Como manter a saúde mental no home office?
31 de outubro de 2023
Tempo de leitura: 14 minutosA saúde mental no home office é uma preocupação que se instalou entre líderes e gestores de pessoas desde a pandemia de Covid-19, quando essa modalidade de trabalho se consolidou pela necessidade de isolamento social.
Um levantamento feito pelo LinkedIn com mais de mil trabalhadores, durante o período, mostrou que 62% das pessoas estavam mais ansiosas e estressadas com o trabalho do que estavam antes do home office.
Apesar disso, o home office e o trabalho híbrido continuam crescendo, mesmo após o fim do isolamento, segundo uma pesquisa da empresa de recrutamento, Revelo. Além disso, os brasileiros têm preferência por este modelo de trabalho, que melhora em 50% seu rendimento.
Falar sobre a saúde mental no home office é, portanto, uma prioridade para empresas e profissionais.
Neste artigo, vamos abordar o assunto com os seguintes tópicos:
Quais os impactos do home office na saúde mental?
Para calcular os impactos do home office na saúde mental dos profissionais, é preciso entender quais são os benefícios e os prejuízos dessa modalidade de trabalho.
Mas, ainda mais importante é entender que cada profissional tem necessidades específicas, portanto, o que pode impulsionar a performance de um colaborador não fará o mesmo com outro.
Um profissional mais jovem, que está começando a carreira, pode considerar muito interessante e produtivo trabalhar presencialmente na empresa por conta do aprendizado obtido a partir do contato com colegas mais experientes.
Já uma pessoa que é responsável por cuidar de alguém, como os profissionais com filhos pequenos ou aqueles que são responsáveis pelo cuidado de pais idosos, pode enxergar muitas vantagens no home office.
Portanto, não dá para uniformizar os impactos do home office para todos. É preciso considerar as particularidades da vida de cada profissional.
No entanto, ao levantar as principais queixas dos trabalhadores, é possível esboçar um cenário sobre a saúde mental no home office:
- a solidão causada pela falta de contato com colegas;
- o aumento do tempo de tela por conta das inúmeras videochamadas;
- o aumento da jornada de trabalho;
- e a falta de um local adequado, com silêncio e ergonomia.
Dar conta de todas essas demandas e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do negócio é o grande desafio das empresas.
Para começar, é preciso entender que desde o início da pandemia a relação das pessoas com o trabalho mudou. Aliás, não só pela pandemia, mas pelas mudanças tecnológicas e sociais que já estavam em curso.
No relatório New Future of Work da Microsoft, vemos que 53% dos profissionais são mais propensos a priorizar sua saúde e bem-estar sobre o trabalho atualmente do que antes. No Brasil, esse número sobe para 71%.
Portanto, é fundamental que cuidar da saúde mental no home office seja uma responsabilidade das empresas junto com os colaboradores.
Vantagens do home office
Os benefícios de trabalhar em casa podem ser muitos, tanto para os trabalhadores, quanto para a empresa. Vamos analisar os principais:
Menos tempo no trânsito
Evitar o tempo de deslocamento para o trabalho, especialmente nas grandes cidades, é uma das grandes vantagens do trabalho home office.
Para os profissionais que vivem distante do local de trabalho, perdendo várias horas do dia para ir e voltar do escritório, o aumento na qualidade de vida é inegável.
As empresas também têm visto vantagens ao economizar com o custo de transporte e contar com maior pontualidade dos funcionários.
Gasto menor com alimentação
Nesse ponto, os dois lados também podem ganhar.
As empresas continuam sendo recomendadas a oferecer vale-alimentação e vale-refeição para os colaboradores em home office. Afinal, eles continuam tendo gastos com comida em casa.
Mas acordos de substituição por outros benefícios mais interessantes podem ser feitos entre empresa e funcionários.
Menor necessidade de investir em infraestrutura
Os custos com manutenção de escritório caem bastante com a adoção do trabalho home office ou híbrido. Diminuição nas contas de energia, água e internet, além de equipamento para todos os colaboradores são despesas que podem ser evitadas pela empresa.
O mais justo e recomendado por lei, de acordo com o artigo 2º da CLT, é que as organizações colaborem para que os funcionários tenham os equipamentos e o mobiliário necessários para exercer o trabalho.
Diante disso, o mais comum é que as empresas invistam, para cada colaborador, em:
- notebooks,
- celulares corporativos,
- mesa,
- cadeira,
- custos com a conta de luz, de celular e da internet.
Ainda assim, os valores de implantação dessa estrutura podem ser menores do que os de manter um local de trabalho presencial para todos os colaboradores todos os dias.
Mais inclusão e talentos
Outra grande vantagem do home office é incluir pessoas que têm dificuldades variadas com o trabalho presencial, como pessoas deficientes, com transtornos psicológicos e até introvertidos.
Pessoas autistas, por exemplo, podem ter dificuldade de interação social, mas tem muitas outras habilidades que agregam valor à organização, como memória acima da média, capacidade de foco aumentada e até superdotação, em alguns casos.
Aliás, é importante lembrar que empresas com diversidade e inclusão são mais lucrativas, como mostra esta pesquisa da McKinsey.
Além disso, o home office pode ser muito interessante para a seleção de novos talentos! Desta forma, você expande a busca, que seria focada num município, para pessoas do Brasil e do mundo todo.
Aliás, a mesma pesquisa da Revelo, já citada anteriormente, mostra que 60% dos profissionais não moram na cidade em que as empresas em que trabalham estão.
Desvantagens do home office
Mas, não existem só pontos positivos. O que parecia um oásis, a princípio, começou a apresentar questões desafiadoras também. Depois de algum tempo do trabalho remoto instalado é que foi possível perceber alguns prejuízos para a saúde mental.
Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realizada com profissionais de 23 estados brasileiros e do Distrito Federal revelou que 82,9% dos psiquiatras perceberam o agravamento dos problemas de saúde mental em pacientes que já se tratavam de algum transtorno, como depressão e ansiedade.
Em 69,3% dos estados, os profissionais atenderam pacientes que já haviam recebido alta.
E não foi só a mente que foi afetada. O corpo de quem trabalha em casa também sentiu a mudança, a começar pela falta de movimento. Muitos profissionais passaram a ter problemas físicos, como dores pelo corpo e problemas de coluna.
Com as refeições, o lazer, o descanso e o trabalho acontecendo no mesmo ambiente, muitos profissionais também relataram piora na qualidade do sono e dificuldades em organizar sua rotina.
Segundo pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP, o home office aumentou a jornada de trabalho em até 65%.
O estudo também ressaltou que foram as mulheres que mais sofreram com a sobrecarga, pois são elas as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e pelas atividades de cuidado nas famílias.
Veja os principais:
Infotoxicação
O fato de estar conectado à internet na maior parte do tempo contribui para infotoxicação, ou seja, ficar intoxicado pelo excesso de informações.
Este mesmo excesso no trabalho – com grupos de WhatsApp, muitas reuniões online, tarefas burocráticas, etc. – também agrava o problema.
Empresas e colaboradores precisam encontrar uma maneira de equilibrar a exposição à informação, otimizando o fluxo de comunicação.
Nos tópicos seguintes aprofundamos o assunto com algumas atitudes que podem ajudar nisso.
Interrupções constantes
Além do excesso de reuniões e comunicação com as lideranças, quem trabalha em home office também pode ser interrompido pelas pessoas com quem dividem a casa, pela campainha e outras necessidades da vida pessoal.
Essas interrupções constantes dificultam a concentração e prejudicam o desempenho de outras atividades.
Após 3 anos do início da pandemia, quando o trabalho remoto foi intensificado na maior parte do mundo, líderes e gestores de pessoas têm buscado maneiras de garantir a produtividade das equipes.
Diminuir a quantidade de reuniões e de mensagens instantâneas por comunicação assíncrona (usando e-mail, por exemplo) é uma maneira de documentar informações e respeitar o tempo do outro.
Além disso, restringir as mensagens em grupos de trabalho no WhatsApp para o horário de expediente é outra postura que o bom senso já prevê, mas ainda é preciso instituir em muitas organizações.
Equilíbrio saúde mental e trabalho
O Centro de Inovação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo mostrou que de 464 entrevistados 56% encontraram dificuldade moderada ou muita dificuldade em equilibrar as atividades profissionais e pessoais no home office durante a pandemia.
Muitos profissionais continuam com esse problema até hoje. Aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros são afetados pela Síndrome de Burnout.
É um quadro que exige muita atenção das empresas, pois são elas as responsáveis por construir um ambiente de trabalho saudável, seja ele home office ou presencial.
Distância do ambiente interno da empresa
A ausência do contato presencial entre os colaboradores na empresa gera desvantagens para os dois lados.
Os funcionários passam a contar com menos feedback, menos momentos de aprendizado no dia-a-dia e menos oportunidades de promoção.
Já as empresas têm maior dificuldade de manter a equipe engajada em torno dos objetivos organizacionais. Pode ser necessário um esforço maior para disseminar a cultura organizacional no home office.
Qual a diferença entre home office e teletrabalho?
O teletrabalho é uma modalidade que foi instituída pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467 de 2017).
De acordo com a legislação, o teletrabalho deve ser realizado sob contrato específico e não está sujeito à controle de carga horária. O que será cobrado, nesse caso, é a entrega do trabalho determinado no contrato entre empregador e empregado.
Com isso, não está previsto o pagamento de horas extras ou adicionais noturnos no teletrabalho.
Já o home office é uma modalidade que não está regulamentada por lei e, portanto, segue as regras do trabalho presencial. Isso inclui o controle da jornada de trabalho e o pagamento de horas extras e adicionais noturnos.
É como se o home office fosse uma extensão da empresa.
No home office, o trabalhador pode exercer sua função no ambiente da empresa sempre que precisar e desejar. Já no teletrabalho, isso só deve acontecer a pedido do empregador.
O que há em comum entre teletrabalho e home office são as responsabilidades da empresa em fornecer os equipamentos necessários e em prevenir doenças e acidentes de trabalho.
Nesse ponto, promover a saúde mental dos colaboradores é fundamental.
Boas práticas para contribuir com a saúde mental no home office
Para os profissionais, talvez a maior dica esteja relacionada à organização de uma rotina.
Encontrar formas de desconectar-se do trabalho é um dos maiores desafios quando temos na palma da mão a ferramenta que pode trazer novas informações sobre ele.
Os trabalhadores podem e devem modificar suas atitudes, priorizando a disciplina com o autocuidado. Mas a empresa é que têm uma responsabilidade maior na promoção da saúde mental no home office.
Separamos algumas orientações para que você possa auxiliar os colaboradores que estão trabalhando em casa!
Melhorar a organização interna da empresa
Ter fluxos de trabalho e de comunicação no trabalho bem definidos é meio caminho andado para a tranquilidade no dia-a-dia.
Usar ferramentas de trabalho remoto compartilhadas como o Trello, Notion, Asana e o Google Drive são atitudes básicas. Pensar duas vezes antes de convocar uma reunião também.
Basta lembrar que os comunicados podem ser facilmente feitos por e-mail, restringindo reuniões para apresentação de pessoas ou de um projeto, brainstorm, criação de estratégias e planos de trabalho, engajamento e esclarecimento de dúvidas.
Manter uma comunicação ainda mais clara
Priorizar a comunicação assíncrona e objetiva é muito importante para evitar retrabalhos e pedidos de urgência.
Realizar tarefas de última hora e sem direcionamento suficiente é algo que aumenta muito – e, muitas vezes, desnecessariamente – o estresse dos colaboradores. Além de afetar sua saúde mental, pode ter um impacto negativo nas entregas também.
Documentar processos e acordos também é super importante justamente para evitar interrupções com pedidos de informações que já foram compartilhadas.
Oferecer um bom plano de saúde
O plano de saúde é um dos benefícios mais valorizados pelos profissionais, principalmente quando ele é estendido para seus dependentes.
Esse tipo de benefício traz uma contrapartida excelente para a empresa, já que o colaborador terá mais facilidade para cuidar da saúde, diminuindo o afastamento do trabalho.
Garantir bons equipamentos de trabalho
Ter um computador, acesso à internet de qualidade, mesa e cadeira adequados é o mínimo para haver um bom desempenho no home office. As empresas precisam providenciar esses equipamentos e todos os demais que forem imprescindíveis para a realização do trabalho.
Organizar eventos internos
Os problemas causados pela distância do ambiente interno da empresa podem ser compensados com a realização de atividades e eventos presenciais ou online.
Mas é importante manter essa agenda dentro do horário de trabalho da equipe. Realizar atividades obrigatórias para promover a aproximação dos colaboradores fora do expediente é a maneira certa de aumentar a insatisfação.
Fazer parcerias com academias
A falta de movimento costuma ser maior entre os profissionais que trabalham home office. Uma forma de estimular a prática de atividades físicas é fazer parcerias com academias e centros esportivos.
Também pode ser interessante oferecer aulas de yoga e outras atividades que ajudem tanto na saúde mental quanto na física.
Organizar rodas de conversa e palestras online
Uma atividade que costuma ter um retorno bem positivo dos colaboradores é a realização de rodas de conversa ou palestras. Ainda existe a vantagem de ser possível fazer este tipo de evento de modo online, ou seja, ainda poupa recursos com a estrutura física.
Mas o ponto principal é que os funcionários tanto aprendem com um especialista a cuidar da sua própria saúde mental no dia a dia, quanto podem participar compartilhando suas dificuldades. Na maior parte dos casos, outros profissionais se identificam com o relato e, assim, são encorajados a também darem os seus relatos.
Isso gera um ambiente de cooperação e estreitamento de laços, justamente uma das questões mais desafiadoras do home office por tempo indeterminado.
Incentivar o cuidado com a ergonomia
Promover condições de trabalho adequadas às necessidades psicofisiológicas dos trabalhadores com o intuito de oferecer o máximo possível de conforto, segurança e desempenho é investir em ergonomia no trabalho.
Ela é fundamental para prevenir doenças crônicas variadas, como dores nas costas, LER, tendinites, problemas de circulação e até doenças cardiovasculares. Estas podem afetar muito o profissional e também o seu trabalho, já que são uma das maiores causas de absenteísmo.
Por isso, ela não deve ser deixada de lado!
Reduzir tempo de tela
Promover encontros presenciais, acesso à psicoterapia também presencial e diminuir a frequência de reuniões são atitudes que as empresas podem promover para reduzir o tempo de tela.
Os colaboradores também precisam se preocupar com isso, estabelecendo estratégias e criando hábitos para minimizar os impactos do tempo de tela na rotina.
Oferecer psicoterapia como benefício
Muitas empresas facilitam o acesso à psicoterapia para seus funcionários.
No home office, pode ser interessante que o encontro com o psicólogo seja presencial, mas nas cidades onde a oferta de profissionais é menor, é possível adotar plataformas de psicoterapia online, que te conectam com especialistas nas questões mais importantes para cada pessoa.
A Vittude é especialista em saúde mental corporativa e oferece soluções em três eixos: diagnóstico, educação e psicologia. Aqui, acreditamos que saúde mental não é negociável. E o investimento das empresas ainda retorna maior para a própria organização!
É isso o que o grupo Boticário, a L’Oréal, a Olist e tantas outras companhias já atestaram na prática.
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