualdade racial na empresa?

Segundo o IBGE, a maioria da população brasileira é negra, o que representa 55,8%. Mesmo assim, infelizmente, o racismo institucional ainda está presente no nosso dia a dia. Por que isso acontece?

Ainda vivemos em uma sociedade que luta contra os rastros e efeitos nocivos da escravidão que existiu por tantos anos. Cegos são aqueles que afirmam que o racismo não existe mais, pois diariamente sabemos de casos de preconceito e desigualdade racial.

Estamos falando sobre mortes trágicas internacionais, como de George Floyd, nos Estados Unidos. Mas também estamos falando de pessoas brasileiras negras que morrem ou sofrem devido ao racismo aqui em nosso país.

Dentro das empresas, esse problema é grave, pois destaca a enorme desigualdade que ainda existe entre brancos e negros. Quanto maior o cargo, menor a presença de negros. Segundo uma pesquisa do Instituto Ethios realizada com as 500 maiores empresas do Brasil, na gerência e quadros executivos, os negros (a soma entre pretos e pardos) é de 6,3% e 4,7%, respectivamente.

O racismo institucional existe e, neste artigo, vamos falar sobre isso. É responsabilidade de todas as empresas o combate a esse problema que tira a oportunidade de tantas pessoas por conta da cor da pele. Continue a leitura para entender como evitar o racismo e lidar com ele da melhor maneira!

O que é o racismo institucional?

O racismo institucional é a desigualdade de tratamento que os negros recebem em relação aos brancos dentro de uma instituição. Portanto, se uma pessoa recebe um tratamento diferente por ser negra, isso se enquadra em um caso de racismo institucional.

Estamos falando sobre um problema que nasce do racismo estrutural, que diz respeito à existência de sociedades baseadas na discriminação e que, portanto, privilegiam algumas raças em detrimento de outras. No Brasil, precisamos nos lembrar de que apesar da abolição da escravidão, os negros demoraram para ter acesso à educação e ao trabalho.

Historicamente, a população negra teve menos acesso à educação, tanto por questões financeiras como oportunidades. Essa é uma realidade que, aos poucos, está mudando devido às iniciativas que têm como objetivo dar mais oportunidades para essas pessoas. Podemos citar as cotas raciais e o Prouni, por exemplo.

Com isso, o relatório de Desigualdades Raciais por Cor ou Raça no Brasil de 2019, do IBGE, apontou que a proporção de jovens negros de 18 a 24 anos no ensino superior passou de 50,5%, em 2016, para 55,6%, em 2018. É uma ótima notícia, mas a caminhada ainda é longa.

Onde atuam os profissionais negros?

Para começo de conversa, o desemprego é maior entre a população brasileira negra do que branca. Esse índice aumentou ainda mais durante a pandemia, pois setores em que a maioria das pessoas são negras foram afetados, como a construção civil e o comércio.

Assim, segundo a Pnad, do IBGE, no segundo trimestre de 2020, a taxa de desemprego geral ficou em 13,3%. Ao analisarmos esse dado conforme o recorte de cor de pele, os negros representam 17,8%, os pardos 15,4% e os brancos 10,4%.

A população negra, em grande parte, atua nas áreas com os piores salários e que sofreram o maior impacto da pandemia. Já as áreas com os melhores salários e condições de trabalho têm maior participação dos brancos.

Tais dados apontam uma parte dos problemas: a grande maioria das pessoas negras não tem nem acesso às melhores áreas e melhores salários.

Como acontece o racismo institucional nas empresas?

O racismo institucional pode acontecer em diferentes situações dentro de uma organização: desde o processo seletivo até a convivência no meio corporativo.

A diferença de tratamento pode começar nas entrevistas de emprego, quando um negro é discriminado para uma vaga devido à sua cor de pele. Devido à falta de acesso a educação, muitos acabam nem tendo a oportunidade de se candidatar, ou seja, é um problema que precisa ser trabalhado desde cedo para que todos tenham o mesmo acesso ao emprego.

Mesmo assim, quando muitos negros chegam aos processos seletivos, acabam sofrendo o preconceito e perdendo para os brancos, mesmo quando são mais qualificados. Sim, isso ainda acontece muito mais do que você pode imaginar!

O recrutamento às cegas, por exemplo, surgiu como uma alternativa para que os recrutadores não se deixassem levar por informações como sexo, idade e cor da pele, afinal, o racismo existe dentro de muitas pessoas ainda, mesmo que de forma inconsciente. É chamado de racismo estrutural.

E como se não bastassem as dificuldades para conseguir um emprego, o dia a dia de trabalho dentro das empresas também não é nada fácil para a parcela negra da população.

Como já vimos anteriormente, quanto maior o cargo, menor o número de negros, ou seja, eles não têm modelos de profissionais para se inspirar em cargos altos, como gerência e diretoria.

Como combater o racismo institucional nas empresas?

Um estudo da consultoria McKinsey, realizado em vários países, inclusive o Brasil, revelou que as empresas com diversidade cultural e étnica tiveram um desempenho financeiro 36% maior em 2019, se comparadas com aquelas que não possuem tais políticas.

Se os dados são tão claros, por que a realidade ainda não condiz com a diversidade e inclusão? É claro que existe a questão do racismo estrutural e todas as suas consequências, mas e o papel das empresas nisso tudo?

O governo tem, ao longo dos anos, assumido a sua responsabilidade e criado algumas políticas que visam dar oportunidades aos negros, mas não pode parar por aí. As empresas podem e devem assumir as suas responsabilidades em relação a esse assunto.

E não estamos falando sobre fazer lindas campanhas publicitárias, pregar a diversidade e, no dia a dia, não honrar esse discurso. Para começar, basta fazer a conta de quantos negros trabalham na sua empresa atualmente.

Em seguida, confira outras ações que irão ajudar a combater o racismo institucional na organização!

1. Criar uma cultura de inclusão

É preciso definir metas e indicadores de desigualdade racial. É um assunto que deve passar pela governança e realmente fazer parte da cultura organizacional.

A empresa precisa fazer uma análise em relação aos seus colaboradores com o objetivo de entender a composição racial e financeira dos funcionários para ter clareza se há discriminação em termos salariais, de cargo etc.

Feito isso, é preciso definir objetivos, metas e indicadores que deverão ser acompanhados para que haja igualdade dentro da empresa.

2. Falar sobre o racismo com os colaboradores

Muita gente acha que sabe o que é racismo, mas na verdade não sabem. Por isso, cabe à empresa realizar esse processo de conscientização e se posicionar em relação ao racismo institucional. Levantar a bandeira é importante, mas não se pode esquecer de que é preciso demonstrar, na prática, que se está combatendo o problema.

Isso significa que é preciso dar o exemplo. Palestras e atividades relacionadas ao assunto são uma ótima maneira de introduzir o tema para os colaboradores. Além disso, é uma forma de sensibilizá-los.

Vale ressaltar também que o trabalho não deve ser pontual: faz uma vez e nunca mais levanta o assunto. É preciso de frequência para atingir os resultados esperados.

3. Realizar um recrutamento que preza pela diversidade racial

Para atrair mais pessoas negras para a empresa é preciso diversificar as formas de recrutamento, indo atrás de parcerias e contatos que “fogem da bolha” com a qual estamos acostumados.

Pode ser realizado o recrutamento em faculdades específicas, por exemplo, a Zumbi dos Palmares. Buscar consultorias, headhunters e outras instituições ligadas a essa bandeira é importante também.

Outro ponto importante aqui é em relação ao nível de escolaridade dos negros, que apesar de estar aumentando, ainda assim pode não ser o suficiente para os requisitos de determinadas vagas. As empresas que têm comprometimento social genuíno podem contratar tais profissionais e investir neles por meio de cursos, formações etc. É um investimento que beneficia ambas as partes.

Um ótimo exemplo de recrutamento recente foi a ação da Magazine Luiza, com o trainee para negros. Gerou muitas polêmicas, mas não podemos negar que se trata de uma iniciativa importante para diminuir a desigualdade racial.

Na direção oposta, recentemente, a cofundadora do Nubank deu uma declaração polêmica que viralizou na internet. Cristina Junqueira afirmou que a fintech não possuía políticas relacionadas à contratação de pessoas negras, como a Magazine Luiza, pois o nível da empresa é alto e algo assim poderia “nivelar por baixo” a companhia.

A fala repercutiu tão mal que, depois disso, o Nubank R$20 milhões para ações de diversidade e inclusão racial.

4. Punir comportamentos racistas

Toda empresa deve ter um código de ética relacionado à questão étnico-racial para que comportamentos racistas sejam devidamente punidos. As pessoas devem se sentir à vontade para relatar casos de racismo institucional e devem existir punições que vão desde feedbacks até demissões.

O racismo institucional só será levado a sério se todos entenderem que é de fato um problema que precisa ser tratado.

5. Criar comitês sobre a diversidade

A criação dos comitês sobre diversidade são importantes para ajudar na receptividade dos funcionários negros. Além disso, são úteis para orientar as ações da empresa sobre o assunto.

Nos comitês são criadas campanhas, ações, palestras e capacitações sobre o tema do racismo institucional com o objetivo de conscientizar os colaboradores. É importante  ter um executivo liderando para que as ações saiam do papel e o comitê seja significativo nessa luta.

6. Investir na formação de lideranças negras

Para ter um ambiente corporativo diverso é preciso garantir que os altos cargos também tenham profissionais negros. Para isso, a empresa deve investir na formação e capacitação das lideranças negras.

É claro que as pessoas devem conquistar os cargos por competência e mérito, mas muitas vezes a empresa pode estar disposta a investir no desenvolvimento desses profissionais.

A relação entre o racismo e a saúde mental

Sabia que jovens negros têm 45% mais chances de desenvolver depressão do que os brancos? E que o racismo tem um grande impacto nesse número?

Sabia que o racismo faz com que as pessoas negras se sintam inferiores e tenham problemas com autoestima?

Sabia que uma pesquisa do Ministério da Saúde publicada em 2018 revelou que os jovens negros, do sexo masculino, entre 10 e 29 anos, são os que enfrentam o maior risco de morrer por suicídio?

Há uma relação entre o racismo e saúde mental. Por mais que seja doloroso falar sobre o assunto, é só assim que se consegue combater esse problema. Enquanto o racismo ainda for mascarado, ainda continuará afetando a vida e saúde de mais da metade da população brasileira, que enfrenta preconceito e humilhações diariamente.

Nós, da Vittude, sabemos da importância dos cuidados com a saúde mental. Enquanto a sua empresa está colocando em prática ações que visam a diversidade, que tal cuidar da saúde mental do seu colaborador?

Esse é um benefício corporativo que pode ser destinado a todos os funcionários da empresa, afinal, não podemos fazer distinção quando o assunto é o cuidado com a nossa mente. Mas já que o assunto aqui é racismo institucional, nada mais justo do que colocarmos os holofotes nos negros.

Oferecer a psicoterapia para essas pessoas é essencial e demonstra uma preocupação genuína da organização com o bem-estar, afinal, a mente interfere no corpo e vice-versa.

Junto de um psicólogo, os seus colaboradores poderão trabalhar questões relacionadas à insegurança, autoestima, depressão, ansiedade e outros problemas que podem ser ocasionados pelo racismo.

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Para isso, conte com a Vittude Corporate. Entre outros serviços, oferecemos a terapia como um benefício corporativo que ajuda empresas a cuidarem de forma preventiva e frequente da saúde mental de seu time.

Por meio de um​ investimento fixo mensal, por colaborador, sua empresa oferece um subsídio parcial ou créditos para sessões de psicoterapia com psicólogos da nossa base.

Quando a saúde mental vai bem, a produtividade e motivação também se beneficiam. E, assim, a sua empresa sai ganhando também!

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Autor

Bruna Cosenza

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Escritora, produtora de conteúdo freelancer e LinkedIn Top Voice 2019. Autora de "Sentimentos em comum" e "Lola & Benjamin", escreve para inspirar as pessoas a tornarem seus sonhos reais para que tenham uma vida mais significativa.